A questão de "onde e quando começa a vida", utilizada pela campanha do Não, é uma falsa questão e uma ratoeira demagógica que devemos evitar. Há vida num espermatozoide como há vida num óvulo, há sempre vida em todo o processo de concepção e geração de um ser humano. A questão é outra: quando é que se pode afirmar que existe uma pessoa.
Curiosamente, o conceito filosófico e moral de "pessoa" foi desenvolvido por pensadores de matriz cristã, dos quais se destaca Mounier, dando origem à corrente "personalista" na Filosofia, que, outra vez curiosamente, é uma das inspiradoras da chamada "Democracia Cristã". Para Mounier, uma das caracteristicas da "pessoa" é a autonomia, ou seja, a capacidade, mesmo que em potência (como no caso do bebé), em sobreviver sozinho no mundo. O feto apenas às 20 semanas (5 meses) tem capacidade, e muito reduzida, de sobreviver sem o corpo que o gerou e alberga, o da mãe. Antes disso, de modo nenhum poderá, segundo a concepção de Mounier, ter o estatuto moral e filosófico de "pessoa".
Os defensores do Não insistem na questão do prazo, como se com as 10 semanas se estivesse a definir o instante preciso em que começa a "vida humana", mas enganam-se. Este prazo é apenas isso, um prazo, como o de definir a maioridade sexual aos 16 anos e não aos 15 anos e 364 dias. Como este, resulta de uma ponderação de diversos factores que o legislador toma em conta; neste caso, factores relacionados com o embrião, como a inexistência de sistema nervoso central, e com a mãe, como o perigo para a sua saúde física, ou o tempo necessário para se aperceber da gravidez (por este motivo, eu preferia o prazo de 12 semanas, que considero mais equilibrado). Tudo o resto, a demagogia que ouvimos e lemos por parte dos defensores do Não, o chamar "bebés" a embriões, o "dedinho que chupa" (num ser que ainda nem tem sistema nervoso, note-se!), não passa de areia para os olhos e berraria demagógica que, infelizmente, parece ter algum eco nas cabeças portuguesas.
21 comentários:
Depois de visitar este blog pela primeira vez e ler alguns dos seus posts, não me resta nenhuma dúvida: estamos de facto perante um incapacitado mental!!!!
Caro anónimo, folgo em sabê-lo juiz e juri dos outros, talvez tenha também algum jeito para carrasco.
Já agora, que tal argumentar?
Eu sou o anonimo que falou do carrasco e juiz, e devo dizer que o anonimo das 4:29h NÃO sou eu. Eu não falo assim. Tento manter um mínimo de respeito e nivel na conversa (ainda que acesa) ou então nem participo.
E isso de argumentar, cá vamos:
Pode-me dizer quando é que o bebé, o feto, ou amontodado de células deixa de poder ser abortado segundo a sua opinião?
É às 12 semanas? Portanto de um momento para o outro passa a ter direitos humanos, quando até lá não tinha direito a nada. Bom, obviamente discordo totalmente, mas pelo menos já é uma resposta e não uma fuga.
Para dar à conversa um tom objectivo, e sem demagogias aqui vai um excerto de um texto de um dos mais competentes cardiologistas portugueses: "Avanços recentes na cardiologia fetal mostram que o desenvolvimento do coração ocorre entre as três e as seis semanas de gestação, e que por volta do 20.º dia este já bate. Entre a 8.ª e a 9.ª semana, o coração está formado com as estruturas cardíacas, ocupando já as posições e realizando as suas funções definitivas. Às dez semanas, o coração do feto assemelha-se muito ao coração adulto, quer externa, quer internamente. As mais delicadas estruturas cardíacas, como os milimétricos folhetos da válvula aórtica, estão formadas e vão continuar a sua maturação e diferenciação. Às dez semanas, a função circulatória está estabelecida e só vai alterar-se após o bebé nascer, com a adaptação à respiração. O coração bate com regularidade e variabilidade, e a complexidade das funções sistólica e diastólica é comparável à dos adultos."
É assim um bebé às 10 semanas. Não um "amontoado de células".
A hipocrisia, como a camelice, de facto, não tem limites.
É óbvio, evidente, incontestável, indiscutível, etc., etc. que o
“bebé (!?!), o feto ou o "amontoado de células”, enfim, o embrião é vida.
Se o não fosse era uma necrose. Não havia hipóteses de gestação. Era o (quase) nada!
É assim com o embrião humano, com o do cão, do gato, da lagosta ou da hiena.
É um axioma. Toda e qualquer discussão à volta dele é cuspo e só serve para embarrilar quem de ciência pouco ou nada sabe, mas que, provavelmente, conhecerá muito dos infortúnios da vida.
Como viram o dvd (ou a demo) da National Geographic “Vida no Ventre”, todo o bicho careta se acha um especialista na matéria. É uma coisa muito cá da gente, que vai a loja, compra um prego e um martelo e considera que o quadro já está pendurado. E ainda por cima fica desiludido quando o vê, meses depois, ainda encostado no mesmo canto. Ou então, aprende a mudar um pneu e, pois claro, já se toma por mecânico experimentado.
Depois tropeça a cada passo em erros de raciocínio, o que também não o incomoda por aí além.
Perdigotam até à exaustão sobre os direitos do embrião, mas raramente se referem aos outros dois “amontoados de células”: a grávida e o fecundador, personagens sem as quais não há peça. Se ponderam abortar é porque ela é, no mínimo, uma leviana, quase uma criminosa. Quanto a ele, "coitado, foi levado...".
Os "na(o)zistas" têm consciência de que fazem IVG mulheres casadas e solteiras, teens e trintonas, noivas e avós (sim, avós)? E que os casais discutem a dolorosa necessidade de abortarem o nascimento do filho/a?
“Eu desempregado, tu com o salário mínimo, como é que vamos alimentar, educar e pôr a estudar mais um? Ainda vai ser um galdério!”; “Oh! Meu Deus! Com um pai alcoólico violento, que já desfaz os outros à cinturada, vou pôr no mundo mais um infeliz”. “E agora, que estou a meio da minha tese de doutoramento…” “Ai o meu estágio! Mas se não o acabar também não ganho para ter mais um filho.” Etc, etc. Não são contos da carochinha, nem argumentos de telenovela. É a vida tal como ela é.
Quem é que gosta que lhe enfiem um par de agulhas de tricotar pela vagina e pelo útero acima? A IGV é sempre um acto doloroso em todos os sentidos. É sempre um castigo atroz que deixa marcas para toda a vida, seja feito clandestinamente (o que roça a barbaridade) seja numa clínica sofisticada.
E o homem também não fica impune.
É esse o yn/yang da IVG:
acto cruel/acto de amor
Só defende o ‘não’ quem não ama a vida.
Só aqueles para quem o nascer do Sol é uma má notícia.
Vou só citar uma estatística de um país europeu onde o aborto foi Liberalizado (tal como querem alguns fazer em Portugal). O Aborto actualmente está calculado em 27%. Por cada 100 crianças que nascem ou deveriam nascer, 27 são abortadas. E mais, não é nos segmentos baixos, nos pobres e desempregados que esse aborto se dá.(além de que não há 27% de desempregados), são os mais abastados que tendo a via e a vida facilitada optam pelo aborto.
Hipocrisia e falta de visão real é insistir na história de uma ínfima minoria nos casos de aborto, para facilitar a desumanização e brutalização de uma sociedade, que se vê livre dos mais fracos e mais inocentes.
Se os ricos e abastados fizerem bicha para abortar posso deduzir que no futuro o CDS não terá militantes. Ou o seu número será reduzido em 27%.
simplismo é confundir ricos e abastados, com CDS
O CDS é um partido da classe operária. Estou bem informado. Mas por azar comporta-se como um conjunto de crianças ricas e mimadas. E não vou falar das suas origens e aquelas reuniões no Hotel Altis. Em Portugal não há falta de dinheiro. Há falta de memória.
Apesar deste post já estar cheio de comentários aqui deixo ainda uma ideia...
Um bebé é bebé mesmo antes da concepção...um bebé começa a ser pessoa quando alguém começa a ter expectativas face à sua existência.
Alarmante é quando uma gravidez acontece sem que exista expectativa em relação à mesma.
Alarmante é quando não existe um "útero mental" ou no mesmo sentido, quando existe um "aborto mental" face à pessoa que vai na realidade nascer.
Sem expectativa e sem espaço para que possa, de algum modo existir.
Porque não foi sonhada, imaginada ou pensada!
Só uma ideia.
Sem certezas e com muito de ambíguo.
André, um abraço!
Beijinhos, Joana
@ anónim@ que sabe tudo sobre o coração de um "bé-bé" de dez semanas que me esclareça: quando é que um piloto pode ABORTAR um vôo sem ser punido? É um metro antes ou um metro depois do que está estipulado?
Não goze com a ignorância, porque um dia pode ter um filho que saia ao Pai...
Antes dizia-se que o papel aguenta tudo.
Hoje talvez se possa que o monitor também.
Desculpem, reformu-lo:
Diz-se que o papel aguenta tudo.
Talvez se possa acrescentar que o monitor também.
(Prova-se que fazer o comentário 13 dá azar)
A argumentação do "não" caracteriza-se de tal maneira pela manipulação que, tal como nas fotonovelas faz acreditar que os sentimentos residem no coração e não na mente.
Mas estou de acordo que quem não queira abortar não seja obrigado a fazê-lo, tal como quem se sente obrigado a fazê-lo o possa, em condições humanas e sem pôr em risco a saúde. Os defensores do "não" que entendam de uma vez por todas que ninguém os obriga a nada, ao contrário do que eles tentam, impôr.
Ele há tanta coisa para fazer!
E esta gente distraída com coisas menores!
Sensatez1
Esta coisa é do foro íntimo.
Ninguém se meta, ninguém opine.
Que o Estado(laico, livre) faculte os meios e não julgue.
Dia 11/2 estarei algures...
Não contem comigo.
Também acham que o uso de armas é coisas da consciência individual? E a violência doméstica, sobretudo quando as mulheres afirmarem que gostam de apanhar, é da consciência de cada um? Desde que seja em casa a sociedade não tem nada com isso?
Este blog realmente...
E acham que qualquer mãe tem o direito de abortar caso queira um rapaz, e esteja grávida de uma rapariga? Pois é o que a Nova Proposta de Lei vai permitir.
A lei permite-me cagar no meio da sala, mas eu prefiro a retrete
Caro anónimo das 4:57 :
No próximo Natal vou oferecer-te uma bala!
Pode ser que ela te inspire...
Tonteira!
Adoro bala, de preferência com sabor a morango
(Estive para aqui a escrever um discurso que se apagou todo por isso vou resumir): A questão da lei do aborto, que os nossos políticos não conseguem assumir sózinhos pois têm de ir a referendo (por uma questão de saúde pública, onde é que isto já se viu?!), não é uma questão de vida ou de morte como todos vêem, é uma questão de ESCOLHA PESSOAL.
P.S. E HÁ TANTO A DIZER SOBRE ISTO.--- EXPLIQUEM AS COISAS ÀS PESSOAS; DIMINUAM O PREçO DA PÍLULA,... DIGAM AOS MORALISTAS QUE MESMO QUE A LEI NÃO PASSE OS ABORTOS EXISTEM NA MESMA (E TALVEZ EM MAIOR NÚMERO PORQUE NADA É EXPLICADO).REPITO: Se a lei não passar, os abortos vão existir na mesma e haverá gente a fazer dinheiro, muito dinheiro à custa da ignorância ou do desespero de muitas pessoas.
AS PESSOAS NÃO EVOLUEM COM PROIBIçÕES. OS PORTUGUESES PRECISAM DE INFORMAçÃO! ...
L.
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