segunda-feira, 10 de julho de 2006

Isto

Não queiras, não perguntes, não esperes

Isto que passa como vida e tu

medes em dias, horas e minutos

ou como tempo passa e vais medindo

em rugas ou lembranças e em sombrias

e plácidas visões de coisa alguma,

às vezes sorridentes, mas sombrias ;

sim: isto, a que dás nomes, que separas

do resto em que surgiu, de que surgiu;

isto, que já não queres, não interrogas,

de que já nada esperas, mas que queres,

por que perguntas sempre, e por que esperas ;

isto, que não és tu, nem vai contigo ,

nem fica quando vais; em que não pensas,

porque ao medir apenas medes e

nada mais fazes que medir- só isto,

apenas isto, isto unicamente:

não queiras, não perguntes, não esperes,

que o pouco ou muito é tudo o que te resta.


Jorge de Sena

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