Al Gore, o documentarista, vai estar algures pelo mês de Setembro na Região Administrativa Especial de Hong Kong/China para promover o trocadilho ecológico “An Inconvenient Truth”- estreado em Sundance e felicitado em Cannes. Segundo uma nota distribuída pelos organizadores da visita de Gore, dirigida, entre outros, aos potenciais interessados dos média, é requesito fundamental prestar informação sobre o “political learning” de cada um. Isso mesmo, learning.
Sentido experimentado nos tropos dados aos “r” intercalares pelos falantes de chinês, dose mínima de senso comum, e não sendo credível que o “former next president”dos EUA esteja à vontade nas águas da ciência política, tudo isto permite concluir, não se tratando de um travesti democrático ou de arreliadora gralha, que os amigos do profeta, em seu nome, pretendem saber o”political leaning” dos candidatos a uma sessão de tédio. Com Al Bore. Quem sabe o documentarista finge estar preocupado com o ‘aquecimento global’, mas anda estudando, em ritmo alentejano, a Teoria das Quatro Representações de Jiang Zemin.
A verdade é que há sempre gente com paciência. Em resposta a uma aclaração solicitada, ao nível de secção gente ou fait divers, pelo incontornável “South China Morning Post”, os tais organizadores da sessão de verdades inconvenientes assumiram a cousa: “Al Gore, tão só, considera uma boa ideia conhecer antecipadamente a inclinação (background) política do entrevistador”.
A justificação benigna desta boutade, se o for, surrogate não andará longe dos terrenos do jet lag por antecipação. Uma condição estranha, mas vem bem descrita em “On Hashish” de Walter Benjamin.
Todavia, a explicação mais plausível, segundo as sínteses pérfidas destiladas no FCC (Foreign Correspondents Club), é de natureza transcendental. E geográfica. Uns km mais acima no Rio das Pérolas, e uns anos mais abaixo,Warren Delano, sogro do presidente democrata Franklin Delano Roosevelt, fora, no século XIX, taipan da maior trading americana de ópio. Este republicano, que foi vice-cônsul em Cantão, não deixou grande obra de filosofia política. A sua herança ficou-se por um axioma singular, aqui actualizado: “Não direi que todos os democratas são burros, mas parece pacífico que todos os burros são democratas”.
Abusaria do pretexto, e da noção de trocadilho ecológico, para deixar aqui uma inquietação. Porque razão o presidente da Câmara Municipal de Coimbra, Carlos Encarnação, não está acusado, pelo menos, de desobediência? A espúria e circense tentativa de obstaculizar a co-incineração merecem os ferros de delito ambiental e crime económico. Concordo, a regra da proporcionalidade remete para uma pena mais compatível com os brandos costumes. Pois seja, vai vexa condenado a acrescentar ao seu último apelido uma vírgula, seguida do substantivo BURRO.
JSP no Império do Meio
2 comentários:
JSP inicia aqui a sua colaboração connosco.
Escreverá, com regularidade, a partir da China.
Armando: És um homem de sorte. Até parece mentira: correspondente em Pékin. E bom com sagesse e audácia, a fazer esquecer os sendeiros. FAR
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