domingo, 24 de setembro de 2006

MISSIVAS

Querida Amiga:

Tenho a certeza que ainda te lembras de mim.
Faz anos, muitos mesmo, que tivemos logo a primeira
"trinca"...
Ora vê lá se é ou não verdade o que te vou escrever
hoje.
No sul da África, onde o Sol acorda no Mar e vai
dormir na Terra, numa tarde de Outubro do fim dos idos anos quarenta, estava
uma senhora deitada de pernas abertas e a gemer há horas, porque estava para
parir uma criança que não havia meio de vir ao Mundo.
Lembras-te, concerteza, que primeiro saiu uma pernita
da criança e que depois de voltarem a metê-la para dentro saiu a segunda...
e que depois de voltarem a metê-la para dentro voltou a sair a primeira... e
que depois de voltarem a metê-la para dentro voltou a sair a segunda... e
que depois de voltarem a metê-la para dentro voltou a sair a primeira... e
que depois de voltarem a metê-la para dentro voltou a sair a segunda... e
depois a primeira... e depois a segunda... uma de cada vez... até que a
ainda por parir lá "deu a volta" e assumou ao crepúsculo do fim da tarde.
Eram dezoito e trinta.
Era um puto, mas estava roxo. Muito roxo. Não tugia
nem mugia!
- Está morto - disse o médico presente.
Pensavas tu que já não valeria a pena tentar fosse o
que fosse para o "ressuscitar". Mas eu insistia em que tudo fosse feito para
que o já ser de quatro quilos e tal não se perdesse, assim como se deita ao
lixo uma abóbora podre, sem sequer se aproveitar para dar aos bichos!
Já não tenho bem a certeza se não querias mesmo que
a criança ficasse por cá ou se estavas tão só a dar-lhe sinais das
dificuldades que encontraria em ser tua amiga, prevenindo-a de que numa
verdadeira luta tem que haver sempre um vencedor. E que ao longo de todo o
tempo que andassem juntos as batalhas seriam terríveis!
Mas pronto... concordas-te em deixá-la por cá e
disses-te à parteira para a meter em água fria e água quente,
alternadamente, dando-lhe porrada ao mesmo tempo, até que ela berrou e cagou
aquela coisa preta que todos cagamos quando nascemos.
Afinal o puto estava vivo!
Chamaram a isso "parto pélvico"... e o puto
chamou-lhe um "figo"!
E lembras-te, claro, que depois daquela primeira
"trinca", nunca mais nos separámos.
Recordas-te disso, não é querida Amiga?

Beijos do teu amigo Frisó.

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