Olá,
Os americanos gostam de balões e bandeiras …americanas, claro está.
Este país é na verdade um festival de balões. Nos “stands” de automóveis, não sei lá por que razão, há sempre balões. Amarrados às antenas dos carros novos, amarrados em cachos das mais diversas cores à entrada dos stands que aqui são sempre ao ar livre com dezenas de carros novinhos em folha alinhados uns ao lado dos outros, com dezenas de balões. Um stand aqui nos arredores de Washington amarra uns balões gigantes - obviamente enchidos com gás - a fios com dezenas de metros o que faz lembrar aquelas defesas antiaéreas da segunda guerra mundial.
Os agentes imobiliários também adoram balões. Amarram balões nos sinais “vende-se”, principalmente aos fins-de-semana quando algumas das casas estão abertas a serem inspeccionadas por possíveis compradores. Os balões obviamente devem adoçar a venda, caso contrário não sei por que razão estão lá.
Um dos supermercados onde eu faço compras semanalmente tem sempre dezenas de balões enchidos a gás amarrados juntos aos “caixas” que são depois dados às crianças que fazem berraria ou mesmo a adultos que os pedem não sei para quê. É giro ver um tipo de meia-idade a sair do supermercado, saco numa mão, balão na outra.
Festas de aniversários de crianças, adultos e velhos têm sempre balões.
Nos hospitais visitantes chegam com balões para os enfermos. Nos aeroportos vêm-se pessoas à espera de viajantes com flores e claro está balões.
Há toda uma indústria (presumo que na China) que produz balões com dísticos como “Happy Birthday”, “get well soon”, “Happy Anniversary”, “welcome home” etc. Enfim, balões para todas as ocasiões, pequenos, grandes, dos mais diversos feitios.
A bandeira americana é outra coisa que os americanos gostam. Por todo o lado há bandeiras americanas (presumo que fabricadas na China). Numas das ruas aqui próximo de onde eu vivo um prédio tem à sua frente a maior bandeira que eu já vi na minha vida. É uma coisa descomunal! Quando eu aqui cheguei esquecia-me sempre do nome dessa rua mas todos sabiam o que eu queria dizer quando eu falava da “rua com a bandeira gigante”.
É obviamente substituída regularmente a custo não sei de quem pois está sempre limpinha a flutuar ao vento num enorme mastro.
Os stands de automóveis também gostam da bandeira americana, misturando-a com os balões. Bandeiras pequenas, médias, grandes, autocolantes, alguns com o dístico “Deus abençoe a América” a adornar a bandeira.
Lembro-me que após os ataques de 11 de Setembro de 2001 um imigrante indiano que é dono de uma estação de gasolina aqui ao pé de minha casa adornou a sua garagem com dezenas e dezenas de bandeiras americanas e pedaços de papel com as cores da bandeira, como que a dizer: “nada de confusões”. Os clientes americanos adoraram a pirosice.
Quando eu lhe perguntei a razão de tantas bandeiras deu-me uma lição sobre “como os americanos não conhecem os muçulmanos, mas nós conhecemo-los há muito tempo”, acrescentando logo de seguida que os muçulmanos “também são uns aldrabões que roubam dinheiro”. Do dono desta garagem Jihad só ao contrário e as bandeiras lá estavam para prová-lo! De qualquer modo depois perguntou-me com um ar desconfiado: “Você é Curdo?”
Foi a primeira vez que neste país (ou noutro país qualquer) fui confundido por Curdo, embora uma vez em Houston no Texas um condutor de táxi árabe que me levava ao aeroporto tenha ficado com um ar de alívio quando depois de me perguntar de onde eu era eu lhe ter respondido que era turco. “Ah”, disse ele com um ar aliviado, “pensei que fosse israelita”. E depois para mostrar o seu sentido de humor acrescentou às gargalhadas: “Então não vai para a terminal da El Al”.
O que me lembrou que uma vez na Dinamarca ia apanhando um enxugo de porrada por ter sido confundido por agente israelita quando ingenuamente fotografava uma manifestação em frente à embaixada de Israel e pensei que seria giro fazer uns “close ups” de uns tipos com toalhas de mesa aos quadradinhos encarnados e brancos na cabeça. O polícia dinamarquês que me safou achou uma piada enorme quando eu lhe disse que era da Lusitânia. “Você parece árabe,” dizia ele rindo para me dar ânimo depois de dar umas cacetadas nos tipos de toalhas na cabeça que me queriam linchar.
Mas isso é outra história. Eu estava a falar do amor a balões e bandeiras e nessa manifestação a malta não gostava de bandeiras pois insistiam em deitar fogo às bandeiras que traziam.
Os americanos esses - e tal como se vê nos filmes ou nas fotografias - gostam de pôr a bandeiras americanas em frente às suas casas. Muitas casas até têm na parede exterior uma anilha de metal para se meter o mastro da bandeira. Devido ao seu formato eu ao princípio pensei que era para abrir garrafas de cerveja. Mas não. É para pôr bandeiras e quando é o dia da independência a 4 de Julho as “stars and stripes” estão por todo o lado.
Aqui no meu bairro algum vizinho este ano colocou pequenas bandeiras em frente a todas as casas e toda a malta da zona adorou a ideia
O que levanta a questão do patriotismo, esse valor démodé que aparentemente aí na Lusitânia teve recentemente um ressurgimento com as aventuras dos “Tugas”.
Aqui há um patriotismo que nunca vi. Uma sondagem recente indicava que 83% dos americanos se descrevem “orgulhosos” de ser americanos e isso nada tem que ver com a guerra no Iraque a que a maior parte dos americanos agora se opõem.
No 4 de Julho sempre me fascina como os americanos cantam o seu hino nacional ou outras canções patrióticas em festejos em que dezenas de milhar de pessoas se juntam ao ar livre para celebrar o dia da independência. Neste ultimo quatro de Julho em frente ao edifico do congresso a orquestra sinfónica no seu show anual à borla nos relvados desses edifício tocou “God Bless America land that I love” que as milhares de pessoas de imediato acompanharam num coro mais ou menos desafinado.
Isto envergonharia qualquer europeu. Será porque a Europa foi criada pela história enquanto os Estados Unidos foram originalmente uma ideia, uma fuga a essa história em que “a busca da felicidade” faz parte dos direitos mencionados na declaração de independência (juntamente com o direito à vida e liberdade)?
Talvez, mas não tenho a certeza. Há quem diga que o patriotismo é “o último refúgio do vilão” mas isso seria simplista e embora as euro-análises simplistas dos americanos estejam em moda eu não vou nessa.
Talvez seja porque o patriotismo é para a política o que a fé é para a religião. E os americanos são muito religiosos. Não sei. O que sei ‘é que eles gostam de bandeiras e balões. E do hino nacional e de outras canções patrióticas. Lá disso gostam. Quanto mais … melhor.
Um abraço,
Da Capital do Império,
Jota Esse Erre
4 comentários:
J. Santa Rita: Vivemos a Silly Season. Nós, por cá. Mesmo na Europa dos " manda-chuva", claro. om texto, com uma ironia superior, tipo Faulkner. Avanti. FAR
Corrigenda: a tecla maiúscula falha a batida. Emenda: Bom texto. Abraço. FAR
A bandeira, o hino, a selecção e outros sinais identitários não são senão manifestações da necessidade básica de pertença de todos nós. Para quem como eu nasceu num país que só quando eu tinha 21 anos se tornou independente e de cujas culturas, linguas e tradições era alheio, que depois veio para um país estranho, embora pátria dos pais, o nacionalismo/patriotismo é difícil de aceitar. Mas a necessidade de pertença persiste.
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