terça-feira, 13 de março de 2007

Mambo 13

Se não me perguntarem, sei o que é o tempo, dizia Stº Agostinho, aos seus contemporâneos à beira da ruela do século 9. Sem antes limpar o piso, estou sentada no regaço cobiçado do século 21, em plena avenida to nowhere com um desejo engordado pelos dias, "where there is a wish there is a way"... mas o tempo, fica sempre inabitado pelo momento certo, o "kairós"
dos gregos clássicos. Ao transeunte que passa pela nossa vida,
oferecemos falta de tempo, precipitamos-lhe a resposta sem que tenha
antes circulado pelo seu coração, a nossa imaginação é uma grande
empresa que dispensa serviços rápidos; ao que ia dizer algo,
cola-se-lhe a nossa sugestão de pensamento, por vezes, chegada da
própria alienação mas com inofensivo nome. Ao outro que chega já
partindo, talvez o tenhamos enredado nas lianas do tempo a mais, dias,
meses, anos para que se traduza em nós a sua vontade; a esse, o tempo
deveria ter tido saldo mais curto para que se não tornasse mnésica
bruma. Arranjei uma maneira de dosear o tempo. Se quero de imediato
algo, espero o mais que puder, há sempre alguém que leva mais instantes a
deglutir os acontecimentos mas se a preguiça desce como o sol, exercito
o poder de agir e antecipo a história da vida. No entanto, sigo com
algumas dúvidas sobre este reflectido procedimento, porque depende
fantasticamente dos fusos culturais e já quase ninguém sabe de onde lhe
vem o que parece ser seu chão.

1 comentário:

FernandoRebelo disse...

Continuas luminosamente, luminosa.
Obrigado, Gabriela.