" De cada vez que formulo uma interrogação, que ponho qualquer coisa em questão, pressuponho - nem que seja provisoriamente - que existem coisas que por enquanto o não estão. Não posso pôr tudo instantaneamente em questão. Em última análise, como diria o meu trisavô - mais conhecido pelo nome de Platão - se ponho tudo em questão, e nisso incluindo o sentido das palavras pelo qual o realizo, já não ponho mais nada em questão e nada mais existe".
" O pensamento avança na interrogação postulando-se e ficando obrigado a manter um certo número de coisas, mesmo que seja para as pôr em questão numa segunda fase. Um pensamento livre ou aberto é o que se implica neste movimento; não é uma liberdade pura, um raio que atravesse o vazio, uma luz que se propague através do éter, é uma travessia que , de cada vez, se deve apoiar em alguma coisa. E que se deve orientar tanto em relação ao desconhecido como face aos " resultados " obtidos anteriormente, alterando-os, projectar-se, pôr tudo em questão".
" É esse movimento que devemos captar no que apelido de auto-instituição explicita da sociedade : nem um estado definido uma vez por todas, nem uma " liberdade pura ", um fluxo absoluto de tudo a todos os instantes, mas um processo contínuo de auto-organização e de auto-instituição, a possibilidade e a capacidade de pôr em questão as instituições e as significações instituídas, de as refundar, de as transformar, de agir a partir do que já está lá e usando isso, mas sem se deixar ficar prisioneiro pelo que já existia ".
In Le Contenu du Socialisme, Ed. C. Bourgois, 10/18, pág.358
FAR
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