terça-feira, 12 de julho de 2005

A medida

A Al-Qaeda matou x em Londres. No dia seguinte a Al-Qaeda matou y no Iraque. Nesse mesmo dia o exército americano matou z também no Iraque. Nesses e noutros dias milhares morreram no Terceiro Mundo vitimas das bombas, das minas, da tortura, da fome, da exclusão. Também aqui no nosso mundo outros morreram, muita gente morreu a mais por muitas razões. Mas a nós só nos interessam os nossos mortos, tanto no sentido lato do termo- aqueles que nos estão próximos pela família, pela proximidade de afectos ou geografia, pela nacionalidade- como no sentido amplo- aqueles que nos são efectivamente representados como mortos, aqueles que o poder imenso dos Media nos apresenta, criando uma nebulosa sobre todas as outras tragédias deste mundo. Quem pensar que não existe uma agenda, mesmo inconsciente, por trás desta selecção de tragédias, que me explique como e porquê. Por mim o que vejo é que estamos cada vez mais perto e cada vez mais longe de tudo, mas que, ontem como hoje, a medida da barbárie é o relativismo quanto aos mortos.

4 comentários:

Anónimo disse...

há uma semana o americano matou 200 no Afganistão

e nem uma palavra
aqueles 200 não valem pelo quádruplo de Londres, nem por três quartos, nem o dobro nem igual nem a metade, nem nada

os princípios absolutos do não-armamento, que apregoa a democracia, não valem para Israel

o baque do Iraq veio sobre a mentira, depois do bloqueio que matou um milhão de crianças por falta de alimentos e remédios, além de cancro das bombas de urânio

a Palestina é o que se sabe, sempre adiada como país e cada vez mais isolada do mar e das terras que lhe pertenciam

então, que dá? que os mais espertos, educados entre nós, mais do que os outros que lá longe se podem calar, é que não podem com tanta injustiça ocidental e, vai, zumba, fazem justiça política, de raiva e razão, não por amor dos céus

Anónimo disse...

ah, faltou dizer
parafraseado de um texto lido, hoje mesmo, no JN

Anónimo disse...

ou seja
relativismo quanto aos mortos
e ao todo o mais
bem o diz, André

Anónimo disse...

A morte está demasiado presente, em tudo isto.

Dylan cantava há uns anos:

"...Come writers and critics
Who prophesize with your pen
And keep your eyes wide
The chance won't come again
And don't speak too soon
For the wheel's still in spin
And there's no tellin' who
That it's namin'.
For the loser now
Will be later to win
For the times they are a-changin'..."

Só que, saiu tudo ao contrário.
Ou será esta apenas uma fase "dark side"?
Será que o lote de ecstasy importado estava marado?

Neste dia 16 de Julho, mas em 1969, abria-se o céu para a deixar passar a primeira nave tripulada. Objectivo: Lua.
Procurava-se saber afinal porque é que somos tão pequenos e tudo o resto é tão grande.

Acabamos por não aprender nada.

Nem mesmo saber porque razão um calhau tão grande como aquele continuava a ser fonte inspiradora de gerações que contribuiram para que hoje haja mais de 6 mil milhões de pessoas no planeta principal, pai do satélite em causa.
(...já agora, penso que mais de 3/4 foram geradas durante a lua cheia... )

Hoje é a "Dark Side" que está in. "Ali, o quimico meets Bush o cómico".

Nova Iorque, Londres, Madrid... o roteiro turistico de uma variante de um certo tipo de morte. A mesma que em Cabul, Bagdad ou Islamabad.

Porque afinal, os eleitos democráticamente no país que, em 1969, pensou na Lua, continuaram por lá.
In the dark side of the moon, Irak or Afghanistan.

Nós por cá, na Terra, continuamos a cair aos bocados.
Nos cinco continentes. Porque afinal não há só um velho e um novo.
Deixem isso para a CNN.

(02:53 - 16.Julho.2005)