" Com efeito, a verdadeira autoridade não consiste tão só no acto de executar as decisões determinadas, de fazer aplicar as leis votadas, de administrar os serviços públicos de acordo com a lei, mas sim no acto de fazer e impor a lei ". Michel Bakounine
Dominique de Villepin, Pm francês, foi anteontem duramente vaiado no Parlamento e, na calçada, encara o número dois do staff de Nicolas Sarkozy, Brice Hortefeux , atacando-o frontalmente e responsabilizando-o pelo vexame inédito a que foi sujeito horas antes. E, nesse sentido, diz em voz alta para o homem das manobras todo-o-terreno sarkozistas: " Foi você que organizou esta cena no Parlamento. Se continuarem assim, candidatar-me-ei!". A ameaça vale pelo extremo dramatismo e polarização que fulminou o espaço político francês, a cem dias da primeira volta das Presidenciais. E foi muito glosada num universo mediático de alta voltagem e com muitos interesses camuflados...
Villepin, responsável máximo pelos êxitos eleitorais de Chirac, pertence aquele tipo de animais políticos que voltejam na sombra e acumulam informações piramidais sobre o passado e as possibilidades dos seus adversários: tirou partido da militância trotskista de Jospin - sonegada traumaticamente por ele próprio desde sempre, sobretudo já na área do poder do PS- e tentou implicar Sarkozy como cliente do banco de "negócios" do Luxemburgo, Clearstream, um mega escândalo que pôs em pé de guerra todos os escalões das secretas gaulesas, o glamour das administrações da Airbus/EADS e do golgota parisiense das grandes fortunas. O que estava em jogo: a candidatura presidencial negociada pelos barões da Direita, com dois putativos candidatos, Sarkozy e Villepin, sob o controlo de Jacques Chirac, o PR que unificou a galáxia para acautelar possíveis represálias judiciárias no dia da sua saída do Eliseu.
Só que Sarkozy, de quem os analistas dizem que gosta de protagonizar os afrontamentos, foi minando o terreno no interior do seu partido, fazendo-se eleger presidente e colocando nos postos chaves os seus homens de confiança. Ao mesmo tempo, destilando ameaças e fazendo correr os mais desencontrados rumores sobre a vida hiper-sexual de Chirac, suposto ter filhos no Japão e em Marrocos...Para lá dos problemas judiciários ligados com os 18 anos que passou à frente da câmara de Paris. Tudo isso concorreu para um sucesso editorial sem precedentes ligado à publicação do panfleto pró-sarkozista do incontornável Franz-Olivier Giesbert, enfant terrible de Mitterrand que a direita conquistou para baralhar as cartas da gestão dos Média.
Villepin tinha sido o sucessor de Sarkozy no Ministério do Interior, após a reeleição triunfal de Chirac contra Le Pen, na segunda volta em 2002. Sarkozy volta ao Interior com a subida de Villepin a PM: e tudo começa a correr com sobressaltos! Rivalidades Villepin/Sarkozy ao zénite, fugas de Informação na Grande Imprensa sobre as aventuras extra-conjugais do casal Sarkozy, com a segunda esposa deste a passar férias nos USA com um amigo da Publicidade...Artigos nos Média sobre a conta colossal do PR francês num banco de um amigo de Tóquio. Tirada e resposta: numa cadência de rififi surreal e mortífero. Era ver quem mais golpes dava ou sugeria, imaginem.
Villepin, que era o chouchou da inteligentzia parisiense, foi perdendo apoios e viu, na calçada, desfazerem-se os sonhos de se poder preparar para candidato a sucessor de Chirac. Foi a odisseia do Contrato do Primeiro Emprego (CPE), feito a pensar em enquadrar os jovens dos arredores de Paris que se tinham revoltado no Inverno de 2005. Foi pior a emenda do que o soneto: o projecto-lei foi arquivado e destruiu nas sondagens a popularidade do PM, a ponto de ninguém dar nada por ele como presidenciável. Como dizia Taine, " devido a se estar habituado a ir ao fundo de tudo, corre-se o risco de lá ficar...". Tal parece o sindroma exaltante e fatal, cruel e irrisório do destino de Villepin, que vai tentar "estragar" a campanha eleitoral de Sarkozy, a menos que negoceie uma saída " dourada"- embaixada em Washington - se o candidato dos neo-"gaullistas" vencer Ségolène Royal, o que está longe de se tornar uma realidade palpável como o demonstram as sondagens favoráveis à socialista.
FAR
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