Não haja dúvida que Portugal é o país das originalidades, e que os "liberais" à portuguesa são peritos nelas. Depois dos "liberais" versão Opus Dei, temos agora um "liberal" que descobriu o liberalismo em Proudhon. Nem mais. Proudhon. O mesmo que era contra a propriedade privada, a industria, a moeda, em suma, o capitalismo, foi repescado para "liberal", porque se opunha ao Estado, e o inimigo do nosso inimigo nosso amigo é. O problema é que aquilo que Proudhon quer dizer com "Estado", é o oposto do que entendem os ditos "liberais", mais não seja pelos 150 anos de distância, materializados na evolução prática do seu papel que deu origem ao chamado "Estado Social". É que o Estado que Proudhon combate é o garante do capitalismo, e o Estado que os liberais detestam é o que lhe vai ainda, por ora, pondo travões.
Nota 1- Não quero com isto, longe de mim, desaconselhar aos "liberais" a leitura do grande filósofo anarquista. Recomendo, para começar, "O Que é a Propriedade?", talvez assim entendam a injustiça essencial que subjaz ao dogma da propriedade privada; depois, e especialmente dedicado aos "liberais Opus Dei", "A Justiça na Revolução e na Igreja"
Nota 2 (obrigado ao Luis Palácios pela dica)- Que tal, na mesma lógica, considerar que Adam Smith, se vivo, fosse pela alterglobalização? Afinal o senhor era um conhecido anti-liberal.
7 comentários:
Oi! Eu estou perdida. Estás a falar de quem? Não vejo as notícias portuguesas todos os dias... para não deprimir ainda mais, justamente. Portanto, específica, se faz favor. Isso da "alter-mundialisação" já se viu que não funciona (só se estivermos de acordo com mais extremismos). Temos de encontrar algo que, sobretudo, não ínclua política... senão é só conversa!
Continuem o vosso bom trabalho.
Sinceramente,
Lena.
Olá Lena.
A vermelho no post tens os links para as informações que procuras. É só clicar.
Cumprimentos
Estás online? Entrão depois de leres isto podes apagar?
Recomendo-lhe a leitura deste http://en.wikipedia.org/wiki/Libertarianism texto, em inglês, para ver que não é só em Portugal que os liberais são originais.
E sugiro-lhe, para reflexão, o seguinte: o «O Que é a Propriedade», que conheço, como imaginará, muito vagamente, data de 1840, e o nosso homem morreu em 1865. Tem a certeza que manteve, até esta última data, o que escreveu na primeira? Conhece a obra dele assim tão profundamente? Talvez. Daqui por uns dias voltarei ao assunto e gostarei de o voltar a «ouvir».
Caro Rui:
Considero-me razoável conhecedor da obra de Proudhon. Li "O Que é a Propriedade?" e "A Filsofia da Miséria", mas para além disso, quando mais jovenzinho aproximei-me muito do anarquismo, e tomei contacto com bastantes estudos sobre a obra. Recomendo-lhe, a este propósito, http://proudhoniana.blogspot.com.
Recordo-lhe que Proudhon foi um dos fundadores da Internacional Socialista. Eu acho que andam aí umas grandes confusões com o termo "libertarian" (em inglês, porque curiosamente não se vê tanto quanto à sua tradução, "libertário") que é reclamado tanto por defensores do livre mercado e do capitalismo sem quaisquer regras, como v. (mas só em inglês), como por defensores de um socialismo individualista e não autoritário, como eu (em inglês e português).
Quanto a Proudhon, não tenha ilusões: nem a sua opinião sobre a propriedade mudou (apenas se tornou um pouco mais pragmático na abordagem aos problemas), nem era de qualquer modo imaginável a favor do capitalismo, que abominava como, justamente, opressor do individuo.
Tens razão, André.
Há pessoas que misturam os alhos com os bugalhos.
Por outro lado, acho incoerente o voto negativo de um "liberal" no próximo dia 11. A pergunta feita no referendo é liberal e a ideia que uma mulher possa decidir o que fazer do seu corpo, enquanto ainda pode fazê-lo dentro da lei, também é.
Decidir, é a palavra chave.
Os "libertarians" pretendem que seja o indivíduo e não o Estado a decidir o que fazer, o que ganhar, o que pagar...
Queremos que uma mulher decida da sua vida sem pressões, dentro da lei, com a ajuda dos meios ao dispor do cidadão no SNS, não é?
Caro André,
Voltaremos ao assunto. Você com a sua e eu com a minha. Quanto ao termo «libertarian», não há qualquer confusão. Como é evidente, refiro-me aos «libertarian» americanos discípulos de Rothbard e de Rand, que, como sabe, não estão assim tão longe do anarquismo. O que os distingu é, sobretudo, a forma como valoram a propriedade privada. Em Proudhon, ao contrário do que diz, houve de facto uma modificação na sua ideia de propriedade. Voltarei ao assunto, confesso-lhe, para lhe roubar o homem.
Abraço,
Rui
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