terça-feira, 4 de abril de 2006

Bolonha: entre os velhos do Restelo e a residência espanhola

A partir do próximo ano o chamado Processo de Bolonha já vai chegar a mais de metade dos cursos universitários e politécnicos públicos. Os reitores já entregaram as propostas de adequação à tutela. Foram entregues 284 propostas de adequação de cursos, num total de 550 licenciaturas existentes. Chega assim, por via administrativa, uma reforma que os governos e instituições responsáveis portuguesas nunca tiveram a coragem de fazer. Ninguém percebe porque é que ainda hoje se tira um curso de Direito sem se ter um processo nas mãos e sem se saber lidar com os aspectos práticos da ciência jurídica. Não se percebe porque razão nos cursos de Comunicação Social, os alunos levam anos a estudar matérias periféricas para depois se irem “especializar” no Cenjor, um centro de formação não universitário.
O processo de Bolonha vai acabar com esta confusão. Vai ser por certo um ensino mais pragmático e que vai mexer com o establishment das universidades. Há quem goste e há quem não concorde. Mas a mudança começa já no próximo ano. Resta agora saber como vai ser feita a transição. Mais uma vez, desconfio que será “à portuguesa”, ou seja, uma balda com discursos rendilhados.
Por esclarecer está ainda a questão das propinas. Os alunos ao fazerem cadeiras em instituições diferentes, em países diferentes, ainda não sabem se as propinas devem ser pagas no curso de origem ou em cada local onde se estuda.
Mas o grande risco é outro. Há o perigo de se introduzir um ensino superior europeu a duas velocidades, muitas vezes coincidente com o desenvolvimento económico de cada país. Entra-se assim na competição da escola-empresa do ensino superior. Que terá um fim já conhecido. Os países mais avançados tecnologicamente vão acabar por ser os grandes beneficiários e os mais atrasados manter-se-ão na periferia do sistema. Há quem considere que, por exemplo, Portugal vai manter a franja do ensino primário e secundário e alguns cursos do primeiro ciclo do processo de Bolonha. Tudo o resto, mais as especializações que englobam os mestrados, doutoramentos e investigação, vão inevitavelmente cair nas escolas dos países mais desenvolvidos, que daí vão retirar obviamente grandes vantagens financeiras e científicas, passando a ser, cada vez mais, as “universidades de referência”.

4 comentários:

Anónimo disse...

Com os cursos de 3 anos e modificados acho que vai ser melhor. Mas nós, os alunos, estamos no fim da cadeia alimentar, o que quer dizer que os reitores decidem e ninguém nos pergunta nada. E quem não tem dinheiro? As bolsas dão para tirar cursos onde nós quisermos? Duvido. Merda.

maloud disse...

Uma das razões para os alunos portugueses serem percentualmente poucos, ao que sei, no programa Erasmus, deve-se a problemas financeiros. Eu tive duas nesse programa, e era indispensável uma contribuição económica não dispicienda dos pais. Se com as bolsas, para pôr em marcha o processo de Bolonha, se passar o mesmo, muitos estudantes ficarão pelo caminho injustamente. É pena!

Anónimo disse...

A propósito e a despropósito, tenho de gritar:
A ESCOLA DEVE SER O BERÇO DA IGUALDADE.

Anónimo disse...

é uma questão complicada esta do tratado de bolonha. o que me cheira é que muitos cursos foram agora reformulados 'em cima do joelho', como muita gente sabe, o que poderá significar cursos mal estruturados. porque por cá costuma ser assim, faz-se tudo à última da hora e depois, naturalmente, as coisas não saem tão bem como deveriam. Mas a ver, acho que poderá trazer vantagens ao ensino superior, desde que os cursos sejam efectivamente bem estruturados, porque se não forem será ainda pior que o sistema actual.