Foi com surpresa que li a notícia sobre as dificuldades económicas e financeiras dos portugueses. Estava na Suiça, bem longe dos problemas que fazem a manchete no DN de hoje. Como é possível que 56%, ou seja mais de metade dos portugueses, não consigam fazer poupanças e 46,5% seja obrigada a comprar cada vez menos coisas para pagar empréstimos bancários? A situação no resto da Europa comunitária não é assim tão má. E, quanto ao seu futuro, até os suíços são bem mais optimistas do que os portugueses. Depois de tantas medidas governamentais, conselhos e operações de marketing político, pensei que tudo estivesse melhor. Mas ao que parece, enganei-me. Como já estava com meia hora de atraso para picar o ponto no emprego, pedi rápidamente a conta do pequeno almoço, negociei o pagamento do galão e do croissant misto em três prestações, saí da Suiça e fui apanhar o metro do Rossio. segunda-feira, 3 de abril de 2006
O cinto, os furos e outros apertos
Foi com surpresa que li a notícia sobre as dificuldades económicas e financeiras dos portugueses. Estava na Suiça, bem longe dos problemas que fazem a manchete no DN de hoje. Como é possível que 56%, ou seja mais de metade dos portugueses, não consigam fazer poupanças e 46,5% seja obrigada a comprar cada vez menos coisas para pagar empréstimos bancários? A situação no resto da Europa comunitária não é assim tão má. E, quanto ao seu futuro, até os suíços são bem mais optimistas do que os portugueses. Depois de tantas medidas governamentais, conselhos e operações de marketing político, pensei que tudo estivesse melhor. Mas ao que parece, enganei-me. Como já estava com meia hora de atraso para picar o ponto no emprego, pedi rápidamente a conta do pequeno almoço, negociei o pagamento do galão e do croissant misto em três prestações, saí da Suiça e fui apanhar o metro do Rossio.
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12 comentários:
Dualismo gnoseológico, versão Grouxo Marx em viagem astral? Gostei.
Saúdo o regresso do Oli no seu melhor.
Longa vida ao camarada Oli!
Ólindo, benvindo!!!!
Beijinhos
Eu sei que a Suíça não acata as ordens do BCE, embora desconfie que a sua não lhes possa fugir. Ora os portugueses estão endividados até à medula e o BCE subiu os juros e ameaça que vai continuar, para controlar a inflação. Quem tinha o orçamento feito para as despesas correntes e para o pagamento das dívidas ao banco e no fim não lhe sobrava um cêntimo, nalgum lado tem de cortar. Como os bancos gostam de contas direitinhas, pelo menos quando se trata de receber, há muita gente a ter de cortar nas despesas correntes. Isto leva-nos a outra discussão. O que são despesas correntes? O táxi é despesa corrente, se houver alternativa do transporte público? O carro cheio de cavalinhos para épater o vizinho é despesa corrente? O novo trem de cozinha, pago às prestações, plaqueado a ouro é despesa corrente, se o que se deitou fora ainda estava em bom estado?
Sabe, eu sou antiga {agora não se diz velha} e lembro-me da nossa pequena burguesia, e da forma como vivia. Ela não gosta que lhe recordem e faz os impossíveis para esquecer. Gosta de fazer de conta que sempre teve carro, acesso a férias, umas viagenzinhas ao estrangeiro, idas semanais, no mínimo, a restaurantes, electrodomésticos dernier cri, guarda-roupa novo em todas as estações. Mas ela, que hoje é a nossa classe média, efabula. Nunca teve nada disto, nem de longe nem de perto. Vivia miseravelmente e, de repente, deslumbrou-se, porque o dinheiro estava incrivelmente barato. Vai daí endividou-se, para o que precisava: casa, porque em Portugal não há mercado de aluguer e carro, porque a mobilidade é indispensável, nos dias de hoje. Mas também se endividou, para o que não precisava, porque, mesmo sem poder, queria ter o que a antiga classe média sempre teve. Não há Governo, que neste momento, consiga levantar o astral desta gente, a não ser que nos peça para pagarmos um imposto, para sustentarmos a ilusão em que viveram.
A pastelaria Suiça, no Rossio, está decadente, e talvez por isso seja o melhor local para fazer análises destas.
Os croissants já não são o que eram, assim como a freguesia.
Três prestações? Você está a cair no mesmo erro dos endividados. Procure a Deco. Tem um gabinete de apoio aos sobreendividados e a menina que atende é simpática.
Ás vezes, oferece pasteis de bacalhau, enquanto analisa os papéis do banco e os da loja de penhores.
Pois é, caro Oliveira, o “ Portuguese Dream “ parece ter acabado para uma imensa minoria.
O outro António Oliveira já tinha a preocupação do nivelamento por baixo, do pequenino e redondinho. Parece ser o fado deste Nobre Povo, pobrete e alegrete.
Mas nem com as Marisas e as novas fadistas jeitosas de coxas redondas, outros valores mais alto se levantam? A triste sina e o triste fado vai continuar? A coisa está a ficar má, mas Salazar não passará! Talvez a passarinha... http://nempassaronempeixe.blogspot.com/
O problema é esse nivelamento por baixo. A nossa pequena burguesia, subitamente média-burguesia nunca percebeu o que é o nivelamento por cima. Julgava que era chegar ao Centro Comercial e comprar o plasma com crédito FNAC. Ora nós sabemos que isso não é nivelamento nenhum. Ou se é, é por baixo. É o nivelamento pequenino. É o telemóvel último modelo, com centenas de funções que não servem para nada e que levam os últimos cêntimos, para fazer corar de inveja o colega de trabalho. Até que este tenha um ainda mais performante.
48 anos de pequenino e redondinho incapacitaram a maioria, para distinguir o que era importante.
A coisa vista da Confeitaria Nacional é menos abrupta. As cores ficam com um tom mais sépia e marron.
Conhecem o poema de Jorge de Sena sobre a Pastelaria Suica do Rossio em Lisboa? É certo que era nos anos 60 e nao havia turistas...FAR
Mas nos anos 40 tinha havido as refugiadas, que puseram Lisboa em alvoroço.
Ainda voltando ao post, o que verdadeiramente me aflige são os milhares de desempregados, que têm compromissos, a que não puderam fugir, com os bancos, como a compra da casa, e que obviamente não vão poder honrar. Esses sim estão numa situação verdadeiramente desesperada. Oxalá tenham um bispo que mediatize a sua situação, porque estão geograficamente longe do poder.
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