quinta-feira, 19 de abril de 2007

O LADRÃO

Já lá foi preso o ladrão
Que em toda a parte apar'cia;
Contam-se mais de um milhão
De roubos que ele fazia

Meus senhores, vão ouvir
A história do quadrilheiro
Manuel Domingos Louzeiro,
Que foi a pena cumprir,
Enquanto alguém de Salir,
Num primor de descrição,
Lhe chama até "Lampião"¨;
Mas, salinenses honrados,
Podeis dormir descansados,
Já lá foi preso o ladrão.

P'las coisas que o povo diz,
O tal Domingos tem sido
P'ra uns, terrível bandido,
p'ra outros, grande infeliz.
Mas eu, sem querer ser juiz,
Vi que ele se despedia
Da mulher com quem vivia
Numa amizade sincera
E não vi nele a tal fera
Que em toda a parte apar'cia.

Desse rei dos criminosos,
Direi, aos que o conheceram:
Poucos crimes apareceram
E poucos são os queixosos;
Apenas alguns medrosos
Terrível fama lhe dão;
Para a justiça só são
Os seus crimes dois ou três,
Mas coisas que ele não fez
Contam-se mais de um milhão.

Por alguns sítios passava,
Onde há só gente honradinha,
Que roubava à vontadinha
E que ninguém acusava;
Tudo Domingos pagava,
E ele às vezes nem sabia
Que à sua sombra vivia
Gente que passa por justa,
Fazendo crimes à custa
Dos roubos que ele fazia.

Sei que pareço um ladrão
Mas há muitos que eu conheço
Quem sem parecer o que são
São aquilo que eu pareço

(Poema de Antonio Aleixo; música de Adriano Correia de Oliveira)

3 comentários:

Anónimo disse...

Também dava um belo "blues" ou um fado pela Argentina Santos.

Táxi Pluvioso disse...

Em português chama-se um "azul". Mesmo que a equipa de Scolarão não esteja a jogar, nunca devemos perder de vista a nossa bandeira.

Anónimo disse...

Um blues é, diz José Duarte,
um sentimento, ou um estado de alma, identificado com a tristeza, a melancolia, o desgosto;
são uma arte declarativa, confessional; o cantor de blues começa por ser um poeta espontâneo, que nos fala de si, do que lhe aconteceu, do que lhe fizeram.

Este meu blues remete para o azul rutilante no rosto do negro.

Apesar dos blues nunca serem azuis.

Foi por isso, imagino eu, que os televisivos “Blues de Hill Street” não puderam ser intitulados “Bófias de Hill Street” ou, numa de guarda da língua (porque ela serve para tantas coisas boas), “Polícias de Farda Azul da Esquadra da Rua da Colina”.
Então deram num achado que o autor da ideia e o chefe da programação (possivelmente reunidos num só mentecapto) devem ter considerado genial: “Balada de Hill Street”.

Este(s) iluminado(s) ainda não tinha(m) apreendido que a cada povo a sua ironia, a cada homem o seu muro de lamentações.

Depois, quanto a mim, a bandeira é sempre de um tecido estúpido que não dá para a usar como toalha nem para limpar o cú como deve ser.