Olá!
Vão me desculpar mas hoje tenho que vos voltar a falar do futebol. Pensei primeiro em tentar explicar-vos porque é o milionário Warren Buffet decidiu doar trinta mil milhões de dólares a outro milionário, o Bill Gates, mas isso fica para a próxima.
Eu tenho que vos falar de futebol porque pela primeira vez na história dos Estados Unidos o campeonato do mundo de futebol está a provocar aqui uma atenção desmedida. Não só em termos de cobertura desportiva (ratings da TV a subirem para números nunca vistos, jornais como o Washington Post com fotos de primeira página do mundial, discussões acesas na televisão – aos berros – sobre se o futebol pode triunfar nos Estados Unidos) mas também entre os “bien pensants” e intelectuais do país.
Parece que o futebol e os hooligans se tornaram agora coisa “chique” entre os intelectuais americanos que vêm na espontaneidade dos adeptos e nas “nuances” do jogo algo de “cool” e libertário quando comparado com as pirosices das claques ensaiadas dos jogos tradicionais americanos com as meninas de saias curtas a dançarem ao lado dos campos.
Há que dizer que não é só entre os intelectuais de Nova Yorque que o futebol está a causar sensação. Entre os economistas e cientistas também.
Os americanos têm uma fé desmedida na ciência e análise sociológica e psicológica de tudo, o que em parte explica porque é que nas suas lides com o mundo fazem tanta asneira. Não sabem que tal como no futebol nem tudo na vida tem uma explicação ou causa. Mas devido a essa crença na ciência o futebol está a ser analisado sob os mais diversos ângulos em artigos de fundo em todos os jornais americanos, com análises que devem deixar o pessoal de A Bola de boca aberta.
Por exemplo: O New York Times publicou um artigo de dois economistas (Stephen Dubner e Steven Levitt) que descobriram que a maior parte dos futebolistas de “elite” nascem nos primeiros meses do ano. Uma análise das selecções juniores revela que a esse nível isso ainda é mais notório. Não vou entrar aqui nas percentagens mas posso garantir-vos que não tem nada que ver com os signos astrológicos dos jogadores.
A explicação é simples. Os dois economistas explicaram que na Europa os grupos etários do futebol têm a sua data limite. E a data limite é 31 de Dezembro. Para um treinador a escolher jovens para a sua equipa dá-lhe mais benefícios físicos escolher portanto jovens nascidos no início do ano do que no final do ano pois terão fisicamente vantagem. Maturidade não é claro está habilidade, mas dois economistas citam um outro professor, Anders Ericsson, que se especializa em estudar o que é que torna uma pessoa bem sucedida naquilo que faz. E mais uma vez não são os signos astrológicos. Praticar e treinar. É tudo o que torna uma pessoa naquilo que faz. Pelo que os jovens que são seleccionados por serem nascidos no início do ano são depois treinados e devido a serem maiores fisicamente, tem vantagem sobre os outros jovens. Daí todas essas estrelas nascidas na primeira metade do ano.
O New York Times publicou também um artigo sobre estudos feitos sobre os penalties pelos professores Pierre-Andre Chiappori da Universidade de Colombia, o Steven Levvit acima citado da Universidade de Chicago e o professor Timothy Grosecle da Universidade da Califórnia em Los Angeles. Estes professores têm obviamente muito tempo entre mãos porque analisaram todos os penalties da primeira divisão de França entre 1997 e 1999 e da Série A em Itália em 1997 e 2000. Isto porque aparentemente o penalti do futebol é a situação ideal para estudar as previsões da “game theory”. Não sei bem o que isso é mas aparentemente é algo que interessa aos economistas porque pode responder à questão se as pessoas usam sempre as melhores possibilidades em situações com que deparam. No meu caso posso dizer-lhes que não mas aparentemente no futebol não interessa porque estatisticamente quer um jogador atire a bola para o seu lado favorito ou para o outro lado ou para o meio as suas chances de sucesso são praticamente as mesmas.
O professor Ignacios Palacios Huerta da Universidade de Brown foi mais longe e analisou os penalties de jogadores que marcaram pelo menos 30 dessas faltas para verificar se há sequências previsíveis. Não há e os estudos indicam que apesar disso (ou será por causa disso?) em penalties os jogadores têm um grande nível de sucesso. A malta de A Bola podia ter-lhes dito isso pois como todos nós sabemos… “não ha penalties falhados ha sim penalties mal marcados”.
Branko Milanovic do centro de estudos Carnegie Endowmente escreveu um artigo sobre como o futebol é a prova de que quando a globalização e a comercialização reinam há sem qualquer dúvida uma concentração de qualidade e sucesso, como provado pelo facto de haver uma concentração da melhor força de trabalho nos melhores clubes. Isso por seu turno beneficia os países de onde sai essa mão-de-obra como provado pelo facto de que a era das cabazadas às equipas africanas já acabou.
Para Milanovic o campeonato do mundo tem assim uma lição para todos. A movimentação livre da força de trabalho é uma coisa boa mas deveria ser acompanhada de leis requerendo que imigrantes de países pobres gastem pelo menos um em cada cinco anos a trabalhar nos seus países. Os jogadores do futebol podem ir para onde querem mas a FIFA exige que joguem pelas suas selecções e o mesmo deveria ser feito aos “brains” que saem do terceiro mundo para o primeiro.
Os intelectuais americanos têm também estado fascinados com a arbitrariedade dos árbitros no futebol notando como uma má decisão pode influenciar todo um campeonato. “Um espelho da vida, de todas as suas desigualdades, dos seus momentos de brilhantismo e também de tédio”, escreveu um dos analistas yankee. Bonito não?
Em típica maneira americana um outro analista perguntou se a “arbitrariedade’ dos árbitros poderia ser medida em “termos estatísticos” e se essa arbitrariedade é estatisticamente igual para todos. Talvez a malta de A Bola queira fazer este estudo com fundos da Fundação Luso-Americana…
Outros como Roger Coehn vêm no futebol reflexos das diferentes sociedades. Assim a selecção da França “é o equivalente desportivo de uma sociedade a envelhecer e sobre regulamentada: Ponderosa, sem imaginação e demasiado receosa da concorrência”. O la la! Mon Dieu! Les Bleus não vão gostar disso mas depois de baterem “nuestros hermanos” devem estar a rir-se do Cohen.
Bryan Curris diz que muitos americanos se sentem agora atraídos para o futebol porque a maior partes dos jogadores de futebol não são “formas grotescas dos seres humanos” como acontece no basquetebol ou no futebol americano (o dos capacetes). Os jogadores de futebol, disse ele, “tem físicos alcançáveis, fortes e compactos, o tipo de físico que impressiona intelectuais e as mulheres que os amam”. É bom saber isso…
Na rádio ouvi um outro comentarista manifestar a sua surpresa pelos Estados Unidos terem celebrado o seu empate com a Itália como se fosse uma vitória. Nos Estados Unidos, dizia ele, só há duas opções: ganhar ou perder. Desde quando é que empatar é ganhar?
Eu vou-me e deixo-vos como se diz aí nos relatos com … o esférico no miolo do campo.
Um abraço,
Aqui da capital do império.
Jota Esse Erre
3 comentários:
Um artigo como eu gosto. Um artigo como " deve ser ", se isso se pode exprimir. Correcção, ideias-força e perspectiva(s). E uma pitada de humor, qb. Avanti JSR! FAR
está tudo explicado FAR. Muda-te também para a "capital do império", meu caro. Fariam um bom par e poderiam cantar "só nos dois é que sabemos...". Vai-te catar ó meu.
Não percebo essa animosidade.
Argumentação: rien de rien.
No mundial espera-se essa atitude. Aqui tenho pena e nojo.
Entendo porém a homosexualidade latente.
Assumam-se.
E, não me chateiem com o nick.
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