
Foto de Sérgio Santimano
Colvá, Goa, Índia. Janeiro de 2006


O recente boom do preço do crude deu aos defensores da opção pelo nuclear em Portugal novos argumentos: tratar-se-à da nossa independência energética face ao volátil petróleo, ainda para mais quando o importamos dessa zona perigosa que é o Médio Oriente; o risco será reduzido; os outros países europeus também as possuem e não vem grande mal ao mundo por isso. Hoje, no Parlamento, a deputada dos Verdes Heloísa Apolónia desmontou o primeiro destes: a grande fatia da nossa dependência energética provém do sector dos transportes, e o nuclear terá apenas efeito na produção de electricidade, e para mais teremos de importar Urânio para alimentar a central. Quanto aos outros dois, lembro apenas que o facto do risco ser reduzido não quer dizer que não exista, que o problema dos resíduos é uma questão civilizacional, e que as centrais nucleares não foram, e continuam a não ser, decisões pacíficas nos países em causa.

Cavaco Silva esteve ontem no Parlamento e fez um discurso que se enquadra na linha do seu presidencialismo executivo. Mas contrariando as expectativas, não falou de economia e puxou mais para o social. Cavaco preocupa-se agora com os pobres, depois de como primeiro-ministro, se ter preocupado com os ricos. O que vale é que estes discursos de circunstância não são para levar a sério. Até porque José Sócrates já veio a terreiro dizer que “não posso estar mais de acordo com o senhor Presidente da República, ao chamar a atenção do país para a necessidade de fazer mais no que respeita à justiça social”. Palavras que significam “calma lá que eu já estou a tratar disso”. Ao surgir nas comemorações do 25 de Abril sem nenhum cravo na lapela, Cavaco Silva foi o primeiro a quebrar uma tradição e marcou a sua posição política sobre o assunto. Tal como Alberto João Jardim já o tinha feito. No entanto, em plena campanha eleitoral, não se coibiu de ir a Grândola, onde cantou a música de Zeca Afonso “Grândola, Vila Morena”. Mário Mesquita intitulou no “Público” aquele filme como “Grândola, Vila Amarela”. Escrevia assim a 08.01.2006: "(…) comício em Grândola, de apoio ao candidato da direita e do centro-direita. Entoava-se, em coro, a canção ‘Grândola vila morena’. Alucinação? Não era. O candidato Cavaco Silva, envolvido no canto colectivo, ostentava o seu famoso sorriso amarelo (?) Para conquistar o centro-esquerda vale bem a pena trautear uma canção de José Afonso, mesmo que tal coro tenha, nalguns sectores, sabor a blasfémia. (…) Valerá a pena ir tão longe? Obrigar Francisco Louçã e Jerónimo de Sousa a lembrar a pensão recusada, pelo governo de Cavaco Silva, a Salgueiro Maia, ao mesmo tempo que o Estado recompensava os bons serviços de agentes da PIDE? A eficácia justifica a hipocrisia?"
Passam hoje 20 anos sobre o maior desastre da história numa central nuclear. A explosão de um reactor em Chernobyl, em 1986, libertou uma nuvem radioactiva que continua a fazer vítimas ainda hoje. Só nos dez dias que se seguiram à explosão, foi libertada radioactividade equivalente a mais de 200 bombas de Hiroxima. A União Soviética só 48 horas depois da tragédia é que assumiu a escala do desastre. No entanto, não avisou as populações que viviam na região dos perigos que corriam. As notícias só chegaram através das estações de rádio estrangeiras, que se ouviam às escondidas. Esse desleixo causou milhares de vítimas, não se conhecendo até aos dias de hoje os números exactos. A Ucrânia fala em cinco milhões de pessoas afectadas, a ONU aponta para 4.000 mortes por cancro e a Greenpeace sobe a fasquia para as 93 mil mortes por cancro. Um estudo científico britânico recente aponta para um total de mortes situado entre os 30 mil e 60 mil. Mas como se pode constatar, a falta de exactidão continua.
Em 1974, o dia 25 de Abril começou a tomar forma de maneira diferente para todos os que o viveram. Seja em Portugal ou noutros lugares espalhados por esse mundo imenso. Por cá, depois da canção e enquanto os militares tomavam conta da situação, começou em paralelo a caça aos Pides, um "desporto" apreciado nos tempos que se seguiram. Mesmo acossados, ainda conseguiram causar as únicas vítimas mortais da revolução do cravos. Os disparos feitos por agentes da PIDE, na Rua António Maria Cardoso, em Lisboa, trouxeram o luto ao vermelho de Abril. No entanto, não impediu que a caça se tivesse espalhado um pouco por todo o lado, colónias incluídas. Mas aos poucos, entre diversos sectores políticos e militares começou a chegar algo parecido com o que hoje se chama Direitos Humanos. Mesmo estando a revolução na ordem do dia, o poder começou a encarar a questão dos agentes do ancient regime de forma diferente. Era o politicamente correcto da época. Os cabecilhas foram levados para o reino que mais tarde seria de Alberto João Jardim, e depois... Copacabana! Estes exemplos da ala reformista caíram mal no figurino revolucionário. Só o tempo e o álcool amenizaram o mal-estar causado na altura. Muitos torcionários da Pide acabaram por não pagar pelo que fizeram, para pena de muitos que passaram pela tortura e pelo degredo. Depois da tormenta, uns acabaram por ficar por cá e outros foram apanhar ar lá para fora. Num balanço final, foram poucos os Pides que amargaram na prisão e pagaram o que deviam à sociedade. E os que ficaram atrás das grades, foi por pouco tempo. Alguém percebeu porquê?
Isto vai meus amigos isto vai











Várias instituições nacionais e internacionais divulgaram, nos últimos dias, análises sobre o estado da economia nacional. O relatório mais badalado foi o da OCDE, porque vindo de uma instituição independente, foi também bastante pormenorizado. E, verdade seja dita, nós gostamos de saber o que é que "outros" dizem de nós. E se disserem muito mal, mais destaque lhes damos. Mas não foi o caso. O relatório acabou por dizer o mesmo que todos os outros. Falta equilibrar as contas públicas, melhorar a educação e a qualificação. Considera, no entanto, que o governo está demasiado optimista e deve implementar as medidas já, custe o que custar. De facto, análises teóricas feitas em gabinetes dourados de instituições supranacionais só podem dar nisto. Os custos e os riscos de uma ruptura social nunca são levados em conta. E o facto de por trás dos números haver pessoas, é pouco relevante. Mas, um ponto interessante referido foi o da qualificação. A organização por certo se referia à falta dela. Mas será que os "iluminados", ou seja os tais "quadros qualificados" também são de qualidade? Vejamos o caso da GALP. Horas depois do preço do barril de petróleo ter tocado nos 74 dólares, aumentam os preços dos combustíveis. É público que os actuais preços por barril nos mercados internacionais são para entrega em finais de Maio. Tomar essa medida é ser um bom gestor? Em Espanha, a mesma GALP não fez isso. Aqui o litro da gasolina 95 custa 1,329 euros e em Espanha 1,066 euros. Nos mesmos postos da GALP. Porquê? Talvez porque lá "hay gobierno". No entanto, essa empresa é considerada de sucesso e das mais "competitivas" neste país. Talvez por fazer coisas destas é que António Mexia foi considerado um gestor excelente. E acabou por ser convidado para o governo dos chicos-espertos de Santana Lopes. Mas ele é apenas mais um chico-esperto à portuguesa, a quem ninguém apertou os calos. A concertação dos preços da gasolina entre as principais gasolineiras instaladas em Portugal é um facto e ninguém faz nada. Será este perfil de gestor que falta neste país? Penso que não. Mas para se ser "qualificado" por cá continua a ser fundamental estar no partido certo e poder contar com amigos que mexem cordelinhos.








O blogue "Rua da Judiaria", de Nuno Guerreiro, convida todos a concentrarem-se hoje às 19:00 no Rossio, em Lisboa, em memória dos 4000 judeus mortos no massacre de Lisboa de 1506. Este acontecimento, que em termos históricos nunca teve grande destaque, é impressionante pela sua crueldade. 
A 18 de Abril de 1980, a Rodésia mudava de mãos e de nome. A transição acontecia quinze anos depois da minoria branca ter declarado unilateralmente a independência. Foi a Robert Mugabe que coube a tarefa de reafirmar a sua independência, desta vez sob o nome de Zimbabué. Passados 26 anos, o país atravessa uma grave crise económica e alimentar, iniciada com a reforma agrária, que expropriou 4.500 fazendeiros brancos. Rapidamente Mugabe passou de libertador a ditador. O Zimbabué é hoje um país sem liberdade, onde os partidos da oposição são perseguidos e a imprensa reprimida, muitas vezes à bomba. De acordo com um relatório da Organização Mundial da Saúde, agora tornado público, o Zimbabué é actualmente o país com a expectativa de vida mais baixa do mundo. Trinta e sete anos para os homens e trinta e quatro para mulheres. E não foi há muito tempo que o Zimbabué tinha um dos mais elevados níveis de vida do continente africano e era considerado o celeiro da região. Foi só há 20 anos. Hoje é dos países mais pobres do mundo. Para a comunidade internacional o culpado por esta situação tem um nome: Mugabe. Só nos últimos sete anos, a economia do país afundou-se 40%, e a queda continua, até quando, ninguém sabe. O que todos sabem é que a recuperação do país e a sua integração na comunidade internacional, só será possível quando Mugabe for derrubado. 
O Algarve vai estar este ano em foco nas comemorações do 25 de Abril. A escolha foi da Associação 25 de Abril, que decidiu homenagear os 30 anos de poder autárquico. É irónico. Dava para rir se o assunto não fosse sério. Se há uma região onde o poder autárquico pode ser apontado como um mau exemplo é aquele rectângulo no sul do país. Sendo uma das regiões mais favorecidas pela natureza em Portugal, o Algarve é hoje um amontoado anárquico de prédios, onde os interesses de empresários sem escrúpulos se confundem com o poder local. Ao ver as vivendas Mariani, os prédios tipo J.Pimenta, as casas de luxo em cima das falésias e as construções na areia, dá para se ter uma ideia do que foi a acção do poder autárquico no Algarve. O caos no trânsito automóvel no verão, ou nos feriados ao longo do ano, é mais uma prova da falta de planificação nas últimas décadas. Se hoje se pagam os erros do passado, o futuro não se apresenta risonho. Basta ver com atenção o que se passa na região. Existe uma faixa estreita junto ao litoral onde a construção continua a crescer como cogumelos. E resta um interior que mais parece um filme dos anos 40. A falta de vontade política para planear continua a ser notória, excepto nos resorts de luxo. O dinheiro dos neo-patos bravos ainda é quem mais ordena. Haverá razões para comemorar? O quê? 




