A questão do léxico utilizado pelos militares num determinado conflito é da maior importância. Tomemos por exemplo a guerra israelo-palestiniana. Como apontei num post mais abaixo, a parte israelita nunca assume a verdadeira natureza do conflito (isto no seu discurso para o exterior, pois existem dois discursos antagónicos, como veremos). Quando das suas acções resulta o massacre de civís, diz sempre que foi "por acidente"; as suas acções no terreno nunca são "militares", mas sim "acções punitivas" contra "alvos terroristas identificados". Na verdade, o exército israelita utiliza todas as acções de guerra clássicas num conflito daquele género: ataques contra alvos inimigos, independentemente da presença ou não de civis no local; acções punitivas contra a população, que está do lado do inimigo; destruição de infra-estruturas, tanto militares como civis, etc. Procura, no entanto, uma desvalorização constante do seu método e do seu papel, porque necessita de se apresentar aos olhos do Mundo como "a parte justa", "que se defende". Esta necessidade obsessiva de justificar os actos talvez nos diga, melhor que qualquer outra coisa, a verdadeira natureza da justiça subsequente ao conflito...
Internamente, porém, o discurso muda radicalmente. Os lideres israelitas lembram constantemente ao seu povo que estão em guerra, uma guerra feroz contra inimigos que os pretendem aniquilar. Este duplo discurso, é fácil de ver, resulta de uma necessidade estratégica: se externamente pretendem passar a mensagem da "guerra justa", internamente é necessária uma cultura do medo do Outro, que justifique todos os sacrifícios materiais e humanos que os israelitas tem de suportar para manter o esforço de guerra.
3 comentários:
Tenho horror à guerra. Já vivi em guerras. Já tive que optar entre participar ou não na guerra. Era legelmente obrigado a ela, mas não enfileirei em nenhum exército. Compreendo quem sente necessidade de combater uma força estrangeira que ocupa o seu solo pátrio. Mas em última instância a guerra é sempre um meio para alguém aceder ou deter o poder. Poder do Estado, poder económico, poder político ou hegemonia sóciocultural. Não há justeza em matar.
O PM israelita Ehud Olmert, o único de uma longa linhagem que não é militar profissional, vai
estar hoje em Washington. Um grande artigo no NYT perspectiva o contexto alargado das relações intimas entre os dois Estados. E nele são focadas as obsessões do EMFA israelitas sobre a intenção declarada de Bush em abrir uma frente de negociações com a Síria e outros estados da zona para tentar demover o Irao de continuar a fazer os impossiveis para possuir a arma nuclear. O jornalista-correspondente do NYT avança: o indigitado sucessor de Rumsfeld foi sempre a favor- contra Bush e a sua equipe- de se iniciarem conversações directas e totais com o Irão. Sobre o exército israelita : é declarado do modelo americano puro, tem menos mercenários- são 50 mil no Iraque de empresas de guerra privadas!!!- e somou enormes êxitos através do Mundo. Tem ligações com o famoso exército turco, o sul-africano, o russo e o brasileiro...E o francês que lhe deu os planos para fazer a bomba atómica nos anos 60.FAR
Existem "guerras justas"? Eram os movimentos de libertação em África "terroristas" como lhes chamava Salazar? É o Hamas um movimento terrorista? É o Estado de Israel terrorista?Foi a criação do Estado de Israel na Palestina uma opção justa?Que importam as terminologias da guerra?Quem é que ainda tem dúvidas do que é um "dano colateral"? As "acções punitivas" e os "acidentes", a justificação do ataque pela necessidade da defesa, a cultura interna do medo do Outro, tudo isto sempre esteve e está presente em todas as guerras que se querem "justificadas".O pior são as guerras que ninguém sente necessidade de "justificar":o Darfur, o Ruanda,e tantas outras, para as quais nem sequer há necessidade de inventar uma terminologia...
Aonde quero chegar com tudo isto? Não sei. Só sei que me chateia que os conflitos dos deserdados, dos mais pobres entre os pobres, sejam sistematicamente ignorados. É que ali acontecem verdaeiros genocídios sem direito a terminologia própria...
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