Olá!
Era só para vos escrever na próxima semana sobre arrotos, peidos, hemorróidas, alergias e Viagra que são a dieta da televisão americana à hora do jantar. Mas terá que ficar para as próximas semanas porque a visita de Hu Jintao trouxe ao de cima algo que creio deve ser lido por uma certa classe de pensantes aí do outro lado do oceano.
Já ouviram falar de Wang Jisi? Ou de Zheng Bijian? Aposto que não. Mas se alguma vez tornarem a ouvir esses nomes prestem atenção. O seu realismo e a sua capacidade de análise são impressionantes e são algo que eu com todos os meus preconceitos julgava incapaz em produtos de escolas ideológicas do PC chinês. Mas afinal e pelos vistos na China não há a doença infantil do pós comunismo que é o anti-americanismo primário ou mesmo qualquer sinal de “sindroma de Bushite”, a incapacidade de se raciocinar quando o nome George Bush é mencionado.
Comecemos com Wang. É deão da Escola de Estudos Internacionais na Universidade de Pequim e director do Instituto de Estudos Estratégicos Internacionais na escola central do Partido Comunista da China. Credenciais ideológicas das mais puras portanto. Eis algumas citações de um artigo que ele escreveu para o jornal dessa escola:
“Os Estados Unidos são actualmente o único país com a capacidade e ambição de exercerem primazia global e vão continuar a sê-lo por muito tempo”.
“…os Estados Unidos são o líder global na economia, educação, cultura, tecnologia e ciência. A China tem portanto que manter relações próximas com os Estados Unidos se quiser alcançar sucesso nos seus esforços de modernização”.
“…Tenham em consideração que os Estados Unidos continuam a liderar outros países desenvolvidos em crescimento económico, inovação tecnológica, produtividade, investigação e desenvolvimento e a capacidade de cultivar o talento humano. Apesar de graves problemas tais como recentes deficits comerciais e fiscais, imigração ilegal, cuidados de saúde inadequados, crime violento, grandes disparidades de rendimentos, sistema educacional em declínio e um eleitorado profundamente dividido, a economia americana é saudável… Caso não haja uma grande queda económica inesperada, o tamanho da economia americana como proporção da economia global vai continuar a crescer por muitos anos”.
“…só o declínio económico de Washington pode reduzir a força de Washington e aliviar a pressão estratégica sobre Pequim. Essa queda contudo irá também danificar a economia chinesa…. Se por exemplo a influência de Washington no Médio Oriente diminuísse, isto poderia levar à instabilidade nessa região o que poderia ameaçar os fornecimentos de petróleo à China. Paralelamente o aumento do fundamentalismo religioso e o terrorismo no sul e centro da Ásia poderão ameaçar a própria segurança da China….”.
E agora as palavras do camarada Zheng Bijian. Ocupou “destacados postos em organizações partidárias” da China e elaborou relatórios para cinco congressos do partido comunista chinês. Depois de falar dos sucessos da China (que todos nós conhecemos) escreveu:
“O crescimento económico só por si não fornece o retrato total do desenvolvimento de um pais. A China tem uma população mil e trezentos milhões de pessoas… e a população da China ainda não atingiu o seu máximo; não está projectada a começar a cair até alcançar mil e quinhentos milhões de pessoas em 2030. Para além disso a economia da China é apenas um sétimo do tamanho da economia dos Estados Unidos e um terço da economia do Japão. Em termos per capita, a China permanece um país em desenvolvimento de baixo rendimento, colocado mais ou menos em centésimo lugar. O seu impacto na economia mundial é limitado”
“…Vai levar outros 45 anos – até ao ano 2050 – antes da China poder ser descrita como um pais desenvolvimento de nível meio e modernizado”.
“… até ao final de 2020…o PIB per capita da China deverá alcançar os três mil dólares”.
“A decisão estratégica mais significativa feita pela China foi abraçar a globalização económica em vez de nos afastarmos dela”.
“…nos anos de 1990…. A decisão da China de participar na globalização económica fez face a sérios desafios. Mas pesando cuidadosamente as vantagens e desvantagens da abertura económica e tirando historias da história recente, Pequim decidiu abrir a China ainda mais, ….”
Faz pensar não é? Eu cá por mim que tinha e ainda tenho algumas dúvidas sobre a possibilidade de sustentação do actual regime chinês vou passar a levá-los muito mais a sério.
Do vosso amigo,
Aqui na capital do império aguardando a chegada do Hu,
Jota Esse Erre
12 comentários:
Há 20 anos quando a China decidiu dar a cambalhota, o Chefe-Supremo, não me lembro do nome mas era aquele pequenino, semre risonho, que tinha sido reabilitado após uns anos de reudecação,foi interpelado no parlamento por um idiota : o gato já não é vermelho, é preto!
Resposta:
Vermelho ou preto, quero é que caçe ratos!
Assim foi, até hoje e será.
Eu diria que estas declarações sínicas são redundantes.
Só um tolo, um distraído e cerca de 75 % dos norte-americanos é que não está a par desta realidade.
O discurso oficial e oficioso induz a população dos EEUU a pensar que são os maiores, os mais fortes e os mais justos, mas que estão ameaçados de aniquilamento pelos estrangeiros no seu todo, liderados pelo Eixo do Mal.
Esta do E. M. é uma acusação deveras interessante, vinda de um país supinamente racista, escandalosamente poluidor, fantasticamente idiotizado por “n” seitas e pregadores e incansavelmente defensor das desigualdades sociais (como diz o chinoca).
O mundo nunca será viável sem os EEUU, o planeta seria uma “seca” sem os norte-americanos e a vida tão “chata” que a população mundial morreria de pasmaceira.
Sem os EEUU as ciências estariam muito mais atrasadas, as artes seriam uma pipineira e as letras quase paupérrimas.
Enfim, sem os “States”, o crescimento e o desenvolvimento seriam uma pequena amostra do que são hoje.
A questão é outra.
É a sua prática impositiva e compulsiva baseada no dogma “quem tem olho é rei, quem não tem ou não consegue arranjar um que se lixe”
É a sua visão cultivada até à exaustão de que os EEUU não são o centro do mundo, são O mundo.
O resto é paisagem que só tem direito a existir se for para os servir.
É a sua arrogância ignorante que os leva a impor aos outros que o arco-íris é tricolor (azul, vermelho e branco com estrelinhas) sem saberem que estas são as cores da Revolução Francesa.
É a sua incapacidade de se questionarem, de terem uma visão dialéctica da Vida, da Sociedade e do Mundo.
Como este desabafo já vai longo e muito mais ficou no “teclado”, resumindo e concluindo: os Estados Unidos são a Semente do Horror, são o ADN do Diabo.
São como Janus: a face mais negra e a face mais radiosa da Humanidade.
Nota:
Dada a minha insignificância no contexto global, não acredito nadinha em tal, mas se os imbecis da NSA (National Security Agency) interceptarem palavras, parte ou o todo desta diatribe inofensiva, daqui lhes envio um bem musculado e sincero manguito (ainda por cima tenho visto para os Estados Unidos por toda a vida, einh, einh, einh).
Se eu estivesse em Washington lia o discurso oficial chinês e ia para uma Biblioteca(ou em casa via PC)consultar meia dúzia de obras para se perceber a longa marcha do liberal -comunismo chinês, desde os 90´s. Deste lado do Atlântico e nesta " velha " Europa, seguimos atentamente a ameaca do capitalismo oligárquico chinês, com o seu sangrento cortejo de violacoes jurídicas,morais e intelectuais.As profecias de Georg
Orwell parecem infantis face ao grau de dominacao totalitária atingido pelo PCC, que inventou um conceito de " guerra total permanente" para asfixiar quaisquer veleidades democráticas. A vida é de um terror total
e o peso das desigualdades e dos caciques políticos tenebroso e infâme. No meio deste terrível cenario de apocalipse irrefragável- onde a vida humana nao tem valor nem proteccao alguma-
o poder das élites mundiais deslocou para aquele campo de concentracao à escala continental, uma miríade de fabriquetas para
se aproveitarem das vantagens competitivas de salários de fome.Claro que existem revoltas e que existe uma oposicao subterrânea. E claro que os EUA e os seus colegas do G-8 estao atentos... e privilegiam o Japao associado aos países contíguos: Tailandia, Malásia, Coreia do Sul, Indonésia.
Recomendo-lhe a leitura de " The China Dream. The Elusive Quest for the Greatest Markes on the Earth" ,de um jornalista inglês, Joe Studwell; e, já agora,o de Dorothy J. Solinger, The creation of a New Underclass in China and its implication ", Uni Caifórnia,Oct.2004.
Creio que pode ser muito útil,aos mais diversos títulos, ler os seus artigos dos EUA. Aliàs, eu dei-lhe uma pista- se mo permite- para elaborar um trabalho fantástico, logo apòs a publicacao do seu primeiro artigo.O que convém, vamos lá, é saber lidar com os discursos...oficiais e oficiosos. FAR
Nada melhor do que um dirigente chinês reconvertido à pureza do capitalismo para glorificar Bush e a América. Não ficou esclarecido se ele acabou a dissertação com a frase “Longa vida ao senhor presidente Bush”. Já agora, vamos esperar pela reviravolta da Coreia do Norte, para, mais uma economia emergente, surgir a glorificar o capitalismo norte-americano. De recordar que naquela região não há direito a férias, pelo que podemos ficar pelo princípio que “ o trabalho liberta” e quanto maior for a deslocalização, melhor. Não há salário nem trabalho escravo, são economias competitivas.
Para mim não há uma América, há várias. Felizmente há muita gente por aí a pensar da mesma forma como pensa muita gente por aqui. O problema não é geográfico, é ideológico. Os 65% de pessoas que não concordam com as políticas de W. não são europeus, são americanos.Talvez maus americanos, que não sabem reconhecer o bem que o seu presidente faz ao país e ao mundo.
Também é importante recordar que já não existe a Europa de Leste. Em teoria e na prática, uns melhor e outros nem por isso, todos os países europeus vivem integrados em sociedades capitalistas, um sistema nascido e desenvolvido por cá.
Os Estados Unidos estão a precisar urgentemente de uma Refundação com base na sua actual Constituição. Ficariam a ganhar eles e o Mundo.
Numa população de mil e trezentos milhões, esperar-se-ia ouvir a opinião devidamente fundamentada de vários estrategas, que com certeza não teriam um pensamento único. Ouvir dois, por mais brilhantes que sejam, e daí extrair conclusões quase definitivas, parece-me curto.
O Oráculo de Delfos certamente não se deslocou para a China e daí viaja, quando aos chineses convém, até aos EUA a anunciar a inevitabilidade da centralidade do "Império".
O paleio destes dois membros do Partido Comunista da China são tão credíveis como o "Código Da Vinci"
Mao-tsé-toung lia Hegel- O grande obreiro marxista-leninista estalinista leu o Sistema da Lógica, de Hegel, em Paris, nos anos 30. Aliàs, se há país onde o maoísmo teve uma larga audiência e impacto foi em Franca.Publicacoes mil, estudos milhares, pensadores as dezenas- até o Barthes se aproximou...- e ainda hoje se mantém uma chama muito viva sobre a Civilizacao Chinesa. Através do Mundo, os estudiosos e fans do maoismo/PCC devem ser batalhoes: ontem o NY Times trazia um artigo sobre as travessuaras dos maoistas na India; recordemos o CS. Snow, o amigo yankee de Mao. Quem nunca foi maoísta fui eu, preferi Trotski e rápidamente li Castoriadis, que os desmistifica a todos. Portanto, a bibliografia sobre a China deve dar para encher vários TIR´s. E agora nao pára de crescer sobre o impacto do comunismo-oligárquico e pseudo liberal. FAR
O que eu não vejo é porque é que as abundantes citações dos dois honoráveis amarelos não poderiam ser proferidas por um anti-americano primário (eu sou secundário...) ou por um cidadão portador de sindroma de Bushite; são verdades de La Palice, platitudes desinteressantes e, obviamente, na linha do "pensamento" dos dirigentes chineses (pós comunistas?).
A Globalizacao faz as pessoas idiotas- Andamos todos a lixar o parceiro. Bush, Hu Jintao,o luso Anibal acabam de perder um grande aliado( que comprava os parceiros eleitorais a peso-de-ouro...),Silvio Berlusconi. E todos ignoram o facto e fogem para terrenos abissais de referencias e bibliografia. Se queremos ser honestos, se nao podemos vender a nossa quotidiana banha-da-cobra, é muito dificil falar da China, de cor ou pela rama. Depois tudo isso dá mauis resultados...E nao se avanca... Caminhos que repisam os estereótipos de laracha de café-de-bairro. ´Por isso, apostei muito no nosso colega correspondente em Washington. Nao quero ficar decepcionado.FAR
Dizer que o comunismo acabou é renegar a Comuna de Paris e todas as revoltas libertárias pelo menos desde Spartacus.
O que acabou foi o modelo posto em prática pelos sucessores de Lenine.
Só com democracia directa se pode viver com liberdade, igualdade e fraternidade.
Só com democracia representativa e participativa se pode viver em liberdade. É preciso que a cidadania implique mais do que votar nas legislativas.
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