Não perca, de modo nenhum, a leitura deste artigo, clique aqui, hoje publicado no Libération. Trata-se de uma análise muito trabalhada e que abre novas perspectivas sobre a intervenção política em França e na Europa. Grunberg e Laidi dão cartas em Ciências Políticas
Os analistas políticos espantam-se com o fenómeno Ségolène Royal, de quem já elogiamos o temperamento e o sex-apeal. Foi escolhida pelo PS francês, arrasou dois pesos pesados, os elefantes, do paradisíaco e alcatifado mainstream pariseense da Rive Gauche: Laurent Fabius e Dominique Strauss-Khan. Deixou-os a milhas e conseguiu aguentar as rasteiras semeadas pelos dois numas renhidas Primárias.
" Poder-se-á explicar o sucesso de S. Royal pela influência dos Médias e a vitória da Democracia de Opinião sobre a Democracia de partido. As coisas não são assim tão simples. Se a democracia de opinião influenciou a escolha dos militantes, ela também reforçou o PS graças ao reforço da chegada de novos aderentes. Em verdade, o voto para Royal coagulou dois tipos de apoios: o dos novos militantes ávidos de renovamento e o do aparelho do partido, preocupado em esconjurar uma nova derrota ", apontam os dois politólogos.
Focando, principalmente, a forma táctica operada pela prática política de Ségolène Royal na dura caminhada até à vitória como candidata do PS, que consistiu na implementação de um propósito acutilante e interactivo - " segui-me porque eu me reconheço também em vós "-
esta inflexão, segundo os nossos sociólogos, demonstra uma " capacidade a incarnar " mais uma simbologia do que uma realidade tangível, a da presença e a da autoridade. " S.Royal, como outrora Mitterrand, procura identificar-se a uma França rural, na qual não é preciso uma pessoa fechar-se mas com a qual é indispensável não temer o contacto ", frisam.
Toda esta estratégia pulverizou os dois economistas do Tout-Paris de Esquerda,D.S-Khan e Fabius. E quebrou o feeling de " ruptura " avançado pelo putativo candidato da direita, Nicolas Sarkosy. Este tem à perna agora dois possíveis candidatos do seu partido, Villepin e Alliot-Marie, para lá do centrista Bayrou que pesca nas mesmas águas. Chirac pode ir para uma qualquer ilha tropical dormir a sono despregado, se o cheque depositado no banco de Tokyo for verdadeiro, como dizia o Canard desta semana. Ele acha que Ségolène tem muitas hipóteses de vencer as presidenciais de Maio 2007.
"Deixou de ser preciso escolher entre duas ou três doutrinas, mas sim, o que é necessário é construir uma nova relação com a política que diga respeito mais à experiência realizada pelo indivíduo do que a concepções ideológicas. Se S. Royal tem um lado blairista, isso consiste na capacidade a perceber que a política não poderá mais pensar-se senão por referência com as experiências múltiplas vividas pelas pessoas, por referência ao que os ingleses chamam " life politics ", adiantam.
Lance de muita importância estratégica é assim escalpelizado pelo dueto politólogo: " Por outro lado, o discurso de S. Royal desenvolve registos, quer sobre a mobilização cívica e cidadã, quer sobre o controlo participativo dos eleitos, a que podem vir a aderir os libertários, os ecologistas e uma boa parte dos eleitores de extrema-esquerda ". Os únicos campos onde tem que mostrar mais o que quer, claramente, são os que se referem às políticas sociais e às de Emprego, afiançam os dois estrategos.
FAR
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