sexta-feira, 11 de maio de 2007

A curtir a vida no metro de Nova Iorque


Nova Iorque. 2007

Foto de Jota Esse Erre

Ainda a Hidroeléctrica de Cahora-Bassa

José Lopes esclarece:

"Thanks pela carta aberta postada no 2+2=5 sobre a segurança HCB.
Entretanto notei que 2 comentários sugerem uma certa falta de informação sobre a actual propriedade da HCB. Sendo eu gajo tímido q.b. para postar em blogs, acho no entanto curial sintetizar a situação do tópico as per today (May 7, 2007).

Na sequência do recente acordo HCB de Novembro 2006, no dia seguinte voaram USD 250 milhões dos cofres próprios da HCB para o tesouro de Portugal, e 2 dias depois o governo de Moçambique acrescentou mais 2 aos 2 administradores que já detinha no CA da HCB – pelo que, de momento são 5 nomeados por Portugal e 4 por Moçambique; Portugal detém a presidência do CA. No entretanto, a estrutura accionista permaneceu: Portugal 82% e Moçambique 18%.

Também na sequência desse mesmo acordo de Novembro 2006, foi dado início ao período para Moçambique pagar USD 700 milhões ao tesouro de Portugal. Em principio tudo deve estar pago até Dezembro 2007 (uma só tranche); caso não, até 6 meses depois sob certas condições. Só nessa altura se efectivará a alteração accionista referida no parágrafo anterior.

Entretanto, saiba-se que a questão de qual o Regulamento de Segurança aplicável à HCB é uma peça fundamental para se analisar as recentes cheias no Zambeze, e daí esta iniciativa de se confirmar junto dos donos da obra qual o quadro legal – tão simples como isso.

Mais dia menos dia conto pôr online o xitizap # 33 onde este assunto será mais desenvolvido.

ciao gente, thanks e vão contando coisas

PS:Esqueci-me de vos referir que, em Portugal hoje, o Secretário de Estado do Ambiente tutela a segurança das barragens e representa a figura de Autoridade no Regulamento de Segurança de Barragens (Portugal)."

José Lopes

Sinais


Desenho de Maturino Galvão

quinta-feira, 10 de maio de 2007

Michel Onfray: discurso esquizofrénico liberal versus social ilude fractura no PS

O Libération inaugurou ontem um debate On Line para perspectivar uma Nova Esquerda. Temos todo o empenho em abordar este estaleiro ideológico,claro. Para fugir aos cadáveres adiados que procriam.

O filósofo indica no texto publicado no Libération, clicar aqui, que o complexo de Janus, o discurso esquizo, teve início no consulado de Mitterrand, quando o habilidoso político instrumentalizou uma pretensa diferença entre "uma linguagem de esquerda, que o opunha à direita e um estilo liberal muito próximo do dos seus adversários... Para as necessidas do processo político, alimenta-se a ilusão de uma separação falsa entre a direita e a esquerda quando a linha real de diferenciação se instala entre liberais e anti-liberais, traçado que separa transversalmente a direita e a esquerda".

Por isso, adianta, a "mudança que nos propõem depois do fim da política de Mitterrand, doze anos depois, entre Chirac e Jospin, duas vezes, Sarkosy e Royal, uma vez, coloca frente-a-frente dois tipos muito semelhantes de gestão liberal do capitalismo europeu. No essencial, não existem grandes diferenças, a separação efectivando-se no estilo, no simbólico e no pensamento mágico que envolve um partido que se diz de esquerda, mas que o revela ser muito pouco. Esta esquizofrenia cansa o povo de Esquerda e exalta os liberais de todos os horizontes, isto é, dito de outra maneira, magoa e desespera os mais expostos à brutalidade liberal e entusiasma as élites".


O autor do Tratado de Ateologia caracteriza também o estilo da intervenção política de Ségo, desta forma e sem rodeios: " A esquizofrenia assumida por Ségolène Royal resultou, na primeira volta das Presidenciais, por um elogio da Marselhesa, da bandeira nacional, da ordem justa, da casa de correcção como forma de tratamento dos problemas sociais, da trilogia Trabalho, Família, Pátria para seduzir os adeptos de Chevènement ( representante do nacionalismo político no PSF); e, ao mesmo tempo, sustentou um elogio de Blair, um desejo declarado de suprimir o pacto escolar, toda uma panóplia de ideias para seduzir os bobos (os burgueses-boémios, ex-68) - feminismo, ecologismo, modernidade, centrismo -para colocar no seu campo os corifeus de Cohn-Bendit".

"A solução passa pela refundação das Esquerdas: palavra e acção reconciliados, o fim da esquizofrenia: O que implica uma esquerda governamental escrupulosa dos ideiais socialistas, das visões do Mundo novas, de utopias alternativas, de pensamentos libertários inéditos. E que não rejeite uma esquerda contestatária preocupada com a gestão e o trabalho em comum, tipo de iniciativa que Foucault, Derrida e Bourdieu não tinham excluído no seu tempo".

Ler também Joffrin em resposta.


FAR

A candidata que a esquerda exige


Recordam-se aqui as palavras do Luis Palácios em comentário a este meu post, no rescaldo das últimas autárquicas:

«O outro candidato, direi a outra candidata é a presidente da ordem dos arquitectos Helena Roseta. Para mim a melhor de todos, com conhecimento técnico da mais importante questão de Lisboa, o urbanismo, com frontalidade e coragem de tentar politicas arrojadas e inovadoras para a cidade, com uma consciência social invulgar no PS e uma capacidade de agregar as esquerdas como mais nenhum. Evidentemente que pensar nela como candidata é utopia. As posições por si assumidas nos últimos anos, em clara e constante demarcação da linha oficial, fazem dela uma figura pouca querida pela grande maioria da cúpula do PS.»

Pelos vistos, Roseta sabe-o tão bem como o Palácios, daí que tenha optado por sair do PS. Este, em particular na capital, afunda-se em jogos de bastidores e guerras de protagonismo, como se viu muito bem nesta metade de legislatura que ora finda. Não tenho dúvidas: Helena Roseta é a minha candidata. Se conseguir construir uma base de unidade ampla à esquerda, que tem de incluir José Sá Fernandes e o BE, embora não deva pedir emprestada a sigla a ninguém, estamos perante uma oportunidade quase única de demonstrar que é possível formar projectos ganhadores progressistas, e que escapam à lógica do centrão e ao neoliberalismo.

Proridades evidentes


O presidente do Sporting, Filipe Soares Franco, está "indignado" por esses peanuts, coisas sem importância, que se passam na Câmara Municipal de Lisboa, terem comprometido o negócio de 66 milhões de euros em venda de terrenos que irá salvar o clube. De facto, há prioridades. O que é a Câmara Municipal comparada com os interesses do grande Ceportêeeeem?

Busto romano


Museu Metropolitano de Arte. Nova Iorque

Foto de Jota Esse Erre

Sinais


Desenho de Maturino Galvão

Cidade Proibida



"O lançamento vai ser no próximo dia 16, na Fnac Chiado, às 18:30h, com apresentação de Fernando Pinto do Amaral. Em princípio chega às livrarias no próximo sábado, dia 12."
Com a devida vénia ao Da Literatura

quarta-feira, 9 de maio de 2007

Carta aberta ao Secretário de Estado do Ambiente

Senhor Secretário de Estado do Ambiente:
Excelentíssimo Senhor,

O meu nome é Armando Clarence do Quental Mendes Rocheteau, cidadão português portador do B.I. no 7305032, e estou profundamente interessado na Barragem de Cahora Bassa explorada pela Hidroeléctrica de Cahora-Bassa s.a.r.l. (HCB). Considerando que oitenta e dois por cento (82%) do capital da HCB é pertença do Estado de Portugal julgo pertinente solicitar a Vossa Excelência que se digne oficiar no sentido de eu obter resposta à seguinte questão: “Embora situada em Moçambique, a exploração da Hidroeléctrica de Cahora-Bassa está ou não sujeita às disposições do Regulamento de Segurança de Barragens actualmente em vigor em Portugal?”Antecipadamente grato, subscrevo-me com a maior consideração
Armando Rocheteau


Depois de ter tido conhecimento da situação, descrita abaixo, resolvi subscrever a carta do José Lopes do XITIZAP (clicar para visitar o sítio).

"Meus caros,
No dia 2 de Maio enviei este mail ao Secretário de Estado do Ambiente dePortugal, identificando-me como cidadão moçambicano. Até agora resposta népia ao meu e-mail. Dada a importância da questão, e para que não haja escusa quanto a nacionalidades do perguntador, muito vos agradeceria que, individualmente, cada um de vós pudesse dirigir a seguinte mensagem ao dito cujo – por e-mail. MAS TAMBÉM POR CARTA REGISTADA PARA O ENDEREÇO DO MINISTÉRIO. Thanks pelos esforços, e bamos a ber." José Lopes.

Texto da carta: Ministério do Ambiente, do Ordenamento do Território e do Desenvolvimento Regional. Rua de O Século, 51P-1200-433 Lisboa. gsea@maotdr.gov.pt

Ponte Moçambique-Suécia

Há uma Ponte (clicar aqui) entre



e


o Sérgio Santimano faz parte dela .

TERRA

African Kids/4

Sarkozy no poder, carros a arder

Perto de 1200 viaturas já foram consumidas pelas chamas. Sarkozy passa férias a 7500 contos/dia no Mediterrâneo. Putin ainda o não saudou... o que revela o lugar fulcral da França para o futuro da Europa.
Nunca na história da V República Francesa a eleição de um novo Presidente daq República provocou tanto ódio e temor. A prova aí está. Em 72 horas foram incendiadas 1200 viaturas nas principais cidades. E isso são contas da polícia... Ler esta notícia do Libé, clicar aqui, portanto. As detenções sobem em flecha e, em Paris, as manifestações da ultra-esquerda sucedem-se entre a Bastille e a Republique. O número de feridos também sobe em flecha e perto de 100 polícias receberam tratamento hospitalar. Lille, Rennes,Toulouse e Lyon são as cidades de província onde as manifestações de contestação à vitória de Sarko atingem também formas de alta violência.

FAR

"Election difficile à digérer. Des manifestations anti-Sarkozy se sont poursuivies dans la nuit de lundi à mardi à Paris, Lille, Toulouse et Lyon, entraînant de nouvelles vagues d'arrestations. Il y a encore eu des voitures brûlées, 365 contre 730 la nuit précédente. A Lille, un hélicoptère de police a éclairé au projecteur le parcours des manifestants. A Lyon, deux jeunes jugés en comparution immédiate ont été condamnés à des peines de trois et six mois de prison ferme pour des «violences sur policiers» et des «dégradations». A Paris, à l'issue d'un rassemblement à la Bastille appelé par les étudiants de Tolbiac, un cortège d'«inorganisés» a provoqué d'importants dégâts, lundi soir, en remontant les rues de la Roquette et du Chemin-Vert. Vers minuit, près de 200 jeunes ont été interpellés à l'occasion d'un nouveau rassemblement improvisé sur les marches de l'Opéra Bastille. «On s'est fait encercler, raconte Mathilde, étudiante à la Sorbonne. Les CRS nous ont pris en étau sur les marches et ils nous ont fait monter dans des bus dix par dix. Les bus étaient blindés.» Les contrôles d'identité ont duré jusqu'à 4 heures du matin. «Au commissariat, il n'y a que les renois et les rebeus qui se sont fait menotter. Dans quel monde on vit ?» s'indigne Mathilde.
Quinze jeunes ont été placés en garde à vue, tandis que ceux interpellés la nuit du second tour étaient présentés au parquet. Nicolas, jeune sympathisant socialiste arrêté place de la République, est ressorti libre du tribunal après vingt-quatre heures de garde à vue et une nuit au dépôt. Poursuivi pour «jets de projectiles», ce qu'il conteste, il sera jugé en juin. «J'étais en train de crier comme tout le monde quand trois CRS me sont tombés dessus, explique-t-il. Ils m'ont pris à la gorge, aspergé de gaz. J'ai été plaqué au sol et menotté dans le dos. Quand j'ai eu le genou d'un CRS sur la tête, ils m'ont frappé au visage en m'insultant
.» "
Libération

Niassa .7


Da série "Terra Incógnita". Niassa 2001/2005. Moçambique

Foto de Sérgio Santimano

Novo homem faber:

“Descoberta” com barbas para enganar os ceguinhos

Apareceram por aí uns melgas iluminados a pilhas que tentam vender a incautos e néscios, como os aldrabões da Feira do Relógio, que o Homem faber é que é o verdadeiro animal de Hoje.
É a nova coqueluche daqueles que querem reescrever a História do Pensamento Filosófico e das Ciências Humanas para melhor fazerem regredir… o homem e os valores sociais.
Por isso, clamam aos quatros ventos: Faber in! Sapiens Sapiens out!
Perante tamanha torpeza, pergunta-se, “mas-que-safardana-de-mundo-novo-é-esse-que-o-homem-faber-e-o-macaco-querem-criar?”

Ninguém informa esses coitadinhos que não metem dó nenhuma que o Homem do Século XXI é uma evolução de 10 milhões de anos de hominídeos que levou ao surgimento, há cerca de 42 mil anos do Homo sapiens sapiens, fundador da civilização egípcia.

Os estudos filosóficos desde há 300 anos, para não ir mais longe, e dos últimos 50 anos da Psicologia, da Sociologia e da Antropologia foram sintetizados por Edgar Morin numa múltipla interdependência de conceitos: o homo sapiens sapiens é, indissoluvelmente, homo demens, e naquele coexistem o homo faber, que é ao mesmo tempo homo ludens, o homo economicus, inseparável do homo mythologicus, e o homo prosaicus que é também o homo poeticus.

O paradigma antropológico homo ludens, do jogo, do irracional, do aleatório, do outro é indissociável do paradigma do homo faber, do lógico e do construtivo, do racionalismo e do funcionalismo.

Há 150 anos, um filósofo alemão explicou que, ao tornar-se produtor de instrumentos de produção dos seus meios subsistência, o homem autoproduziu-se. Um enunciado que trouxe um notável avanço para as ciências humanas.
Mas não vou por aí porque há muita gente, entre ela estes filhos de uma hidra pestilenta, que ficam muito contentinhos quando catrapiscam um conceito, isolam-no do contexto, moldam-no segundo os seus interesses e deitam fora as sobras que só adiam a aceleração da praxis ultra-capitalista.
Fedelhos mentais que esperam que os outros sejam desatentos para os endrominarem com promessas de prémios do Euromilhões e cenários de filmes que os que pensam duas vezes pelo menos esperam que nunca venham a ser realidade.

Perdão esqueci-me de dizer que o tal filósofo alemão é Karl Marx.

zemari@

Sinais


Desenho de Maturino Galvão

terça-feira, 8 de maio de 2007

Por existirmos...

Onde está o poema que me perdeu?

Deveria viver no desleixo das coisas dos dias comigo...

Estará debaixo da mesa sob a janela encostada a tudo?

Terá sido deglutido pela sagrada vaca que pastará no próximo século?

Telefonar-me a abençoar a distância será seu fado?

Encontrá-lo-ei decerto na incertidumbre do agasalho

quando o outono estiver pela casa a trincha ou pincel...

Dantes eram mais elefantes que cabras do monte e covis sem lobos

mais savanas que estradas para ir ao lado já ali onde todos parecem

poentes em fogo em vez de escurecidos cafés de tarde às riscas

brancos dentes de leite na orla do mundo sem dedos a ansiarem tempo

no outro dia era tudo no mesmo dia e nada ficava fora disso

e o céu era do estampado dos teus olhos

perto da impossibilidade de assim não mais ser

Será que agora só se passeiam as girafas no fundo do nosso cérebro...?

Que há, que não tenhas adivinhado?

O universo deu assim tantas voltas que já só quase haja azul em ti?

(para a minha Mãe)


Fotos publicitadas pela : "Amnesty"

New York, New York


Zona do antigo mercado do peixe


Entrada para loja de tatuagens.

East Village

Fotos de Jota Esse Erre

Sinais


Desenho de Maturino Galvão

Sarkozy e Ségo no psicanalista

Daniel Sibony, um dos mais célebres psicanalistas franceses, interpretou o "Ça, o moi e o surmoi" dos dois finalistas das Presidenciais Francesas.
A não perder, clicar aqui, no espaço público do Libération.

Trata-se de um texto intempestivo, fecundo e magistral. Sibony compara Ségo à Virgem com uma criança, os seus poderes de incarnação e encantação. "Ela quis ser a incarnação (da França, sem dúvida); a França presidente, slogan forte mas estranho, que quebra a ideia de representação: presidir é estar à cabeça de, se a França é a sua própria cabeça, onde está o corpo? Nicolas Sarkozy, por seu turno, propunha um modo de funcionamento, não um emblema ou um modelo. Ele parecia querer dizer: consegui escapar, e posso vos ajudar a fazer o mesmo. O discurso queria ser racional, os argumentos valem o que valem, mas é um projecto técnico o que o preocupa, para tentar desbloquear as coisas", frisa. O psicanalista que diz ter "votado em branco".

"A incarnação - para lá da figura da Virgem ou da Igreja - é a mãe, a mulher que se destaca. Diante dos "elefantes" do seu partido, ela foi mais feminina do que eles conseguiram ser convincentes. Mas isso não jogou ao nível do país. Ele, Sarko, filho de emigrantes, sugeriu a raiva da tenacidade: prestar provas, conquistar um lugar, mais do que ficar ao cuidado de. Isso quer dizer muito para a multidão", observa.


"(...)
L'incarnation va avec l'incantation, la parole venue d'ailleurs et relayée par un beau corps. Mais l'incantation frise parfois la logique de l'ameutement (elle lui a dit : respectez les handicapés ! S'il ne les respecte pas, en effet, haro sur lui). Elle l'a rabroué comme un élève : révisez votre sujet (le nucléaire, qu'elle ignorait plus que lui) ! Lui, il argumente, raisonne, réfute ; il «travaille» ...
Dans l'ameutement, il y a aussi un peu d'illogisme : elle l'accusa d'avoir dit «tolérance zéro» alors qu'il n'y a pas «zéro délinquant» . Or, on peut être décidé à ne pas tolérer d'entorse, mais des entorses, il y en a.
5) Revers de la «féminitude» : le style trop personnel pour ceux qui souffrent de problèmes impersonnels. Son coup de colère à elle était «juste», «naturel» ; car la justice, c'est ce qu'elle «sent» , c'est ce qu'elle incarne. Et si les données objectives ou les effets de ses actes la contrariaient ? S'inclinerait-elle devant cette autre mère, autrement plus sévère, la réalité ? Ou voudrait-elle la plier à sa «juste» volonté ? Les gens hésitent. Là, il fallait de l'amour ; il y en a eu, mais de là à ce qu'il devienne un facteur politique...
Lui semble décidé à jouer, tricher s'il le faut, composer, pour avoir des résultats dont il puisse être fier. Des résultats qu'il puisse montrer à sa mère adoptive, la France ; la France qu'il n'est pas, mais qu'il veut servir (donc, il s'en distingue). Certes le nom «Sarkozy» sonne étranger, mais la France a eu l'audace de cette étrangeté. Audace aussi grande que d'élire une femme.
L'incarnation va avec l'incantation, la parole venue d'ailleurs et relayée par un beau corps. Mais l'incantation frise parfois la logique de l'ameutement (elle lui a dit : respectez les handicapés ! S'il ne les respecte pas, en effet, haro sur lui). Elle l'a rabroué comme un élève : révisez votre sujet (le nucléaire, qu'elle ignorait plus que lui) ! Lui, il argumente, raisonne, réfute ; il «travaille» ...
Dans l'ameutement, il y a aussi un peu d'illogisme : elle l'accusa d'avoir dit «tolérance zéro» alors qu'il n'y a pas «zéro délinquant» . Or, on peut être décidé à ne pas tolérer d'entorse, mais des entorses, il y en a.
5) Revers de la «féminitude» : le style trop personnel pour ceux qui souffrent de problèmes impersonnels. Son coup de colère à elle était «juste», «naturel» ; car la justice, c'est ce qu'elle «sent» , c'est ce qu'elle incarne. Et si les données objectives ou les effets de ses actes la contrariaient ? S'inclinerait-elle devant cette autre mère, autrement plus sévère, la réalité ? Ou voudrait-elle la plier à sa «juste» volonté ? Les gens hésitent. Là, il fallait de l'amour ; il y en a eu, mais de là à ce qu'il devienne un facteur politique...
Lui semble décidé à jouer, tricher s'il le faut, composer, pour avoir des résultats dont il puisse être fier. Des résultats qu'il puisse montrer à sa mère adoptive, la France ; la France qu'il n'est pas, mais qu'il veut servir (donc, il s'en distingue). Certes le nom «Sarkozy» sonne étranger, mais la France a eu l'audace de cette étrangeté. Audace aussi grande que d'élire une femme.
(...)
Enfin, l'épisode du «génétique» pour le «diaboliser» n'a pas été bon. Il avait dit, en gros, que devant certains symptômes, le poids de l'inné pouvait être écrasant ; qu'on peut donc gérer au mieux mais sans culpabiliser ; et, pour certains, le fin mot de l'éthique c'est de culpabiliser à la ronde. De là à le faire passer pour un homme qui classe les gens d'après leurs gènes... Avec, à l'horizon, l'eugénisme et la phobie de la génétique (science respectable et utile), ce n'était pas bon. Si les nazis ont exterminé des masses, était-ce pour obéir à la génétique ou était-ce pour mettre en acte leur haine de l' «autre» ? En imputer des relents à ce fils d'immigrés dont la famille a pâti du nazisme, était-ce vraiment «juste» ?
Bref, c'est en voyant les arguments de ses adversaires que j'ai pensé (moi qui vote blanc) que Sarkozy passerait. Le seul argument irréfutable, c'était le corps féminin, et il a fait son maximum.
Cela dit, il y a un petit effet secondaire appréciable : Le Pen est cassé, et certains cesseront peut-être de traiter de «raciste» quiconque trouve qu'il y a des problèmes à régler avec d'autres cultures, problèmes qu'ils ont rendus «tabous» , qui sont pourtant passionnants à penser et peut-être à résoudre."


FAR

segunda-feira, 7 de maio de 2007

Ruínas abandonadas



Esculturas, abandonadas, que em tempos adornaram prédios já destruídos. Nova Iorque 2007

Fotos de Jota Esse Erre

Consequências das eleições em França

367 carros incendiados a maioria nos arredores de Paris. Sarko começa bem: a malta das cités decide protestar e incendiar

"367 voitures brûlées et de 270 interpellations

Selon la police, «le second tour de l'élection présidentielle n'a pas amené de grands mouvements de violences urbaines dans les quartiers sensibles, et seuls quelques petits groupes ont, ici et là, mis le feu à des poubelles et à des voitures»." Libération (clicar aqui)


Leia também no Libération:

"Le triomphe du bonapartisme
Par Paul ALLIES

Paul allies professeur de sciences politiques à l'université de Montpellier.
Dernier ouvrage paru : le Grand Renoncement. La Gauche et les Institutions de la Ve République, Textuel, 2007
.

Cette élection présidentielle pourrait bien être le triomphe absolu du bonapartisme, cette culture politique dont la France ne parvient décidément pas à se défaire. Nicolas Sarkozy en est l'incarnation à lui seul. Il résume jusqu'à la caricature la modernisation de cette «société du 10 décembre» qui fit le succès, en 1848, de Napoléon le Petit : déjà à l'époque, elle ajoutait de la violence symbolique et privée au monopole étatique de la force. Mais la postérité du bonapartisme va bien au-delà des personnes. Elle s'est forgée dans et par les institutions ; pas tant dans l'élection du chef de l'Etat au suffrage universel direct que dans la concentration exceptionnelle de tous les pouvoirs en ses mains. De ce point de vue, l'histoire de la Ve République restera celle d'une accumulation progressive de puissance d'une seule autorité au prix de la dévitalisation des moindres contre-pouvoirs. Même celui que les journalistes avaient construit est en train de produire par connivence ou servitude volontaire une nouvelle oligarchie. Se refonde ainsi toujours plus l'espace du pouvoir où le centre reste la cité interdite à la société civile tandis que sa périphérie est abandonnée à ses ennemis.
La gauche va-t-elle s'installer dans ce système, en se contentant par exemple de gérer les collectivités locales?" (clicar aqui para continuar a leitura)


FAR

Sinais


Desenho de Maturino Galvão

Presidenciais Francesas: Sarkozy ganha com o apoio de Le Pen

O candidato do centro-direita ganhou com os votos maciços da extrema-direita (53%). Ségolène Royal pagou caro os erros do arranque e as públicas dissensões das correntes do seu partido. Contudo, em Paris, no total, o vencedor só averbou mais 0,19 por cento de votos do que Ségo. É obra...

A França entra numa fase diferente e superior da sua república presidencialista. Sarkozy, um émulo mais sofisticado, apesar de tudo, de Bush e Berlusconi, vai ter que cumprir as suas promessas populistas e fazer a vontade imperial ao grande patronato que o apoiou. Cruel contradição. A direita tem que formar uma maioria presidencial e implementar a revisão técnica de muitos mecanismos bonapartistas dos poderes presidenciais.

Nos ombros de Ségo repousa agora uma tarefa hercúlea de manter a unidade na diversidade da sua frente eleitoral, onde o PS detém o comando. O que quer dizer, que Ségo vai ter de negociar de novo com os barões (líderes das três tendências) e discutir a dosagem das listas de deputados.

O companheiro e n.°1 do PS, François Hollande, admitiu como factores principais da derrota, a amálgama tacticista da candidata ( sobretudo no arranque); e, indirectamente, fez mea culpa do atentismo paralisador nas proposições políticas que tardaram a ser feitas aos centristas capitaneados por François Bayrou, que representaram 17 por cento do eleitorado. O modelo económico proposto pela candidata também era pouco nítido e com muitas folgas programáticas, admitiu.


FAR

domingo, 6 de maio de 2007

Sinais


Desenho de Maturino Galvão

Da actuação das nossas autoridades

Exmos. Srs.,
A Khapaz – Associação Cultural de Jovens Afro-descendentes vem por este meio expor o seu descontentamento em relação à actuação da Polícia de Segurança Publica do Seixal que, ultimamente tem mostrado o maior desprezo e desrespeito pelos direitos humanos, e pelos direitos fundamentais dos cidadãos portugueses consagrados na Constituição da Republica, nomeadamente pelos jovens de origem africana contra os quais têm tido uma conduta agressiva e racista que ultrapassa as suas funções.

Nos últimos 2 meses tem-se verificado um aumento substancial do número de casos de abuso de autoridade e de brutalidade policial por parte dos agentes da PSP do Seixal, que só por si já eram elevados, mas que agora se tornam rotineiros e insuportáveis. Colocam os cidadãos acima referidos numa situação "infra-humana" e instalam um clima de terror social nos bairros da Quinta da Boa-Hora e Quinta do Cabral, para alem de aumentarem o fosso existente entre a polícia e a população juvenil.
Assim e de entre os muitos casos será importante mencionar os seguintes:
No dia 1 de Janeiro, por volta das 3 da madrugada, um grupo de cerca 25 jovens, homens e mulheres, encontravam-se junto ao café "Bolipão" a festejar a passagem de ano com algum ruído que, numa data como esta é aceitável, até que chegaram ao local 2 carrinhas do Corpo de Intervenção da PSP. Os agentes com caçadeiras apontadas aos jovens ordenaram que estes fossem para casa. Alguns jovens argumentaram que se tratava da passagem de ano e que apenas se encontravam a festejar. Os agentes agrediram bruscamente vários jovens com bastões e punhos de caçadeira.
Ao aperceberem-se da gravidade da situação, e surpreendidos pela agressividade injustificada dos agentes, os jovens tentaram abandonar o local e, nisso, três jovens (que tentavam convencer os restantes a abandonar o local) foram atingidos por balas de borracha.
No mês de Janeiro verificaram-se pelo menos 4 "rusgas" ou deslocações por parte da PSP do Seixal ao café "Bolipão" sem que em nenhuma delas tivesse sido apresentado ao proprietário um mandato judicial ou qualquer outro documento.
No dia 26 de Janeiro, às 23:30 cerca de 20 polícias, incluindo agentes do Corpo de Intervenção e da Divisão de Narcóticos entraram no café Bolipão formando um cerco que impedia as pessoas de sair. Dois jovens tinham acabado de chegar do centro comercial Rio Sul e dirigiram-se a esse café onde tinham combinado encontrar-se com outros que se encontravam no interior. Ao chegarem ao Café depararam-se com 3 carros patrulha, 1 carro escola segura e 1 carro descaracterizado. Um dos jovens questionou um dos polícias que impedia a entrada de pessoas se podia entrar, ao que o agente respondeu que não pois estariam a efectuar uma rusga. Questionaram novamente o agente se poderiam aguardar ali ao lado que a rusga terminasse pois esperavam dois amigos que estavam no interior do café, ao que o agente respondeu positivamente. No entanto, segundos depois outro polícia precipita-se sobre os dois jovens aos gritos, ordenando-os que fossem para casa. Estes responderam que não iriam, pois não tinham nenhuma obrigatoriedade de tal. Logo de seguida dois agentes, um fardado e outro vestido a civil agarraram e empurraram os dois jovens com a intenção de os agredir mas um outro jovem que, entretanto já tinha recebido autorização para abandonar o local, agarrou os outros dois no sentido de os afastar do local. Os 3 abandonaram o local e encontraram-se com um quarto jovem que também já tinha saído. Ao afastaram-se um dos policias gritou: "Até me metes nojo! Um branco com mentalidade de preto". E outro disse: "Devia era metralhar-vos a todos!". No calor da situação, nenhum dos jovens conseguiu fixar os nomes dos agentes ou matrículas dos carros. No dia seguinte soube-se por parte do proprietário do café que toda a gente no seu interior foi revistada excepto a esposa do mesmo. Segundo o testemunho do proprietário, os polícias entraram no café de caçadeiras em punho gritando isto é uma rusga, sem nunca terem mostrado uma ordem judicial ou qualquer outro documento que validasse a rusga. Inclusive foi solicitada autorização à esposa do proprietário para revistar o armazém.
Dia 03 de Fevereiro: Por volta das 23h, o jovem Gabriel Cruz circulava na EN 10 em direcção à Cruz de Pau e parou em frente as bombas de gasolina da Repsol (num local onde não havia proibição de parar) para largar um passageiro. Segundos depois, um carro patrulha da PSP manda-o encostar. Após ele encostar o carro na berma da estrada sai um agente do carro gritando e ordenando ao Gabriel que saísse do carro de mãos no ar. Este assim o fez e os agentes que tencionavam inicialmente revistar o veículo do jovem, viraram a sua atenção para o mesmo que entretanto ao observar a conduta dos dois polícias protestara com ambos. Após interrogarem o jovem, estes deixaram-no ir embora sem que, em nenhum momento lhe tivessem solicitado o Bilhete de Identidade, Livrete, Carta de Condução ou qualquer outro documento. Não é um caso de brutalidade policial, mas mostra de uma forma muito clara que a polícia tem dois modos de actuação. Um para os imigrantes e classes sociais mais desfavorecidas e um "mais cordial" para o resto da população…
Dia 19 de Fevereiro: A Associação Khapaz promoveu uma festa de Carnaval na sua sede. Por volta das 21h registou-se uma pequena desavença entre alguns jovens da Arrentela e alguns jovens do bairro de Vale de Chicharros – Fogueteiro. A festa terminou às 22h em ponto conforme previsto na lei. No entanto, e devido a uma pequena desavença entre dois jovens, a PSP do Seixal e a GNR da aldeia de Paio Pires foi chamada ao local. Passado muito tempo, às 22h em ponto e já após ter sido resolvido o problema, um espectacular aparato policial digno de um cenário de Lei Marcial chegou ao local. Da parte da PSP: 1 veiculo escola segura, 3 carros patrulha, 3 veículos descaracterizados da Brigada de Narcóticos e 2 Carrinhas do Corpo de Intervenção Rápida. Da parte da GNR deslocou-se ao bairro uma Carrinha do Corpo de Intervenção e um jipe de patrulha. No entanto, estes veículos não chegaram todos ao mesmo tempo. Os primeiros veículos a chegar ao local foram alguns carros patrulha da PSP, o veículo escola segura e o jipe da GNR. Estes veículos estacionaram junto ao muro que fica em frente ao parque infantil da Boa-Hora, sendo que inicialmente os agentes nada fizeram. Algumas raparigas que se cruzaram com estes agentes testemunharam que um dos polícias diria que apenas estavam a espera da ordem da esquadra para "bater nos pretos". Assim que as carrinhas do CIR chegaram ao local, os agentes dirigiram-se aos jovens ordenando-os que fossem para casa. Alguns jovens com medo da actuação da polícia refugiaram-se no café "Bolipão". Os agentes do CIR dirigiram-se prontamente ao café, agredindo violentamente todos os clientes (homens e mulheres) que se encontravam no interior do café com bastões e punhos de caçadeira. Foram disparados alguns tiros de aviso para o ar e algumas pessoas que se encontravam nas suas casas a observar a actuação desmedida da polícia foram ameaçadas por alguns agentes para que fossem para dentro de casa e fechassem as janelas. Alguns indivíduos que nem se encontravam no local mas que entretanto chegaram, foram autenticamente espancados por grupos de polícias por reagirem à actuação da polícia. Este espectáculo "Hollywoodesco" desenrolou-se pela noite dentro sendo impossível relatar todas as ocorrências dessa noite.
O facto desta zona estar referenciada como um "Bairro problemático" não atribui à polícia a legitimidade para tratar alguns indivíduos da forma que trata. Primeiro porque a grande maioria das pessoas que aqui estão trabalham e/ou estudam, não podendo ser constantemente tratadas como suspeitas de algum crime e segundo, porque mesmo estando a cometer um crime, as pessoas têm os seus direitos e a policia tem apenas que cumprir o seu dever, o qual não passa por agredir física e moralmente os cidadãos. As leis existem para ser cumpridas por todos, mas a polícia tem revelado um profundo desrespeito pelas mesmas, mostrando que está acima delas. Lembramos que os policias não são juízes e portanto não lhes cabe julgar as pessoas na rua. No entanto parece-nos que esta separação de papéis não é clara para a polícia. Tendo em conta que todas estas acções resultaram apenas na apreensão de 0,25 gramas de cocaína, perguntamos qual é a justificação para tais actos e qual o crime que temos estado a cometer. Arriscamos dizer que o crime em causa é o facto de sermos negros e estarmos na rua aquela hora.
Enquanto a polícia aponta os seus recursos para este tipo de policiamento incidente nos bairros pobres que concentram minorias étnicas, jovens neo-nazis sentem-se livres para em plena luz do dia (às 15h00) andarem a grafitar palavras de ordem fascistas nas paredes da Faculdade de Letras de Lisboa sem que nada seja feito, como ocorreu no passado dia 15 de Março sob o olhar atento da polícia que se encontrava no local.
Os diferentes relatórios que vão saindo quer em Portugal quer no estrangeiro (SOS Racismo, IGAI, Amnistia Internacional, Departamento de Estado Americano, União Europeia - ECRI) não se cansam de referir as mortes acidentais perpetradas por agentes policiais (a que mais mata em toda a Europa dos 25), a violência gratuita que tem sido o cartão de visita das nossas polícias e o comportamento discriminatório por parte das mesmas. De facto, o ultimo relatório da Comissão Europeia contra o Racismo e a Intolerância (ECRI na sigla em Inglês), indica claramente que as policias Portuguesas "...continuam a integrar elementos que manifestam um comportamento discriminatório impróprio duma democracia...". Na apresentação do mesmo relatório Marc Leyenberger lembrou ainda que Portugal ainda não ratificou o protocolo nº12 à Convenção Europeia dos Direitos Humanos, que proíbe toda e qualquer tipo de discriminação.
Lamentamos que, numa altura em que o mesmo Marc Leyenberg no mesmo relatório diz que "Globalmente, Portugal não é um país racista, mas existe um ambiente perigoso", e que o Alto-Comissário para a Imigração e Minorias Étnicas no Nº47 do seu boletim BI diga que "Regista-se em Portugal uma notável paz social em torno da questão da imigração, marcada pela ausência de crises graves de xenofobia, racismo ou simples hostilidade generalizada perante os imigrantes", as coisas sejam bem mais graves que isso.
Não só na Arrentela mas em vários bairros da Margem Sul e de Lisboa a polícia "faz o que quer", na sombra dos mesmos jornalistas que não hesitaram em publicitar um "arrastão", mas para quem a agressão de jovens negros por parte da polícia não é digno de noticia. Impunes ou até protegidos, os agentes da polícia têm o caminho livre para continuar. Talvez estejamos a viver num outro Portugal porque há muito que sentimos o "ambiente perigoso" nas nossas costas, não podendo, portanto, falar em "paz social".
A Associação Khapaz
Março de 2007
(Com a devida vénia ao Spectrum)

Niassa .6

Da série "Terra Incógnita". Niassa 2001/2005. Moçambique

Foto de Sérgio Santimano

sábado, 5 de maio de 2007

Anos e anos a arrumar
quase apenas os pensamentos
uns ao lado dos outros
depois de observar as montras
outras vezes em pilha quase em equilíbrio
a estudar com rigor
a alteração de vinco nas ideias
desdobrando as metáforas pelo ardor
a calcular em organigrama
o salto conceptual de belicosos termos
para no fundo poder regressar
de modo não menos acrobático
à contagem do que para sempre deserta da linguagem.
É imperdoável desconhecer que esta vive
numa caixinha com rodas
e jeitos oleados para o silêncio.
É isso, a estranheza.

in: Caixinha com rodas; ed. geic

Tenho desejos que me levam a militâncias




( clique nas imagens para as ampliar)
"A Marcha Global da Marijuana é uma iniciativa internacional, pacífica, que tem lugar em várias cidades do planeta em simultâneo, sempre no primeiro sábado do mês de Maio. O objectivo desta marcha é chamar a atenção dos governos, dos decisores políticos e das instituições relacionadas com as drogas e a toxicodependência em concreto, e da sociedade civil em geral, para as vantagens da legalização / normalização do cultivo, venda e consumo de canábis planeada e baseada na realidade e em factos científicos; e para a ineficácia e o falhanço da proibição na sua missão de reduzir o consumo, o tráfico de drogas e o crime associado. Em 2007, a Marcha Global da Marijuana vai ter lugar no dia 5 de Maio (sábado) em mais de 200 cidades em todo o mundo. Lisboa - Concentração às 14h no Jardim das Amoreiras (Mãe d´Água). Arranque às 16h do Lg do Rato até ao Lg Camões. Porto - Concentração às 15h na Praça Marquês de Pombal. Destino Praça D. João I. Ver www.mgmlisboa.org e www.mgmporto.org."

Presidenciais Francesas: Todd e Gauchet analisam ao pormenor



Os dois politólogos ultrapassam o bla-bla rotineiro dos Médias e surpreendem as linhas de força do futuro da França e da Europa...

Emmanuel Todd e Marcel Gauchet, há muito que nos habituaram a uma superlativa qualidade teórica das suas análises políticas. Trata-se de peritos singulares e, cada um no seu espaço de análise, beneficia de uma aura de prestígio e rigor que ultrapassa em muito as fronteiras hexagonais francesas. No conjunto de mais de 50 análises políticas de projecção política qualitativa, destacamos os textos que eles subscreveram como os mais acutilantes e os melhores e que foram saindo no Nouvel Observateur, Le Monde e Libération. Os dados estão lançados, pois. E só Ségolène pode construir uma França melhor e mais democrática, não nos esqueçamos disso .

1. Participação eleitoral: Todd alerta para "a pobreza do conteúdo da campanha. As questões sobre a Globalização, as deslocalizações, a subida das desigualdades e o medo do futuro não foram quase tratadas pelos candidatos. E éra isso que contava acima de tudo para as pessoas". E aponta: "Se existiu paixão e angústia nesta campanha, foi porque Sarkozy colocou conscientemente as questões de identidade no centro do seu discurso, baralhando assim a problemática económica". Marcel Gauchet sobre o mesmo tema diz: "Depois de 1988, o mitterrando-chiraquismo paralisou o país e fechou-o no marasmo político. O milagre, é que, nos estamos talvez a sair deste ciclo depressivo. Finalmente, o mal não era assim tão irremediável como se temia".
2. Estratégias: Todd põe o dedo na questão essencial: "Assistimos com a sua acção (Sarkozy) à subida de uma direita governamental que não hesitará a adoptar uma estratégia de violência racionalizada empregando os meios do aparelho de Estado. Estamos confrontados, por isso, com qualquer coisa de muito grave. Nestes tempos de tensões sociais e económicas, há o risco que se instale no poder uma direita radicalizada que sabe que a estratégia de provocação pode ser uma técnica eficaz de governo". Gauchet precisa: "A diabolização do sarkozismo feito pela Esquerda foi politicamente contraproducente. Não dissuadiu o eleitorado natural de Sarkozy (o pequeno comerciante revoltado da região parisiense e do Sul) e facilitou-lhe o apoio do eleitor de extrema-direita".
3. Reformar o quê? Gauchet observa : "O verdadeiro problema político francês, é o como fazer: Toda a gente sabe localizar as dificuldades, mas ninguém até hoje as soube tratar. A questão é de encontrar um método. Royal e Sarkozy têm pelo menos em comum a constatação de que um certo estilo de organização político-administrativo está falido". Por sua vez, Todd avança com esta tese: "Se por acaso Sarkozy se tornar Presidente, é preciso saber que todo o seu discurso actual está em contradição com as aspirações profundas do seu eleitorado. Se ganhar, entrará fatalmente em choque frontal com os seus eleitores." E mais esta, em fine: "O gaullismo de Sarkozy é uma panaceia. Ele fará da França um país que não será nem belo, nem grande, nem generoso. O gaullismo com o seu nacionalismo tinha uma certa loucura das grandezas. O sarkozismo é, a meu ver, um gaullismo encolhido onde a França se definirá como grande apenas dentro do seu território... ".
4. Direita/ Esquerda- Se calhar só em Portugal se pretende ultrapassar tal dicotomia. Gauchet avisa os incautos: "Creio que a oposição esquerda-direita funciona sempre. Permanece o eixo fulcral da vida democrática. A Esquerda ganhou culturalmente. Em termos de valores, a direita tornou-se de esquerda. Por isso, assistimos a um gigantesco cruzamento multiforme que fomenta as incertezas contemporâneas". E adianta: "Isto constitui a grande revolução contemporânea: a Esquerda, que era materialista, tornou-se idealista e reclama-se de valores, enquanto a direita, que se postulava como moral e religiosa, não acredita senão na economia". Todd não acredita que foi ultrapassada a "decomposição do sistema" e que se ultrapassou o desaparecimento das "ideologias políticas": "Não partilho desse entusiasmo".

FAR

Sinais


Desenho de Maturino Galvão

sexta-feira, 4 de maio de 2007

O Corpo da Escrita

...
Como a um cativo, o ouvem a passar
Os servos do solar.
E, quando o vêem, vêem a figura
Da febre e da amargura,
Com fixos olhos rasos de ânsia
Fitando a proibida azul distância.
...
Mensagem, Fernando Pessoa
III Os Tempos - Noite





Composição e fotos de José Salvado

Digressão interna (epílogo)

Era chegada a hora de desencadear o regresso à ‘ville blanche’. Sei lá, alguém aventou (Mad Dog?) que seria melhor “fazer algum tempo” até à hora do ferry “A Caminho das Estrelas”, pensa-se que uma homenagem a todos os artistas que despontam para o anonimato, largar ferro para a travessia trans-Tejo. Sei lá, amortizar tabaco manhoso, trocar reminiscências e continuar a investigação dos homicídios em carteira.
Dava-se, porém, a circunstância de, com o intrigante desaparecimento do Landru, não haver mortalhas, e de os presentes serem demasiado ortodoxos, procedimentalmente, e avessos a todas as práticas desviantes, tais como, re-utilizações, reciclagens. Mortalha é mortalha, como em “o vinho é minha mortalha, o copo é meu caixão”. Capice?
Clarence ofereceu-se, por tudo isso, para interpelar os locais que trotavam pela Avenida da Praia, nas imediações do banco de jardim em que os sobreviventes recuperavam fôlegos. Clarence ensaiou, sem êxito, vários approches:“O senhor desenrasca-me uma seda? Abonas uma seda? Pode ceder-me uma seda?
“”Não percebo, os gajos fogem…”. Estranho, de facto, nós também não atinávamos com a razão para tanta falta de cooperação e solidariedade. E resolvemos deitar-nos ao caminho.
Arrastámo-nos umas centenas, ou seriam dezenas, de metros em terreno muito acidentado, dir-se-ia um percurso radical para tropas especiais, e aos primeiros ataques sérios de tosse, às primeiras quedas, quais baratas tontas fizemos sinal ao primeiro e único táxi que rodava por aquelas picadas. “Lisboa…a galope”.
À frente, no lugar do morto, seguia o delegado da China, atrás, coabitavam o delegado da Suécia e o Clarence. Ou porque a jornada fôra dura ou porque as juras gritadas do Clarence, em como haveria de “matar todos os comunistas”do universo, o afligiam, o Luís P. encostou-se e desatou a ressonar. Roncos tais que só terão paralelo nos índios do Amazonas que ferram o galho em redes para afugentar os animais selvagens.
“Este gajo é uma vergonha”, lamentou o Clarence, aproveitando para lamentar: “logo hoje que matámos o Landru”.
Entretanto, o taxista aparentava estar mal disposto, a julgar pela lividez da fuça e rigidez do pescoço. Decidi acalmá-lo.
“”Não ligue, são uns brincalhões. Como se chama? Gosta de ser fogareiro? Já foi assaltado? Anda armado? Como avalia o excepcional trabalho do governo de José Sócrates?Que pensa da ‘terceira via’? Se não fosse taxista que gostaria de ser? “
“Como adivinhou? Ando a escrever um livro, mas com esta merda do táxi ainda só avancei uma linha…”
“É o mais difícil. Agora é só juntar entulho. Como é essa linha?”
“É um bocado repetitiva. Pacheco Pereira é uma morsa. Pacheco Pereira é uma morsa. Pacheco Pereira é uma morsa. Pacheco Pereira é uma morsa.”.
Felizmente, acabávamos de chegar à fronteira de Lisboa.

JSP

Sinais


Desenho de Maturino Galvão

Da Capital do Império

Olá,

Antes de vos falar da minha recente visita a Nova Iorque onde aproveitei para visitar amigos no maior edifício de “tachos” do mundo (a ONU) para ouvir as últimas histórias histéricas dos males da civilização ocidental em geral e dos americanos em particular, tenho que vos dizer uma coisa:
Ao contrário do que vocês podem pensar na América não há mais malucos do que aí do outro lado do charco. O que se passa é que aqui os malucos não são obrigados a estar fechados em asilos ou casas e podem em alguns locais ir a uma loja e comprar uma Glock que leva 17 balas no seu carregador ou mesmo uma AK 47 e depois ir dar azo às suas paranóias e/ou fantasias mortíferas.
Não vem isto a propósito da globalização (a Glock é fabricada na Áustria) ou das heranças do socialismo (a AK 47 - a única herança do socialismo científico que continua a funcionar e a ter impacto no mundo)
Vem isto a propósito do recente massacre na Universidade Técnica de Virgínia que pelo que eu li nos comentários publicados em muitos jornais europeus é mais uma prova de que os americanos são uns tipos que adoram a violência e vivem na violência.
Vi que uma cadeia de televisão alemã fez uma reportagem sobre isso com fotos e filmes do Charleston Heston com uma espingarda na mão. Não sei porquê o Charleston Heston e não o Gary Cooper ou o John Wayne mas sei que prova – como já afirmei – que também há muitos malucos por aí, que alguns deles escrevem em jornais e para a televisão mas que felizmente para vocês (e para os americanos que vão aí de férias) não têm acesso a Glocks ou a Aks.
O que me leva mais uma vez a vez falar daquelas diferenças culturais com os americanos que muitos não compreendem e que mesmo que para quem aqui vive não deixa de constituir um espanto.
Primeiro ponto: O direito a ter uma arma de fogo é algo imbuído no espírito dos americanos. É assim como o uso do alho na cozinha tuga. Pode se falar em restringir o uso do alho, aumentar o preço do alho, diminuir o tamanho do alho mas nunca tirar o alho.
Nenhum político na América da esquerda ou direita tem a coragem de falar em proibir o uso de armas através do país por leis federais. É uma combinação eleitoral letal pois para além de interferir com aquele “direito” é visto como uma interferência do governo federal nos direitos de estados.
Rebolei-me de riso a ver os políticos de esquerda (os da direita aqui apoiam sem vergonha o “direito” às Aks) a darem cambalhotas linguísticas e de lógica para evitarem a questão.
A “estrela” do Partido Democrático e candidato à presidência Barrack Obama disse que era “também preciso falar da violência cometida contra homens e mulheres que subitamente ficam desamparados porque os seus empregos foram transferidos para outros países”. Faz rir não é?
Eu cá já pensei em sugerir que para contornar o problema os legisladores americanos deveriam concentrar-se em proibir as… balas. Ou então torna-las de tal modo caras que mesmo os malucos teriam dificuldades em arranjar munições. Seguir o exemplo europeu de “quanto mais impostos melhor para todos” e impor impostos tão altos nas balas que a a malta é toda obrigada a comprar espingardas e pistolas de pressão de ar.
Isto porque para além do aspecto cultural há também o aspecto jurídico. O direito às armas está na constituição Americana. Tudo por causa de uma emenda à dita cuja que afirma que “sendo a existência de uma milícia regulamentada necessária à segurança de um estado livre, o direito do povo a manter armas não será infringido”. Foi aprovada em 1791 numa era em que se vivia numa sociedade agrária precária em comunidades onde caçar e andar à porrada com os índios era o pão nosso de cada dia e que creio eu pouco tem que ver com a realidade actual dos americanos. Mas convencê-los disso é algo que não vai acontecer em breve.
Vejam por exemplo que visitei uma loja de armas na Virgínia (onde me apaixonei por um revolver Colt P1676 357 7.5 “clássico”igual aos filmes dos cowboys) e onde o comerciante me disse que a razão porque o crime é baixo na zona desse estado onde eu vivo é porque na Virgínia toda a gente pode comprar armas de fogo. Na vizinha Washington, disse-me ele com toda seriedade, há mais crime porque há muitas leis a restringirem o porte de armas.
Sugeri-lhe que a malta deveria começar todos a levar pistolas para dentro dos aviões para impedir os Bin Ladens de desviar aviões. Respondeu com um ar sério que “talvez não fosse má ideia”. Mas depois riu-se muito e quando eu peguei no revolver deu-me a primeira lição “de responsabilidade para quem tem armas”.
“Nunca se esqueça,” disse ele “que não há armas descarregadas e portanto nunca aponte uma arma a ninguém.” Fez uma pausa e acrescentou: “A não ser que você queira foder a cabeça do individuo à sua frente”. E depois riu-se muito.
O que não significa que ao contrário do que vocês possam pensar todos os americanos possuem armas. Embora ninguém saiba ao certo porque em muitos estados as autoridades estão proibidas ou não podem manter controlo sobre a compra de armas as estatisticas indicam que na verdade apenas entre 20 e 25% dos Americanos possuem armas de fogo e que desse numero a esmagadora maioria (74%) possui mais do que uma . O que dá quase um total de 200 milhões de armas fogo (incluindo caçadeiras) em todo o pais . Nada mau!
Segundo ponto: Ao contrário do que se diz por aí não é verdade que os americanos em qualquer ponto da América podem comprar armas de fogo sem qualquer restrição. Os estados podem e impõem condições. O estado de Nova Iorque por exemplo impõe restrições que não existem no estado da Virgínia onde eu vivo e onde o acesso é praticamente livre.
Claro esta que a lei não impede na pratica a bandidagem da cidade de Nova Iorque de vir à Virgínia comprar armas através de terceiros e vendê-las ou usá-las nessa grande cidade. Os policias da Virgínia chamam à auto-estrada 95 que liga a Virgínia ao norte a “gun route”. Em Washington DC ( a capital do Império) as restrições são tão grandes que ‘é mais pratico atravessar o rio Potomac e ir ao estado da Virgínia comprar uma Glock e depois regressar a Washington.
Tudo isto para vos dar uma certeza: Nos próximos tempos vai haver mais massacres ao estilo do que se passou na Universidade Técnica da Virgínia. É inevitável. As armas são parte da cultura. Os malucos há-os em toda a parte. A mistura de armas com malucos é …. Explosiva.
Podem portanto começar a preparar mais artigos e reportagens sobre a violencia dos americanos. É boa leitura e faz a malta aí do outro lado do charco sentir-se bem na sua auto identificada superioridade moral
Um abraço

Da capital do Império

Jota Esse Erre

PS – Aquele Colt histórico custa 1.779 dólares. Mas o vendedor talvez ao ver que eu era um falido disse que para auto defesa eu ficava mais bem servido com uma Smith and Wesson 432 PD Magnum. Preço:400 dólares (cerca de 260 Euros) mas tinha que esperar uns dias porque de momento .. estava esgotada. Aparentemente na Virgínia devido ao massacre na Universidade Técnica houve uma corrida …às armas!

Niassa .5


Da série "Terra Incógnita". Niassa 2001/2005. Moçambique

Foto de Sérgio Santimano

quinta-feira, 3 de maio de 2007

Presidenciais Francesas: "Sarkozy não perdeu, mas Ségolène Royal ganhou"

O magnífico editorial de Laurent Joffrin, director do Libération, que pode ler, clicando aqui. A candidata esteve muito bem ao ataque. Remeteu Sarkozy para a defesa de um liberalismo pacóvio e revelou a má preparação técnico-humanista do "diabo" da nova direita francesa face aos dossiers cruciais das Reformas, do Ensino e das Energias renováveis...

" Nicolas Sarkozy não perdeu. Mas Ségolène Royal ganhou.

" Porquê esta asserção tão lapidar? Porque neste debate feito de paixão fria e agressividade emboscada, a candidata socialista venceu num ponto essencial: a legitimidade. Forte dos 26 por cento de votos da primeira volta - quase tanto como Mitterrand em 1981 e de sondagens fabulosas que a colocam quase à par de Nicolas Sarkozy - isto é, com o apoio de metade da França , ela demonstrou serem inconsequentes as dúvidas da opinião pública: é perfeitamente capaz de ser Presidente da República. Pelo menos, em todos os casos de figura, tanto como Sarkozy, que ela atacou e perturbou durante mais de duas horas, ele que ameaçava reduzi-la a quase nada. Determinada, precisa, dura no contra-ataque apesar de alguns erros e do abuso do exemplo simplista, ela abalou o favorito da competição. Sarkozy esteve mal? Claro que não, pelo contrário. Mas com toda a sua vontade, a sua preparação e a vantagem que lhe conferem os 31 por cento dos votos reunidos da primeira volta, o líder imperial da direita não conseguiu dominar a sua rival. O que é que ela deve ainda provar?

" Daí que, o debate de fundo volte a tornar-se omnipresente Os dois protagonistas forneceram-nos uma versão límpida. Um liberalismo à francesa, para um, o socialismo à europeia para ela. Uma adaptação da França à Mundialização, por um lado, embrulhada por um voluntarismo enganador; e a recusa da normalização, preconizada por ela, enquadrada numa perspectiva realista de bom tom.

" Em princípio, a opção deveria ser simples para um povo que não gosta de se curvar perante as forças do mercado. Mas não nos esqueçamos que em política as circunstâncias são implacáveis. Nicolas Sarkosy não perdeu verdadeiramente. Pode portanto conservar a sua vantagem. Era o seu único propósito nesta prova difícil do face a face. À entrada da recta final, ele guarda ainda o comando. Existe só um problema para ele: Ségolène Royal começou ontem a recuperar do atraso ".


FAR

Aforismos inconsequentes do Cais do Sodré (2)


Quando a rua te parecer mais estreita, vira-te para o rio. O conforto espera-te a meio do caminho, mesmo que este seja o conforto mais desconfortável.

Aforismos inconsequentes do Cais do Sodré (1)

Eu sou pela liberdade de viver de modo absoluto.

Ainda a carga policial do 25 de Abril

O Cravado no Carmo é um blogue criado com o objectivo de recolher e divulgar informação sobre a carga polícial na manifestação "anarquista" do 25 de Abril. À vossa atenção, sobretudo, os relatos e fotografias.

(via Esquerda Republicana)

"Liberais"

Inevitavelmente, distinguem-se naqueles que se chamam a si próprios “liberais” dois campos que de vez em quando aparecem como irredeutiveis: aqueles para quem ser “liberal” significa ser pelos interesses dos ricos, a manutenção do status quo com o pretexto intransigente da propriedade privada, mesmo que estes se disfarcem por vezes uns como conservadores defensores de uma herança histórica cristã ou "ocidental", e os outros como revolucionários em que a revolução é a mesma herança histórica cristã ou "ocidental"; e os Liberais, para quem ser "liberal" sngifica antes de tudo a herança liberalistica da burguesia, ou seja, que se preocupa genuinamente com a liberdade do ser humano face ao Estado e os demais constrangimentos impostos à sua vontade de viver a vida como quer.
É importante perceber aos socialistas modernos que nada nos aproxima dos primeiros, mas que muitas coisas nos assemelham aos segundos.

Parecer

Deixo-me embalar por uns compassos vagos...
parece que sou
pareço-me
pereço
e nunca estou.

Preces
preços
imprecações.

Pareço

Não apareço

Ponho um preço

tão alto que nunca o alçanço
e canso
e não me dou descanso.

(Também Ícaro não percebeu que as asas eram coladas com cera...)

Ser

Chove em Maio e eu olho a chuva que cai.
A lua cheia de Maio fica tapada pela chuva.
Não creio no que escrevo.

Nem tudo o que me sai há-de ser lido.

Distingo - ao menos isso... - entre o que é de dentro e aquilo que hei-de mostrar.

Aos outros peço o que lhes é possível.

Chove em Maio.
Grande novidade para quem já viu relâmpagos em Junho.

Distingo.

E, enquanto for distinguindo, vou sendo eu mesmo.

A saber ser.

Sinais


Desenho de Maturino Galvão

quarta-feira, 2 de maio de 2007

Parecem-me um bocado novos para sindicalistas


(Clicar na imagem para a ampliar)
Legenda e foto na 1ª página do jornal Metro, 2/05/2007

Digressão interna (IV)

A ‘little turba’, como entendeu nomear-se o agregado de peregrinos à “cintura da ferrugem”- conhecida noutras latitudes antropológicas por Berreiro, aproveitou o percurso entre o Moutinho e o Mareado para estimular o artista da noite. Segundo o peculiar método Viggi… uma espécie de bota-abaixismo refinado e erudito. “Não há concerto”, “os Santeros andam a gozar contigo”, “cantas pior do que uma cabra velha”, “ninguém te conhece”, “é preciso avisar o INEM”, “não vais receber cachet”,”os gajos andam a gozar-te”, “depois das sessões de canto livre só te faltavam os concertos da JCP”, “se nos deixas ficar mal…”, “ainda tens daquele Hax falso?”. Como os nossos sagazes leitores terão reparado, à excepção da sexta e décima proposições, é tudo baixaria e aleivosia.
Docámos, por fim, num bar de aquecimento, adjacente ao espaço do concerto, para fazer a contagem decrescente para o espectáculo- os Santeros continuavam desaparecidos- e confraternizar antecipadamente com os indígenas. Que é dizer, com o público Santero.
Assim, numa primeira mirada, constatámos que tínhamos irrompido num furo do 12 ano. O Landru, veterano das Mil e Uma Noites, reconheceu imediatamente a confort zone onde nos devíamos refugiar até que avaliássemos a situação ou os Santeros viessem de salvadego. Adivinharam, o balcão daquele bar minimal, atrás do qual atendia aquele que parecia ser a única pessoa com que nos poderíamos convergir numa fala comum.
“Para nós whisky”, pediu o Landru, completando com aquele ar inefável de Príncipe da Cidade: “olha lá, isto que está a tocar é Shadows?!”.
“Shadows? Quá, quá, quá, quá, quá. Shadows, tiozinho? Quá, quá, quá, isto é Ape Man”.
Felizmente, a cousa passou discreta, porque entretanto Clarence era interpelado por todos os passantes. Com palavras de saudação, respeitosas, e cúmplices. “Então, Mad Dog? Boa, Mad Dog! Mais um concerto, Mad Dog? Jubilado, Clarence confrontou as delegações da Suécia e da China que o acompanhavam: “então, não dizem nada?”. Dizemos, dizemos. Onde estão as gajas?
Já se sabe, o nosso Clarence não resiste a uma provocação destas. E vai daí aplicou o seu charme Mad Dog junto da Lolita, de sardas artificiais e cabaia- vá lá, um apontamento etno-linguístico, Cheong Sam ou Qipao- que servia às mesas: “então, não me vais ouvir cantar?”.
“Não, vou a um concerto na Moita”. Foi tal a afronta e a desfeita perante as delegações do exterior, que o Mad Dog embatucou nas virtualidades semânticas da réplica, aproveitando o Luís P. para lhe oferecer uma bebida para a voz. “Toma Joe, é bom. É uma espécie de groselha”. Adiante veremos as consequências deste cordial, uma variante tinta do dry martini. Metade vermute, metade vodka, em copo grande. Sem gelo.
O Landru, sem que ninguém desse conta, ia celebrando a meteórica ascensão a secretário-geral, rilhando copo atrás de copo, ao ritmo imaginário dos…Shadows. Bom, eis que chegam os Santeros e soava o primeiro aviso fasten your seat belts.
A ‘little turba’ esgueirou-se para o exterior, para o passeio ribeirinho da Avenida da Praia, ao Mareado, convicta de que o Landru iria enrolar um telescópio afegão. Só que…o Landru jogava a mão direita ao bolso do mesmo lado e a mão entrava na algibeira esquerda; descia a mão esquerda para o bolso desse lado e a pata teimava em entrar na algibeira direita. Com desagradáveis implicações ao nível da amplitude das rotações e do equilíbrio em geral. E da vontade de fumar em particular.
Desmotivados, partimos para o concert hall e quanto ao Landru, soube-se mais tarde, foi salvo por um anjo que o levou para Lisboa. Como a Madre Teresa fazia em Calcutá.

Uma agradável surpresa

Entrámos no caveau, já os Santeros, duas guitarras e uma bateria, acertavam batidas e acordes. E o que se seguiu foi uma agradável surpresa.
Os Santeros tocam razoavelmente bem, se bem que por vezes enveredem por zonas de energia em que a expertise é de difícil discernimento, dir-se-ia uma falsa banda de garagem, trocam de instrumentos durante o espectáculo (Lyotard? Pós-Punk?) e limitam as intervenções vocais a uma espécie de pregões anarquistas. Tequiiiiiiilla. Pooooolvo. (Matriz Universal). Relegando a dominância anglo-saxónica para a marca das guitarras.
Eis que chegava o momento mais aguardado da noute. A. Carapinha anunciava a actuação do “grande”, “incontornável”, “mítico bluesman do Cais do Sodré”, ele próprio, ao vivo, MAAAAAAAD DOG CLARENCE.
Acreditem, a casa, esgotada, quase ia abaixo. Uma ovação singular atestava bem a boa conta em que Mad Dog é tido nos circuitos para-comerciais da música alternativa. MAAAAAAAD DOG CLARENCE.
Mad Dog que confraternizava ao balcão com sus apoiantes- “Joes, vocês foderam-me com aquelas groselhas”-, arrancou para o palco um tudo nada mareado. Agarrou no mic, apanhou a embalagem do ritmo simples dos blue e atacou, como peça de abertura, um untitled. Frisson.
Da garganta de Clarence, do que ela dava, repetia-se, em carrossel, qual mantra ou mnemónica, Maaad Dog. Maad Dog. Maad Dog. Maad Dog. Nada mais. Maad Dog. Maad Dog.
Imagine-se que um dos liceais que assistia ao concerto, quem sabe, filho de um nosso antigo aluno, volta-se para os colegas e, com aquele ar feliz de quem descobre a gravidade, e bolsa: “este gajo não canta um caralho”. Não resisti pedagogicamente. “Ó imbecil, mais respeito. Não percebes que Dog é anagrama de God. Daí a repetição…aventesma que sai à noite sem reler o argumento ontológico de Santo Anselmo.
Melhor ficaria a contestação de Gaunilo, a partir da experiência do idiota : “In the face of signifying discourse, certainly understands that there is an event of language”, vox, human voice, “but cannot in any way grasp the meaning of the statement”.
Não tardou a tosse, mais ou menos convulsa, e foi tempo de sacar a harmónica, silvá-la, e executar o movimento característico dos grandes deste instrumento: a descida encarpada ao solo. Porque a interpretação o consumiu, com a ajuda das notórias groselhas do Luís P., Mad Dog quedou-se no solo, qual James Brown em transe, ou um mau episódio de Voodoo. Foi resgatado pelos Santeros. Pediram uma grandiosa salva de palmas e anunciaram: agora, o Mad Dog vai descansar!
O nosso Clarence procurou abrigo junto das delegações da Suécia e da China que acompanhavam o suicídio ritual ao balcão. "Boa Joe, grande actuação. Mas acho que os Santeros te andam a foder. Vamos embora."
Saímos e já junto à Avenida da Praia escutámos uma nova ovação. No banco de jardim, fronteiro ao Mareado, lá estavam o João Leão Neves, o Jota Murinello, o José “Barroca”Barros e o Raúl “Panzerbull”Ferreira. E o Sheik. Não quiseram faltar a esta jornada inesquecível.

(continua)

JSP

Por Ségolène Royal e contra Sarkozy

Alguns dos maiores cientistas e filósofos, escritores e actores da França actual tornaram público um Manifesto de Apoio à Candidata da Esquerda. O filósofo, Jacques Bouveresse, o cineasta Costa-Gravas, o escritor Philippe Sollers e o cientista Axel Khan, englobam um colectivo de mais de sete dezenas de subscritores que o Liberation, clicar aqui, publicou.

"Por: porque Ségolène Royal assume a palavra e a promessa de uma Esquerda que aprendeu com os seus erros e divisões, que se questionou, reinventou e renovou. O seu Pacto Presidencial, a sua campanha participativa e os seus objectivos socialistas mostraram: ela incarna uma França que não renunciou nem aos seus valores sociais nem às suas ambições democráticas, uma França em movimento, aberta e criativa. Por: porque ela coloca a questão social no centro das suas preocupações estratégicas, perturbada com o futuro dos trabalhadores e fazendo barragem à oligarquia financeira. Porque ela se engaja também por uma renovação profunda das Instituições, querendo pôr fim aos abusos do poder presidencial e, dessa feita, restaurando a democracia parlamentar. Porque também representa uma França nova, feminista e ecologista, multi-étnica e universalista, protectora e dinâmica. Porque quer uma República para todos e sem discriminações, associando o interesse geral aos direitos das minorias, solidária dos desprotegidos e apostando no combate pela paz no Mundo."

"Contra: porque Nicolas Sarkozy incarna uma direita monolítica e radicalizada, sofrendo a pressão da extrema-direita, dos seus pavores e raivas. A sua campanha, os seus excessos e as suas provocações mostraram tudo isso, como já o tinha anteriormente demonstrado na violência que empregou contra os rivais do seu espaço político. Os seus discursos oportunistas e as suas promessas falaciosas não iludem: tudo lhe serve para conquistar o poder. E de tudo se servirá para o guardar. Porque sabemos de experiência feita: enquanto não forem alteradas as regras do poder de Estado, a Presidência da República permanecerá um forte inexpugnável. Confiar a mais alta magistratura a um tão exacerbado demagogo, é correr o risco de uma prolongada confiscação do poder para o proveito de uma casta, de um grupo e de um clã. Contra: porque longe de acalmar as crises que afectam a França, a eleição de Nicolas Sarkozy teria tendência para as agravar. Em primeiro lugar, agravar-se-ia a crise social, porque ele entende dar ainda mais aos que já possuem muito, aumentando os privilégios privados e reduzindo as solidariedades públicas. Depois agravar-se-ia a crise política, porque deseja reforçar o poder presidencial, acaparando os plenos poderes em detrimento dos contrapoderes. Por fim, a crise da identidade nacional não seria poupada, porque tem uma visão étnica, comunitarista, digamos religiosa, da política, a que alimenta o choque desastroso das civilizações."

"Aos eleitores do Partido Comunista e da extrema-esquerda, que assumem uma exigência social e internacionalista, aos eleitores dos Verdes e de José Bové, que operam numa postura ecologista e altermundialista, aos eleitores de François Bayrou, que defendem uma exigência democrática e ética, aos eleitores da direita e do centro, que se definem por uma exigência de seriedade e de moderação, nós afirmamos que só a eleição de Ségolène Royal pode garantir a abertura desses objectivos principais e o diálogo consequente e permanente, no respeito da diversidade".


FAR

Sinais


Desenho de Maturino Galvão

MayDay


Como os leitores atentos notarão, tenho andado um bocado afastado destas lides, confesso que por alguma saturação. Tanto, que nem sequer por aqui anunciei e comentei o MayDay, a manifestação global de trabalhadores precários, artistas, imigrantes, trabalhadores-estudantes, etc., que este ano se realizou também em Lisboa pela primeira vez. Também falhei na minha intenção de marcar presença, devido aos arreliadores efeitos de uma noitada. Penitencio-me! Mas, como o mal está feito, deixo os leitores com a ligação para o blogue criado como suporte à iniciativa.
Esta inciativa, devo dizê-lo, parece-me notável. Os sindicatos, infelizmente, vivem amarrados a velhas lógicas e ao interesse dos seus filiados, completamente desligados deste "novo protelariado" onde germina a criatividade das lutas do Século XXI. Pois se o 1º de Maio não vai aos precários, vão os precários ao 1º de Maio. Aguardo por um relato de amigos que lá estiveram, mas espero ter sido um êxito.

Obrigado, André!

Nós, os socialistas, só temos de agradecer a existência blogosférica dessa personagem chamada André Azevedo Alves. Com pérolas como esta, que se vão repetindo a uma cadência notável, a criatura mais não conseguirá que lançar o chamado "liberalismo" no mais absoluto descrédito. Honra lhe seja feita.

terça-feira, 1 de maio de 2007

Niassa .4


Da série "Terra Incógnita". Niassa 2001/2005. Moçambique

Foto de Sérgio Santimano