domingo, 24 de dezembro de 2006

Da Capital do Império

Olá,

O Natal deveria ser como as olimpíadas – de quatro em quatro anos. Isto porque o Natal é uma das ocasiões que me faz inveja de vocês aí do outro lado do charco na Lusitânia, com décimo terceiro mês para comprar prendas e gastar nos copos e comezainas. Aqui como não há décimo terceiro é o meu cartão de crédito que está cheio de contas de décimo terceiro mês.
Eu nunca soube de onde veio a ideia de se inventar um mês. Foi para aumentar o deficit orçamental? Foi para provar que no estado do bem-estar se pode ganhar dinheiro sem trabalhar? Um prémio à preguiça? Ou foi porque todos concordam que ganham todos mal e portanto em vez de se aumentar os ordenados mensais inventa-se mais um mês?
Não sei. Mas o facto de aqui o ano só ter 12 meses e o meu cartão de crédito ser o décimo terceiro mês é que me deu ideia de fazer coincidir o Natal com os Jogos Olímpicos.
É que aqui crédito é coisa muito fácil. Há poucos dias atrás o meu carro de dez anos deu finalmente o berro e aqui como não quem não tem carro não é gente, eu tive mesmo que telefonar à minha instituição bancária a perguntar se eles me podiam emprestar 10 mil dólares para comprar um carro em segundo mão
Pediram-me o nome, o meu número de assistência social (que é o mesmo que o BI) a minha conta, a minha morada, o meu telefone e depois a sujeita do outro lado diz: “Quer aguardar ou quer que lhe telefonemos com a resposta?” Decidi aguardar e preparei-me para uma longa espera. Minuto e meio de pois veio a voz: “Aprovado. Quer os dez mil dólares mandados para casa ou para o stand de automóveis?”
Ah as maravilhas do capitalismo eficiente. Mais fácil pedir dez mil dólares pelo telefone do que pedir para instalar um telefone em casa …. que geralmente aqui demora cinco minutos embora no meu caso demore sempre um pouco mais porque tenho sempre que soletrar os meus nomes. Fiquei no entanto a pensar se me teriam emprestado meio milhão pelo telefone para serem depositados numa conta em Macau….
Bem, mas como dizia o Natal deveria coincidir apenas com os Jogos Olímpicos porque para além dessa questão do décimo terceiro mês o Natal aqui é uma mistura de pirosismo e consumo como ainda não vi em nenhuma parte do mundo, o que que me irrita sobremaneira.
Aqui a cinco minutos de distância de carro da minha casa, na Rua da Prosperidade, com casas de mais de um milhão de dólares dois vizinhos decidiram entrar em concorrência de pirosidade natalícia. Só visto e para o ano prometo comprar uma máquina fotográfica a crédito para vos enviar o retrato. Mas vou tentar descrever.
Os jardins das duas casas são um mar de luzes e bonecos gigantes em plástico do Pai Natal de desenho estilo pré escola primária. Esses gigantes Pais Natal de plástico de barato a lembrar aquelas bóias de plástico das piscinas são acompanhados de complicadas construções em arame de renas e trenós, tudo enfeitado com luzes das mais diversas cores. Um destes artistas até conseguiu colocar essas tais renas penduradas entre duas árvores cheias de luzes o que dá a impressão das renas estarem a voar.
Isto claro está em casas da Avenida da Prosperidade. Malta fina portanto. Imaginem outras casas de malta menos culta. Até faz corar de vergonha, os desenhos gigantes em cartolina com umas luzes à volta a piscarem toda a noite. Alguma dessas cartolinas já estão um pouco sujas porque são usadas todos os anos. É o suficiente para ficar enjoado antes do peru, animal conhecido entre alguns imigrante tugas como “o turco” devido a confusões linguísticas com a palavra “turkey” e seu significado. Dou-vos um exemplo: fui à loja dos tugas ( “Latino Market” de aspecto muito rasca a precisar de pintura) para comprar rissóis e pastéis de bacalhau e dar uma volta no meu novo (em segunda mão) carro e lá dentro dizia um tuga para o outro: “Então já comprastes o turco?”
Mas voltando às figuras do pai Natal, há que dizer podem causar alguma confusão. Um amigo chinês dizia-me que o ano passado mandou vir o avô do interior da China para vir ver a América. O velhote coitado, sem nunca ter saído lá da aldeia da cochinchina, chegou aqui uns dias antes do Natal e depois de dar umas voltas perguntou se o Pai Natal “é um dos deuses dos americanos”.
A boa notícia nesta época de Natal é que a gigante árvore colocada em frente do edifício do Congresso é de novo oficialmente “árvore de Natal Nacional”. Antes de irem embora os Republicanos acabaram com a parvoíce dos liberais que haviam transformado a árvore de Natal em “árvore das Festas ” para não ferir susceptibilidades de outras religiões. Obviamente malta de esquerda que fumou muita passa nos anos 60 e 70. De tal modo que em frente à Casa Branca a Árvore de Natal ali colocada todos os anos é sempre acompanhada a uma certa distância de uma Menorah judia e em alguns anos também de um crescente muçulmano.
Numa loja onde fui fazer umas compras a empregada de balcão disse “boas Festas” à cliente à minha frente que respondeu “Feliz Natal”. A empregada explicou: ”Nós temos ordens para dizer Boas Festas e só usar Natal se o cliente usar essa palavra”.
Verdade, Verdadinha! O ano passado a companhia “Lowe’s” tinha à venda “árvores de festas” mas felizmente este ano já lhes chama outra vez árvores de Natal.
Não sei qual é a paranóia da malta que não acredita que o menino Jesus nasceu no Natal ou que não acredita no menino Jesus. Ao fim e ao cabo o que é que se celebra no Natal? O Solstício de inverno?
Feliz Natal e Boas entradas,

Da capital do Império,

Jota Esse Erre

PS – antes de terminar não podia deixar de vos contar uma historiazinha de Natal para, espero eu, vos fazer sorrir. O filho de um amigo meu de seis anos de idade disse ao pai no dia 22 que queria também que o Pai Natal lhe enviasse uma “play station”. O pai respondeu que “ó filho agora já não dá tempo de enviar uma carta ao Pai Natal”.
Ao que o miúdo respondeu: “Não lhe podemos mandar um e-mail?”

3 comentários:

Anónimo disse...

Boas Festas João José. Feliz Dia da Família (é assim que se diz em moçambicanês) e um 2007 cheio de crónicas porreiras no 2+2=5.
Um abraço do Luís Galvão

Anónimo disse...

Grande John!
Apesar de tudo ainda fazes umas comprinhas pela época de implementação da vinda do Jesus!
Amen, camarrada!
E vai daqui um voto de melhor ano. O de 2007!
Abração do João Fróis.

Anónimo disse...

Caro jota esse erre, votos de festas felizes, e de um ano de 2007 com tudo do bom e do melhor, ou como o Galvão escreve usando moçambicanês, um ano cheio de maningues bons e sem chicuembos. O 2+2=5 tem o grato privilégio de ter o melhor cronista da blogosfera portuguesa, é só peço que assim continue.
FFC