
Foto de João Azevedo
Rui Vaz, S.Domingos, Santiago, Cabo Verde. 2006
Hoje, no programa “Prós e Contras” da RTP1, vai debater-se a relação entre política e comunicação social. Presentes vão estar Manuel Maria Carrilho, Ricardo Costa, José Pacheco Pereira e Emídio Rangel. De cada lado da barricada vai estar um jornalista e um político.
A Sport TV quer proibir a transmissão do Mundial em locais públicos. O canal que detém o monopólio das transmissões desportivas no cabo diz que já alertou várias entidades fiscalizadoras e exige o seu cumprimento. A Sport TV quer assim evitar que milhares de pessoas assistam aos jogos do Mundial em écrans gigantes ou em televisões em bares e restaurantes. O motivo é claro: angariar mais assinantes. Além de ser o canal mais caro do cabo, a Sport TV usa e abusa da sua condição de canal único. A Autoridade da Concorrência tem aqui uma boa causa para combater o monopolismo e espero que não perca esta oportunidade. Os consumidores querem mais concorrência, porque isso significa preços mais baixos e canais de desporto alternativos. E porque o Mundial está aí, vamos mostrar a nossa revolta anti-monopolista e furar esta pretensão da Sport TV. Não são suficientes os jogos da selecção nacional, que a SIC já tem assegurado. Queremos ver todos os jogos em locais públicos, como tem acontecido até agora. Por isso, a criação de um movimento de cidadãos é um imperativo. Será uma resposta contra mais esta atitude autista da Sport TV. E já que ninguém faz nada, temos de ser nós a tornar público o nosso descontentamento. Mande um e-mail à Sport TV e às respectivas empresas de cabo a dizer: “Eu gosto do Mundial, mas não da Sport TV. Quero um Mundial livre e para todos”. Se quiser dizer outra coisa, esteja à vontade. O que é preciso é não ficar calado.
É preocupante ficar a saber que a maioria das notícias que lemos nos jornais não é fruto de investigação jornalística. Mas mais preocupante é saber que elas nos são “impostas” por mãos misteriosas. De acordo com o Expresso de hoje “cerca de 70% das notícias publicadas nos jornais portugueses têm como origem as agências de informação ou os gabinetes de Imprensa”. Este estudo da agência Emirec revela que os jornais estão a por de lado a sua função de mediadores directos entre as fontes e os seus leitores. Se este panorama é negro, valeria a pena saber o que se passa nas nossas televisões. Aqui, aposto que a percentagem de notícias corta e cola é maior, uma vez que a investigação jornalística é mais reduzida do que nos jornais. Ou seja, praticamente não existe e as excepções apenas vêm apenas confirmar a regra. As notícias que enchem os diversos telejornais ao longo do dia têm a sua origem habitualmente nas manchetes dos jornais. Basta ver as primeiras páginas dos diários e semanários e compará-las com os destaques noticiosos nas televisões. Na origem deste problema poderá estar, por um lado, o facto das direcções de informação aceitarem o espartilho financeiro imposto pelas administrações. É óbvio que uma investigação sai mais cara do que reciclar uma notícia, ainda por cima, e de acordo com o estudo, quando tem a sua origem nas chamadas fontes organizadas de informação. Mas por outro lado, vem ao de cima o carreirismo de muitos responsáveis redactoriais, sem coragem de incomodar directamente o poder, sob pena de “encalharem” na sua carreira profissional devido a razões que só Deus sabe. A falta de coragem e ambição são confrangedoras. Será daqui que advém a sensação de vazio que os noticiários televisivos cada vez mais nos provocam? 
IN Contra todas as expectativas, o ministro das Finanças admitiu que o Governo pode não aplicar o aumento do imposto sobre os produtos petrolíferos previsto no Orçamento de Estado para 2006. Justificou esta medida dada a conjuntura dos mercados petrolíferos. Enquanto ela se mantiver, não se aumenta. Os partidos da direita já manifestaram o seu apoio e da esquerda ainda não ouvi nada. Em Janeiro deste ano, só com o aumento em 2,5% da taxa do Imposto sobre os Produtos Petrolíferos (IPP), o governo gerou 210 milhões de euros de receita.
= Há quem continue a afirmar que as SCUTS vão todas ter portagens em breve. Quem apostou no aumento do IPP já falhou. Ganhará aqui? Não percebo porque a razão a direita aplaude o não aumento do IPP e reclama portagens nas SCUTS. Não são todas receitas para combater o défice? Até agora o que se sabe é que está em curso um estudo sobre o novo modelo de financiamento da rede rodoviária. Deverá estar concluído este ano. Mário Lino disse na altura (finais de 2005) que o actual modelo das Scut não seria alterado enquanto as condições económicas e sociais se mantivessem e desde que não houvessem vias alternativas. Acreditar ou não, eis a questão.
OUT A lei das Rendas está para mudar e a maioria das pessoas ainda não percebeu como é que essa mudança lhe vai afectar a vida. Até agora o governo ainda não conseguiu passar uma ideia clara sobre as mudanças. Noticias contraditórias e declarações avulsas só estão a gerar mais confusão. É importante que todas as questões relacionadas com o novo regime do Arrendamento Urbano, diplomas complementares e o Regime Jurídico das Obras em Prédios Arrendados sejam esclarecidas, de forma clara e simples. Porque vai mexer com a vida de muitos milhares de pessoas. Se por um lado há que inverter rapidamente a tendência da degradação do parque habitacional, não se pode esquecer que há que criar soluções para milhares de famílias, muitas delas constituídas por pessoas muito idosas e com parcos rendimentos. Não penso que deva ser o mercado a resolver o problema, porque se trata de um problema social que envolve uma franja etária muito vulnerável. Esse ónus é do governo, que deve aclarar as linhas gerais das novas relações jurídicas que vão surgir. Mas, ao que parece, a confusão vai-se instalando, excepto para os iluminados do Direito.
A praça de touros do Campo Pequeno reabriu ontem sem touros. Nem mesmo um boi. Nas escadarias forradas com tapetes vermelhos apenas vaquinhas e vaquinhos. É certo que são os mais distintos da socialite lisboeta e arredores, mas isso não se faz. Também não vi forcados e campinos. Só mesmo emissões em directo com sorrisos em diferido. Alguns estavam mesmo retraídos, preocupados com conotações taurinas e ornamentos naquelas testas bem pensantes. Mas notou-se que fizeram um esforço para não pensar nisso. No entanto, não faltaram os pensamentos profundos. “As nossas touradas são outras”. Esta foi das frases mas elaboradas que Alberto João Jardim proferiu nos últimos tempos. Não sei se foi a ele que a Ministra da Cultura se referiu quando disse que as touradas verdadeiramente tradicionais “não passam pela morte do touro”. De facto, mais tradicional que Jardim é difícil de encontrar. Mas algumas críticas não pouparam o estado actual de Lisboa. “A cidade está cheia de espaços mortos e de património mal cuidado”, disse Paula Teixeira da Cruz, autarca do PSD e presidente da Assembleia Municipal de Lisboa. Ooopss. “Não sou eu a responsável por este estado de coisas?”, pensou minutos depois. Como não estava para queimar o neurónio, começou a dar beijinhos a torto e a direito. A noite era das loiras, definitivamente. A sorte da autarca é que a populaça está tão tesa que nem dinheiro tem para comprar Ginkgo Biloba para manter a memória saudável. Mas a noite lá prosseguiu com o glamour característico destas ocasiões. As vaquinhas e os vaquinhos divertiram-se imenso e nem tiveram de fazer grande esforço para evitar a arena. A organização já tinha previsto que poderia haver mentes baralhadas com tanta oxigenação. Por isso marcou a tourada só para amanhã, não vá alguma rica enganar-se na porta da casa de banho.
Em alturas de crise, quando se fala em investimento, tudo o que vem à rede é peixe. Pelo menos no início. Foi o caso da refinaria de Sines. O atómico Patrick Monteiro de Barros prometia um investimento vultuoso, que deu em nada. Se a promessa de criar em Sines a maior refinaria da Europa é um isco irresistível para qualquer governo, também se deve louvar a recusa de comprar gato por lebre. Mas, no Diário de Notícias, o advogado laranja Proença de Carvalho protestou contra o que chama contrapoder burocrático: “criaram-se na Administração, em especial na área do ambiente, visões fundamentalistas e delirantes sem correspondência efectiva com os valores a preservar, que estão a criar obstáculos ao desenvolvimento de iniciativas globalmente meritórias”. Veja-se a lata! E lança um elogio a Miguel Cadilhe, que “deixou um excelente diagnóstico dos porquês da dificuldade em atrair investidores. Uma das causas mais influentes é a teia burocrática que asfixia qualquer ideia”. Este diagnóstico foi a única coisa visível que Miguel Cadilhe fez, mas não penso que ele assinasse por baixo esta iniciativa nos moldes em que estava. Na relação custo/beneficio, a região e o país perdiam. Manuela Ferreira Leite, no Expresso, escreveu que não gostou da atitude do governo. “Começa a ficar claro, o que há muito se suspeitava, que existe um abismo entre o anúncio e a realidade. É a distância entre o entusiasmo e o desânimo, entre o projecto e o vazio, entre a ficção e a realidade. Estou, por isto, com uma dolorosa dúvida. Não sei se o ministro se enganou, como disse, ou se nos enganou, como parece”. Os analistas têm outra perspectiva. Para Nicolau Santos, “não é fácil um Governo ter em mãos um potencial grande investimento de €6.000 milhões, anunciá-lo com pompa e circunstância - e depois deixá-lo cair. (…) O ministro da Economia esteve, pois, muito bem ao «matar» elegantemente o projecto”. Já Miguel Sousa Tavares, também no Expresso, destaca o facto de “correram a rufar tambores e a posar ao lado do grande empresário. Afinal, descobre-se agora que a refinaria iria libertar 2,5 vezes mais CO2 do que o anunciado, iria envolver 1200 milhões de euros de comparticipação pública, a compra dos direitos de poluição por parte do Estado e mais uma orgia de incentivos fiscais”. Foi este gato por lebre que Sócrates não comprou e bem. A oposição reagiu carregando no piloto automático das frases do costume. Para o PSD foram manobras de diversão do governo e o CDS-PP pediu explicações no Parlamento. Sabendo-se que Pedro Sampaio Nunes, agora vice-presidente do CDS, é colaborador de Patrick Monteiro de Barros, tanto no projecto da refinaria de Sines como na construção de uma central nuclear em Portugal, pergunta-se: o grupo parlamentar funciona já com patrocínios? 
Sou suspeito ao escrever sobre Manuel Maria Carrilho. Não gosto dele mas gosto da mulher dele. Foi por isso que o apoiei nas eleições. Com as devidas reservas. Eu sei que este é um mau começo para qualquer escriba, mas arrisco. Não gosto do MMC porque é um autista convencido que é um iluminado de excepção. Conhece Kant e Maquiavel melhor do que eu, assim como a trica política. Mas não sabe geri-la nem percebe as regras do jogo em que se meteu. É demasiado altivo e arrogante para sequer tentar perceber o progressivo deserto que foi criando ao longo da campanha eleitoral. Jogou com o apoio de milhares de eleitores em função das suas birras. Ao querer integrar-se no mundo do glamour cabotino lisboeta, como um golpe de asa para ganhar eleições, tinha de conhecer as regras do jogo, ou pedir a alguém que lhe explicasse o que fazer nessas circunstâncias. “Sob o signo da verdade” é um livro esclarecedor, não só para os seus admiradores, que tinham em grande conta o filósofo ou o político, como para os seus detractores. Como resultado do lançamento destas estórias da miséria humana, Carrilho fica mais sozinho do que nunca. Os seus críticos ganharam com este escarafunchar numa ferida que já estava esquecida. Para eles foi a cereja num bolo que desejaram e do qual já se tinham esquecido. Não fiquei com vontade de conhecer o conteúdo do livro porque cheira a histórias tontas e sem sentido. Mas uma coisa é certa. Continuo a gostar da mulher do ex-canditato ofendido. Se decidir entrar na próxima corrida eleitoral, ela pode contar com o meu apoio.
Veio parar às minhas mãos esta semana o último número da revista Atlântico. Na minha modesta opinião, a única coisa que a revista tem de bom é o facto de vender pouco. O resto é mais do mesmo. Uma revista de amigos para amigos, com crónicas bem pagas. Quem assinou as suas confissões numa coluna sobre a FAMÍLIA a foi a Maria Filomena Mónica, a nossa “crida” MFM. Não sei porque razão, MFM e o seu Bilhete de Identidade têm sido um tema recorrente ultimamente em várias conversas entre amigos quando se fala de sexo e opinion makers. Não percebo o interesse das quecas da MFM com o Vasco Pulido Valente, quando andavam juntos. Para mim é como falar em geriatria e vida sexual após os 80. Mas, voltando ao que interessa. MFM escreve assim sobre a família na revista “Atlântico” de Maio: “É melhor viver no seio de uma família harmoniosa e culta do que entre grunhos despenteados e sujos, disputando entre si o afecto, o status e o dinheiro”. O que significa, à contrário, que nas famílias “harmoniosas e cultas”, não há grunhos a disputarem afectos, status e dinheiro. MFM continua uma gracinha e sempre da linha. Mas isto parece-me uma fraqueza. Os seus detractores dizem que sempre foi assim. Uma fraca desgastada. Mas eu não. Nem penso que seja grunha nem despenteada. Mas andando. Um pouco mais à frente, acrescenta: “ao longo dos séculos, fizeram-se muitas experiências no sentido da substituição da família, mas todas falharam, incluindo as comunidades hippies, que sempre me pareceram detestáveis”. Não posso estar mais de acordo. Se há coisas detestáveis eram as comunidades hippies, freaks e outros marginalismos militantes. Aquilo era tudo uma rebaldaria, que nem se chegavam a saber bem quem eram as suas famílias. Um perfeito horror. MFM descreve no seu BI (pág.159) a sua procura por uma identidade icónica na Londres plebeia no início dos anos 60. Queria modelos que pudesse copiar. Não os encontrou. Só anos mais tarde, o click veio quando apareceu Julie Christie e a nossa baronesa Marianne Faithfull. MFM é condescendente. Podem ser ovelhas negras, hippies até, desde que venham de famílias bem. Podem ser taradas, heroinómanas, e tudo o mais, mas noblesse oblige. Percebeu isso cedo e ao que parece defende esta bandeira na trincheira da “sua esquerda”. Também foi isso que me guiou toda a vida. Mas, no fundo, o que eu queria mesmo era foder as famílias bem. Taras de gajos radicais de esquerda. Já Freud alertava para esses recalcamentos. Mas as coisas correram mal. Hoje, a minha vida é um pesadelo, e tem muito a ver com a personagem da série “O Fugitivo”. É que as betas da linha não perdoam e jamais esquecem.
São gente do deserto e não tocam rock, nem samba nem trip hop. Vêm do Sahara, talvez com alguma sede mas com muita força na alma. Chamam-se Tinariwen, são do Mali e consideram-se "imajeghen", o que quer dizer "homens livres". Começaram a tocar num campo de treino para guerrilheiros, cuja população era maioritariamente refugiada. As suas músicas também são as suas armas. Nos primeiros tempos, no início dos anos 90, utilizavam as canções como instrumentos de consciencialização e mobilização política.
A economia dos Estados Unidos da América continua a ser a mais competitiva do mundo. A revelação é feita hoje na edição de 2005 sobre competitividade mundial, um relatório elaborado pelo Instituto Internacional para o Desenvolvimento da Gestão. Mas o documento considera este facto um paradoxo, uma vez que se verificou uma redução na sua taxa de crescimento para 3,5% e continuou a acumular uma dívida que supera os oito biliões de dólares. Por dia, a dívida norte-americana aumenta qualquer coisa como 2,1 mil milhões de dólares. É caso para dizer, isto só na América. O curioso vem depois e prende-se com o facto de haver cada vez mais países com títulos da dívida pública dos EUA. O engraçado é que a China comunista é já dos maiores credores dos Estados Unidos e vai a caminho de ser o número um. Ironias do destino.
Se está farto de telelixo e de programas de qualidade duvidosa tem uma boa solução: desligue o seu televisor. Hoje é o dia de abstinência televisiva na península ibérica a favor de uma televisão de qualidade. A acção é organizada pela Federação Ibérica das Associações de Telespectadores, que organiza o protesto pela 11ª vez. Pretende pôr os cidadãos ibéricos a reflectirem sobre o tempo que gastam em frente ao pequeno ecrã, muitas vezes inutilmente. E então, qual é a alternativa quando à noite não tiver nada para fazer? O Pedro Abrunhosa dá-lhe a resposta. Coloque o álbum "Palco" na sua aparelhagem e escolha uma das duas versões da música com o título mais sugestivo. São longas, portanto, vá com calma. 
27 cafés com tradição literária de toda União Europeia vão assinalar hoje o Dia da Europa. Desta vez são os bolinhos e a literatura que comemoram um projecto que ainda está muito longe daquilo que todos esperávamos. Ou seja, a crise de legitimidade e de governabilidade continua a bloquear o projecto europeu. O grande salto que muitos pensavam que seria ser dado com o Tratado Constitucional fracassou. A crise instalou-se na França e na Alemanha, os países que sempre foram os motores do projecto europeu. Os novos desafios do alargamento estão a ser olhados com desconfiança, em especial a adesão da Turquia. As relações com os países árabes da região já conheceram melhores dias e a hegemonia dos Estados Unidos continua a fazer-se sentir mesmo em matérias em que os europeus dão cartas. Alguns países da União Europeia estão curiosamente mais próximos dos Estados Unidos do que da sua UE. Estou a referir-me principalmente aos ingleses, em particular a Tony Blair, que continua a apoiar a declaração de guerra de Bush. Muitas dessas regiões, agora em conflito, estão historicamente ligadas à Europa e algumas têm inclusivamente percursos comuns. Neste caso, a UE poderia ter um papel importante na imposição de negociações pela via pacífica, se quisesse. O que agrava este estado de coisas é que esta incapacidade do velho continente se impor acaba por colocar nas mãos dos ultraconservadores norte-americanos o poder da guerra. Esta impotência aflitiva revela que o nascimento de uma verdadeira União Europeia continua em stand by. Como resolver este imbróglio? Não sei. Vou até ao Martinho da Arcada beber um café, comer um pastel de nata e tentar falar com Fernando Pessoa sobre o assunto.
Este foi um fim-de-semana cheio de ruído político. Marques Mendes, o “feroz” opositor de José Sócrates, concorreu contra si mesmo nas primeiras eleições directas da história do PSD. Fantástico. A taxa de participação foi pouco mais de um terço, mas obteve uma votação esmagadora, superior a 90%. O que significa, ou pode significar, que quem não acredita em Marques Mendes não pôs lá os butes. Mas o que o novo/velho líder ficou muito satisfeito com a sua esmagadora maioria. Também Ribeiro e Castro veio dizer o mesmo. Para ele a esmagadora maioria foi de 56%. E os 42% do seu opositor não representam nada. Para quem foi eleito líder do CDS-PP pela terceira vez no espaço de um ano, 56% representam uma vitória sem margem para dúvidas. Mas os críticos, leia-se parlamentares, não lhe vão dar tréguas e ganham terreno. Mesmo quando são liderados por um puto da Juventude Popular, o tal dos 42%. Ele é o adversário de peso!
O Café Chave de Ouro está repleto. Estamos a 10 de Maio de 1958, a um mês das eleições para a Presidência da Republica. Primeiro acto público com a presença do Candidato Humberto Delgado depois de iniciado oficialmente o período eleitoral.
Comemoram-se agora os 150 anos do nascimento de Freud. Nunca nos últimos tempos se escreveu tanto sobre psicanálise e o seu criador. Freud virou objecto de culto? Talvez não. Parece mais o assinalar de uma efeméride importante na descoberta dos mistérios e da estrutura da mente humana. Pessoalmente nunca me interessei muito por Freud, nem acreditei muito na psicanálise. As terapias eram feitas a cru, em grupo, com muito álcool e outras substâncias defendidas por diversos ervanários da época. Estendia-se até aos cogumelos de Carlos Castañeda. Havia quem defendesse que "quem tem amigos não precisa do divã do psicanalista". Mas muitos de nós iam mais longe e estudavam os radicais. Sim, David Cooper, entre outros. Os seus livros eram esclarecedores quanto à morte da família ou como tratar de uma depressão através do LSD. Assisti a uma conferência de Franco Basaglia, o defensor italiano da antipsiquiatria, que explicou ao pormenor como decidiu abrir as portas do hospital psiquiátrico onde trabalhava. Fiquei surpreendido e pensei que talvez essa fosse a solução para muitos males sociais. Abrir as portas da percepção. Também Foucault estava em sintonia com os antipsiquiatras. Defendia que os loucos não sofrem de uma doença mas sim de opressão de uma sociedade que não os compreende. Esse era o pensamento de muitos os da minha geração, quando se falava em doenças mentais. Era radical? Pensava eu que sim, mas há quem defenda que não. Chantal Bosseur escreve no seu livro "Introdução à Antipsiquiatria" que a metodologia de Freud e a dos antipsiquiatras têm muitas analogias. Considera que o que Freud fez com os histéricos, os antipsiquiatras fizeram com os esquizofrénicos. Mais uma vez a teoria dos extremos que se tocam. Porra. Tantos anos de luta para chegarem a esta conclusão? Sinto-me um pouco depressivo. Mas prometo que não vou ao psicanalista.
Rezam as crónicas oficiais que o jornal Pravda (A Verdade) começou a ser publicado a 5 de Maio de 1917, tendo como seu fundador Lenine. No entanto, e como só a verdade é revolucionária, é mentira. Foi Leon Trostky, com mais dois companheiros, quem começou com o jornal, em 1908. A sua publicação era na altura feita em Viena de Áustria, para evitar a censura. O jornal era depois enviado para a Rússia. Tinha assumidamente um pendor social-democrata, muito virado para os problemas da classe operária. E foi devido a essa temática que rapidamente se tornou num jornal muito popular em toda a Rússia. Em 1910 foi transformado no órgão do Partido Social-Democrata Russo, mas em Abril de 1912 publicava o seu último número. Os bolcheviques trouxeram-no de novo para as bancas ainda em 1912, desta vez já em São Petersburgo. Encerrou de novo com o início da primeira guerra mundial. Reabre com a revolução russa de Fevereiro de 1917, já com uma forte carga ideológica bolchevique. Com a radicalização da luta politica passou a tomar posições muito próximas de Lenine e do Partido Comunista. Entre a queda da monarquia e o fim do chamado “período burguês”, o Pravda chegou a vender 100.000 exemplares por dia, um número que ainda hoje mete inveja. Cinco meses depois da Revolução de Outubro deixa São Petersburgo e muda-se para Moscovo. A partir daí passou a ser a publicação oficial do Partido Comunista da União Soviética, “fundado por Lenine”. Aguentou o seu monolitismo até 1991, altura em que Boris Ieltsin confiscou tudo o que era do Partido Comunista, incluindo o Pravda. O resto é história.
É a única ex-colónia portuguesa em que se pode realmente dizer que "foi descoberta pelos portugueses". O arquipélago estava deserto, como se pode compreender. Quando Diogo Gomes e o genovês António di Noli encontraram as primeiras cinco ilhas do arquipélago, a 4 de Maio de 1460, não sabiam que estavam a contribuir para tornar o mundo mais rico, na sua diversidade, na sua gastronomia e na sua cultura. As noites passaram a ser mais animadas e o ritmo nunca mais foi o que era. Além da hospitalidade daqueles que passaram a ser os naturais das ilhas, a música de Cabo Verde afirmou-se no mundo e começou a fazer parte dos hábitos de todos os amantes dos trópicos de dança. 
Eu tenho dois castiçais no meu quarto de dormir.

Confesso que é pelo facto de ser feriado que gosto cada vez mais do primeiro de Maio. Eu sei que não deveria ser assim mas tenho a impressão que muitas pessoas partilham desta minha tese. Mas esta situação é fruto do imobilismo ideológico do próprio sistema sindical. Os sindicatos continuam agarrados a formas de luta que se têm revelado como pouco eficazes, face aos novos desafios nacionais e internacionais. Por exemplo. Hoje, os temas comuns às comemorações do primeiro de Maio são: “A defesa do emprego de qualidade e a luta contra o desemprego”. Tal como em todos os outros anos. Parece que entrou nas rotativas das centrais sindicais e nunca mais de lá saiu. A progressiva cristalização da praxis sindical levou a que muitos trabalhadores se desvinculassem dos seus sindicatos. Actualmente, a maioria está por sua conta e risco. E a tendência é para aumentar. No entanto, há diferenças entre as duas centrais. A UGT tornou-se numa coisa viscosa que ninguém sabe muito bem o que é. Se algum leitor tiver alguma ideia, seria bom partilhá-la. A CGTP continua a ser a tábua de salvação para muitos trabalhadores, quando existe o risco de desemprego. Carvalho da Silva continua na luta e tem-se mostrado fiel a um ideário sindical. Só que o manual utilizado continua a ser a primeira edição. Os novos desafios passam-lhe completamente ao lado. A globalização, uma das grandes dores de cabeça dos dias de hoje, provoca cada vez mais desemprego sem que os sindicatos consigam fazer alguma coisa. Qual é a formula para combater isso? Não sei. Deixo isso para os experts. No entanto, uma coisa é certa. A qualificação tanto dos trabalhadores como do patronato é uma necessidade urgente. Assim como um upgrade sindical. E também o reforço do movimento sindical a nível global. Mas não nos tirem o feriado. Essa é uma conquista inalienável.