terça-feira, 23 de janeiro de 2007

O acessório e o essencial

A posição mais absurda e impossivel de defender que tenho encontrado sobre o referendo é bem exemplificada neste post de Pedro Arroja no Blasfémias. Arroja, sucintamente, é contra o referendo, por isso se abstém. De permeio, afirma não ter «o direito de andar a decidir sobre intimidade de cada mulher portuguesa e o que lhe está no ventre», não ser «nem contra nem a fovor do Aborto», porque só uma mulher pode ser contra ou a favor, e termina dizendo que a multidão não deve ter autoridade sobre o corpo de uma mulher. Portanto, Arroja acha que devem ser as mulheres a decidir sobre fazerem, ou não, um aborto, mas não vai votar na opção do referendo que defende isso e exactamente isso, porque é "contra o referendo". Ou seja, para Arroja, o essencial (o direito da mulher de ter autoridade sobre o seu corpo independentemente da opinião da multidão) é menos importante que o acessório (o referendo). O que interessa é o referendo, não o que pode, ou não, resultar do referendo. O processo vale mais que o resultado.
Aos adeptos do aborto legal que se pensem abster por este tipo de razões (não parece ser esse sequer o caso de Arroja, que se perde numa contradição absoluta de argumentos), queria lembrar, apenas, que só se encontra esta questão ("ser contra o referendo") em potênciais votantes do Sim; a ninguém, no campo do não, passa pela cabeça se abster por achar que a questão não devia ser referendada. E no entanto, quem mais do que eles está, por definição, contra o referendo?

1 comentário:

Anónimo disse...

O processo é fodiiiiido