
1.
A castanha a estalar no lume.
Risos quentes de amigos. O estalar das folhas secas na beira do caminho.
Tarde amarela, feita de conversas vagas.
Vontade de agasalho, de um crepitar morno de lareira no começo da noite.
As primeiras chuvas que trazem os odores secretos da terra.
A réstia do sol na manhã estremunhada por entre lençóis e o primeiro cobertor.
O cheiro adocicado e breve das castanhas.
Tardes cada vez mais noites.
Luzes estalando no pôr - do - sol cada vez mais breve, cada vez mais leve.
Paisagem acastanhada que me acompanha e me aconchega.
2.
Como o bafo de um dragão prestes a expirar, o nevoeiro cobre tudo.
Em rolos densos, esbranquiçados, enovela-se nas esquinas.
Um ar frio que penetra até ao mais fundo das almas.
Onde estamos?
Mal te reconheço no meio desta cal.
Paredes liquefeitas,
árvores - espectros à beira das ruas imaginadas.
O vento, esse, há-de estar adormecido, num sono de ébrio, em qualquer caverna.
Gemem as folhas queimando-se na geada matinal.
O dragão exala o seu bafo moribundo
e cobre de névoa o mundo.

3.
Perder-me num novelo eriçado.
Passado que foi Setembro, deixei-me embainhar neste casulo delicado.
Rebento em Novembro
numa explosão alaranjada de cinzas e fogo.
Flor amarela.

4.
Não tinha percebido que o Outono chegara.
Dantes, eram as tardes arrefecendo numa conversa que anoitecia.
Guardava os calções e encontrava o conforto das calças.
5.
Ainda há-de vir quem me explique o Outono.
Aquele que se demora à mesa com a devoção de quem desfruta.
A calma que decorre do Verão.
Tempo castanho
Mornidão.
Alguém que chegue para me explicar cada estação...

6.
Chega Outubro e vem Novembro, eu não entendo.
Amanhã há – de ser outro mês.
Na terra tudo se passa de outra maneira.
Há que deitar água, há que estar atento.
A folha ainda reverdece, outras há que ganham tons amarelecidos, desmaiam, estiolam
e caem.
Amanhã diz-me que hei-de ser outro, que hei-de mudar.
Novembro é outro. Eu sou.
7.
Agora vejo tudo.
Outubro foi-se e chegou Novembro.
Novembro chega e eu apercebo-me da sua chegada.
Subo a gola, encolho-me.
Não me reconheço na procissão.
(Isso não, é demais...)
Procuro nos bolsos as cinzas das castanhas...
Novembro é o mês que todos enjeitam.
Criança deitada na Roda.
Menina...
8.
Quando nos deitamos dormimos o sono
ou, antes, deitamos ao dono o dormir de cada Outono?...
Fernando Rebelo
Sem comentários:
Enviar um comentário