No Blogue do Não ocorre uma curiosa discussão semântica sobre a despenalização da IVG. O André Azevedo Alves, um liberal-a-toda-a-linha, avisa os incautos que o que se prepara é a liberalização pura e dura do aborto (isto é para assustar, claro, que aqui-d'el-rei, é só ver mulheres abortadeiras compulsivas à porta de clínicas sombrias geridas por assassinos de bata branca). Mas o António Costa Amaral, outro liberal do mesmo género (e o inventor do" socialismo sexual"), pensou um bocadinho e corrigiu: não, isto não é liberalizar, como é que podia ser, um liberal contra a liberalização de qualquer coisa? Por isso, elucida os seus pares: trata-se de legalizar, o que é completamente diferente, claro. É que se prepara a intromissão da horrenda mão do Estado através de regulamentações, e- imagine-se só- impostos sobre o acto médico. Em coerência, se a tivesse, o António Costa Amaral só poderia chegar a estas duas conclusões: que se se tratasse de "liberalizar", ou seja, deixar funcionar o mercado sem restrições, teria que estar de acordo (o quê? Esta parte está-me a deixar confuso, noto aqui uma contradição, bzzz, bzzz, malfunctioning...); e que, após a vitória do sim no referendo, esperamos vê-lo a defender o fim das taxas moderadoras também para a IVG.
5 comentários:
ridiculo
Caro André Carapinha,
Nesta questão moral, os liberais também se dividem.
Eu sou a favor do "sim" no referendo, contra a intromissão do Estado na vida sexual e reprodutiva das pessoas, e também contra qualquer subsidiação do Estado a qualquer operação abortiva voluntária. Se o "sim" ganhar, passarei a defender que seja de facto liberalizado - é absurdo que o crime passe a ser fazer um aborto fora do SNS ou amigos. Se o "não" ganhar, serei contra apoios do Estado à gravidez, família e afins.
O AAA tem a sua posição. Que não é compatível com a minha, mas é intelectualmente coerente (sim, existem doutrinas liberais contra o Aborto), e que eu respeito não só porque o considero meu amigo, mas sobretudo porque nenhum de nós vai em colectivismos ou "falar a uma só voz".
Mas que blog mais badalhoco esse do não. Aghhh!
Caro AA:
Fico contente por ter evoluido na sua posição. Recordo-me perfeitamente de ter lido na Arte da Fuga que pensava votar Não, porque "não se podia concluir com certeza se um feto é um ser vivo", ou algo do género.
Confesso que o julgava interventor no Blogue do Não como apoiante do Não. Ainda bem que assim não é.
Mas essa do "socialismo sexual"...
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