sexta-feira, 14 de abril de 2006

Da Capital do Império

Olá!
Na Segunda-feira foi dia de manifestações aqui na capital do império e através de todo este vasto país imperial.
Mas que diferença das manifestações da velha França. Aqui na capital do império o ambiente era festivo, a língua mais falada era o espanhol (com sotaque colonial bem sei) e o principal foco dos manifestantes era este: Queremos trabalhar, queremos o direito àquele documento que nos dá o direito a trabalhar.
Na Europa, diz Diana Furtchtgoot Roth, uma economista, os franceses querem “mais protecção dos seus empregos”. Aqui “ninguém pede protecção contra ser despedido”.
Não há “direito” ao emprego nos “states”. Os americanos (e pelos vistos os imigrantes que aqui chegam) olham para as empresas onde trabalham do ponto de vista económico, os europeus como uma fonte de benefícios. É uma das grandes diferenças culturais que talvez explique a incredulidade e risos de surpresa dos yankee com o conceito de quatro ou cinco semanas de férias e 14 meses de ordenado. (Noto as vezes uma certa inveja no entanto, principalmente entre a malta mais jovem)
Aqui na capital do império a manifestação de Segunda-feira era um mar de bandeiras americanas (imagine-se!), salpicadas aqui e ali por bandeiras de El Salvador, da Guatemala de onde vem a maior parte dos imigrantes legais e ilegais que chegam a esta cidade. Noutras partes dos Estados Unidos são do México, da Bolívia ou mesmo do Braziu.
Em todas essas cidades muitos desses imigrantes amontoam-se pela manhã em certas esquinas à espera de serem abordados por capatazes de construção, firmas de jardinagem e outras para trabalharem durante um dia ou semana ou mês.
Outros vão para estados como as Carolinas do norte e do sul onde os aviários e a industria da carne de porco passaram no espaço de dez anos a ser quase que totalmente monopólio de trabalhadores da América Latina.
Com a economia quase que a pleno emprego há sede de trabalhadores aqui na sede do império e eles chegam legal e ilegalmente aos milhões. O ano passado os serviços de fronteira capturaram um milhão e duzentos mil ilegais a tentarem atravessar a vasta fronteira com o sul. Quantos entraram? Ninguém sabe. As estimativas são de que há neste momento nos Estados Unidos 11 milhões de ilegais. Legalmente imigraram para os estados Unidos em 2003 pouco mais de 600 mil pessoas um dos números mais baixos dos dez anos anteriores. (Em 1991 o numero foi de 1,8 milhão). Mais de 31 milhões dos habitantes dos Estados Unidos nasceram no estrangeiro. É 11,1% da população do país
Há problemas claro. De integração, de municipalidades que se vêm subitamente “invadidas” por um exército de estrangeiros que não sabem a língua, com filhos a terem que ir para a escola, a precisarem de assistência médica.
Mas aqui a flexibilidade é notória. Municipalidade tem escolas primárias e secundarias especializadas em fornecer ensino “em inglês como segunda língua” e há cursos universitários para professores do ensino secundário especializados em ensinar pessoas de “uma segunda língua”.
A polícia, as empresas, as repartições públicas procuram avidamente pessoas bilingues para responder a essa necessidade. Falar espanhol hoje aqui é uma vantagem no mercado de trabalho. Basta olhar para os anúncios. No meu banco as caixas automáticas são em inglês e espanhol. Grande número dos empregados são “hispanicos” porque vivo numa zona de grande penetração salvadorenha.
A mobilidade é algo de vislumbrante. O número de negócios nas mãos de “hispanicos” cresceu 31 por cento entre 1997 e 2002 gerando 222 mil milhões de dólares de rendimentos em 2002.
São números que devem fazer pensar. Aqui e principalmente aí.
Que fazer de imigração? Dentro de 25 anos o número de europeus em idade de trabalho vai cair em sete por cento enquanto o número de pessoas com mais de 65 anos de idade vai aumentar 50%.
Sendo o mercado de trabalho para pessoas com mais de 60 anos de idade muito pequeno uma possibilidade seria aumentar a idade de reforma mas isso, nem pensar. É olhar para o que se passou recentemente na Franca.
A possibilidade de mais imigração para resolver o problema não será para já apoiada por ninguém aí. Culturalmente os países europeus nunca se identificaram como países de imigrantes, enquanto aqui o debate centra-se em redor em saber como é que “um país de imigrantes” pode impedir a entrada de mais imigrantes. Ao fim e ao cabo os primeiros europeus a chegarem aqui não tinham visa de entrada….
Mas aí é preciso começarem a perguntar: Que fazer? Estatísticas da União Europeia indicam que até ao ano 2010 as mortes vão exceder os nascimentos na União Europeia.
Até 2013 a população de Itália vai começar a entrar em declínio; no ano seguinte será a vez da população da Alemanha começar a cair.
Uma estatística interessante é que aquele que diz que entre 1991 e 2002 o número de imigrantes franceses nos Estados Unidos subiu 44 por cento para 88.287. Mas isso é o número oficial. Ninguém acredita nele. A diplomacia francesa diz que na verdade neste momento nos estados Unidos há 267 mil franceses. Indicando que na verdade o aumento da imigração francesa para os “states” é muito maior do que os 44% oficiais.
Outro dia uma estação de rádio local transmitiu uma reportagem sobre o crescente número de imigrantes holandeses (!) em Nova Yorque.
Faz pensar, não é? Eu entretanto já estou a aprender espanhol…é o único meio de falar com o carpinteiro que me veio arranjar o telhado. E com o canalizador que veio outro dia e vejam lá não era polaco. Era salvadorenho e todos aqui na vizinhança gostam muito dele.
O vosso amigo na capital do império,

Jota Esse Erre.

4 comentários:

Armando Rocheteau disse...

A partir de hoje teremos aqui crónicas enviadas de Washington.
Jota Esse Erre aparecerá com regularidade.

Anónimo disse...

O Armando é um homem cheio de sorte: um correspondente em Washington pode fazer muito pelo blogue.Arejar, cultivar e ir ao fundo das coisas, o que será óptimo.JSR, uma questao: explique-nos as diferencas entre os médias americanos, qualidades e defeitos dos principais. Por outro lado, como é que os pensadores das universidades e dos think-tanks trabalham com os média(mesmo que seja para os ridicularizar). Existem jornais e editoras de extrema-esquerda como na velha Europa? FAR

Anónimo disse...

Eu sei que a usas a brincar mas não achei piada à palavra império. Acho-a provocadora e sem sentido.
Como já deves ter reparado, não morremos de amores pela política americana. No entanto, sabemos mais do que se passa nos States do que muitas vezes na própria Europa. As nossas televisões encarregam-se disso.
Qt ao benchmarking USA-Europa é um tema caro para os liberais e a direita em geral. Eu penso que o grau de civilização não se mede pela relação contratual nem pelo peso do Estado na economia. Como sabes os países com melhor nível de vida e de rendimento per capita situam-se na Europa. Não seguem o modelo americano nem são imperiais.
E quando quero beber uma imperial vou ao British Bar dizer mal dos Yankees.

Armando Rocheteau disse...

Eu gosto deste meu cantinho.
O Jota Esse Erre é que vive em Washington.
Partilho, no entanto, o gosto por algumas das preciosidades apontadas no comentário anterior. Mas só bebo vinho tinto.
Abraços