O famoso geopolítico Alexandre Adler analisa num texto surpreendente a " entrada a passos gigantescos na era do post-petróleo". Toda a marcha atrás já é "impossível", indica.
Discrimina as " várias causas " que provocam tão "colossais" alterações. Enumera-as: o sobreaquecimento atmosférico; a irresistível ascenção , quer da China, quer da Índia, em potência; a mutação inevitável da tecnologia e dos modos de vida; e, enfim a dependência agora quase insustentável de uma região do Mundo - o Golfo Pérsico - cuja instabilidade política domina interna ou externamente os estados petrolíferos que o marginam.
Adler adverte para os perigos oriundos de uma dependência unilateral e para a exigência de " diminuir o consumo de hidrocarbonetos " para abrandar o sobreaquecimento do planeta." A partir deste ponto, consequências de todos os géneros, quer as que se relacionam com as relações entre Estados, quer nas que terão inescapáveis interferências na vida quotidiana mais banal, podem desde já ser deduzidas; são, com efeito, pouco usuais e mesmo muitas vezes paradoxais ", sinaliza.
O politólogo avança mesmo com teses geopolíticas, que classifica de " conclusões inesperadas " na relação estrita das relações entre grandes potências. Assim, avança que a China jamais poderá negociar " preços políticos de rebaixa " com a OPEP. O que a fará virar para o gás russo e a compra de centrais nucleares antisísmicas. " E a colocará no mesmo barco dos países do Oeste, e não do Sul ou de Leste ". Trata-se de uma " aposta " inevitável a médio prazo, assegura.
A outra consequência paradoxal e inesperada, prende-se com " a europaízação do modelo de crescimento norte-americano ", com incidência na economia energética fundamental. E explica com mão-de-mestre: ": A correcção de tiro mais rápida e mais rentável a curto prazo, trata-se por uma adaptação dos meios de transporte ferroviários americanos para o estilo TGV francês- para começar no Texas de W. Bush?- tirar partido das centrais modernizadas onde a multinacional gaulesa tem vantagens competitivas de grande impacto e o lançamento de centros urbanos pedonais servidos por transportes em comum perfomantes ".
" Uma política europeia prudente deverá tender para associar Moscovo mais estreitament à construção do destino da Europa. (...) Evitar a " capitulação perante as petromonarquias e petroteocracias que, militarizando a região, podem acabar por traumatizar definitivamente a economia mundial " ,constituem outros lances de uma visão estratégica que recomenda a integração económica vital e combinada da UE, Russia, China e Índia.
FAR
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8 comentários:
O Adler bem se farta de escrevinhar e de grunhir, mas há muito que deixou de interessar a plebe gaulesa, por tanta banalidade que julga ser necessário arrotar, designamente no Figaro que agora pertence ao Dassault, dono das fábricas de aviões militares. O mesmo Adler já tinha imaginado cenários absolutamente ridículos para se acabar com o Hamas ou com o actual regime iraniano. Adler não é, de forma alguma, uma águia ao contrário do que o seu apelido possa significar na língua de Kant. Adler, tal como o Bernard-Henri Lévy,é um triste exemplo de impostura francesa.
Alexandre Adler passou de comunista a neo-liberal europaizante. Apoiou Kerry e sempre atacou Bush-2.Tem uma carreira fabulosa e uma monumental erudição geopolítica. Em França, só se lhe comparam outros dois: Gerard Chaliand e Pierre Hassner. Ambos escrevem no Figaro. Almaric e Vernet, do "Liberation" e do "Le Monde ", respectivamente, ficam pelos calcanhares do famoso trio.
Agora, este texto tem muita subtileza e polifonia: foge das verdades escritas a ferro forjado. É desconcertante apontando para as hipóteses divergentes de probabilidade.Ninguém sabe o que irá acontecer: tudo depende do sucessor de Bush-II, da evolução do poutinismo e da incógnita chinesa. Acontecimentos que se encaixam num bluff com múltiplos ases e interferências incontroláveis no estado de guerra permanente do Médio Oriente.
B-H.Levy é um bom romancista e como gosta de tocar nos "sete instrumentos", é evidente, que alguma coisa lhe há-de sair mal.Mas o livro sobre o Sartre é bastante bom e" Le Diable en tête "
um romance marcante dos anos 90 em França.
Agora, não alinho em excomunhões nem em autos-de-fé sobre ninguém.Urge ler os textos, tentar enquadrá-los e perspectiva-los. Um grande ensaista americano, que escreve no NY Times, Thomas Friedman, há um ano que se dedica à cruzada contra o petrolismo sem limites, propondo alternativas e divulgando experiências práticas sobre energias renováveis e não-poluentes. É uma questão principal e envolvendo o famoso princípio de precaução. Vamos discutir ideias e não pessoas ou veleidades ideológicas? FAR
Dassault comprou o Figaro- que era o jornal preferido pelo Mitterrand- há pouco tempo. Um dos herdeiros dos Rothschild comprou o Liberation e afastou agora o Serge July. O Le Monde parece que vende só 150 mil exemplares por dia. A crise é enorme e os Média disputam hoje diversas áreas de expressão ideológica. Só o Humanité- com subsídios-esmolas do fabricante de armas Lagardère- se pode considerar agarrado ao PCF.
Justamente, o Alexandre dler trabalhou 10 anos no Le Monde, fundou depois o Courrier International( hoje do Grupo Monde) e depois fugiu para o Figaro. Vale?!? FAR
Acerca do Figaro, do Monde e do Libération sem o July, aqui vai a crónica do EPC de ontem, devidamente comentada por um leitor não identificado:
"
Eduardo Prado Coelho o fio do horizonte [Público 30 de Junho de 2006]
Adeus Libé
Para quem vive, ou viveu, em França, sabe perfeitamente do que falo. Todas as manhãs havia um prazer indispensável. Comprar o jornal Libération e ir lê-lo ao café. Um café em Paris é um espaço acolhedor [acolhedor se o dono e os empregados forem simpáticos o que começa a ser raro], com espelhos e madeiras e terraços envidraçados que se abrem para a chegada da Primavera, o sol avançando portas adentro [deve ser provavelmente o "Café de la Paix" por onde pairava o Hemingway] . E o Libé, claro. Ora é o Libé que está ameaçado de acabar. O actual proprietário do jornal, a que Sartre começou por estar ligado, é hoje - quem havia de dizer? - Edmund Rotschild [não é Edmund mas Edouard] . E Rotschild, tendo em conta os resultados económicos insatisfatórios, pôs na rua aquele que, para o bem e para o mal, era alma do jornal: Serge July. Sem July, o jornal deixa definitivamente de ser o mesmo. Havia razões de peso: as vendas tinham caído cerca de 100.000 exemplares nos últimos dez anos. Mas algo de semelhante acontecera a Le Monde e, contudo, este soubera dar a volta [mas o Monde também está numa situação difícil e à mercê de industriais, designadamente o Lagardère (também dono e censor da revista Patris-Match), envolvido no escândalo EADS. E, já agora, o Figaro que está nas mãos do industrial aeronáutico Dassault] . O Libé estava indissoluvelmente ligado a uma ou duas gerações. E uma sondagem relativamente recente mostrava esta coisa cruel: os jovens estavam mais com Le Monde do que com o Libé [o que prova que a juventude é mais lúcida do que o EPC possa pensar] . Este é ainda, no imaginário de muitos, o jornal que emergiu de Maio de 68. Ora os tempos vão precisamente no sentido oposto [hélas!] . Assim, quando o jornal, nos primeiros tempos, se põe a discutir se vale a pena votar, ou se se trata apenas de uma ratoeira da burgesia [election piège à con!] , podemos pensar que estamos numa discussão sem sentido. O Libé nasceu no exterior do sistema [com uma ajudazinha financeira do Sartre] , até que em dada altura [depois da eleição de Mitterrand em 1981 e cinco anos depois da morte do camarada Maozedong] percebeu que era preciso entrar no sistema para conseguir sobreviver, e por fim o sistema está a devorá-lo até à morte. Recentemente, ainda tentou criar um suplemento Écran, que sai ao sábado, com todos os temas que dizem respeito às novas tecnologias. Parece que foi um êxito [uma desgraça completa, um mero suporte publicitário] . Mas nada chega.Pode-se falar num Libé - 1, em que era a grande agitação criadora. Poderemos dizer que cada jornalista, na sua secção ou especialidade, pretendia inventar o mundo. Vinham de inúmeras [quantas?] formações ideológicas [fundamentalmente maoistas] e estabeleciam regras, algumas insensatas: ausência de publicidade, autogestão cooperativa e igualdade de salários. Depois, Serge July passou a ser o chefe absoluto [quem o conhece sabe que isto não é verdade] , o responsável sem reservas. De certo modo, o Libé passou a identificar-se com Serge July. Este criou um "espaço sociedade" para liquidar o puro espírito maoísta [e muito bem!] . Chamou Claude Maggiori, que criou uma imagem nova do jornal, com o famoso logótipo que hoje se tornou um companheiro diário. Por opção política, o jornal de esquerda tomou uma atitude de crítica do governo Mitterrand. Surgiu o Minitel rosa, um precursor do que hoje acontece na Internet [ o Libé tem um dos melhores sites da imprensa francesa mas também foi e é vítima dos jornais gratuitos] . E consagraram-se nomes de culto como Serge Daney ou Pacadis [respectivamente, um cinéfilo vítima da Sida e um cronista punk da vida mundana, estrangulado pelo namorado; numa altura em que o Libé também foi acusado de simpatias pedófilas] . Em 1990, consegue-se atingir 160.000 exemplares. Mas a partir daqui é a queda [porque deixou de acompanhar as mudanças da sociedade e da economia] . Daí que em 1994 surja o Libé 3. O Libération torna-se, mas pleno de contradições, o tipo de jornal de uma outra época, como El País e La Reppublica [pouco simpático para estes jornais] . E o PÚBLICO [faltou ao Libé um Belmiro de Azvedo] .
Professor universitário [que tem tanto que escrever que nem teve tempo de ler pausadamente o que a imprensa francesa tem publicado abundantemente sobre este assunto, particularmente a revista Inrockuptibles...]
PS. Com uma curta semana de férias, deixarei de publicar crónicas nos próximos dias. [aguardamos com muita expectativa o regresso do Professor]
"
Sr. Maquiavel da Silva: Como vê tenho alguma da razão. Porquê? Porque tento só falar daquilo que sei. E tento verificar concretamente os meandros das questões, claro.
Em Paris, conheci um dia um catedrático gaulês que, contra toda as expectativas, me assegurava que os " jornais eram para serem lidos e utilizados pelas domésticas "...
Hegel, o maior pensador de todos os tempos, dizia que o intelectual deve ler todas as manhãs o jornal ao pequeno almoço.
Não sabemos para onde irão os jornais impressos a papel! Mas eu acho que são insubstituíveis: por todas as ordens de razões. FAR
Estimado Senhor FAR: Faço votos para que continue sempre a falar daquilo que sabe, ao contrário do que acontece a tanta gente pelo mundo fora e muito particularmente em Portugal.
Devo porém chamar a atenção para o facto de o Le Monde, com tiragens da ordem dos 350 mil exemplares diários, sempre possa vender mais do que os tais 150 mil exemplares por dia, embora este jornal também continue em crise. O mesmo acontece, aliás, ao Figaro como já foi aqui dito.
Neste momento, os únicos jornais franceses com uma situação relativamente próspera são o diário desportivo L'Equipe e o Parisien, ambos pertencentes ao grupo Amaury, sem falar no campeão das tiragens que é o Ouest France, publicado na Bretanha. Ao contrário do que acontece noutros estados europeus,designadamente na Grã-Bretanha e na Holanda, os franceses não gostam muito de gastar dinheiro na imprensa diária paga, embora esta possa ter qualidade. A epidemia dos diários gratuitos tem sido nefasta para os diários, mas estes também deviam fazer uma honesta autocrítica pelo facto de -salvo raras excepções- não terem conseguido criar verdadeiros grupos de imprensa sólidos sem precisarem de andar a pedir esmolas aos empresários e de ficarem à mercê de interesses políticos duvidosos. Os exemplos da imprensa britânica, holandesa e americana nunca vingaram muito nestas paragens. Como dizia o excelente Michel Rocard: "na França não há verdadeiros grupos de imprensa, mas alguns empresários que também querem fazer jornais". O arrogante catedrático gaulês que cita vem confirmar, infelizmente, o que acabo de escrever.
Também poderíamos tecer algumas considerações acerca do conteúdo dos jornais. Muitos deles, tal como o Monde e o Libération e até mesmo o Figaro, usam e abusam do comentário em detrimento da missão fundamental de um orgão de imprensa que é a de ir buscar a informação e divulgá-la, com rigor, o mais depressa possível. Como é evidente, é a informação que custa dinheiro. Sai certamente mais barato ao Figaro publicar a prosápia do Adler (e ao Point os devaneios de um B-H L), do que enviar jornalistas em reportagem para que nos exarem a "clara certidom da verdade" que nem sempre convém aos empresários accionistas exteriores.
Os diários gratuitos parisienses também não perdem muito tempo e dinheiro com reportagens e enviados especiais, limitando-se igualmente a citar as agências. E, no caso francês, a única agencia é estatal...
Esta é, no meu modesto entender, a panorâmica triste da imprensa escrita francesa. Em Portugal, a situação parece-me idêntica. Penso no entanto que Belmiro de Azevedo, porventura conhecededor dos exemplos americano e britânico, é suficientemente inteligente para dar uma certa independência ao Público. Mas aqui também há exagero de comentários para encher, como os do EPC.
Mister Maquiavel da Silva: Segundo li, o Monde vende agora nas bancas pouco mais de 150 mil exemplares. Depois existem as assinaturas- devem rondar os 100 mil- e as ofertas ou vendas por grosso para as companhias aéreas e os departamentos de Estado , embaixadas e Centros Culturais gauleses espalhados pelo Mundo. O Figaro tem o Adler, casado com uma antiga esquerdista consultora agora do presidente Chirac, passou-se de armas e bagagens para a geopolítica e altas questões das Relações Internacionais. Pessoalmente tenho quase tudo por ele publicado, ao longo dos anos; li os quatro livros publicados e gosto muito do naipe fabuloso- onde aparece o Rocard,o Attali, o Chaliand- o especialista das guerrilhas terceiro-mundistas de fama mundial, da seccão e valores do mesmo gabarito nela publicados..O Adler é um farol. Claro, os gurus de Harvard,Princepton ou Standford pensam mais e melhor; e com outros meios: Michael Lind, Robert Malley, Seymour Lipset, Nicholas Podoretz. Ler o Weekly Standard e The Nation, ou a NY.R. Books pode ajudar muito. Por semana, as saídas de ensaios e biografias é estonteante e maravilhosa. Só que depois não temos tempo para fazer amor, nem podemos beber um bom Rioja ou um Chianti de Verona...
A crise do Monde é efectiva: perdeu o número dois, o Plenel, num processo muito discutível e o Colombani não se sabe para onde se virar. Eu li o requisitório do Péan e do Cohen sobre o tandem Colombani/ Plenel: " A face escondida..." O director-geral, uma espécie de executivo comercial, também saiu agora. Haverá soluções? O Alain Minc deve saber onde estão. Uma aliança com o NY Times, La Republica e o El País, com entradas massiças de capitais, pode ser a bóia de salvação. FAR
Ilustre Senhor FAR:
Se me permite, não me parece que o Adler alumie grande coisa e tenho muito mêdo do Alain Minc e o Colombani também não me inspira muita confiança. O Monde já publica às sextas feiras um suplementozeco contendo artigos do NY Times (em inglês), mas não me parece que tenha muitos leitores. O jornal que se mudou recentemente para novas instalações no Bd. Blanqui está mais arejado, mas ninguém sabe se vai conseguir sair do buraco financeiro em que caiu. Isto é uma espécie de círculo vicioso: investir para crescer, crescer para investir.
Ps: À semelhança do Professor Prado Coelho vou gozar umas bem mercidas mas curtas férias.
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