quarta-feira, 7 de março de 2007

Morreu Jean Baudrillard


(imagem tirada daqui)

Com a morte do sociólogo e filósofo, aos 77 anos, a França vê reduzir-se o impacto mundial dos seus pensadores num Mundo desigual e sem limites...

Baudrillard teve a sorte de aprender com Henri Lefebvre - "o que ele fazia era bastante libertino, ligeiro, escrito com o espírito", observa - e de se aproximar, no final dos anos 60, dos Situacionistas , dos quais só veio a conhecer pessoalmente Raoul Vaneigem. "Guardo do situacionismo uma recordação verdadeiramente admirável. O essencial reside no momento de aparição das coisas ", observa no único - num total avassalador de cerca de 50 volumes - livro de entrevistas que subscreveu. Nele diz coisas definitivas e aponta projectos sem contestação:" Nietzsche, Bataille, Artaud, acaba-se sempre por voltar aos mais importantes. São a base de toda a análise do mundo contemporâneo, e todavia, passou-se depois outra coisa, e é isso que é preciso procurar ".

Baudrillard, germanista de excepção, acompanhou a espantosa transformação teórica inspirada em Maio-68, ele que tinha sido cúmplice do " maoista " Félix Guattari. "É preciso encontrar o acontecimento da modernidade ou da post-modernidade (pouco importa o termo!) que, na sua singularidade, nos obrigue não a corrigir as ideologias existentes, mas a inventar outras formas de pensar, outras regras". Ele que não escondia o que desejava: " O mais excitante não deriva de se estar no acontecimento (os políticos estão lá para isso), é de se estar na iminência do acontecimento, na sua reviravolta, na sua antecipação, na sua génese ".

Desconhece-se o impacto de Baudrillard no espaço literário português. O que se sabe, no entanto, é que Eduardo Prado Coelho, o nosso mais perfomativo dos ensaístas vivos, sempre lhe recusou as ditirâmbicas homenagens que fez a Deleuze, a Derrida ou a Roland Barthes... A propósito de finesse e de sofística, não podemos resistir em transcrever esta passagem das "Cool Memories - II" sobre Zinoviev, um dos primeiros intelectuais do Leste a denunciar a ignomínia do estalino-burocratismo: "Zinoviev está-se marinbando para a intelectualidade ocidental, com a sua finesse e sofística. Ele sabe que a realidade massiva, incompreensível, do outro lado da cortina de ferro, é mais interessante do que os nossos processos dialécticos e interactivos. Ele extrai a potência da sua ironia da potência da estupidez. Se nós não a vencemos - essa estupidez - diz ele em substância - não sereis vós que a ides ultrapassar. Ele tinha terrivelmente razão. Ou ainda: vocês estão absolutamente atrasados em relação a nós, porque nós conhecemos o pior, enquanto que vocês só o conheceram mais tarde". Ou ainda este fragmento final: "Só se fala bem do que está em vias de desaparecer. A luta de classes, a dialéctica em Marx, o poder, a sexualidade analisada por Foucault. A própria análise contribui para precipitar o seu apagamento".

FAR

4 comentários:

Táxi Pluvioso disse...

Teve muito impacto no espaço literário português. Roubei numa livraria "Oublier Foucault" e era tão amnésico que me esqueci de Baudrillard.

Anónimo disse...

Este Baudrillard tinha de facto muito talento, tal como o Bourdieu. Os Sollers, B-H Lévy, Glucksmann, Finkielkraut e outros neo filósofos (ex maoístas que se venderam aos arautos do conservadorismo) nunca lhes chegaram aos calcanhares.

Anónimo disse...

Mister g.debord: Vamos lá ver, se a gente se entende. Sollers é um caso à parte dos Novo Filósofos. Tem mais 15 anos e uma experiência teórica e política enorme, desde os anos 65 acumulada. Ele foi tudo, mas num grau muito elevado e de grande rigor: estalinista, maoista, cristão-novo. Tudo isso no timing certo e percursor, como o Sartre, o François Wahl, o Foucault, o Barthes e o Lacan, mais a caterva de seguidores da famosa Ecole Normale Superieure da Rue d´ Ulm_ onde os neo-marxistas e os estruturalistas já tinham estudado no tempo da II Guerra Mundial. Portanto, tirem da cabecinha a funesta e errada ideia de que Sollers era um impedido às ordens de quem-quer-que-seja! Por favor, ok? E termino com esta história verídica que se passou comigo: Um dia, em Paris, encontro um dos maiores poeta e filósofo português actual e pergunto-lhe: " pode-se ser trotskista-mandelista e tel-queliano- na altura no auge do periodo maoista com a Macciochi e outros italianos do PCI a escrever na revista?; ele disse-me sem pestanejar: pode e deve ". Nunca mais me esqueci. Portanto, é um erro deformar ou simplificar construções teóricas muito elaboradas e que tiveram- do ponto de vista literário e linguístico, um enorme e triunfal impacto nas grandes Universidades americanas.
O Bourdieu era mais marxista-dogmático, creio que nunca pertenceu ao PCF, e tinha recuperado uns émulos do Althusser( outro normalien da Rue d´Ulm- Paris V`) com aqueles dispositivos ultra-pesados sobre a escola e as ideologias. Ainda ontem vi um comentário do Baudrillard sobre ele nesse preciso sentido.

B-H. Lévy tem muito dinheiro e escapou a todas as escolas e capelas, fundando uma" La Régle du Jeu "-revista a imitar a Tel-Quel hoje L´Infini- editada pela Gallimard, a do Sollers.

Glucksmann e Finkielkraut foram maoistas-sartreanos spontex, com a cabeça cheia de conceitos de Marx-Kant e Hegel. E lá andam a fazer pela vidinha e a decorar Heidegger ao pequeno-almoço. Portanto, algum habilidoso que queira reduzir ou espartilhar esta pleiade de notáveis pensadores, deve pensar duas vezes antes de os punir imerecida e injustamente. Percebido? Obrigado. FAR

Anónimo disse...

o B-H LévY o que tem mesmo bom é a mulher; Quanto ao resto o que interessa é o que é e não o que parece ser, isso é a filosofia do Jet-Set.