quarta-feira, 15 de novembro de 2006

Um filme já visto

Decide-se um mísero aumento de 15 euros para o salário mínimo nacional, e lá começam as carpideiras do costume. Os economistas-ao-serviço-da-nação já vieram alertar, eivados de pânico, para a iminente bancarrota nacional. Ficamos assim esclarecidos sobre sermos um país de salários mínimos. Curiosamente, não vimos esses mesmos economistas soltar um pio quando da liberalização do preço do petróleo, que fez subir em flecha os preços da energia e dos transportes, supondo que as quase-falidas empresas nacionais também usam energia e transportes; mas isto, claro está, é o mercado a funcionar, sendo totalmente legítimo que uma empresa vá à falência por este motivo, mas nunca, obviamente, por ter de pagar mais 15 euros por mês aos seus 10 trabalhadores- essa é- abrenúncio!- a intromissão da horrenda mão do Estado sobre a livre-iniciativa. Já os neo-liberais de serviço dedicam-se mais a discussões teórico-práticas sobre o salário mínimo ele mesmo. Ficamos a saber que a sua existência impede o trabalho e fomenta o desemprego, e isto porque, e logicamente, faz com que certas pessoas que poderiam estar a trabalhar, digamos, 40 horas por semana a ganhar, digamos, 300 euros por mês, não o estejam, e assim se vejam condenados à indigência. Seguindo esta linha de raciocínio, proponho também o fim do Rendimento Mínimo Garantido e do limite máximo de horas de trabalho semanais- coisa que, note-se, os nossos neo-liberais subscrevem por inteiro- ou não possa uma pessoa que neste momento dele beneficia, encontrar um trabalho de 60 horas semanais por 100 euros mensais, e assim contribuir para a pujança da economia nacional e a sua realização pessoal. It's the market, stupid!

1 comentário:

Anónimo disse...

Lá vou vender o meu peixe: "Un Autre Monde",o livro de Stiglitz " Contra o Fanatismo do Mercado !", que eu já tinha lançado com uma transcrição sobre " Troca justa contra livre-troca ", se bem se lembram. O grande Keynesiano desmonta neste livro a ilusao dos maximinalistas do Pib!!!( Lembram-se da gaffe do Guterres!?!?). E FRISA: " oS POLITICOS E OS ECONOMISTAS QUE PROMETEM QUE A LIBERALIZACAO DO COMÉRCIO VAI MELHORAR A SORTE DE TODOS SAO UNS IMPOSTORES.A TEORIA ECONÓMICA ( COMO A EXPERIENCIA HISTÓRICA) aponta PARA O CONTRÁRIO". A assimetria na " liberalização dos fluxos de capital e de trabalho cria uma injustiça suplementar", adianta. Fazer funcionar a Mundialização- para muito mais gente: é outro dos capítulos do livro que defende a multiplicação dos exemplos de economias mistas da Asia Oriental, as sucess stories- que jogaram com o controlo de câmbios, a regulação restritiva do movimento dos capitais e certas barreiras alfandegárias protectoras de projectos embrionários estratégicos e radicais . "A estratégia global exige o reforço dos mercados: mas é também importante reforçar o Estado, e de encontrar para cada país, a cada etape, a boa dosagem entre o Estado e o Mercado ".

Fazendo preito de gratidão a JM Keynes, Stiglitz proclama alto e bom som: " O desenvolvimento visa mudar a vida das pessoas, e não só transformar a economia ". Salut! FAR