terça-feira, 9 de janeiro de 2007

Embriões, indivíduos e as coisas que o "não" se esquece de dizer

No Blogue do Não, citam-se livros de Embriologia que, pelos vistos, dizem que é no momento da concepção que tudo começa.
Ora, os senhores do Blogue do Não não leram os livros até ao fim, e se calhar convinha. Por exemplo, a fecundação é um processo de cerca de 30 horas. O início de tudo é no princípio das 30 horas? Ou no fim? Ou há um instante crucial a meio?
Mas, não fosse isto suficiente, há algo mais inquietante. Se, para o Blogue do Não, nasce um ser novo na concepção (num segundo preciso daquelas 30 horas), outra dúvida fica por esclarecer. Chamemos ao novo ser humano, sei lá, João. Até 8 - 10 dias depois, pode haver uma divisão do embrião em dois. Ficamos assim com um João e um Paulo? E qual deles é o João inicial? Ou temos agora um Paulo e um José? E o que aconteceu ao João? Há uma diferença grandíssima entre o estatuto de "vida" e o de "indivíduo", como se pode ver.
Mais, se os senhores do Blogue do Não acreditam mesmo nessas palavras façam uns outdoors a chamar assassinos aos vendedores e compradores da pílula do dia seguinte. E, claro, volto a bater nesta tecla, expliquem ao país como é que querem obrigar mulheres que são violadas a terem filhos da pessoa que mais odeiam.


O André tem razão quando diz que somos pouco populistas. Eu e os meus amigos temos uma piada grupal que é a lógica é só uma ferramenta. De facto, há gente que persiste em usar outras em discussões. Ferramentas que nos escapam permanentemente, e que impossibilitam o acto de comunicar com pessoas que não usam a lógica. Eu não consigo funcionar de outra maneira - embora isso possa ser útil para combater a hipocrisia do "não". Enfim, vamos lá ver se o país evolui dia 11 ou não.

9 comentários:

Anónimo disse...

Ó Manel, populista é o que tu és.
Conheces por ventura a actual Lei do Aborto?
Não sabes que as mulheres violadas já podem abortar?
Para que vens tu com frases populistas (para dizer o menos) como "querem obrigar mulheres que são violadas a terem filhos da pessoa que mais odeiam"

Atirar areia para os olhos isso é o que estás a fazer. E não venhas com a cassete da hipocrisia. Hipocrisia é condenar a pena de morte e defender os direitos humanos, e condenar os seres humanos (não são fetos, são bebés) sem necessidade de justificação ou de razão, simplesmente porque a mãe assim o quer.

Isso sim é uma valente hipocrisia, Manel.

Manuel Neves disse...

Anónimo, quem diz que defende a vida e que a mesma começa na concepção, está obrigado a defendê-la em todos os casos. Ou a vida tem contexto moral?
(claro que há "nãos" diferentes, mas os que ataquei são os que defendem "a vida)
A actual lei do aborto não che porque ao contrário de Espanha, Portugal não usa a alínea do trauma psíquico.

Anónimo disse...

Claro que sim. Eu defendo a vida em todos os casos. Sou contra todas as penas de morte sobretudo quando a mãe (e só a mãe) é a juíza e um médico faz o papel de carrasco.

A unica grande diferença entra a lei do Aborto em Portugal e Espanha, é que em portugal ainda não está liberalizado, é necessário haver alguma justificação (violação, mal formação, perigo de vida), enquanto que se vencer o sim no dia 11, a mãe não precisa de dar cavaco a ninguém, basta querer, basta por exemplo não estar satisfeita com o sexo (género) do bebé.

Anónimo disse...

E já agora usando o teu argumento da dificuldade em determinar o início da vida, pelo menos os adeptos do não têm um momento mais preciso para definir o início da vida do que os adeptos do sim.
Não concordas?
Qual é para ti o momento do início da vida?
A partir de que momento deixa de ser lícito para ti abortar?
Até ao parto?
10 semanas?

xatoo disse...

"quando a mãe (e só a mãe) é a juíza e um médico faz o papel de carrasco"
mas, "carrasco" de quê? de um amontoado (até às 10 semanas) de células que até já podem ser produzidas em laboratório?

Anónimo disse...

Xatoo, procura na net e verás como é um bebé às 10 semanas. Verás um "amontoado de células" com forma humana, com pés e mãos e dedos e olhos e boca, com todos os orgãos já formados, que tem estímulos de reacção à dor e que até chucha no dedo.
Ciência e racionalidade é isto.
O que vejo ser praguejado neste blog são fantasmas ideológicos politiqueiros, misturados com confusões ideológicas. Não vejo ciência, nem vejo racionalidade. Nem vejo verdade. Vejo medo.

Anónimo disse...

E já agora, não dizes quando é que o "amontoado de céludas" passa a ser um ser humano e passa a ficar protegido da pena de morte. Quando é que para ti o feto, ou células, têm direito à vida, e deixa de ser lícito abortar?

Manuel Neves disse...

Para mim não existe, "o início da vida". A vida é um contínuo (aliás, houve, ainda antes de anunciado o referendo, um debate sobre este tema na FCUL e esta foi a conclusão de muitos biólogos presentes). Não considero existir uma diferença significativa entre óvulo+ espermatozóide e embrião em termos de potencialidade. Se o facto de duplicar o número de cromossomas é assim tão decisivo, mantenho as perguntas quanto ao caso dos gémeos.
Por muito que o "não" queira, para mim este debate não acerca de quando começa a vida. Quanto muito é sobre quando começa a noção de indivíduo.

Se me diz que é a favor de todas as formas de vida, tem que ser contra o facto das mulheres poderem abortar quando são violadas. Portanto, quero que me explique como é que obriga uma mulher a ter um filho da pessoa que mais odeia.
Quanto à sua diferença entre o aborto em Espanha e Portugal, a diferença é simples: em Espanha uma mãe pode abrotar alegando "trauma psíquico". Em Espanha, esta alínea abrange tudo. E cá, nada.
Mais, esse argumento das mães que abortam "por dá aquela palha" mostra o mundo paranóico e doentio em que certa facção do "não" vive. É um argumento que dá a sensação que as mulheres vão abortar um número desmesurado de vezes (errado, já que 85% das mulheres que aborta em clínicas espanholas só o faz uma vez), é um argumento paternalista (as mulheres são umas estúpidas levianas, mas as pessoas sábias do “não” estão cá para encaminhá-las) e, repito, paranóico – as mulheres grávidas vão todas querer abortar e fazer competições para ver quem tem o motivo mais estúpido.
Quanto ao último post (são muitos anónimos e nem números têm), para mim o aborto deve ser permitido até às 12 semanas, porque segundo sei, até aí é seguro para as mulheres e não há evidência de aparecimento de sistema nervoso central (os seus primódios começama formar-se nesta fase, mas o tálamo – relacionado com a dor – é muito mais tardio).

Por último, gosto sempre de salientar, que somos dos poucos países ainda com esta penalização e que a ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE dá directivas para a despenalização e tem estudos muito bons acerca do aborto clandestino que os blogues do não têm uma dificuldade imensa em fazer copy paste. É selecccionar, fazer copiar e depois colar. É muito fácil. Não me passa pela cabeça que não façam isso por uma questão de táctica, já que estão sempre a apregoar um debate idóneo.

Anónimo disse...

Não me interessa minimamente saber quando começa a vida, senão daqui a pouco iamos discutir a liberalização do onanismo.
Vida para mim é sinónimo de qualidade. Sem qualidade não há viva.
Para mim, acima dos direitos da mãe e do pai, que são relevantes, estão, acima de tudo, a falta deles nas crianças indesejadas e negligenciadas pelos pais que não as evitaram, embora soubessem que não poderiam nunca dar-lhes o que elas têm direito e está estabelecido na Carta das Nações Unidas para os Direitos da Criança.
Viva a Vida.