O Charlie Hebdo é um jornal humorístico francês que resolveu publicar diariamente cartoons de Maomé, "em defesa da liberdade de expressão". O seu director justificou esta decisão dizendo que "quando se mataram pessoas em nome de Maomé não se viram manifestações de rua". Este argumento tem sido repetido ad nauseaum; acontece que é falso. Por exemplo, quando do 11 de Setembro, houve, no mundo islâmico, bastantes manifestações, vigílias, actos espontâneos e organizados de solidariedade com o povo americano. A grande maioria das pessoas demarcou-se, se não da causa, pelo menos do método. Nós, por cá, é que pouco as vimos: a imagem mais repetida foi a de duas jovens palestinianas em celebração, e, sabe-se agora, era uma grosseira falsificação (as imagens tinham um ano). Entretanto, mais de quatro anos depois, com invasões ao Afeganistão e sobretudo ao Iraque pelo meio, é pouco provável que volte a ser assim.
Entretanto, no nosso mundo "ocidental e civilizado", muitos parecem esquecer as lições da História. Ouvem-se opiniões incríveis vindas das pessoas mais insuspeitas. Não será o caso de Vasco Pulido Valente, que diz que os árabes são uns "falhados", ou de Miguel Sousa Tavares, que, como não conhece os cientistas, médicos, desportistas ou músicos árabes, numa formidável manifestação de umbiguismo parte do princípio que eles "não existem". Mas já será o caso de um ilustre comentador neste blogue que se lembra de Beethoven e Chopin! Será possível que não se perceba o desenlace lógico desta linha de raciocínio? "Eles são uns falhados, não acrescentam nada à humanidade, não atingiram o nosso nível superior, e se ainda por cima só causam problemas... Que tal exterminá-los?"

1 comentário:
Fernando:
Repara que a linha de raciocínio não é a de que devemos defender as nossas liberdades de agressões, etc. É, sem mais nem menos: os àrabes são uns falhados que não prestam para nada. A tua afirmação sobre Beethoven e Chopin a sair dos minaretes, peço desculpa, mas vai na mesma direcção.
Ainda por cima, se há coisa em que não se pode menosprezar os àrabes é precisamente na música, arte na qual tem produzido interpretes e compositores de qualidade excepcional. E se eu amo o Beethoven (o Chopin, por acaso, já não tanto), não sinto menos pelo Rabih Abou Khalil (libanês) ou pelos Master Musicians of Jajouka (marroquinos).
Quanto ao livro que dá o nome a este blog, infelizmente, é um livro visionário.
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