Terminei há pouco de ver uma série de documentários nas várias estações de televisão sobre o 11 de Setembro. Houve um que (naturalmente) me impressionou sobremaneira: ficcionava, através dos testemunhos dos sobreviventes, o que de facto se passou no interior das torres atingidas. O horror, o medo, os actos de coragem excepcional, etc. Acontece que dei por mim a pensar sobre o que terá aquele horror concreto, aquela experiência-limite de destruição e morte, de mais importante que o horror diário por que passam centenas, milhares, de seres humanos todos os dias por esse mundo fora, de tal modo que este é retratado em documentários, enquanto o outro permanece o triste sofrimento anónimo dos sem-voz. É que uma coisa é o valor simbólico e inscricionário do acontecimento 11 de Setembro, e a sua importância na definição de novos paradigmas históricos, e outra bem diferente é o acontecimento em si, o que lá se passou naquele dia concreto, com todas aquelas pessoas concretas. Vejam se me entendem: eu não estou a diminuir o sofrimento e a morte de milhares de americanos nesse hediondo ataque contra civis; o que eu gostava, era que de uma vez por todas se deixasse de dar mais importância a uns mortos que outros.
Estes pensamentos lembraram-me deste post que escrevi nos alvores deste blogue, sobre os atentados de Londres. Termina com esta frase: «a medida da barbárie é o relativismo quanto aos mortos».
3 comentários:
Talvez os Americanos precisem de se justificar...
A tua questão é pertinente, mas de todos os tempos os homens nunca foram, nem nunca serão iguais, há uns que valem mais que outros,é utópico pensar o contrário...infelizmente...
Também eu escrevi algo sobre o assunto. Independente mente do horror do atentados a verdade é que morrem 16000 mil crianças de fome e doenças a elas associadas por dia (5 vezes mais do que os mortos do atentedo) e ninguém parece lembrar-se disso. Toda a vida é sagrada e não podemos dar mais valor à de um Americano do que à de um Palestiniano ou de um Iraquiano. Algo está distorcido nesta nossa visão do mundo.
abraço
A atender aos números e à actualidade eu diria "somos todos africanos do nordeste", para ser mais justo e menos deslumbrado com o Império. É lá que está a urgência. É lá que estão os mais desfavorecidos.
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