quinta-feira, 6 de julho de 2006

Soneto do Cativo

Se é sem dúvida Amor esta explosão

de tantas sensações contraditórias ;

a sórdida mistura das memórias,

tão longe da verdade e da invenção ;



o espelho deformante; a profusão

de frases insensatas, incensórias ;

a cúmplice partilha nas histórias

do que os outros dirão ou não dirão ;



se é sem dúvida Amor a cobardia

de buscar nos lençóis a mais sombria

razão de encantamento e de desprezo ;



não há dúvida, Amor, que te não fujo

e que, por ti, tão cego, surdo e sujo,

tenho vivido eternamente preso !



David Mourão-Ferreira

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