quarta-feira, 26 de abril de 2006

Cavaco: faz o que eu digo, não o que eu faço

Cavaco Silva esteve ontem no Parlamento e fez um discurso que se enquadra na linha do seu presidencialismo executivo. Mas contrariando as expectativas, não falou de economia e puxou mais para o social. Cavaco preocupa-se agora com os pobres, depois de como primeiro-ministro, se ter preocupado com os ricos. O que vale é que estes discursos de circunstância não são para levar a sério. Até porque José Sócrates já veio a terreiro dizer que “não posso estar mais de acordo com o senhor Presidente da República, ao chamar a atenção do país para a necessidade de fazer mais no que respeita à justiça social”. Palavras que significam “calma lá que eu já estou a tratar disso”. Ao surgir nas comemorações do 25 de Abril sem nenhum cravo na lapela, Cavaco Silva foi o primeiro a quebrar uma tradição e marcou a sua posição política sobre o assunto. Tal como Alberto João Jardim já o tinha feito. No entanto, em plena campanha eleitoral, não se coibiu de ir a Grândola, onde cantou a música de Zeca Afonso “Grândola, Vila Morena”. Mário Mesquita intitulou no “Público” aquele filme como “Grândola, Vila Amarela”. Escrevia assim a 08.01.2006: "(…) comício em Grândola, de apoio ao candidato da direita e do centro-direita. Entoava-se, em coro, a canção ‘Grândola vila morena’. Alucinação? Não era. O candidato Cavaco Silva, envolvido no canto colectivo, ostentava o seu famoso sorriso amarelo (?) Para conquistar o centro-esquerda vale bem a pena trautear uma canção de José Afonso, mesmo que tal coro tenha, nalguns sectores, sabor a blasfémia. (…) Valerá a pena ir tão longe? Obrigar Francisco Louçã e Jerónimo de Sousa a lembrar a pensão recusada, pelo governo de Cavaco Silva, a Salgueiro Maia, ao mesmo tempo que o Estado recompensava os bons serviços de agentes da PIDE? A eficácia justifica a hipocrisia?"
Mas o actual Presidente da República também é um pensionista, só que “de luxo". Além do salário que recebe pelo cargo que exerce, o Estado paga-lhe mais 2.679 euros através do Banco de Portugal, 5.007 euros da Universidade Nova de Lisboa e 2.876 euros por ter sido primeiro-ministro. O que dá um total superior a 10 mil e 500 euros.
Como fica bem ter pena dos pobrezinhos!

12 comentários:

Anónimo disse...

Bom texto! Agora é que se vai ver se o PS-Sócrates é um partido de direita, ou nao! O atrazo e o facilitismo lusitano geram allien´s virtuosos deste calibre, que podem ainda atrasar mais, de forma irremediável, o futuro de Portugal.É um autêntico círculo vicioso: tirando as honrosas excepcoes da praxe, era o que mais faltava,tudo aponta para baixo: Maus média com mandarins inamoviveis;Universidade caótica e fora-de-prazo; cultura de sobrevivência do faz-de-conta-; atrazo cultural medonho e em vias de ser condicionado pela oligarquia sanguinária no poder de Estado. Face a este balanco hediondo, o PS em geral, e a Esquerda de todos-os-leques, em geral, devem assumir as suas responsabilidades históricas. FAR

Kane disse...

Um presidente de direita a fazer um discurso social, um governo de esquerda a dar cabo do modelo social...
Trocaram os rótulos?

Emocionados, todos se levantam e aplaudem o discurso do PR. Como se aquelas figuras presentes na cerimónia, não fossem eles os únicos responsáveis pela desigualdade galopante que se vive na sociedade portuguesa!
Entretanto, a Justiça vai fechando os olhos quando convém, o Poder sobre os Feudos vai sendo mantido por amigos e clientes.

Anónimo disse...

Cavaco foi isto e aquilo, não sei quem disse isto ou aquilo sobre ele e sobre o que ele disse. Nem uma palavra sobre o que ele efectivamente disse, "contrariando as expectativas...". "Não é para levar a sério...". Estou enganado ou todo este texto é um ocioso excercício de má-fé? E a má-fé é compatível com a probidade intelectual?

maloud disse...

O JPH do Glória Fácil faz um exercício muito curioso sobre a análise do JPP ao discurso presidencial. Vale a pena. É JPP no seu melhor.

Anónimo disse...

Não considero o texto de má-fé, nem de perto nem de longe.
Cavaco está mal no papel que desempenha, não só em termos de conteúdo como em termos simbólicos.

Desempenha o papel num filme que ele pensa ser o melhor.
O que ele não sabe é que não é bom actor nem nunca o conseguirá ser. O país não está à espera de nenhum Péron mas também não está à espera deste paleio vazio, que dá em nada.

Marcação politica ao governo? Dá para rir. Apoio à direita para reforçar o debate e conseguir consensos? Dá para rir. Uma União Nacional através de um pacto partidos e PR visando salvar Portugal?
Errado.
Portugal precisa de ser salvo deles. Eles, são os maus decisores, politicos ou não, que fazem carreira ao longo da vida só porque se dão bem com alguém do mesmo poder.
Há quem argumente: mas Cavaco só queria fazer a rodagem do carro, e foi empurrado para o poder. Nada de mais errado. Em política, não há inocentes.

No meio disto tudo hä alguma diferença com o que se passa no Uganda?
Sim. Cá vestem-se melhor.

Luis M.

Anónimo disse...

O Cavaco Silva apercebeu-se que tinha cometido muitos pecados mortais, embora não os de ler jornais, como ele mesmo confessou.

Como anda de consciência pesada, com medo de ir para o Inferno, começou a apelar à caridade, para desconto nos seus pecados

Anónimo disse...

Para o GACPS (Grupo-dos-Anti-Cavaquistas-Porque-Sim) recomenda-se a leitura da análise do discurso de Cavaco feita hoje no "Diário de Notícias" por Vicente Jorge Silva.

Anónimo disse...

A acreditar no VJS, Cavaco foi condicionado pelo Expresso. Até compro essa perspectiva. Quanto ao facto de ter posto o dedo na maior ferida portuguesa, please. A Cáritas anda a falar nisso desde que começou a sua actividade. Foi um discurso populista, escolhido em função do impacto que teria nos media? Acredito mais nisso. O tema da pobreza é recorrente quando se querem obter reacções apaixonadas.

Jó, não é por aqui que se safa. VJS tenta uma análise na contra-corrente dos seus pares, que são mais criticos. Essa técnica alias é utilizada por todos. O medo de se repetirem e de acusarem falta de inspiração e originalidade é uma constante em todos eles. Gosto do VJS, mas não subscrevo o artigo em causa.

Luis M.

Anónimo disse...

" O Homem é de gelo perante as verdades; e é de fogo perante as mentiras " -La Fontaine.
Cuidado com a falta de previdência nos julgamentos: Quem nao desconfia,engana-se quase sempre nos raciocínios sobre a política institucional burguesa.E poupo os adjectivos de Cornelius Castoriadis sobre tal crassa matéria. Cavaco Silva, como economista liberal, deve estar muito preocupado com a hipótese de um 3° Choque Petrolífero, sobe-sobe, e o fim da Indústria Automóvel de Componentes lusitana, a médio prazo. Lembrem-se daquela aterradora notícia do NY Times sobre os 1o milhoes de trabalhadores da indústria automóvel da Indía, onde a BMW, a Hyundai e a General Motors, para já, resolveram investir a fundo.
Maloud: nao me faca rir com os comentadores nacionais. Por aí nao vai a lado nenhum,como V.Excia deve saber.Justamente, os comentadores em Portugal sao Profs. Catedráticos. E a escala desce por aí a baixo... até aos coladores de telexes!!!Adelante, sigam a formacao do governo Prodi e a prova exasperante de mediacao-mediacao de que dá prova(s)o Delors transalpino. FAR

Anónimo disse...

Tdos ao GACPS!

Kaos disse...

É a Mumia de Boliqueime a mostrar as garras, só que ainda embrulhadas em veludo. Basta ver as leituras tão diferentes que a direita liberal tem conseguido fazer daquilo que foi dito. Cada um albarda o burro à sua vontade

Anónimo disse...

A minha mãe, que vota sempre à esquerda, é eternamente grata ao Cavaco por este lhe ter aumentado a pensão quase para o dobro. Ela não votou nele para presidente, porque sabe que os partidos e os homens do poder por cá, com uma inclinação um bocadinho mais para esquerda ou mais para a direita, são todos farinha do mesmo saco. Quatro na ferradura e uma no cravo em vespera de eleições, com muita desinformação e ignorância à mistura e lá se vão ganhando as eleições. Entre Cavaco e Socrates venha o diabo e escolha. Ainda um dia se vai poder votar em plena liberdade e consciência. A luta continua.