quarta-feira, 13 de dezembro de 2006

Um complot à Le Carré: quem é que podia ter morto Litvinenko?

Bush e a direita americana podem ter interesse em enfraquecer e diminuir a capacidade de movimentação politica e mundial da nova Rússia...

Para se conhecer o vilão, dá-lhe um pau para a mão. Pode ser o adágio funesto e arcaico que nos inspira esta sinuosa e rocambolesca história de espiões: ajuste de contas por tentativa de venda do mais caro e potente veneno do Mundo? Ninho de antigos espiões infiltrados pelos poutinescos à ordem? Conluio intempestivo entre a máfia italiana e a nova peste russa, que se termina por uma selectiva morte? Ninguém sabe e John Le Carré ainda não disse nada...

Ora, como queremos avançar, e não andar à volta da peneira, percorremos os grandes jornais de referência mundiais e o portal da The Nation, onde um artigo de Katrin Vanden Heuvel faz o balanço do caso, " Corrida apressada para julgar o envenenamento do ex-espião ". A tese central deduzida aponta para um mais que provável ajuste de contas entre camaradas desempregados ou com hipóteses de o deixarem de ser.

O mundo do ex-KGB transmutou-se numa rede infindável de agências privadas de segurança e espionagem que se oferecem pelo mundo inteiro. Muitos ganharam um ódio de morte ao seu antigo colega Poutine. E como têm know-how que chegue tentam tirar partido das fraquezas do sistema social russo. E fazem contrabando: com armas, venenos e mercenários. Ou chantagem com dados e delações na Imprensa mundial pró-capitalista.

Só o Le Monde e o NY Times- ao contrário do Times de Londres e do Washington Post, por exemplo - evitam entrar na ominosa desfaçatez de imputar de caras o crime de morte do ex-espião a Poutine. O Spectator, o Wall Street Journal e o terrível New York Post embarcam despudoradamente na mais descarada catilinária anti-russa. Mesmo as canetas de ouro do Washington Post incriminam sem curar de análise credíveis o chefe do Kremlin.

Katrin Heuvel convida-nos a ler um blogue do escritor Edward Jay Epstein. Onde este conta como é que o ex-espião chegou a estar em contacto com um veneno tão raro e tão caro. Como a série de hipóteses formulada ainda não terminou, e aparecem mais casos de contaminação em Hamburgo, torna-se imperativo, por isso, que nos distanciemos das precipitações imbecis e canhestras dos tablóides do mundo inteiro, ávidos de sensacionalismo e hipóteses rasteiras ou demenciais.

FAR

9 comentários:

Táxi Pluvioso disse...

Para mim foram cogumelos envenenados ou o tabaco como descobriram "cientistas" belgas. Ou então desenterraram o Rasputine. Basta ouvir o Putin a falar para ficarmos com a sensação de que é um amigalhaço bom para os copos incapaz de "evil doing", como diria o nosso santo Wbush. Por um lado mais sério, não vale a pena ler jornais americamos, é pura perda de tempo, nem que os democratas se sentem no poleiro e pisquem os olhos aos europeus.

Anónimo disse...

Meu caro: Importa é a malta ler tudo, tentar ler tudo até fazer sangue, como disse o Nietzsche. Só deste modo podemos atingir coisas novas, ideias novas e novas liberdades. Ainda hoje li um artigo- saem mais de 100 por dia no Mundo!- do VPV onde ele desancava o Estado-Providência e os seus legados. Será que aquela indesmentível cabecinha de ouro se está a aproximar da senilidade pura e simples? No outro dia, disse que a Atlantic Mnthly era de esquerda: mentira, ele que só lê os jornais da velha Albion... Mister Táxi Pluvioso: eu leio tudo
e, com bom vinho e queijo, leio compulsivamente. Desde que a minha irmã mais velha-formada em Filosofia em Coimbra nos tempos de rigor...- me passou para as maos um livro do Camus, por volta dos meus 15 anos.Parisvivi no conjunto mais de 10 anos,fui atodos os lados:revista do Sartre bureau do Bataille e duas grandes entrevistas com o Ph Sollers, uma que até saiu no DN. Penso mesmo fazer um livro: já tenho um editor esquerdista em Lisboa... Por último, os jornais portugueses sao uma brincadera incómoda e mal-cheirosa, sem grande valor. Por isso, temos que procurar o que nos dá melhor Informacao. Salut! FAR

Táxi Pluvioso disse...

Corrijo o que escrevi. Não quero que fique com a ideia errada de que eu leio jornais ingleses, ou franceses, ou noutra língua menos bafejada por Deus. Eu simplesmente não leio jornais. Aprendi com a imprensa local que basta ler os títulos para ficarmos informados quanto baste. O resto que vem nos artigos é apenas dança à volta do poste sem avançar informação útil alguma.
E mais. Estendi a não-leitura aos livros, porque acredito na criação de novos bárbaros. Em tempos de império só aqueles que estão nas margens – reais, não as de Derrida – o destruirão. Já resultou com o império romano, pode ser que a corte fuja para Hoboken (para a casinha natal de Frank Sinatra). Seria uma boa Rovena para o actual imperador. Ou então Paris, Texas, que agradaria mais aos europeus – iriam beijar o anel e ver os sítios por onde Win Wenders passou com a filha do Klaus Kinski a tiracolo. (Também não vejo cinema. Isto são “não-conhecimentos” antigos. Posso dizer com muito orgulho que não entro numa sala de “fotografias em movimento” desde 1986).
Que viva a barbaridade sem cara humana, para não citar o pateta do Bernard-Henry Levy.

Anónimo disse...

Meu carO: Aprecio a sua escrita pletórica de oximorons, que só se consegue dinamizar por intensas leituras, que irónicamente desvaloriza. Certamente, conhece a opinião do Hegel sobre os jornais... do seu(dele) tempo. Hoje,as coisas fiam mais fino: muitos livros são constituídos à base de artigos publicados na Imprensa, diária ou regular. É só olhar para os de Derrida, Blanchot( de que ando a reler tudo),Barthes e até os do multimilionário B-H Lévy, que tem uma coluna semanal no Le Point.É verdade, o Thomas Pynchon publicou um novo romance- Against the Day- e o NYT trazia toda a estória do escritor sem rosto actualizado, que casou com a agente literária e de quem tem um filho. E, aqui para nós,ele gosta muito da escrita e perfomance literária do Rubem da Fonseca, um dos meus escritores preferidos da actualidade, de alguns anos a esta parte... mundial...e Portuguesa. Viva o Work in Progress: eu que ainda conheci Les Halles onde o Joyce foi empregado... Salut! FAR

Táxi Pluvioso disse...

Não sabia que o B-BL era tão bom partido para velhas “novas filósofas” em idade casadoira. Que outra coisa seria de esperar de um tipo que não saiu de casa durante o Maio de 68 senão um homem precavido? Talvez não valha por dois mas por um e meio, pelo menos, deve valer. Foi com ele que aprendi que ler livros era pura perda de tempo.
Quando li “Os últimos dias de Baudelaire” fiquei com o spleen atrás da orelha. Mas então o Lévy andou na escola com o Baudelaire para tamanha intimidade? Andaria Lévy pelo Hôtel Pimodan, nos aposentos do pintor Boissard, a fumar haxixe enquanto Baudelaire espreitava com interesse literário a transformação de um filósofo num vendedor de livros? Na altura não considerei o ex-filósofo francês uma flor do mal propriamente… antes, pareceu-me uma flor que não se cheire.
Tive a confirmação quando li “Quem matou Daniel Pearl”. Apresentado como uma reportagem jornalística lá para o meio do livro o Lévy começa a rabear esquizofrenicamente e transforma o Omar Sheikh num one man al-Qaeda. Só faltou escrever que o filho da senhora Qauissia era o bin Laden disfarçado. De resto Lévy escrevinhou de tudo o que lhe passou pela cachola até achar que o livro tinha as páginas suficientes para que a editora tivesse o lucro razoável.
Estou com medo de ler “O século de Sartre” que uso como pisa-papéis. Não quero ficar nauseado. Não sei se o Thorazine cura a náusea existencialista. De qualquer maneira o saber não está nos livros e ando sem tempo para tantálicas procuras. Com um blog em americano, outro em português e um livro para acabar, a única coisa que tenho tempo para ler é a nota de Nietzsche “esqueci-me do guarda-chuva” (saltando o que Derrida escreveu à volta).
Que venham os novos bárbaros. Acabo com um bom aviso para o futuro daqueles que lutam contra a massificação vindo dos Prodigy: “always outnumbered, never outgunned”.

Anónimo disse...

Meu caro. O blogue arranjou uma excelente aquisicao, Afinal lê imenso,claro. O B-H L é casado sem filhos com a vedeta Arielle Dombasle, uma loura super Barbara Guimaraes. Entrevistei-o e está no DN- Letras dos anos 80. Fui com uma amiga, por quem o Bernard se apaixonou, e deu-nos dezenas de livros da Grasset, onde trabalha com cunha do pai. Este antes de morrer vendeu a fábrica ao Pinault, o velho multimilionário dono da FNAC, entre muitas outras coisas. O BHL está sempre do lado dos vencedores: parece que o velho gaullista Pinault vai apoiar Ségolène. Ele também é o dono do Le Point, dirigido pelo F-O G, de quem dei notícia há meses. O livro de que fala, o Século de Sartre, é um bom livro para iniciados sobre o genial escritor que bebia 1 litro de Rouge ao almoco. Tem outros dois- O testamento de Deus e o Barbarie- com interesse, apesar das violentas polémicas com Castoriadis,Deleuze, Vidal Naquet, etc. Bem,por agora é tudo. Fico muito contente por encontrar pessoas com projectos. Salut! FAR

Anónimo disse...

Faz rir... A revolucao no virtual... muito bem, depois todos na casinha a fazer as unhas, estilo metrosexual, ha,ha,ha... nao querem um pouco de acido licergico? Venham para casa. Aqui tem muito thc (tetrahidrocanabinol) e nuito trabalhinho para ser feito.

Táxi Pluvioso disse...

Revolução virtual? Ponha-se à frente e talvez não fique com vontade de rir. Deixe as drogas e preste culto a outra coisa, talvez a Onan, ou Édipo, ou encontre uma aplicação não imaginativa para o astrolube e ganhe uma medalha do presidente da república por serviços prestados à pátria. Nunca pare de comentar. Porque parar é ficar parado.

Anónimo disse...

Táxi pluvioso: Fui a Estrasburgo, hoje. Livros belíssimos a preço de saldo. Novidades poucas, a não ser a monumental obra do Jean-Michel Palmier sobre o Walter Benjamin. A Franca está mesmo esquisita: a mudanca tranquila da Sego que os transporte... até o clan Chirac parece que a apoia. Comprei por ajuste 4 livros do Edmond Jabès- daquele núcleo fantástico de poetas e escritores onde podemos colocar o Gombrowiczs, o Célan ... O restante estava numa venda de Natal. Eusou um velho amigo do Armando, há mais de 30 anos, fiz-lhe o trabalho final...para o A-F- Alexandre. E nunca discutimos, nem zangámos.O que é obra. Sobre a minha erudição: ela é feita a golpes de martelo, como diria o Nietzsche. Hoje, li uns textos do Bataille... que diz que ele era hiper-religioso. E Isso está fora daquele volume deslumbrante " Sur Nietzsche " dele. Hoje, comprei os três tomos das O.C. que me faltavam com quase todos os textos que ele tinha escrito na Critique, sobretudo. A minha pequena erudição dá para perceber os outros, tentar fazer o melhor e andar sempre a descobrir coisas: o Blogue associado na The Nation é fabuloso: WWW.Thruthout. COM. Vamos avançar?!? Salut FAR