segunda-feira, 3 de julho de 2006

O poder, a infâmia e a morte segundo Michel Foucault

" Que restará, então, a não ser essas vidas anónimas que não se manifestam senão tropeçando com o poder, debatendo-se com ele, trocando com ele " palavras breves e estridentes " antes de regressarem à noite, aquilo a que Foucault chamava a " vida dos homens infames " e que ele propunha à nossa consideração devido à " sua infelicidade, à sua raiva ou à sua perturbante loucura ".
" Estranhamente, inverosimilmente, era dessa " infâmia " que ele queria reclamar-se: " Eu partira dessas espécies de partículas dotadas de uma energia que é tanto maior quanto elas são menores e mais dificeis de discernir ". Até ao dilacerante dito de " O funcionamento dos prazeres ": " desprender-se de si próprio...

" É de assinalar que Foucault se opõe a duas outras concepções da infâmia. Uma próxima de Bataille, trata de vidas que passam à lenda ou à narrativa por obra do seu próprio excesso( é uma infâmia clássica demasiado notória, por exemplo a de Gilles de Rais, e portanto uma falsa infâmia).
" Segundo a outra concepção, mais próxima de Borges, uma vida passa à lenda porque a complexidade das suas realizações, os seus desvios e descontinuidades, só podem encontrar inteligibilidade através de uma narrativa capaz de exaurir o possível, de abarcar eventualidades mesmo que contraditórias( é uma infâmia barroca, de que Stravisky seria o exemplo).
" Mas Foucault concebe uma terceira infâmia, a bem dizer, uma infâmia de raridade que é a de homens insignificantes, obscuros e simples, que apenas devem às queixas, aos relatórios de polícia, o serem trazidos à luz por um instante. É uma concepção próxima de Tchecov ".

Gilles Deleuze, in Foucault, págs. 128/9

FAR

Sem comentários: