quarta-feira, 19 de abril de 2006

"Rua da Judiaria" recorda massacre

O blogue "Rua da Judiaria", de Nuno Guerreiro, convida todos a concentrarem-se hoje às 19:00 no Rossio, em Lisboa, em memória dos 4000 judeus mortos no massacre de Lisboa de 1506. Este acontecimento, que em termos históricos nunca teve grande destaque, é impressionante pela sua crueldade.
A iniciativa está também a ser divulgada pela comunicação social, mesmo vindo de um blogue cujo titular não é um comentador politico nem nenhuma figura pública com grande visibilidade. É um exemplo do poder crescente dos blogues, que se impõem cada vez mais no espaço mediático público.
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Como vozes que teimam em emergir de entre as poeiras da História, cronistas como Damião de Góis e Samuel Usque deixaram relatos detalhados dos motins sangrentos. Contam os testemunhos que tudo terá começado na Baixa, no dia 19 de Abril de 1506, um domingo, na Igreja de São Domingos, quando alguém gritou ter visto o rosto do Cristo crucificado iluminar-se inexplicavelmente no altar. Em redor, gente que rezava pelo fim da seca prolongada que grassava pelo país clamou que era milagre. Entre eles, um judeu convertido à força terá tentado explicar que a luz que emanava do crucifixo era apenas um reflexo de um raio de sol que entrava por uma fresta. Terão sido as suas últimas palavras. Arrastado para a rua, o marrano e um irmão seu foram espancados até à morte. Os seus corpos mutilados foram arrastados para o Rossio e queimados em frente dos Estaus – onde décadas depois foi instalada a Inquisição. Eles eram apenas os primeiros de entre mais de 4 mil mortos – anussim, judeus portugueses, homens, mulheres e crianças, assassinados em três dias sangrentos. (...)
Para ler mais é só clicar no texto.

3 comentários:

maloud disse...

A iniciativa é meritória, essencialmente, para acabar com a mentira dos nossos brandos costumes. A História que o Estado Novo nos impingiu era historieta e, depois do 25 com ligeiros ajustes, prosseguiu a mesma cantilena. A Inquisição foi espanhola e nós só fizemos umas fogueirinhas. A colonização espanhola, inglesa, francesa, holandesa e belga foram bárbaras, enquanto a nossa foi muito humanista. Espero que finalmente nos confrontemos com o nosso passado, não para pedir desculpa, porque os que a deviam pedir já não podem, mas para sabermos o que fomos.

Anónimo disse...

Concordo completamente com a Maloud.
Embora só tivessem lá cerca de 200 pessoas, foi importante o encontro pelo seu simbolismo.

O presidente da Câmara não foi nem mandou ninguém porque estavam todos muito ocupados com a inauguração do casino.
Ironias que revelam a falta de percepção da importância de encontros como este.

maloud disse...

Como vivo no Porto desconhecia a ausência de um representante da Câmara de Lisboa. É lamentável, mas reflecte talvez o desejo de continuar com a cantilena do "bom povo português".