" Ao princípio era o recomeço, eis o novo evangelho que, pensando em Nietzsche e aceitando nisso todas as consequências, poderíamos porventura substituir de bom grado ao anterior, sem perder de vista que o antigo já afirmava ( e como seria de outro modo?), na medida em que a palavra, mesmo que seja a da origem, não passa de ser a força da repetição, a que nunca jamais enuncia uma vez por todas, mas ainda mais uma vez, e sempre de novo, de novo. A partir disso se forma uma imensa gargalhada que é o espanto do universo, a abertura do espaço no sentido da seriedade e o humor divino por excelência.
"Porque será bem preciso que o eterno retorno, até ao esquecimento onde atinge a sua revelação como lei, esse eterno retorno onde se estabelece e de qualquer das formas se afirma a ausência infinita dos deuses, venha a querer também o seu regresso. O que Pierre Klossowski revela no seu livro" Un si funeste désir", onde ele se revela e o Nietzsche essencial também.
" Diz ele: " E desta forma se estabelece que a doutrina do eterno retorno se concebe ainda mais uma vez como um simulacro de doutrina cujo sentido burlesco exprime e conforta a hilaridade como atributo da existência confortada em si-própria, sobretudo quando o riso rebenta na profundidade da verdade total, quer a verdade expluda no riso dos deuses, quer os deuses morram de uma convulsão do seu próprio riso. Quando um deus quis ser Deus único, todos os outros deuses se escangalharam de riso até disso acabarem por morrer ".
In Maurice Blanchot, L´Amitié, (dedicado a Georges Bataille).Págs.205/06.
Editions Gallimard, France
FAR
1 comentário:
Notas do tradutor- Há um risco enorme nestas coisas.A tradução implica quase uma fusão total com a linguagem do traduzido. Uma palavra que falte ou esteja mal colocada. E ainda por cima são coisas da ordem do discurso filosófico. Não há como tentar e correr os riscos inerentes, no entanto. É preciso avançar e fazer sempre melhor.Leio há muito Blanchot,releio-o agora com objectivos mais altos... A par de Bataille. E de outros que perfazem o meu jardim secreto. São marcas estes fragmentos para chamar a atenção e avançar, um pouco como os tigres delimitam o seu (im)poder, claro. Salut! FAR
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