segunda-feira, 27 de fevereiro de 2006

Moçambique: Savana apresenta desculpas pelas caricaturas publicadas

Editorial
Foi uma semana de convulsão e de tensão no SAVANA, desde os trágicos acontecimentos da passada sexta-feira. Notámos com apreensão a fúria que se instalou junto da comunidade muçulmana, e respeitamos o direito desta comunidade de manifestar publicamente a sua indignação. É nossa prática que se no exercício da nossa profissão ofendemos a alguém, uma comunidade ou grupo de interesses, temos a obrigação de apresentar de forma inequívoca, sem reservas e com humildade, as nossas mais sinceras desculpas.
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E no momento e em sede próprios fizemos esse exercício junto da liderança da comunidade muçulmana. Os muçulmanos consideram a publicação de imagens atribuídas ao Profeta M
uhamed como um acto de ofensa. E devíamos ter previsto as consequências. Também é importante mencionar que da nossa parte, como tem sido nossa prática, que é guiada pelos princípios de isenção e de não ofensa deliberada, não estávamos a tomar qualquer posicionamento de concordância em relação aos motivos que levaram à publicação daquelas caricaturas em primeira instância. Não associamos o islamismo ao terrorismo, não subscrevemos a noção de uma raça superior às outras, ou de uma religião que se sobrepõe a todas as outras.
A nossa acção não era em simpatia para com seja quem for. Somos acérrimos críticos da injustiça política, económica e social que prevalece no mundo, e não seria por isso que iríamos abdicar desses nossos sagrados princípios. Não se trata, portanto, de um acto de obediência ao ocidente; devemos a nossa lealdade a Moçambique, ao seu povo e aos seus órgãos e símbolos de soberania, independentemente dos erros que eventualmente possamos cometer.
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Não foi aqui uma questão de mexidas nas tiragens, como erroneamente se pode pensar. E se tivermos que provar o nosso conhecimento profundo da realidade moçambicana e amor à pátria, humilharemos alguns comentaristas de ocasião. Ao apresentarmos o nosso pedido de desculpas à comunidade muçulmana não somos movidos por imperativos comerciais, de negócios ou de outra índole. Fazemo-lo porque reconhecemos, com profundo desgosto, que num momento de fraqueza ofendemos a essa comunidade. Nada mais, nada menos. É um dever de honra e de respeito pela sensibilidade dos outros. Procurar encontrar um equilíbrio entre o direito de informar o público e acautelar-se do perigo de ofender outras sensibilidades religiosas é um acto bastante delicado e complicado, agravado ainda pela pressão de decisões rápidas.

(...)

in "Savana, semanário independente" Maputo, 24.02.2005

1 comentário:

Anónimo disse...

Éh pena. Mas quem consegue medir a coragem no acto de violência telecomandada?
Manifestações com putos, por favor , é barbárie da mais profunda. Onde á que está o ESTADO?
Sumiu-se porquê?