" Acreditar em tudo e acreditar em nada, isso equivale-se. A soberania da Técnica une-se, como disse Heidegger, a uma intensa credulidade. É o que vos posso demonstrar ao longo dos tempos escutando o blá-blá universal. Florescimento de todas as falsas soluções, charlatanismo generalizado. Nietzsche é um niilista. Ele afirma-o. E é precisamente porque é isso de uma maneira tão radical, que ele o diagnostica a fundo, e talvez por isso possa ser também o contrário. Não se pode ser Anti-Cristo sem o Cristo, isso não significaria nada caso contrário. Dionysos contra o Crucificado, é lá que urge observar de perto".
" Não se está para lá do niilismo, sem se ser fundamentalmente niilista. Ou tê-lo sido, e ter visto o limite disso. Mortal, na ocorrência. Ou demencial. Autodestrutiva em todos os casos. Quero matar e acabo por me matar a mim próprio...É preciso que se desconfie das pessoas que ousem vos tratar como um niilista, assim mesmo, sob o pretexto que seria melhor aderir, extasiar-se de qualquer das formas. Porque isso é o niilismo, justamente. O niilismo é não colocar a questão do nada. Se a questão do nada é ignorada, ou não formulada; pois bem, podemos agitarmo-nos em todos os sentidos, passaremos a ser niilistas".
" O mais grave nesta questão, é que, a partir de agora, o espaço social se encontra completamente paralisado e sem distinções. Quando Nietzsche anuncia que a partir de agora a plebe vai reinar, e ele emprega essa palavra no final do séc. XIX, com efeito, tudo o que aconteceu lhe dá razão: A plebe, não o povo, a plebe! E quando diz e prova, e a nossa época dá-lhe razão: " plebe no alto, plebe em baixo ", é isso que é preciso compreender... Plebe no Jet-Set, plebe nos bairros da periferia. Estamos nisso: Nietzsche é um anarquista aristocrático absoluto. Não é preciso acreditar que o superior dará lições ao inferior. Fazem parte da mesma substância. O mestre e o escravo, isso era nos bons velhos tempos..."
"Nietzsche é o niilista que era preciso para diagnosticar e ultrapassar o niilismo...É preciso distinguir entre o que ele apelidava de pessimismo romântico: Wagner, Schopenhauer, bom dia Houellebecq... e o pessimismo dionisíaco, isto é, o seu... o verdadeiro negativo, a possibilidade de destruição. O eterno retorno não dispensa uma revelação inacreditável da destruição. Por essa razão Nietzsche só confessava tal eventualidade murmurando, com a mão a tapar a cara e com uma expressão de grande terror... ".
In Entrevista de Philippe Sollers à " La Presse Litteraire", revista da Robert Lafont Editores, France
FAR
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