Olá,
Como vem aí o “Mundial” hoje vou falar-vos de Sunil Gulati. Vocês não sabem quem ele é, mas não se preocupem pois muito pouca gente o conhece. Nasceu na Índia há 46 anos, é Professor de Economia na Universidade de Colombia em Nova Yorque e é também …. presidente da Federação de Futebol dos Estados Unidos.
Sem nunca ter jogado futebol profissional ou ter sido treinador de futebol Gulati é o responsável pelo facto do futebol nos Estados Unidos ter hoje um lugar estabelecido na cena desportiva do pais, de passar do zero e de anedota à posição de potencia regional derrotando sistematicamente o México e também pelo facto dos Estados Unidos estarem hoje em quinta posição nos “rankings’ da FIFA. Como diz com um certo orgulho a federação em anúncios na televisão a pedir o apoio do público americano (ainda têm que o fazer!): “Tem piada mas hoje já ninguém gosta de jogar contra nós”.
Gulati é também responsável pela criação em 1996 da liga de futebol profissional dos Estados Unidos, a Major League Soccer (MLS) que tem 10 equipas, vai expandir para 11 no próximo ano, 12 no ano seguinte e planeia ter no mínimo 14 e talvez 16 equipas até 2010. A sua media de espectadores por desafio é hoje de 15.000 mas este ano devera aumentar para 16.000. Os jogos da selecção atraem à vontade 30.000 espectadores.
Há que dizer que o futebol é ainda ( e vai certamente continuar a ser) desporto de quarta categoria nos Estados Unidos (abaixo do futebol americano – o dos capacetes -, do basebol, do basquetebol mas já ultrapassou o hóquei sobre o gelo embora isso custe a aceitar por muitos americanos que consideram ainda o futebol como um desporto de … meninas e/ou maricas). Alguns dos grandes jornais americanos como o New York Times praticamente não cobrem o desporto, símbolo de uma resistência cultural ao futebol que é visto como algo de estranho, de europeu. O antigo candidato presidencial Jack Kemp descreveu em tempos o futebol como “um desporto socialista europeu e portanto não americano”!
Sunil Gulati viu isso tudo mas viu também, em bom estilo americano oportunidade. Para tal teve que correr riscos e inovar. Teve que procurar investidores, fazer do futebol um negócio. O modo como o futebol é administrado nos Estados Unidos pode causar arrepios aos que gostam do futebol aí do outro lado do lago. A MLS é na verdade uma cooperativa dos clubes membros em que todos têm comparticipação nos lucros e prejuízos e onde para minimizar despesas foi imposto um tecto salarial estrito a todas as equipas. Não há promoção ou despromoção da liga. Entra-se como um investimento numa cidade onde estudos comerciais indicam potencialidade de eventuais lucros ou de contribuição para a MLS em termos de mercado televisivo Aqui equipas que não produzem resultados comerciais desejados fecham as portas. Duas equipas da MLS ( Miami e Tampa Bay) foram encerradas há uns anos atrás devido a maus resultados financeiros. Ou então mudam de cidade à procura de mais entusiasmo… e mais massa.. A equipa do Sao José Earthquakes mudou de cidade quando não conseguiu atrair investidores ou levar a câmara municipal a investir num estádio. Mudou-se pura e simplesmente para Houston no Texas onde as autoridades locais concordaram em financiar um estadio. (Traz negócios que trazem impostos, pois não!) O New York MetroStars mudou pura e simplesmente de nome este ano depois de ter sido comprado pela companhia Red Bull da Áustria e a MLS concordou devido às promessas de grandes investimentos em jogadores e estadio. Era como o Benfica ser comprado pela Sogrape e passsar a chamar-se Sogrape Futebol Club!!!
A MLS inicialmente comprou tempo de antena para ter os seus jogos transmitidos! Quem pensaria tal coisa? Hoje já há concorrência pela transmissão dos jogos da MLS ainda que os seus contractos sejam ínfimos quando comparados com os outros desportos grandes.
“Não há modelo (para o nosso futebol),” disse o agora presidente da Federação de Futebol dos Estados Unidos. “Muitos poucos países têm a concorrência que existe entre nós pelos dólares gastos em entretenimento, a geografia dos Estados Unidos …As soluções para o futebol nos Estados Unidos têm que ser diferentes do que em qualquer outra parte do mundo,” disse ele.
Os resultados têm sido sensacionais. A Federação de Futebol dos Estados Unidos tinham em 1987 um total de 16 pessoas a trabalharem para si. Hoje tem 90 incluindo diversos treinadores para as diferentes selecções. Em 1987 os Estados Unidos tinham duas equipas nacionais de jovens (abaixo dos 21 anos). Hoje têm 14. Hoje há quatro milhões de jovens a jogar futebol pelo pais em clubes e campeonatos locais.
Nos anos 80 a federação esteve varias vezes à beira de declarar a falência. Em 1984 o então presidente da federação Werner Fricker que era dono de uma empresa de construção teve que pedir a varias companhias para emprestarem dinheiro à federação devido a recusa dos bancos. Veteranos da selecção americana dos anos das “cabazadas dos anos 80” lembram-se de verem Gulati, ele já professor de economia, a servir de guarda roupa apanhando as camisolas sujas dos jogadores no chão dos balneários ou então a servir de professor de matemática a jovens das selecções de juvenis afastados das escolas por compromissos das selecções Este ano a federação tem um excedente de 40 milhões de dólares. Na Florida a federação tem uma escola de jogadores com professores de todas as disciplinas!
É certo que o futebol nos Estados Unidos continua a ser em grande escala o que os peritos em “marketing desportivo” chamam de “um desporto de família” e dai o grande número de crianças que assistem aos jogos acompanhados pelos seus pais. Mas já surgem grupos de adeptos ferrenhos como a “Barra brava” do Washington DC United que faz tremer as bancadas do estádio Robert Kennedy aqui na capital do império. Gulati sonha agora “ganhar o campeonato do mundo, não sei quando, com uma selecção de hispânicos, negros, uma selecção que representa a composição racial do nosso país”.
Este ano a selecção americana será talvez menos surpreendente do que há quatro anos atrás quando atingiu os quartos de final derrotando Portugal no primeiro jogo. Tem também um grupo muito difícil. Mas tenham em atenção dois jovens que provavelmente estarão no banco mas que serão certamente usados, Bobby Convey e Clint Dempsey. Tenham também em atenção esse defesa central com o apelido nigeriano de Onyewu mas a quem os americanos chamam de Gooch. Intimidante!
Mas lembrem-se acima de tudo de Sunil Gulati. Gulati, o imigrante da Índia e alguns poucos outros que gostam de futebol, sonharam com uma liga profissional, fizeram-no de forma inovadora quiçá chocante para os puristas e no processo …. fizeram uma revolução desportiva interna. Quando se escrever a história do futebol nos Estados Unidos terá certamente que haver um capítulo titulado: Gulati.
FIM
Jota Esse Erre
3 comentários:
Tinha que ser um Gunati a liderar esse futebol dos States.
Quê, já em 5º na FIFA?
Cheira-me a apito dourado.
Os gajos, apesar do liberalismo e do Gulati, entraram a perder.
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