Jorge Sampaio está em Timor-Leste numa visita oficial de três dias. Este já é um Timor diferente daquele por quem os timorenses e muitos povos de todo o mundo lutaram, para que a independência fosse alcançada. Ouve-se e vê-se pouco nas notícias, mas é um país que já segue o seu
processo normal. Ou mais ou menos. Quando Sampaio chegou a Díli, um quarto dos efectivos das Forças de Defesa de Timor-Leste abandonaram a instituição, por questões de promoções e salários. Em qualquer lado, isto eram actos de indisciplina e seriam bem punidos. Mas o lendário comandante, agora general, Taur Matan Ruak, esclarece-nos: "os 350 efectivos auto-excluíram-se da instituição". Nada mais simples. Não sei se este modelo fará escola, mas é caso para seguir atentamente. Mas se recuarmos um pouco no tempo, há pouco menos de um ano as notícias tinham a ver com as manifestações contra o executivo timorense, manifs essas lideradas pela igreja católica. Pediam a demissão do governo de Mari Alkatiri porque não queriam que a disciplina de religião e moral saísse do curriculum escolar. Depois, sem desmobilizar e aproveitando a mesma manifestação, passou-se logo para a questão do aborto, que a igreja não aceita. As manifestações duraram dias mas o governo foi sereno e cedeu. A Igreja católica tem um domínio e um poder de mobilização sobre a população como só muitos partidos políticos da ex-cortina de ferro tinham. Está a ser difícil a Igreja abrir mão dos poderes que adquiriu ao longo da luta de resistência. Mas estes são alguns aspectos pitorescos num país pacato, onde quase toda a gente se conhece e o boato é o órgão de “informação” mais rápido. Esta é a realidade que Timor que continua a consolidar, reconstruindo-se
diariamente como povo, cultura e como nação. Embora numa espécie de semi-democracia directa. Já nos aconteceu o mesmo. Longe vão os tempos da invasão japonesa e australiana. Já a ocupação indonésia é que dificilmente será esquecida. Os momentos de terror da invasão e os tenebrosos anos que se seguiram ainda perduram na nossa memória colectiva. Com esta visita, Jorge Sampaio termina o seu mandato da melhor maneira. E até lhe atribuíram a cidadania honorária de Timor-Leste. E com direito a bónus: receberá ainda um passaporte diplomático timorense. Até parece o concurso “Quem quer ser milionário”. E quando Sampaio regressar a Portugal e se preparar para partir, aí começa o nosso pesadelo. Aproxima-se o dia da mudança. Qual mudança? Eu não sou daqui, eu não tenho amor, eu sou da Baía, de S. Salvador…
4 comentários:
Sempre tivemos um certo paternalismo com Timor, e acho que só nos fica bem.
Qt aos problemas internos, que os não tem?
A Igreja é de facto um travão ao desenvolvimento do país. Mas com o tempo, as coisas podem melhorar...
Jan
Tb sou otptimista.Há sempre 2 faces na tragédia, neste caso a nossa Colonial Tardia. Éramos os pequenos desta Saga,como nas outras.Raramente acontecida, e Timor foi a excepção , é a 2ª face. Pelo que me informam é um país livre e democrático, apesar de probíssimo, numa geografia de ditaduras ignoradas pelo mundo ocidental.Vivam os timorenses!
Timor está longe de ser pobre. Vejamos:1) Tem petroleo na costa e zonas de prospeccao para vender ou alugar às potências-glutonas, o que nao é dispiciendo;2) O enquadranmento geopolítico alargado pode estimular o aprofundamento democrático de todos os países envolvidos, pois a Birmânia está em contagem decrescente para recusar a ditadira militar; 3) Moral da história: nao existem paises pobres
o que existe sao classes sociais inovadoras e dinâmicas - casos da Suica,de Singapura e da Coreia do Sul, por ex. - que sabem contornar as dificuldades, definir prioridades e tracar um plano nacional de modernizacao, que, nestes casos, têm já décadas de bons resultados. FAR
Erratum: Em política- como na vida - nao existem determinacoes. A determinacao é uma negacao. Faltou no comentário anterior a partícula mas: nao há países pobres mas pode nao haver classes sociais ... Era fácil de perceber, claro. Aliàs, sobre tudo isso há milhares de livros... FAR
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