segunda-feira, 11 de dezembro de 2006

---------------O que pode pôr em xeque o sistema?

Por Jean Baudrillard


"O que pode aniquilar o sistema mundial? Não, por certo, o movimento da anti-mundialização, que não tem por objectivo senão travar a desregulação. O impacto político pode ser considerável, mas o simbólico é nulo. Esse tipo de violência é ainda uma espécie de peripécia interna que o sistema pode ultrapassar, permanecendo dono-do-jogo".

"O que pode fazer aniquilar o sistema, não são as alternativas positivas ; são, isso sim, as singularidades. Ora, estas não se constituem nem como positivas, nem como negativas. Não são uma alternativa, pertencem a uma outra ordem. Não obedecem nunca a um julgamento de valor nem a um princípio de realidade política: Podem ser o melhor ou o seu contrário. Não as podemos federar numa acção histórica de conjunto. Põem em xeque todo o pensamento único e dominante, mas não se assumem como um contra-pensamento único- inventam o seu jogo e as próprias regras do jogo“.

"As singularidades não são forçosamente violentas, e existem as que são mesmo subtis, como as que se prendem com as línguas, a arte, o corpo ou a cultura. Mas existem as que se assumem como violentas- e o terrorismo pertence a esse grupo. Essas vingam todas as culturas singulares que pagaram pelo seu desaparecimento como o preço de instauração da potência mundial única“.

(...)" Todavia, as coisas ainda não estão decididas e a mundialização ainda não ganhou. Face a esta potência homogeneisante e dissolvente, vemos surgirem por todo o lado forças
heterógeneas- não só diferentes como antagonistas. Para lá das resistências cada vez mais vivas à mundialização, de ordem social e política, é preciso reconhecer mais do que uma recusa arcaica: uma espécie de revisionismo implacável em relação com as conquistas da modernidade e do ´progresso`, a rejeição não só da tecnoestrutura mundial mas também da estrutura mental de equivalência de todas as culturas ".

* In Power Inferno, par Jean Baudrillard

FAR

Nota bene: O blogue precisa de pensar e avançar na apresentação de novas propostas de combate aos falsos encantos do pensamento único.Urge incendiar os momentos brilhantes de audácia, coragem e perfídia que também motivam a nossa prática teórica e artística. Fica o convite para continuarem e fazerem melhor, claro.

3 comentários:

Anónimo disse...

A ELETRECIDADE.
FALTA 15 DIAS E MORREMOS TODOS Á FOME OU ENCLAUSURADOS NOS APARTAMENTOS: SEM INFORMAÇÃO, SEM ÁGUA, SEM CALOR OU FRIO,SEM ELEVADOR, SEM DINHEIRO, SEM ESTRADA, SEM CARTÃO, ETC, SEM NADA. SOBREVIVEM,COMO SEMPRE FOI,OS MAIS POBRES, OS QUE JÁ PASSAM FOME. FRASE DESGASTADA: É A LEI DA VIDA.
ESTAMOS NO EDGE FINÍSIMO. OUTRA DESGASTADA MAS ACTUALÍSSIMA: HÁ 2 LADOS, QUAL .......
PENSAR NO FRIO DE HOJE SEM AQUECIMENTO, SEM TELEFONE, SEM ELEVADOR,SEM FOGÃO, SEM FRIGORIFICO.......SERÁ QUE TEMOS DE SER "IMPERIALISTAS"????

Armando Rocheteau disse...

Gostaria aqui de homenagear o farol deste blogue.

Arguto, sabedor, lido e vivido, o grande FAR tem animado as hostes.

Avanti!

Anónimo disse...

Primeiro esta mensagem para o Armando via Baudrillard: " Não existe coisa mais afrodisíaca que a inocência !". Dá para escrever na abertura do teu caderno diário íntimo.Avanti,mas na perspectiva radical,ok?

Depois para o Carlos Indico, que já navega há muito pela blogosfera:em especial no apocalipse do Vasco e da Constanca... Indico, você sabia que o Lacan disse, uma vez ao sair do aviao em Caracas, que o progresso é reaccionário?!? O que eu desejo é que prolongue o comentário do Baudrillard, se mo permite. Comente e dance, leia e escreva,eu leio compulsivamente no Inverno, ou será porque bebo menos os vinhos espanhóis e italianos?!? Andei a reler os romances do Miguel Esteves Cardoso: que inteligência e sensibilidade! E agora releio o Baudrillard, logo pela matina. Depois vou para o meu part-time onde gozo com os engenheiros da Porsche, antes passo pela biblioteca para ler os jornais em papel, até o Público. E depois lancho,vejo as notícias na TV5,na CNN e na ARD-1. E leio mais umas horas longas. Nao tenho ainda soluções para a desgraça portuguesa, mas não tarda. Salut! FAR