Até meados de Outubro, vamos ter acções de rua ou greves de militares, de juízes, de magistrados do Ministério Público, de funcionários judiciais, da PJ, da GNR, da PSP, do SEF, da Polícia Marítima e da Administração Pública. Como se chegou até aqui?Vasco Pulido Valente
Público
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Os senhores militares dominam o assunto, conhecem muito bem o tema dos «direitos adquiridos». Fizeram, aliás, uma revolução em Abril de 1974 por causa disso. Foram os militares que nos libertaram do regime antigo e acabaram com todos os direitos adquiridos que a sociedade de então mantinha. É mais do que legítimo, portanto, devolver-lhes a questão. E lançar o desafio: quem está disposto a liderar uma outra revolução para acabar com os direitos adquiridos deles? E com os dos senhores juízes, magistrados e funcionários judiciais? (…) As pessoas perderam o sentido da nação, mas isso não irrita. Preocupa, angustia, desilude. Mas não irrita. O que irrita são os motivos desta crise. Tudo o que está na origem deste ambiente, em que cheira a fim de regime. A Armada em passeata. Tribunais fechados. Sem lhes assistir a razão. Militares e agentes da justiça. (…) mentem descaradamente, quando dizem estar a defender a dignidade da instituição militar. Treta! Estão a defender a vidinha que os contribuintes lhes garantem - uma vidinha, diga-se, que os contribuintes gostariam mas o país obviamente não permite.
Sérgio Figueiredo
Jornal de Negócios
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O Governo ganhou o primeiro ‘round’ e ganhou-o bem, porque esta manifestação não tinha cabimento legal. Era mais própria de um país do terceiro mundo do que de uma democracia e de um Estado de direito. (…) A lei da manifestação não é clara, de facto, e devia ser. Assim deixa a porta aberta a várias coisas. Mas está inteiramente fora de questão que os militares não podem participar em manifestações de cariz político ou partidário ou sindical, o que era o caso. (…) Os militares não podem ter um sindicato. Têm uma associação representativa, podem ter associações profissionais desde 2002, coisa que não existe nos países que têm forças armadas a sério, na Europa. Não existe em Inglaterra, não existe em França, Espanha, Alemanha, não existe em lado nenhum. Em Portugal podem ter essas associações, mas não com carácter político ou com carácter sindical, o que é o mínimo exigível.
Miguel Sousa Tavares
TVI
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Sempre que se fala nos privilégios dos magistrados portugueses, logo aparecem algumas vozes (sindicalistas e não só) a negar essa realidade. Vejamos alguns exemplos.
I - Os magistrados do Supremo Tribunal Administrativo, do Supremo Tribunal de Justiça e do Tribunal Constitucional que residam fora da área da Grande Lisboa recebem ajudas de custo por cada dia de sessão nos respectivos tribunais. Significa que estes magistrados recebem as ajudas de custo, precisamente quando se deslocam para o seu local de trabalho. A situação torna-se tanto mais incompreensível, quanto é certo que os referidos magistrados usufruem de um generoso subsídio de renda de casa e ainda de viagens totalmente gratuitas em todos os transportes públicos terrestres e fluviais, incluindo, obviamente, os comboios Alfa.
II - Os magistrados portugueses recebem um subsídio de renda de casa no valor de 700 euros mensais. Mesmo os magistrados que residem em casa própria. (…) A situação atinge mesmo o absurdo, porquanto até os magistrados aposentados ou jubilados incorporaram esse subsídio nas suas reformas nas mesmas condições dos que no activo têm efectivamente de fazer face às despesas com a habitação por motivos de colocação.
III - Será possível que alguém possa auferir uma remuneração mensal permanente, que essa remuneração entre no cálculo da reforma, mas que esteja isenta de IRS? É. Em Portugal tudo é possível desde que se trate de magistrados.
António Marinho
Expresso
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Sendo a PSP uma força às ordens do Governo, um corpo policial que tem de obedecer às directivas do Governo, uma instituição que tem por função fazer cumprir o que o Governo decide, como entender que um agente ridicularize em público o primeiro-ministro e continue tranquilamente a fazer parte da corporação? Ora, sendo a Polícia o braço do Governo com a missão de manter a ordem, não pode haver entre uma e outro uma relação de oposição, um clima de desconfiança. Os trabalhadores têm direito a fazer greve. (…) O que aconteceu esta semana, com a projectada manifestação de militares, é igualmente inacreditável. Mais do que isso: configura uma situação pré-insurreccional. A recusa dos militares em cumprir ordens do Governo, só acatando a decisão do tribunal, mostra que estão em confronto aberto com o poder político regularmente eleito - ora isso viola todas as normas de funcionamento das Forças Armadas em países civilizados. A obediência total das Forças Armadas ao Governo é um elemento essencial do exercício da soberania.
Editorial
Expresso
11 comentários:
«Em Portugal
a Lei e a Ordem fazem greve».
Título do "New York Times" e do «China Daily».
«Forças militares, juízes e polícias manifestam-se nas ruas de Lisboa»
Título do "Dragens Nyheter" e do "Clarìn".
PS:
Se já viram algo parecido noutro lado, descansem: não é alucinação.
Embora exista uma carga simbólica inegável por se tratar da "autoridade" em greve, penso que não se devem misturar completamente estas três situações. Os polícias, por exemplo, ganham uma miséria em relação ao risco que correm. Sempre achei que para termos bons polícias temos de lhes pagar bem, para podermos exigir em contrapartida motivação e responsabilidade. Não estou por dentro da situação dos militares. Em relação aos magistrados, sem dúvida que os seus privilégios são algo escandalosos, como há muito tempo vêm denunciando, p. ex., António Marinho. No entanto, acho que as medidas do Governo são mais demagógicas que outra coisa. Acaba-se com as "férias judiciais" de 2 mesmes, como se os juízes passassem esses 2 meses no relaxe e não uma grande parte deles a trabalhar, mas não se vê nada quanto, justamente, aos subsidios e mordomias incompreensiveis como as referidas pelo Marinho. Parece assim como uma medida para o povão dizer "aqueles malandros, 2 meses no bem-bom, e nós aqui a matar-nos de trabalho". Demagógico, repito.
Aqui está um assunto complicado.
Estas medidas do governo cheiram a “ demagógico nivelamento por baixo”, pelo que estou de acordo com o caro André. Efectivamente, quem criou este estatuto dos “ Corpos Especiais “ foram os sucessivos governos do Bloco Central, os mesmos que agora querem nivelar. E já a seguir!
Acabaram-se as fases de transição, como acontece por exemplo com a limitação dos mandatos dos deputados. Bem prega Frei Tomás…
Última questão: os militares e polícias são profissionais. Porque não terem direito a manifestar-se?
É bom não confundirmos a árvore com a floresta.
Os polícias, os juizes, os militares, os funcionários públicos, os calceteiros, todos têm o direito de manifestar as suas reivinddicações.
Mas perdem esse direito quando o esbanjam e se põem a pedinchar.
Depois, ninguém os leva a sério.
Seria delirante se não fosse verdade.
As minhas saudações cordiais a tão bravo, nobre e adasmacado opinador.
A avaliar pelo feed-back dalguns comentadores, a demagogia de Sócrates parece estar a surtir efeito.
O que nós cidadãos queremos, é uma polícia que garanta segurança, uma justiça célere e cega e uma tropa ... ( bem da tropa, nada sei, mas parece-me que há tropa a mais. Uma pirâmide invertida? Mas mesmo isso tem que ser avaliado).
Até aqui estamos de acordo, não?
Será que com estas medidas do governo, a polícia e os tribunais passarão a ser eficientes, que é afinal isso que nos interessa?
Certamente que não.
Não houve qualquer avaliação nesse sentido, o touro não foi pegado pelos cornos. O que se passou foi simplesmente isto: foram rasgados os contratos e direitos de cidadãos. Como se a causa da inoperância dessas instituições fosse devida aos “mandriões”, que têm que ser punidos, e não ao poder político que criou o Monstro e os regimes de excepção. Que fez a LEI!
Será que a tropa só foi bom pretexto, enquanto garante das negociatas de aviões e submarinos?
Para reestruturar a contento, conferindo operacionalidade às instituições referidas, dimensionando-as para objectivos, é preciso dinheiro. E o dinheiro dos submarinos dava tanto jeito!
Óh moço!
Tens de me dar o teu número de telemóvel para te ligar quando chegar lá.
Surfista prateado:
Assino por baixo
Está apagado, embora seja de registar a elevação e o humor da resposta do Zé Mari@.
Para registo digo que não gosto disto de apagar comentários. Tenho até algumas dúvidas de ter tomado a atitude certa. Afinal o próprio visado reagiu com elegância. Enfim...
O comentário vai ficar aí com a indicação de ter sido apagado. Não vou apagá-lo definitivamente (ou seja, fazê-lo pura e simplesmente desaparecer da caixa). Só espero que isto não tenha o efeito contrário de aparecerem prai uns cromos a fazerem a pirraça de começar a comentar com caralhadas só para "fazer mossa".
Façam-me só um favor: não tornem isto num mini-Barnabé. Grato.
Não te conheço, mas nunca me enganaste.
É essa capacidade de ter dúvidas que falta ao Silva. Assim como não lhe passa pela esquadria da cabeça que é preciso medir/meditar muito antes de se proibir o que quer que seja.
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