Trata-se de um libelo acusatório sem concessões nem operações de cosmética, demagógica ou eleitoralista. É o editorial político do NY.Times. Que fustiga implacavelmente a herança do meio-termo do segundo mandato de GW Bush como presidente dos EUA. Escalpeliza os traços estruturais da política da maioria republicana no Congresso e no Senado: " O corte nos impostos-acima-de tudo- arruinou o orçamento, enfraqueceu a classe média e hipotecou o futuro da economia. Recusou fazer frente ao sobreaquecimento terrestre e não fez pateticamente quase nada acerca da dependência interna do petróleo estrangeiro ".
" Os líderes políticos da maioria republicana, especialmente no Congresso, implementaram tóxicos sintomas de uma arrogância e autismo desmedidos como se estivessem há muito instalados no poder. Metodicamente marginalizaram a oposição - e mesmo os elementos moderados da sua própria maioria - para fora de qualquer desempenho ou iniciativa legislativa. A sua única ambição parece consistir em se perpetuarem no poder, indefinidamente ", sublinha.
E vai mais longe ainda: " Para nós, o intolerável foi criado pela tentativa do P.Republicano tentar minar o jogo de equilíbrio de forças que salvaguardam a Democracia americana desde a sua fundação". Para acrescentar de forma incisiva e peremptória: " Nos últimos dois anos, a Casa Branca tornou claro que exige poderes exorbitantes. Em vez de pôr em dúvida tais excessos, o Congresso controlado pelo PR habilitou-se mesmo a remover os limites que a habilidade do presidente reclamava. Parafraseando Tom Delay, os republicanos pensam que não são precisos regulamentos se o partido manipula o controlo de tudo ".
O Le Monde apresentava hoje um vasto texto de diálogo na Internete conduzido por um especialista, Guillaume Parmentier. Que no essencial, dava conta das grandes hipóteses de vitória folgada dos Democratas no Congresso, incerteza quanto à posse do Senado; e, por fim, dava relato de que - num artigo da grande correspondente do jornal em Washington, Corine Lesnes - em 46 circunscrições mais importantes 29 candidatos democratas não criticavam as opções de Bush na ida para a guerra no Iraque.
Ler editorial do The New York Times, aqui
FAR
15 comentários:
DN Segunda, 6 de Novembro de 2006
Um teste a Bush?
Luís Delgado
Jornalista
A maioria dos analistas tende a considerar que as eleições de meio termo nos EUA, amanhã, constituirão um cartão vermelho implacável, e inapelável, a George Bush e à sua Administração. Será assim?
Se olharmos para a história recente, todos os presidentes, no primeiro ou segundo mandato, sempre foram penalizados nestas eleições, que se realizam de dois em dois anos, e onde que estão em causa os 435 lugares da Câmara dos Representantes e um terço do Senado. É tradicional que a maioria do Congresso, nesse período, mude de mãos, mas convém recordar que nada disso impede o exercício presidencial - não aconteceu, por exemplo, com Reagan e Clinton - e muito menos a quem está apenas a dois anos de terminar o seu mandato.
Pior seria, e isso aconteceu com Clinton, que essa viragem se fizesse na metade do primeiro mandato presidencial, bloqueando ou dificultando a acção governativa, como aconteceu com a vitória de Gingrich, que mais tarde se virou contra ele e a maioria republicana.
Assim sendo, se os republicanos perderem amanhã a maioria - o que é provável mas está longe de ser definitivo, como se verá nas sondagens -, o dano para Bush será mais político do que funcional, e pouco impacto terá no seu desempenho presidencial. A dois anos de terminar, Bush preocupa-se com a imagem que vai deixar para a História, e pouco mais. Se acontecer, é apenas mais um presidente que passa por essa fase de não coincidência entre a maioria presidencial e a do Congresso.
Em qualquer dos casos é importante, a um dia das eleições, recordar alguns dados básicos, que não têm levado os democratas a assumir, antecipadamente, uma vitória conclusiva e esmagadora sobre os republicanos.
Na Câmara dos Representantes, e de acordo com a última sondagem ABC/The New York Times, a diferença entre os democratas e os republicanos é apenas de seis pontos, e uma vantagem de seis lugares para os democratas, o que não chega para os 15 que têm de ganhar para obter o controlo da câmara baixa do Congresso do EUA. Cautela, contudo: esta é uma sondagem nacional, de eleitores prováveis - mais fidedigna do que as que questionam eleitores registados - e limita-se a expressar um sentimento global, que pode ter mudanças significativas de estado para estado.
Ou seja, a vantagem dos democratas, que é maior noutros inquéritos de opinião, varia de estado para estado, e é apenas essa luta que conta, uma vez que a eleição é nominal e por maioria simples. Vai para o Congresso quem vencer por mais um voto.
No Senado a disputa é ainda mais acesa, embora a diferença esteja apenas em seis lugares. Mas são as escolhas mais disputadas e com os candidatos mais mediáticos. A inversão no Senado, em favor dos democratas, será ainda mais complicada e difícil de acontecer.
Num ponto todos concordam: os republicanos serão os únicos a perder, mas daí a uma catástrofe eleitoral, como já aconteceu com outros presidentes, não será tão fácil como muitos gostariam e desejariam. Pior: nada de muito importante se joga nestas eleições, que não seja a vontade mediática de as transformar num veredicto sobre o exercício da presidência dos EUA. Mas daí à realidade vai alguma distância, e na maior parte dos casos o desejo dos analistas está longe da vontade dos eleitores.
Bush já não precisa de testes eleitorais, nem a sua Administração vacilará com uma derrota eleitoral, seja ela qual for. Esse tempo passou há quatro ou seis anos, e mesmo assim com todas as limitações de interpretação que se conhecem.
Há, ainda, outro factor a ter em consideração: a elevada abstenção que estes eleições de meio termo registam, e que as sondagens apontam como provavelmente ainda maior este ano. Não invalida a sua legitimidade, mas serve de argumento político, de parte a parte, para controlar os danos que possam acontecer na terça-feira à noite.
Venha o que vier, o resultado está feito e decidido para os americanos.
Nada de muito importante se joga nestas eleições, que não seja a vontade mediática de as transformar num veredicto sobre o exercício da presidência dos EUA
E vivam a América e os seus Bush's, que tanto preocupam gentes de cá!!! Uma treta...
Pois... se esses gajos fossem decentes, talvez valesse a pena perder tanto tempo e... latim... com eles! Manobras de diversão!
Quem postou a crónica do Luís Delgado não quer perceber o fundamental: o teste eleitoral de meio-mandato era mesmo crucial... por causa do pântano da guerra do Iraque. Parece que Luís Delgado nem nisso fala, o que revela a sua crassa miopia. E os jogos de poder nos EUA também estão longe de estarem calmos e esclarecidos. Bush vai ter pela frente a lutadora e irrefragável maioria democrata no Congresso, o que quer dizer que ou terá que negociar- como o anda já a fazer com Baker e Summer(Democ.) a propósito de uma solucao para o Iraque-- ou nao conseguirá governar. De resto, a sua política - feita para servir os grandes interesses da indústria petrolífera e adjacentes- económica foi um desastre total, colocando os EUA à mercê da China para remeter para longe um déficite orcamental colossal. Vamos avancar no dialogo? FAR
Grande FAR!
E a Revolução continua...
Viva a América toda nua!
Grande FAR!
E a Revolução continua...
Viva a América toda nua!
Tirado agora do NY Times On Line: Um artigo sobre a " alteração demiúrgica " da política de Bush causada pela severa derrota nas eleições do meio-mandato. O artigo é assinado por Robin Toner. Que diz ele de importante: 1) 4 em cada 10 votantes exprimiram o seu " voto contra " GWB; 2)A eleição era nacional e Bush e o Iraque estavam no centro da discussão; 3)o capital político amealhado com a reeleição em 2004 foi desaparecendo a pouco e pouco... Por causa da escandalosa revisão do articulado da Segurança Social;em virtude do furor popular contra a incúria dos departamentos federais de socorro às vítimas do mega-tornado Katrina;contestando o apoio a causas conservadoras em extremo e, sobretudo, por causa do crescimento contínuo das terríficas sequelas da guerra no Iraque.
" Everything is different now for George W. Bush ",começa assim o primeiro artigo post-eleitoral do fantástico NY Times de hoje, na sua edição on line. Não descuidem o diálogo: raciocinemos em conjunto, trocando dados e perspectivas. Avanti. FAR
Democratas e republicanos são exactamente a mesma coisa. Têm o mesmo deus - o poderoso dólar.Que a polémica não nos afaste da verdadeira boa notícia que vem da América - o divórcio de Britney Spears.
Podemos voltar a sonhar "o sonho americano".
As questoes levantadas pelo Taxxi Pluvioso ultrapassam em muito o objecto da representacao politica imediata. De qualquer das formas, a politica organiza-se principalmente em torno do Estado( nao existe cena politica sem Estado ou equivalente do Estado), mas podem existir Estados sem politica( na qual a politica nao e senao efectiva senao em ante-c^amaras ou gabinetes). A representacao politica envolve uma dupla funcao ou um duplo substracto: e representacao da unidade da comunidade( e representacao das suas divisoes) classes,interesses e valores divergentes,claro. Tudo isto procurei
num livro subscrito por Ranci`ere, Claude Lefort, Lacoue-Labarthe e J-L Nancy, entre outros, que se intitulada " A reserva ou dist^ancia da politica ", Edt. Galillee.
A cena americana e a possivel, mas existem movimentos locais e regionais muito radicais sobre o uso da marijuana, o casamento gay e todo o tipo de guerras implacaveis.FAR, na Biblioteca da Uni de Stuttgart...
Teoricamente a Política seria a organização dos negócios públicos de um comunidade mas na prática é uma actividade específica para profissionais – junto do putativo candidato gravita uma tropa altamente especializada (assessores disto e daquilo, consultor de imagem, técnicos de iluminação, maquilhadores, seguranças etc. etc.). O resto da população contenta-se com o “emprego” de eleitor. E um eleitor é apenas um ser que sofre pelos escolhidos do seu coração enquanto não saem os resultados, depois, agita as bandeiras na vitória, ou encaminha-se cabisbaixo para casa, na derrota. Os sentimentos de urgência, inevitabilidade, felicidade, até sebastianismo agregados aos vários estádios da actividade política são criados pelos Meios de Comunicação Social.
Por isso, os jornais pelo universo fora embandeiraram em arco em sábia politologia, como se a rotatividade numa democracia bi-partidária, fosse uma revolução, e depois, no dia seguinte à anunciação dos resultados das eleições americanas, o mundo acordaria melhor. Nada disso sucederá. Tudo ficará na mesma.
Agora no caso de Britney Spears houve uma mudança. Ela está livre e sexy. Sendo macho e latino não poderia deixar de referenciar esta boa notícia vinda das terras do tio Sam. No entanto, estou perfeitamente consciente, se Britney Spears passasse por Portugal, casaria com um jogador de futebol, e eu estaria condenado a assistir tudo pela televisão. Mas o “sonho americano” é precisamente isso. Um sonho.
Existem coisas siderantes de poesia na correspondência de F. Engels com K. Marx, que perspectivam de forma exaltante o caminho da história, que é politica e humana mas determinada pela economia. Sem Estado não existe sociedade nem progresso, quer louvemos Bakounine ou Hegel, Reich ou Marcuse e Adorno. O autor do Taxi Pluvioso nao deve confundir os aparelhos ideológicos de Estado- Comunicacao Social,vida artística ou musical- com o sem fundo da aventura humana intersubjectiva, como a perspectivava C. Castoriadis na" Instituição Imaginária da Sociedade". Vale? FAR
Concordo plenamente. Ainda corre algum sangue marxista nas minhas veias que permite aceitar o papel determinante da infra-estrutura económica. E as adições de Althusser.
Actualmente sou anarquista, mas gostava de ser banqueiro. O banqueiro anarquista.
Parabéns pela erudição.
Meu caro : Cito Georges Bataille, que gostaria de ler ao Sol e no Atlas,a propósitode Nietzche: " Nietzsche disse que não podia diferenciar a música das lágrimas... A conclusão de Zaratustra é que " a alegria é mais profunda que a pena... ". E mais este: " O homem terá acesso, ou não, para lá da ordem judiciosa, uma vida soberana, problemática, inútil, perigosa, não tirando sentido senão dela mesma e, decididamente, um sentido trágico ?". Vamos continuar a pensar em voz alta-sempre?!? Salut! FAR
Corrigenda. acesso a... E separar duas palavras juntas. A pressa... FAR
Corrigenda-bis:" O homem terá acesso, ou não, para lá da ordem judiciosa, a uma vida soberana "...
Bataille, La Souveraineté in OC Tome VIII, pág. 418/423.
FAR
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