O sr. Rui Rio, presidente da câmara do Porto, despejou dezenas de pessoas, na sua maioria de etnia cigana, de vários bairros sociais recorrendo a uma lei de 1945 (de Salazar, portanto), que prevê, designadamente, que a concessão das casas seja condicionada "ao comportamento moral e civil dos pretendentes", e que possam ser desalojados os que "se tornem indignos do direito de ocupação que lhes foi concedido" se "pelo seu comportamento provoquem escândalo público" (notícia do PÚBLICO de hoje, entre outras, infelizmente não estão on-line, como se sabe). Perguntariamos, se não fosse tão óbvia a resposta, quem determina o correcto "comportamento moral e civil" e quem fica "escandalizado" com ele. Infelizmente já sabemos: o próprio sr. Rui Rio. Considerações de carácter à parte, e ressalvando que o Tribunal Administativo do Porto já considerou esta acção como "desvio de poder" (o que é pena é que as famílias já foram para a rua há muito tempo), o que ressalva é que um presidente de câmara, ainda por cima da segunda cidade do país, que se quer moderna e aberta, devia por sua própria iniciativa recusar este vergonhoso estratagema legal que é utilizar uma lei de Salazar evidentemente ofensiva da liberdade moral e de costumes que é protegida pela Constituição. João Teixeira Lopes do BE diz, e bem, que Rio "tem uma estratégia de expulsão a prazo dos pobres da cidade". Será isto a grande política de direita, criar cidades de Potemkin onde tudo o que não se quer ver seja escondido, apagado, e por fim esquecido? Ou será apenas o futuro?
Aqui em Lisboa tivemos aquela coisa chamada "manifestação contra a criminalidade" onde os (poucos, felizmente) nazis foram autorizados pelo Governo Civil de Lisboa a partir do Martim Moniz, num acto de evidente rasteira provocação, baseado num relatório do SIS que dizia que o percurso da manifestação "não oferecia perigos de maior para a segurança". Mas nesse mesmo dia o Presidente Sampaio fez o que tinha a fazer: foi à Cova da Moura participar nas festas do Kola San Jon e mostrar claramente qual a sua posição. Fui e sou crítico de muitas posições de Sampaio, mas esta atitude, e outras do mesmo género, mostram a diferença de ter um presidente de esquerda ou de direita. É por estas e por outras que me revolta a indiferença, resignação, e até um certo interesse do PS quanto à suposta inevitabilidade da eleição de Cavaco.
3 comentários:
Embora deva continuar a achar que nao tenho estaleca nem sequer inteligencia suficiente para compreender metade do que escreveu em varios artigos postados... Gostei do seu blog... O conteúdo é bastante interessante... continue... vou passando mais vezes... Nice
Adoro o tom reverencial entre conhecidos. Dá um certo sentido de estilo. Deviamos fazer isso durante o fds, sei lá, no portão. Deguste-mos uma bebida!, acompanha-me num cigarro ilícito?, aquela gentil senhora tem realmente um porte aprazível!. Isto seria realmente surrealista. BA
sobre o post:
comente-se já agora os casos em que, por ocupação ilegal de terrenos os ocupantes ganham, ao fim de uns anos, direito a uma casa praticamente gratuita, sem que no entanto, esses mesmos ocupantes, talvez os que tenham sido agora despejados, tenham alguma vez contribuido minimamente para a sociedade portuguesa. não sou a favor da discriminação, especialmente quando se baseia em critérios sociais, mas compreendamos que o problema se arrastou de tal forma, que as situações de injustiça para com o cidadão cumpridor saltam escandalosamente à vista. talvez o exemplo que eu tenha dado seja vago, mas tantos outros aberrantes existem por aí. comentemos a passividade das forças de segurança quando certos grupos de pessoas, cujo tráfico e posse ilegal de armas e drogas não é segredo para ninguém, as afrontam ou se manifestam à porta de um tribunal. com o "cidadão cumpridor" e por muito menos, não são muitas vezes assim tão passivos. numa sociedade assimétrica como a nossa, qualquer passo em qualquer direcção é uma injustiça latente. torna-se muitas vezes impossível distinguir as medidas justas das injustas. vem a propósito do que disse aqui noutro comentário. bom senso. tornei-me um apologista de algo que não sei muito bem o que é.
neste caso em particular, só lamento pelos que lá estavam e que até seriam boas pessoas.
BA
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