sexta-feira, 18 de novembro de 2005

Nomadismo e miscigenação (2)

Os heróis reais da libertação do Terceiro Mundo terão sido, na realidade, os emigrantes e os fluxos de populações que destruiram as velhas e as novas fronteiras. Com efeito, o herói pós-colonial é quem transgride constantemente as fronteiras territoriais e raciais, quem destrói os particularismos e aponta a direcção de uma civilização comum. O comando imperial, pelo contrário, isola as populações na pobreza e só lhes permite que ajam envergando as camisas de forças das nações subordinadas pós-coloniais. O êxodo do localismo, a transgressão das alfândegas e das fronteiras e a deserção da soberania foram as forças efectivamente operantes na libertação do Terceiro Mundo. Aqui, mais que em qualquer outro lado, podemos reconhecer claramente a diferença estabelecida por Marx entre a emancipação e a libertação. A emancipação é a entrada de novas nações e novos povos na sociedade imperial de controlo, com as suas novas hierarquias e segmentações; a libertação, em contrapartida, significa a destruição das fronteiras e mobilidades estabelecidas de migração forçada, a reapropriação do espaço e o poder por parte da multidão de determinar a circulação global e a mistura dos indivíduos e das populações.

Michael Hardt
e Antonio Negri in Império, Ed. Livros do Brasil, pag. 397

Diário Socrático (4)

17/11/05

Chamem a polícia! Ôôôô!
Chamem a polícia!

Onde é que eu já ouvi isto?...
Bem, não importa.
A noite ontem acabou mal, mesmo muito mal. Também quem me mandou a mim sair de casa naqueles trajes ridículos? É claro que o estúpido do segurança não me reconheceu quando tentei entrar em casa. E vai de chamar reforços e, quando dei por mim, estava a levar castanha daqueles matulões. Eu dizia “Sou o primeiro... sou o primeiro...” e eles riam-se alarvemente e respondiam “Pois e eu sou o José Castelo Branco...”. Por fim, só lhes dizia “Na cara não... na cara não...”.
O miúdo, que tinha assistido a tudo aquilo com um ar que me pareceu divertido, resolveu intervir e pediu aos matulões que parassem. Os tipos olharam para ele com respeito e pararam.
Acho que começo a ter problemas com a autoridade. Hei-de ter uma conversa com o miúdo. Aquilo dos complementos das reformas até correu benzinho. Só fiquei chateado por não terem incluído uma ideia minha, que era a seguinte: “Terão direito ao complemento de reforma todos os maiores de 80 anos que se apresentem acompanhados pelos respectivos progenitores.”. Não aceitaram esta ideia. Fartei-me de lhes explicar que esta ideia se baseava num papel que eu vi afixado num café onde se podia ler “Só se vende fiado a todos os maiores de 90 anos acompanhados dos respectivos pais” e o dono do café garantiu-me que o aviso funcionava às mil maravilhas. Espero que não se arrependam...
A Lurdes telefonou-me toda contente a dizer-me que tinha conseguido que um sindicato dos profs. tinha desconvocado a greve de amanhã. Grande coisa! Um sindicato! Há mais de uma dúzia de sindicatos de profs.!

Murais do muro da Palestina (1)


José Pinto Sá

Outono na cidade branca

"Quando é que despertarei de estar acordado?"
Álvaro de Campos

quinta-feira, 17 de novembro de 2005

Um debate democrático

-Desconfio que a democracia não resulta. Juntam-se astronautas, bodes, camponeses, galinhas, matemáticos e virgens loucas e dão-se a todos os mesmos direitos. Isso parece-me um erro cósmico. Desculpa.
Desculpei mas fiquei ofendido. Que a democracia era aquilo mesmo, e ainda com conversa fiada como brinde, isso sabia eu. Que mo viessem dizer, era outra coisa. Fiquei ainda mais ofendido, até porque não gosto de erros cósmicos. Acho um snobismo.
-Eu sou democrático - rugi entre dentes, como resposta. - Tenho amigos no exílio, todos democráticos. Foram para lá por serem democráticos. É um sacrifício que poucos fazem, ir para o exílio e ser professor universitário exilado e democrático. Eras capaz de fazer isso ?
- Não sou democrático.
Não havia resposta a dar. Nenhuma.
Ele não era democrático, não sabia de democracia.
Eu sim, sou democrático, até já quis ir à América, que me afirmaram que lá é que é a democracia. Recusaram-me o visto no passaporte, disseram que eu era comunista!
Viram isto ?
*
Mário-Henrique Leiria, Contos do Gin-Tonic

Nomadismo e miscigenação (1)

Se derrubarmos os muros que cercam o local (e separarmos, portanto, o seu conceito do de raça, de religião, de etnicidade, de nação e de povo), podemos fazê-lo comunicar directamente com o universal. O universal concreto é aquilo que permite à multidão passar de lugar em lugar e tornar cada lugar o seu próprio lugar. Tal é o lugar comum do nomadismo e da mestiçagem. É através da circulação que se compõe a espécie humana comum. Orfeu de múltiplas cores e de um poder infinito: é através da circulação que é constituida a comunidade humana. Fora de qualquer nuvem das Luzes ou de qualquer fantasia desperta kantiana, o desejo da multidão não é o Estado cosmopolita mas uma espécie comum. Como num Pentecostes secular, os corpos misturam-se e os nómadas falam uma língua comum.

Michael Hardt e Antonio Negri in Império, Ed. Livros do Brasil, pp. 396-397

França: depois da tormenta, as análises

Foi interessante o debate feito no programa “Arret sur Image” , do canal France 5, que dissecou a forma como os media estrangeiros fizeram a cobertura dos últimos acontecimentos em França. Durante as duas semanas em que muitos jovens incendiaram praticamente a vida politica e o quotidiano francês, a visão jornalística passada nos diversos países foi curiosa. Daniel Schneidermann, o pivot do programa que semanalmente analisa o uso e abuso das imagens na informação diária das televisões, considerou que a comunicação social internacional exagerou. E disse mesmo que entrou no campo da ficção ao comparar a situação francesa com a Intifada ou existência de um estado-de-sítio criado pelos muçulmanos. "A insurreição muçulmana em França, é o destaque principal do debate desta noite. Se não acredita no karma, depois desta estória, não sei o que lhe poderei dizer mais...”, dizia Bill O'Reilly, o apresentador da norte-americana Fox News, na abertura do seu programa. O'Reilly, conhecido pelas suas posições pró-W.Bush, foi buscar a oposição francesa à invasão do Iraque para criticar Dominique de Villepin, sem se importar minimamente em pronunciar bem o seu nome.
Já o correspondente da BBC, John Simpson, que participou no programa, considerou que lhe foi difícil cobrir os protestos e os incêndios. "o difícil foi encontrá-los, não aconteceu como estava á espera. No entanto, encontrei algo diferente do que muita gente pensava: não foi uma guerra”, disse.
Daniel Schneidermann considerou ser inevitável em televisão não haver distorção da realidade, devido á natureza do media. As câmaras focam o que mais interessa, que neste caso foram os carros incendiados. Dão-lhes um destaque muitas vezes desproporcionado. E dá como exemplo as imagens que passaram na televisão russa, que davam a impressão que a França estava toda em chamas. “E é claro que a França não estava a arder”, disse o jornalista e apresentador. No entanto, considerou que algumas das críticas dos media internacionais tinham razão de ser e a França tem de as levar a sério. Destaca, nomeadamente, o falhanço da forma como a França tratou a integração dos imigrantes, e também o não funcionamento do seu modelo republicano. Para Daniel Schneidermann “deve ser levada a sério a observação que os jornalistas ingleses fizeram segundo a qual, a nossa liberdade, igualdade e fraternidade é uma treta há mais de 50 anos”.

The Lady



Maurenn Dowd tem pêlo na venta. Pensa que os homens têm medo de mulheres com capacidade crítica. Para ela Clinton é um púdico.

Entre flirts, engates e boas histórias, Maureen é mais divertida, e menos reaccionária, qu'a Filomena Mónica.

The Redhead and the Gray Lady
How Maureen Dowd became the most dangerous columnist in America—on her own, very female terms.


By Ariel Levy

Possibly, there are even more naked women at Maureen Dowd’s house today than there were when this place was JFK’s Georgetown bachelor pad in the fifties. They are lounging in the vintage posters, carved into her Deco furniture, painted in huge trompe l’oeil pastorals on the living-room wall. “My girlfriend Michi said, ‘You’ve got to paint clothes on them,’ like you know how they did at the Sistine Chapel?” says Dowd, who is drinking white wine from a goblet with a naked woman carved into its stem. “But I like them. I think they’re kind of campy.”
Michi is Michiko Kakutani, one of Dowd’s circle of extremely close female friends at the New York Times, where Dowd is, of course, the only female op-ed columnist. It’s a post she says she is “not temperamentally suited to,” despite the fact she’s been doing it for ten years and has won a Pulitzer and a passionate army of fans in the process, because Dowd doesn’t like “a lot of angst in my life,” and it is specifically her job to provoke. Her natural inclination—her fundamental drive—is, rather, to seduce. But then those two things are not entirely unrelated.
It isn’t easy being the lone female on “murderers’ row,” as the columnists’ offices in the Washington bureau are called. (And Dowd’s office just happens to be next door to her ex-boyfriend John Tierney’s. “It’s like, ‘Out of all the gin joints in all the world . . . ’ It is weird,” she says. “We share a bathroom, which I guess could have ended up happening if we’d gotten married.”) Dowd says she doesn’t mind that W. has nicknamed her “The Cobra,” and she probably kind of likes being called “the flame-haired flamethrower,” but she hates all monikers that involve knives or other sharp objects. “I have a fear of castration,” she explains, perching herself with catlike precision on the striped settee in her lacquer-red sitting room. “Not fear of being castrated but fear of castrating.” This from a woman who once referred to Al Gore as “practically lactating.”
(...)
Brains versus sex. The serious and the superficial. The battle of the sexes. This has long been the terrain of Dowd’s journalism, and it’s the explicit focus of her new book, Are Men Necessary?, 338 pages of ruminations and witticisms on matters ranging from the Anita Hill–Clarence Thomas hearings to the vestigiality of male nipples.
(...)
Aqui

quarta-feira, 16 de novembro de 2005

A Justiça e os reformados milionários

Não há nada melhor do que conferir os factos para que se tirem conclusões o mais objectivas possível. Por isso veja AQUI a lista de aposentados no ano de 2005, entre o mês de Janeiro e Novembro. Pretende-se com isto perceber um pouco mais sobre toda a polémica que envolve a justiça e o governo de Sócrates. O sector considera que não é justa a abolição de algumas regalias, pois é um órgão de soberania, e o governo acha que a lei portuguesa também é aplicada aos magistrados, porque eles não são australianos nem filandeses. Têm passaporte português e por isso estão sujeitos às leis nacionais. Por isso fica aqui a pergunta, adaptada de uma frase de Vital Moreira: sabia que 9 em cada 10 pensões de reforma superiores a 5.000 euros pertencem a magistrados? Com a devida vénia à Câmara Corporativa.

Pela liberdade na Blogosfera

Começou mal mas acabou bem. O nosso colega do blogue “Do Portugal Profundo” foi absolvido pelo Tribunal de Alcobaça. António Caldeira respirou de alívio quando o juíz considerou que não tinha violado a lei do segredo de justiça. Em causa estava um despacho que proibia a divulgação de excertos do processo Casa Pia aos jornalistas. Ora, António Caldeira é professor e alegou desconhecer a lei. O Tribunal também considerou que o despacho não o atingia, uma vez que não o inibia de divulgar as peças processuais, que afinal, não eram tão secretas como isso. Na altura da investigação, todos os dias podiam ser vistos na imprensa excertos do processo. Este caso iniciou-se em 2004. Além da matéria da investigação em curso do processo Casa Pia, Caldeira divulgou igualmente parte do relatório do SIS: «A Pedofilia em Portugal: Ponto da Situação», de 1999. Vá ao Do Portugal Profundo e deixe-lhe um abraço. Pela cidadania e em nome do direito à liberdade na blogosfera.

EPIGRAMA


Foto de Francesca Pinna


Os teus lábios, digo-te, não são doces
como mel.

(O mel
acaba por enjoar).

Mas são doces, os teus lábios, digo-te.
Mas doces como quê?
Ora, doces como eles são.

Doces?

Sim, olha, doces como o pão
que todos os dias comemos
sem fartar.

Rui Knopfli

terça-feira, 15 de novembro de 2005

DIÁRIO SOCRÁTICO (3)

16/11/05


Quem quer quentes e boas, quentinhas
A estalarem, cinzentas, na brasa...

Onde é que eu já ouvi isto?...
Bem, não importa.
A porcaria da impressora encravou justamente quando imprimíamos aquela foto do leopardo a correr na savana.
Ainda agora consigo lembrar-me do olhar que o mais novo me deitou nesse preciso momento.
A culpa não foi minha. Tinha notificado a minha secretária acerca da substituição dos cartuchos de impressão. Pensava que tudo estava bem.
Tentei remediar a situação com uma proposta de saída para a rua. Íamos comprar castanhas assadas e comê-las de regresso a casa.
Disse ao miúdo:
“Vá lá, calma, o pai vem já... È só mudar de roupa... Dá-me meia-hora...”
Saí da sala e fui para o meu quarto. Telefonei à Segurança a informar que ia sair à rua com o meu filho mais novo para comprar castanhas assadas. O Chefe da Segurança assegurou-me que iria mandar três agentes para nos acompanhar e pediu que o informasse acerca do trajecto que pensava fazer. Respondi-lhe que sim e disparei na direcção do armário. Procurei uma roupa informal e só me apareceram fatos completos num tom cinzento. De repente, vislumbrei num canto umas coisas amarrotadas: eram uns ‘macacos’ oferta do GREENPEACE de quando fui Ministro do Ambiente. Vinham mesmo a calhar. Num ápice enverguei-os. O puto ficou louco quando me viu aparecer na sua frente.
“Ih, pai ‘tás mesmo cool...”
Fiquei tão deslumbrado com aquela reacção que até me esqueci de avisar o Chefe da Segurança e lá saímos os dois...

Local: Stallet
Endereço: Stallgatan 7, Estocolmo
aqui

Associação Ponte Moçambique - Suécia
a-ponte@hotmail.com

Esclarecedor

José Sócrates anunciou, com pompa e circunstância, o aumento do salário mínimo nacional em 3 por cento, "acima da inflação, que será de 2,3 por cento". Na prática isto traduz-se num aumento de 11,20 euros mensais, dos actuais 374,70 para 385,90 euros. No entanto, se tirarmos os tais 2,3 por cento da inflação, verificaremos que o aumento real, ou seja, aquilo que os cerca de 250 mil portugueses que recebem o salário mínimo irão ver crescer nos seus orçamentos, será de 2 euros e 69 cêntimos. Curiosas foram as reacções dos patrões: Van Zeller, da CIP, anunciou em tom de pânico que «para as empresas, poderá ser importante e algumas delas poderão fechar» devido a este aumento de 11 euros. Único comentário possível: mas que raio de empresas são essas que não aguentam um aumento destes? Pelo contrário, José Silva, da CCP, não se importa com o aumento porque (sic) «trata-se de apenas alguns cêntimos». Mais esclarecedor não podia ser.

segunda-feira, 14 de novembro de 2005

Diário Socrático (2)

15/11/05

Os meninos à volta da fogueira... Lá... lá... lá...
Onde é que eu já ouvi isto?...
Bem, não importa.
O que é certo é que estas coisas da França dão que pensar.
Qualquer dia, anda aquela malta da Cova da Moura ou do Bairro não-sei-quantos-de- Maio a querer candidatar-se a um programa de Auto-Grill e o Ministro das Finanças a dizer-me que não sabe se há linhas de financiamento e eu que me esmifre. Caramba, que sobra tudo para mim!
Ainda falta uma data de tempo para recomeçar o campeonato de futebol. Estes gajos são parvos ou quê?!
Querem lixar-me. Vou telefonar ao Ministro da Justiça.

Cesariny (1)


O RAUL LEAL ERA

O Raul Leal era
O único verdadeiro doido do "Orpheu".
Ninguém lhe invejasse aquela luxúria de fera?
Invejava-a eu.

Três fortunas gastou, outras três deu
Ao que da vida não se espera
E à que na morte recebeu.
O Raul Leal era
O único não-heterónimo meu.

Eu nos Jerónimos ele na vala comum
Que lhe vestiu o nome e o disfarce
(Dizem que está em Benfica) ambos somos um
Dos extremos do mal a continuar-se.

Não deixou versos? Deixei-os eu,
Infelizmente, a quem mos deu.
O Almada? O Santa-Ritta? O Amadeo?
Tretas da arte e da era. O Raul era
Orpheu.

In O Virgem Negra

DIÁRIO SOCRÁTICO


14/11/05
Aqui está tudo bem. Aqui está tudo tão bem...
O Sol é mesmo de ouro e a Lua é toda de prata e quando chove só caem diamantes...

Onde é que eu já ouvi isto?...
Bem, não importa. Não há notícias de carros a arder, nem de putos nas ruas. A Justiça funciona. O Orçamento lá foi aprovado. A malta encheu os centros comerciais e hipermercados e fez compras para o Natal que se avizinha. Bendito São Martinho que veio na hora certa. Já avisei a malta do Conselho de Ministros para se controlar nos cartões de crédito. Estou farto de problemas com o Banco de Portugal.
A senhora Ministra da Educação meteu o pé na argola. Os profs. de Filosofia só dão aulas ao Secundário... como é que podiam substituir os profs. de Educação Visual?...
Pois. Ela esquece-se ou talvez nem saiba que há escolas que só têm um ciclo de ensino: o secundário. De qualquer modo, apareceu em frente às câmaras com um penteado execrável.
Vamos ter uma conversa antes do próximo Conselho...
O Jerónimo cascou no Alegre e o Alegre respondeu-lhe, graças a Deus que o Mário não deu por nada. Ainda bem que o Cavaco continua mudo e o palerma do Louçã deve ter ido à Feira do Chocolate a Óbidos.
Digitalizámos as fotos do Quénia. Ficaram espantosas!
Acho que me espera uma semana propícia.

domingo, 13 de novembro de 2005

Gotham City


Foto de Francesca Pinna


Segue-se o:
"BARCLAYS NA SEDE DO EXPRESSO" - PRIMEIRA PÁGINA

O arquitecto lança-se para outros voos e no telhado Henrique Monteiro diz adeus ao maoísmo - Possível legenda da foto da 1ª página da edição de 12 de Novembro de 2005

sábado, 12 de novembro de 2005

A esquerda e a direita entre o céu e o inferno

Há muitas formas de abordar a questão francesa, mas todas elas tem de se reportar aos problemas reais que se vivem hoje. São fruto de um acumular de tensões e situações, que começaram timidamente há quatro décadas, com as descolonizações, e revelaram-se de forma mais nítida e com maior impacto, há pouco mais de duas. Actualmente, com a globalização, tudo se agravou, nas mais diversas vertentes. Por isso, considero que fazer uma análise do que se passou à luz dos acontecimentos do Maio de 68 é tão desactualizada como as músicas do Engelbert Humperdinck. Mais coisa menos coisa. E porque hoje é sábado, um dos dois dias de preguiça que o Estado-Providência me concede semanalmente, socorro-me de um artigo de opinião para o debate. Tem o título "França e a cartilha do Ocidente", e é assinado pelo Henrique Monteiro. Agora que os fogos estão a passar rapidamente e em força para as lareiras dos lares franceses.
*
(...) A forma mais simplista de contar a história é afirmar que esta é uma revolta da juventude, nomeadamente pelo facto de Sarkozy ter chamado «escumalha» aos jovens dos subúrbios. Mas, verdadeiramente, ninguém acredita que isto mesmo não acontecesse, mais dia menos dia, sem a colaboração destemperada de Sarkozy. Outro modo simplista de encarar a história é, concordando com Sarkozy, achar que todos estes jovens são, de facto, «escumalha».
*
Ambas as versões são, em parte, verdade e, em parte, mentira. Há uma revolta latente e, como em quase todos estes acontecimentos, há uma «escumalha» que se aproveita. Perante isto, a sociedade olha com algum espanto. Logo em França, que enche a boca com o seu modelo social e a sua integração exemplar - a pátria da liberdade e da igualdade. Logo em França, onde chovem subsídios para tudo e mais alguma coisa: para a integração de africanos e magrebinos; para a alfabetização das minorias; para o acolhimento aos imigrantes.
*
Escapa-nos, porém, o essencial. Escapa-nos que esta segunda geração, já educada na Europa, não tem a mesma motivação dos pais. Estes imigraram para fugir à miséria (à verdadeira miséria e não ao que se chama miséria dentro da Europa). Trabalharam e trabalham como cães, nos empregos mais difíceis e mais desqualificados, conseguindo, com o pouco dinheiro que ganham, mandar parte para a terra e sonhar com um futuro melhor para os filhos. Os portugueses bem conhecem esta saga; «mutatis mutandis» foram parte dela em França.
+
Mas a segunda geração, educada entre nós, ouviu a cartilha cultural pós-moderna. Uma cartilha contra o «melting pot», a favor da afirmação da diferença; uma cartilha de irresponsabilidade pessoal e de dependência social do Estado; uma cartilha que coloca todos os benefícios no tempo presente e todos os sacrifícios como dispensáveis. É esta nossa cultura que contribui decisivamente para a tribalização da sociedade e para o fim da ideia da recompensa diferida.
*
O que os jovens dizem na rua é que não se sentem franceses, nem belgas, nem alemães, em parte porque lhes ensinaram que nada havia de maravilhoso em se ser europeu; pelo contrário, hoje em dia, ser-se europeu é sinónimo de pertencer a um continente que fez coisas terríveis na história (apesar de isso ser tão verdade para a Europa, como para a Ásia ou a África). O que hoje os jovens pensam é que não é necessário trabalhar duro para mais tarde terem uma recompensa. Apenas sabem que não têm o que lhes prometeram - um reino de facilidades sustentadas pelo Estado e repleto de assistentes sociais e ONG que velam por eles.
Claro que também não é apenas isto que conduz os jovens à violência. Mas é também isto. E este talvez seja o aspecto de que menos falamos; a culpa que menos assumimos; a responsabilidade que menos reconhecemos.
Henrique Monteiro, in"Expresso" 12.11.05

Fogo e Ritmo

Sons de grilhetas nas estradas
cantos de pássaros
sob a verdura húmida das florestas
frescura na sinfonia adocicada
dos coqueirais
fogo
fogo no capim
fogo sobre o quente das chapas do Cayatte.
Caminhos largos
cheios de gente cheios de gente
em êxodo de toda a parte
caminhos largos para os horizontes fechados
mas caminhos
caminhos abertos por cima
da impossibilidade dos braços.
Fogueiras
dança
tam tam
ritmo
Ritmo na luz
ritmo na cor
ritmo no movimento
ritmo nas gretas sangrentas dos pés descalços
ritmo nas unhas descarnadas
Mas ritmo ritmo.
Ó vozes dolorosas de África!
*
Agostinho Neto, in "Sagrada Esperança", 1974

Foto de Ivone Ralha


Velas

Os dias do futuro ficam diante de nós
como fila de pequeninas velas acesas –
douradas, quentes, e vivas pequeninas velas.

Os dias passados ficam para trás,
uma linha triste de velas que se apagaram;
as mais próximas soltam fumo ainda,
velas frias, derretidas, e torcidas.

Não quero vê-las; dá-me dó a sua figura,
e dá-me dó lembrar-me da sua luz primeira.
Olho para a frente para as minhas velas acesas.

Não quero voltar-me para não sentir horror ao ver
que rapidamente se torna longa a linha escura,
que rapidamente se multiplicam as velas apagadas.

Konstandinos Kavafis, ‘Os Poemas’
Trad. J.M.Magalhães e Nikos Pratsinis
Relógio D’Água

sexta-feira, 11 de novembro de 2005

Última Tentação

Man Ray, Retrato solarizado - 1931
*
E então ela quis tentá-lo definitivamente. Olhou bem em volta, com extrema atenção. Mas só conseguiu encontrar uma pêra pequenina e pálida. Ficaram os dois numa desesperante frustação.
Não há dúvida que o Paraíso está a tornar-se cada vez mais chato!
Mário-Henrique Leiria,
Contos do Gin-Tónico

quinta-feira, 10 de novembro de 2005

Crónicas dos anos da brasa (3)

Banlieues : Mai 68 ou Weimar ?

par Didier PEYRAT

QUOTIDIEN : mardi 08 novembre 2005
Didier Peyrat est magistrat
à Pontoise.

Les événements qui se déroulent dans les banlieues françaises prouvent l'échec radical de la droite dans ses politiques de sécurité depuis avril 2002. Mais on aurait tort de ne voir que le bilan piteux de la majorité UMP. Il faut aussi garder les yeux ouverts sur notre criminalité envenimée, et les dégâts qu'elle fait. Face aux propos stigmatisants de Nicolas Sarkozy, il est possible de manifester, de protester, de voter ; il est aussi possible de brûler des milliers de voitures, d'agresser des journalistes, de caillasser des pompiers, de saccager des commerces, de détruire des crèches et des écoles, tout en espérant secrètement que finisse par se produire la «bavure» qui permettra de transformer rétroactivement le sens de toutes ces exactions. Le fait que ce soit systématiquement la seconde option actuellement choisie par nos «émeutiers» rend toute comparaison avec mai 1968 indécente.
Nous savons maintenant que la criminalité est toujours là, tenace, et même envenimée depuis 2002. Elle avait résisté à vingt années de politiques de la ville et à la baisse du chômage entre 1997 et 2002 ; aux démonstrations de virilité télégénique de Nicolas Sarkozy ; comme à l'augmentation des effectifs de police et à la multiplication délirante des infractions dans le code pénal. Mais cette insécurité n'est pas seulement en train de mettre en difficulté le gouvernement actuel. Elle témoigne d'un ébranlement plus profond et en même temps elle l'avive. De cortèges lycéens brutalement dispersés (8 mars 2005) en banlieues périodiquement mises à sac, en passant par les milliers de vols violents de nos espaces publics, elle comprime la démocratie française, en pesant sur de nombreuses victimes. Elle sera exploitée, n'en doutons pas, notamment aux environs de 2007. Mais éludée, contournée, niée dans sa spécificité, elle saura se rappeler, brutalement, à notre bon souvenir.
Cela signifie que, revenue au gouvernement, la gauche n'aurait pas qu'à abolir des lois liberticides ou certains dispositifs douteux mis en place entre 2002 et 2007 : elle aurait à combattre et à faire baisser la criminalité. C'est pourquoi il est décisif d'élaborer une politique de sécurité à la fois clairement de gauche (notamment par le soin apporté à la prévention, le respect scrupuleux du droit et de l'indépendance de la justice) et dépourvue d'angélisme (qui tienne compte en permanence de la réalité de l'insécurité, y compris dans ses aspects les plus durs). Seule une politique durable (c'est-à-dire valable qu'on soit dans l'opposition ou au gouvernement) et non jetable (faite de slogans oubliés dès qu'on est en situation de diriger, parce qu'ils ne tiennent pas la route face au crime réel) est susceptible de faire mentir la malédiction qui semble attachée à la gauche française dans ses rapports avec la sécurité, et qu'on ne trouve nulle part ailleurs en Europe. Les syndicats et partis de gauche devraient aujourd'hui organiser des états généraux de la sécurité en société. Quels seraient les débats qui pourraient y être menés, en essayant de dépasser de vieux clivages ?
1. Combattre la démagogie sécuritaire sans recourir à l'angélisme
(...)
2. Se caler sur la profondeur du besoin de sécurité, pas sur la tactique
(...)
3. Prévenir et éduquer mais aussi punir
(...)
4. Admettre que le changement social a besoin de sécurité
(...)
5. Elargir l'assiette sociale des politiques de sécurité
(...)

Ler aqui
Grito Negro

Eu sou carvão!
E tu arrancas-me brutalmente do chão
e fazes-me tua mina, patrão.
Eu sou carvão!
E tu acendes-me, patrão,
para te servir eternamente como força motriz
mas eternamente não, patrão.
Eu sou carvão
e tenho que arder sim;
queimar tudo com a força da minha combustão.
Eu sou carvão;
tenho que arder na exploração
arder até às cinzas da maldição
arder vivo como alcatrão, meu irmão,
até não ser mais a tua mina, patrão.
Eu sou carvão.
Tenho que arder
queimar tudo com o fogo da minha combustão.
Sim!
Eu sou o teu carvão, patrão.

José Craveirinha

Crónica dos anos da brasa (2)

Banlieues : des territoires abandonnés ?

LEMONDE.FR | 04.11.05 | 11h54 . Mis à jour le 07.11.05 | 20h04
L'intégralité du débat avec Eric Macé, chercheur au Centre d'analyse et d'intervention sociologique (EHESS - CNRS) et maître de conférences à l'université Paris-III et à l'IEP de Paris, lundi 7 novembre, à 12 h .
(...)
Eric Macé : La responsabilité est collective depuis vingt ans. Concernant la responsabilité de Nicolas Sarkozy, il faut revenir à la présidentielle d'avril 2002. La droite a gagné la présidentielle de 2002 sur la base d'une campagne électorale ultra-sécuritaire, en discréditant la gauche sur cette question, au point que la gauche elle-même avait adopté ce langage ultra-sécuritaire. Donc, la droite a gagné sur une campagne finalement d'extrême droite, et la mission qui a été confiée à Nicolas Sarkozy par Jacques Chirac était d'incarner cette droite dure afin de satisfaire aux demandes sécuritaires de cet électorat.

Mais ce qui est nouveau, c'est que Nicolas Sarkozy ne s'est pas contenté de jouer le rôle qui lui a été imparti par Jacques Chirac. Il a joué son propre rôle de surenchère au sein du gouvernement sur les questions de sécurité. Et donc le résultat, c'est qu'il en est venu à incarner à lui tout seul la question de sécurité, à incarner à lui tout seul l'ordre de la police, et il se retrouve donc dans un face-à-face direct avec les jeunes, ce qui explique aussi le nouveau rôle joué par les médias. Puisque, dorénavant, chaque voiture qui brûle a un effet direct sur l'autorité gouvernementale, car Nicolas Sarkozy a ruiné l'ensemble des médiations qui permettent de faire tenir des politiques publiques de sécurité.

Sur le terme "racaille", j'ai un peu répondu. La fin du gouvernement Jospin a été une période de durcissement sécuritaire de la gauche, précisément en prévision de l'offensive sécuritaire de la droite. On a aujourd'hui au PS des dirigeants qui tiennent le même type de discours sécuritaire que la droite, qui sont des discours qui finalement empêchent de penser les situations en utilisant des termes qui sont des attrape-sens commun, qui vont dans le sens d'un imaginaire des banlieues comme menace et qui contribuent à dépolitiser la question des inégalités, des exclusions et des discriminations.
(...)
Eric Macé : Dans les banlieues populaires, il y a une intelligence des situations. Pour tout le monde, il est clair qu'en temps ordinaire les violences économiques, sociales, symboliques qui s'exercent sur les habitants des banlieues populaires sont parfaitement invisibles. Et donc il est parfaitement clair pour tous que les émeutes sont l'un des rares moyens qui permettent, par la violence émeutière, de rendre visible cette violence structurelle. C'est comme si l'on reprochait aux émeutiers de la Commune de Paris d'utiliser la violence contre la République bourgeoise alliée aux troupes d'occupation allemandes dans les années 1870-1871, ou comme si l'on reprochait la violence des guerres de décolonisation.
(...)
Pere Steve : Quelle est la part d'explication spatiale dans l'origine de ces phénomènes ? La ghettoïsation des quartiers bâtis durant les "trente glorieuses" paraît évidente, et me semble à l'origine du phénomène identitaire qui conduit les banlieues de province à se révolter aussi. Quelles seraient alors pour vous les meilleures solutions en matière d'aménagement urbain ?

Eric Macé : D'abord, il n'y a pas de rapport entre l'urbanisme et les effets de ségrégation ou de relégation, puisque si l'on prend l'exemple américain ou anglais, les quartiers de relégation sont des quartiers pavillonnaires et qu'il n'y existe pratiquement pas de grands ensembles.

La question n'est pas à proprement parler une question d'urbanisme, elle est plus large : celle de rapports sociaux, d'exclusion, qui contribuent à enfermer des populations entières dans des sites urbains qui sont abandonnés par les politiques publiques.

On parle beaucoup de mixité, mais là il y a une illusion. La mixité veut dire en réalité déstructurer encore plus les quartiers populaires en chassant une partie de la population pour la remplacer éventuellement par des petites classes moyennes. Donc, au fond, la mixité conduit à radicaliser les tensions internes à ces quartiers.

Il vaudrait peut-être mieux prendre ces quartiers populaires pour ce qu'ils sont : une expérience sociale commune des difficultés de la vie, des ressources personnelles et collectives très importantes, mais qui sont toujours non reconnues, voire disqualifiées, par les aménageurs et par les représentants des classes moyennes que sont les élus. On a des exemples, en particulier aux Etats-Unis, de prise au sérieux de la capacité d'action des acteurs populaires qui conduit à de bien meilleurs résultats que l'imposition d'une mixité finalement désorganisatrice.

Chat do Le Monde
aqui
A PEDRA NO CAMINHO


Toma essa pedra em tua mão,
toma esse poliedro imperfeito,
duro e poeirento. Aperta em
tua mão esse objecto frio,
redondo aqui, acolá acerado.

Segura com força esse granito
bruto. Uma pedra, uma arma
em tua mão. Uma coisa inócua,
todavia poderosa, tensa,
em sua coesão molecular,
em suas linhas irregulares.

Ao meio-dia em ponto, na avenida
ensolarada, tu és um homem
um pouco diferente. Ao meio-dia
na avenida tu és um homem
segurando uma pedra. Segurando-a
com amor e raiva.

RUI KNOPFLI

Crónica dos anos da brasa (1)

Banlieues : qui sont les jeunes en colère ?

LEMONDE.FR | 04.11.05 | 11h56 . Mis à jour le 04.11.05 | 19h04

L'intégralité du débat avec L'intégralité du débat avec Eric Marlière, sociologue, chercheur au Cesdip (Centre de recherches sociologiques sur le droit et les institutions pénales). Eric Marlière est notamment l'auteur de "Jeunes en cité, diversité des trajectoires ou destin commun ?" (L'Harmattan, 2005).
(...)
Nina : A votre avis, qu'est-ce qui rend les jeunes si révoltés ?
Eric Marlière : A mon sens, c'est plutôt un sentiment d'injustice et d'inégalité qui, suite à un incident, peut passer à des relents de colère et de révolte. La violence gratuite n'existe pas. Elle fait suite parfois à des violences symboliques telles que les discriminations, l'exclusion sociale qui peuvent s'illustrer dans les banlieues défavorisées.
(...)
François : Pourquoi cette violence touche-t-elle seulement les jeunes ?
Mat : Dans quelle tranche d'âge se situent ces "jeunes" ? Leur organisation en bande est-elle occasionnelle ? Bref, qui commande dans tout ça, car j'imagine qu'harceler la police sans égratignure suppose une organisation.
Eric Marlière : Je ne peux pas parler de concertation entre ces jeunes. Ce qui reviendrait à renforcer une vision paranoïaque de nos cités. En revanche, dans mes travaux, j'ai pu constater chez les jeunes de cités - quelles que soient les trajectoires, aussi bien les diplômés que les salariés, mais encore les "galériens" et les délinquants - l'existence d'un sentiment de destin commun. A travers! leur image médiatique, mais aussi leur traitement institutionnel, que ce soit sur le marché du travail ou à l'école. Même parmi ceux qui ont réussi.
La plupart de la jeunesse, qu'elle soit des cités, de milieux populaires en général, ou même des classes moyennes, depuis une quinzaine d'années, subit une phase de dépression économique, qui fait qu'elle ne connaît pas le même destin que la jeunesse des "trente glorieuses". Ce qui fait que pour beaucoup de ces jeunes, une frustration grandit entre le niveau de vie désiré et le niveau de vie qu'ils ont actuellement lorsqu'ils comparent les trajectoires sociales et économiques, parfois miraculeuses, de leurs parents ou de leurs aînés.
(...)
Gimli007 : Pourquoi ces jeunes agissent-ils chez eux en détruisant leur environnement direct et pas à l'extérieur des banlieues ?
Eric Marlière : Les jeunes qui investissent régulièrement l'espace résidentiel ont fait de ce territoire leur espace. Et parfois, ils se trouvent pris dans cet espace, dans lequel ils peuvent circuler. Par ailleurs, les autres espaces publics leur sont plus ou moins fermés.
Ce qui fait qu'ils se retrouvent à la fois propriétaires symboliques de cet espace, mais en même temps prisonniers. Et cet espace, finalement, est non seulement un lieu de sociabilité commun, mais aussi un espace où ils peuvent faire toutes sortes d'activités, dont celle, médiatique actuellement, de vandalisme.
(...)
Mahmoud : N'y a-t-il pas une incompréhension des politiques sur les conditions de vie de ces jeunes ?
Eric Marlière : Le tout répressif n'est pas une solution et, depuis quelques années, les différents dispositifs de prévention ont été amputés d'un grand nombre de leurs budgets. Maintenant, que ce soit de gauche ou de droite, on voit très bien depuis plus de vingt ans que les élus n'ont pas su répondre aux attentes des populations précarisées par le libéralisme, la compétition et la mise en concurrence des individus. Il n'est pas étonnant de voir en 2005 que ces révoltes soient la manifestation de vingt-cinq ans d'échecs des politiques, et plus particulièrement des politiques de la ville.
(...)
Chulo32 : J'habite une cité et je trouve que les adultes (les parents) y sont totalement absents. Le rôle de la société ne serait-il pas d'inciter les adultes à remplir leur fonction de parent ?
Eric Marlière : C'est une très vaste question, ma! is, une fois de plus, il me paraît difficile de condamner des ! parents soumis parfois à la précarité ou assommés par des horaires de travail très lourds et surtout peu rémunérés. Bien entendu, il existe des éducations parentales à géométrie variable, mais les institutions ne sont pas toujours bien plus performantes, malheureusement.
(...)
Chat do Le Monde

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terça-feira, 8 de novembro de 2005

Modelos de integração e fugas

Via Blogue de Esquerda

Segundo o Abrupto, "o modo europeu de 'receber' e integrar os emigrantes envolvendo-os em subsídios e apoios" está em "crise", sendo mais eficaz o "modo americano"que dá "dá oportunidades de emprego e ascensão social". E um leitor do Abrupto considera que a fuga de cérebros da França traduz descontentamento com "o tipo de sociedade, emprego, impostos" franceses.
São teorias interessantes. Por um lado, porque estudos da London School of Economics revelam que os EUA e a Grã-Bretanha são os países ocidentais com menor mobilidade social e maior fosso entre ricos e pobres. Por outro lado, os EUA são também o país com maior número de prisioneiros do mundo em termos absolutos (mais que a Índia, a Rússia, o Brasil) e a aumentar.Suponho que se poderá chamar a isto um modelo de integração de alta segurança.
Em relação à teoria dos cérebros, reparo que segundo um estudo do FMI, alguns dos principais países com fuga de cérebros para os EUA são Taiwan, a Coreia do Sul e as ilhas Fiji, onde milhares de jovens académicos, sufocados com tanto subsídio, só sonham em tornarem-se self-made men americanos.
Jorge Palinhos

Depois de Cahora Bassa, a Luta Continua

Melhor é impossível. O saldo da visita de Armando Emílio Guebuza a Portugal, a sua primeira oficial a um país que não africano na qualidade de Presidente da República de Moçambique, não teve outro resultado senão a mais autêntica tradução desta palavra: vitória.
Trata-se de uma vitória do povo moçambicano, quiçá a maior desde a Independência Nacional. À busca de melhor compreensão da dimensão dessa vitória, talvez devêssemos ousar considerá-la tão importante quanto a nossa independência.
Com efeito, com a reversão da Hidroeléctrica de Cahora Bassa para o controlo do Estado Moçambicano, cumpre-se o desiderato anunciado, a 25 de Junho de 1975, por Samora Moisés Machel: conquista da Independência total e completa de Moçambique.
Não que consideremos que Portugal perpetuou por mais 30 anos a colonização sobre a soberana e auto-determinada pátria moçambicana. O facto é que, a nível económico, Moçambique estava mais que condicionado, senão cativo de proclamar a nova luta a empreender por qualquer Nação independente: o Desenvolvimento.
Temos, para nós, que a conquista de Cahora Bassa é o motor de arranque para esse meio, porque o Desenvolvimento em si não é um fim, é o meio para a realização dos mais supremos direitos de um povo, qual o ditoso objectivo todos os dias apregoado por Sua Excelência o Presidente da República: combate à Pobreza Absoluta.
Por isso, na hora de saudar Guebuza por este triunfo alcançado, julgamos que o dia de festejo foi ontem, hoje é o primeiro dia de cobrança da dívida contraída para com o Povo Moçambicano: rumo ao Desenvolvimento.
Da mesma forma que cumpriu o dito do Marechal segundo o qual “a vitória prepara-se, a vitória organiza-se”, temos para nós que o camarada Presidente elevou a fasquia das aspirações dos moçambicanos em relação à sua capacidade de converter as suas derrotas diárias em conquistas.
Para o futuro de Moçambique, trata-se de um feito mais gigantesco que a conquista da organização de qualquer Campeonato Africano das Nações (CAN) ou Mundial de futebol, maior que qualquer posição de destaque nos rankings mundiais de crescimento económico.
Trata-se de um passo gigantesco para colocar em nossas mãos a definição do nosso destino, inde­pendentemente dos hossanas de Bretton Woods e dos ditames dos donos do mundo.
Se para a solução de tão intricado dossier o Chefe de Estado conseguiu achar a engenharia financeira, é lícito os moçambicanos exigirem que encontre soluções para a resolução dos seus problemas.
Obrigado, camarada Presidente. A Luta Continua!

*
Editorial
In "Savana, Semanário Independente", Maputo 04.11.05

França- da ingenuidade e da má fé intelectual

Acerca dos acontecimentos em França as opiniões podem mudar, o que é natural e saudável. As pessoas podem achar que a resposta deve ser esta ou aquela; podem compreender as razões dos jovens ou achar que os actos eliminam a possibilidade de compreensão; podem não aceitar quaisquer justificações, ou achar que os actos são justificados pela situação em que eles vivem; podem entender que devam todos ir presos, ou que serão necessárias, antes, medidas de reinserção; mas o que as pessoas NÂO PODEM é falsificar, mentir, insultar a inteligência ou mistificar a realidade como fazem estes da direita ultraliberal de vistas tapadas. NÂO PODEM dizer que os jovens vivem bem- são filhos de imigrantes que trabalham nas limpezas, na recolha do lixo ou nas obras, e cuja taxa de desemprego é de 50 %; NÂO PODEM dizer que são islamitas radicais quando se tratam de jovens que nem à mesquita vão, e que ocupam o tempo a beber e fumar charros, actividades muito pouco consentâneas com a militância; NÂO PODEM dizer que têm as mesmas oportunidades que os outros e que só não trabalham porque não querem, quando ninguém dá emprego decente a um jovem vindo de bairro tal com a côr da pele mais escurecida; E NÃO PODEM dizer que isto prova a falência deste ou daquele modelo social (o europeu, no caso), querendo com isso provar a validade da sua teoria laissez faire; os acontecimentos de Los Angeles, então, provariam a falência do modelo americano? É esta simplificação ad nauseum que constitui um insulto à nossa inteligência e define quem a pratica. São, na melhor das hipóteses, meninos betinhos que nada sabem da vida para além dos seus carrinhos desportivos e das suas idas às Docas e aos centros comercias; e na pior das hipóteses gente que está declaradamente de má fé, utilizando esta argumentação suja para tentar defender pontos de vista indefensáveis.

Foto de Ivone Ralha

Portista e portuense.

Homem de música e de teatro.

Com curriculum na Associação dos Naturais de Moçambique.

Especialista em partidos e novos movimentos, esperam-se dele interpretações da nova “Revolução Francesa”, do "Império Americano", dos destinos da Pátria, do fenómeno do aquecimento global, etc.

Para quando, neste blogue, uma lição deste doutrinador das noites?
É um filme a não perder. A estória gira à volta de Nicholas Cage, um vendedor privado de armamento, que encara a sua profissão como se vendesse enciclopédias. O thriller é baseado em factos reais, e ajuda a perceber como este tipo de negociantes se movimentou durante as guerras civis em muitos países africanos. Há referências directas a Angola e Moçambique. O filme, realizado por Andrew Niccol, aponta as baterias às várias administrações norte-americanas e mostra como as negociatas das armas se desenrolam nos bastidores dos diversos poderes em jogo. Grande parte do filme foi rodado na África do Sul. Eu já vi e recomendo.

segunda-feira, 7 de novembro de 2005

E o visitante Dez Mil foi...

Hoje estamos de parabéns. Atingimos as dez mil visitas, número bem redondo. Dez mil em pouco mais de três meses, note-se. Não é o Barnabé, mas é o nosso blogue.
O nosso visitante dez mil acedeu hoje pelas 17:05 via Netcabo em Lisboa. Esteve 13 min. e 31 seg. ligado e viu sete páginas. Utilizou um Windows XP com a versão 6.0 do Internet Explorer.

NR: Todos os amigos do 2+2=5 estão convidados para o repasto comemorativo desta marca. Na próxima 5ª feira à hora do costume, encontro no sítio do costume, e jantar no sítio do costume. Cá vos esperamos.


Ella, de Herbert Achternbusch

tradução Idalina Aguiar de Melo

encenação Fernando Mora Ramos

dramaturgia e direcção de ensaios Isabel Lopes

cenografia José Carlos Faria

desenho de luz António Plácido, Fernando Mora Ramos

interpretação
Clara Joana Mãe
Fernando Mora Ramos José

produção Teatro da Rainha

Teatro Nacional São João
11-20 novembro 2005
ter/sáb 21:30 dom 16:00


duração aproximada [1:30]
classificação etária Maiores de 16 anos

Espectáculo originalmente produzido pela Escola da Noite em 1993.

VIOLENCES URBAINES

1.408 véhicules brûlés, 395 interpellations

NOUVELOBS.COM | 07.11.05 | 10:04



C'est le bilan officiel et définitif de la nuit de dimanche 6 à lundi 7 novembre, 11e nuit d'émeutes. La violence est montée d'un cran. Les policiers ont été la cible de tirs de grenaille. Le mouvement s'intensifie en province Les affrontements ont fait 32 blessés dont 29 policiers.


Ler aqui

Outono (4)


Foto de Ivone Ralha


Eu quero uma casa no campo
Onde eu possa compor muitos rocks rurais
E tenha somente a certeza
Dos amigos do peito e nada mais

Eu quero uma casa no campo
Onde eu possa ficar no tamanho da paz
E tenha somente a certeza
Dos limites do corpo e nada mais

(...)
Eu quero uma casa no campo
Do tamanho ideal, pau-a-pique e sapé
Onde eu possa plantar meus amigos
Meus discos e livros e nada mais

Elis Regina canta
‘Casa No Campo’( Zé Rodrix e Tavito)

domingo, 6 de novembro de 2005

Um sistema em chamas

Não são apenas os subúrbios de algumas cidades da arrogante e chauvinista França que ardem.
A falência e o colapso de um sistema que acolheu e não soube nem quis integrar mão-de-obra barata, sem se lembrar que estes imigrantes haviam de procriar e que da 2ª geração, votada ao abandono e à exclusão económica, social e cultural, porém criada num contexto de uma sociedade de abundância e de consumismo desenfreado. Desta 2ª geração, excluídos, nasce uma revolta que, por enquanto, será prematuro determinar causas. São, sem dúvida, gente excluída; gente posta à margem pelo sistema educativo; gente que da grande cidade tem um olhar de fora.
Os valores cívicos e de cidadania passam-lhes ao lado. Injustiçados e escorraçados em toda a parte. Aprenderam que o dinheiro é a mola real de todas as coisas - esse é o único valor. O essencial é ter dinheiro, daí vêm o respeito, o poder e a credibilidade.
O trabalho, enquanto meio de dignificação do ser humano e como instrumento para a sua emancipação, é visto como a continuação da vida estúpida que os seus progenitores levam.
Falo de França, mas poderia estar a falar de Portugal e da Quinta da Princesa, do Bairro do Picapau e de outros muitos "ghettos" da Margem Sul do Tejo.
Se ainda ninguém citou Brecht, faço-o eu:

DA VIOLÊNCIA
Do rio que tudo arrasta se diz que é violento.
Mas ninguém diz violentas
As margens que o comprimem.

A questão reside, na minha opinião, num sistema educativo fortemente elitista e fortemente desadequado da realidade social. A nova revolução deveria partir de espíritos cultos e avançados, não de 'gangs', não de 'clãs'. Estarei a ser demasiadamente elitista?...

A vergonha da desinformação

Do PÚBLICO on-line:

«Apesar de não existirem provas, a polícia admite que os desacatos estejam a ser coordenados, suspeitando do envolvimento de grupos extremistas islâmicos e aos traficantes de droga, com o objectivo de afastar as forças policiais dos bairros.
Esta versão é, no entanto, rejeitada por quem vive nestas zonas. Apesar de condenarem a violência, os familiares dos jovens envolvidos nos desacatos dizem compreender as razões da frustração dos jovens, confrontados com o desemprego, o racismo, a falta de infra-estruturas nos subúrbios pobres da cidade da Luz.»

Homenagem a Cornelius Castoriadis

Nas condições do mundo moderno, a supressão das classes dominantes e exploradoras exige, não só a abolição da propriedade dos meios de produção, mas também a eliminação da divisão dirigentes-executantes enquanto camadas sociais. Por conseguinte, o movimento combate esta divisão em toda a parte onde a encontrar, e não a aceita dentro de si. Pela mesma razão, combate a hierarquia sob todas as suas formas. Aquilo que deve substituir a divisão social entre dirigentes e executantes e a hierarquia burocrática onde ela se incarna é a autogestão, a saber, a gestão autónoma e democrática das diversas actividades pelas colectividades que as executam. A autogestão exige o exercício do poder efectivo pelas colectividades interessadas no seu domínio, isto é, a democracia directa mais lata possível; a eleição e revogabilidade permanente de qualquer delegado para qualquer responsabilidade particular. O exercício efectivo da autogestão implica e exige a circulação permamente da informação e das ideias. Exige igualmente a supressão das divisórias entre categorias sociais. É, por fim, impossível sem a pluralidade e a diversidade de opiniões e tendências.

Cornelius Castoriadis
, in "Mai 68:La Brèche ". Edt. Fayard.

NB: Este o ponto nuclear programático das teses de C.Castoriadis que Cohn-Bendit imprimiu e fez distribuir por toda a França, no auge da grande revolta.
FAR

Erros que se pagam caro

1.295 véhicules incendiés,
312 personnes interpellées

NOUVELOBS.COM 06.11.05 12:02

C'est le bilan officiel de la nuit de samedi à dimanche, 10e nuit d'émeutes, le plus lourd depuis le début des événements dans les banlieues. Le mouvement s'intensifie en province et atteint le centre de Paris. Les affrontements auraient fait plusieurs blessés.

Des pompiers interviennent dans la banlieues de Toulouse où 40 voitures ont été incendiées dans la nuit de samedi (Sipa)
Des pompiers interviennent dans la banlieues de Toulouse où 40 voitures ont été incendiées dans la nuit de samedi (Sipa)

E n tout, 1.295 véhicules ont été incendiés et 312 personnes interpellées en France dans la nuit de samedi 5 à dimanche 6 novembre, soit le bilan le plus lourd depuis le début des émeutes dans les banlieues il y a dix jours, selon le bilan définitif de la direction générale de la police nationale.
En province, le nombre des véhicules brûlés a atteint 554, soit plus du double de la nuit précédente (241).
En région parisienne, 741 véhicules ont été détruits par le feu. Les départements des Yvelines et de la Seine-et-Marne ont connu une augmentation des violences, alors que le Val D'Oise est en baisse. Les autres départements de la couronne parisienne sont "stables", selon la même source.
Le nombre précis de véhicules incendiés au centre de Paris n'a pas été précisé.
En province, les régions les plus touchées par ces violences ont été le Nord, l'Eure, l'Eure-et-Loir, la Haute-Garonne et la Loire-Atlantique.

50 à 70 véhicules brûlés à Evreux

Les incidents les plus graves étaient signalés en Normandie à Evreux (Eure), où entre 50 et 70 véhicules ont été incendiés, ainsi qu'un centre commercial, un bureau de poste, et deux écoles, a déclaré à l'Associated Press Patrick Hamon, représentant de la Direction générale de la police nationale (DGPN). Huit personnes ont été blessées légèrement lors d'affrontements avec des jeunes, dont deux policiers nationaux, trois policiers municipaux et trois pompiers.
Des journalistes d'Associated Press Television News ont constaté sur place que sur les 14 commerces du centre commercial, une pharmacie et un salon de coiffure ont été incendiés, et une annexe de la mairie non loin a été saccagée. Selon un policier, un poste de police de proximité a été brûlé.

Dans la capitale

Les violences semblent avoir atteint Paris, où 22 voitures incendiées étaient recensées à 3H30 par la DGPN. La préfecture de police ne faisait état en fin de soirée que de 4 voitures brûlées par un incendie "d'origine indéterminée" rue du Puits dans le 3e arrondissement, près de la place de la République.
Des voitures ont été brûlées dans les 13e, 19e, et 20e arrondissements, ont déclaré les services de la voirie à des journalistes d'Associated Press Television News (APTN).
L'Etat-major des sapeurs-pompiers a confirmé que des interventions étaient en cours dans la capitale sur des véhicules incendiés, sans donner plus de précisions.
Dans l'Essonne où le ministre de l'Intérieur Nicolas Sarkozy s'est rendu dans la nuit, les services de police enregistraient 35 voitures détruites par des incendies peu avant 22h. Dans la commune de Grigny, deux écoles ont été incendiées. Cinq classes de la maternelle "La belle au bois dormant" ont été détruites et une dans "l'école Triolet". Un important feu ravageait également une usine de recyclage de papier.
Nicolas Sarkozy s'est rendu à la Direction de la sécurité publique de l'Essone à Evry, avant de se rendre à Créteil pour "soutenir les policiers dans cette épreuve difficile et échanger avec eux", selon la DGPN.

Poids-lourd en feu

En Seine-Saint-Denis, la police fait état de nombreux véhicules incendiés. Un important feu était également signalé dans un gymnase de Noisy-le-Grand.
Un journaliste a été agressé à Aubervilliers, selon la préfecture.
En Seine-et-Marne, un poids-lourd était en feu en face du lycée professionnel de Savigny-le-Temple, où les pompiers étaient pris pour cibles par des lanceurs de pierres.
Dans le quartier des Musiciens aux Mureaux (Yvelines), à 50km environ à l'ouest de Paris, deux voitures ont été incendiées, nécessitant l'intervention d'un camion de pompiers. Une autre voiture a été brûlée dans la cité Renault.
Dans le quartier de la République à Paris, trois voitures ont été endommagées suite à un lancer de cocktail Molotov, a-t-on appris auprès de la préfecture de police.

Surtout dans le Nord

En province, des incidents se multipliaient dans des villes jusqu'à présent relativement calmes. La plupart du temps il s'agit d'incendies de quelques voitures à l'aide de cocktail Molotov par des bandes de jeunes, comme à Avignon (Vaucluse), Saint-Dizier (Haute-Marne), Soissons (Aisne), Nantes (Loire-Atlantique), Montauban (Tarn-et-Garonne) ou dans le Loir-et-Cher.
C'est dans le département du Nord que ces actes de vandalisme étaient plus nombreux, précisait-on de même source.
Outre des incendies de voiture à Lille, Roubaix, Tourcoing, Mons-en-Baroeuil, les pompiers signalaient un incendie de poids-lourd à Lille et un incendie d'autobus à Auby. Une crèche a été incendiée dans le département, selon la DGPN qui n'a pas précisé la commune.
Dans le sud, à Marseille (Bouches-du-Rhone) les services de police enregistraient à 21h00 trois incendies de voitures. Dans les Alpes-Maritimes, plusieurs véhicules ont également été incendiés à Cannes et Nice. Dans cette dernière ville, les pompiers ont essuyés des jets de pierres en intervenant sur un de ces feux.
A Toulouse (Haute-Garonne) une demi-douzaine de voitures avait déjà flambé peu avant 21h00. (avec AP)


aqui

Ilustração de Ivone Ralha, para capa de livro.


Foto de Ivone Ralha


Mukai VI

P'ra não morrer nos teus lábios de prata
era preciso ser pássaro e serpente

p'ra não sentir os teus lábios de prata
era preciso ser mulher e gente

p'ra não sofrer nos teus lábios de prata
era preciso ser sonho
uma cabaça fechada

P'ra não morrer dos teus lábios de prata
era preciso não ser mulher, pássaro e gente


Ana Paula Tavares
‘Dizes-me Coisas Amargas como os Frutos’
Editorial Caminho

sábado, 5 de novembro de 2005

"Le modèle urbain devient continu et infini"

XXIe siècle. Urbanisme. Bruce Bégout, philosophe, auteur d'un essai sur Las Vegas.

par Yann PERREAU

QUOTIDIEN : samedi 29 octobre 2005

Comment voyez-vous la ville du futur ?
Une ville binaire, divisée entre deux grands pôles antagonistes. La vie urbaine ne sera plus faite d'une multiplicité de couches différentes. Elle sera prise entre deux couches absolument opposées : celle du loisir intense et celle de l'ennui des hommes abandonnés. Entre les deux, il n'y aura plus rien. La ville oscillera comme une balle de flipper, entre des endroits désolés, gris, sans aucune valeur architecturale, vitale ou culturelle. Et des lieux où se concentrera tout ce qui fait défaut dans ces endroits mornes, comme l'intensité, la culture, le loisir, la joie, la communauté, etc.

Pourquoi cette bipolarité ?
Il existe déjà un grand mouvement dans la ville qui est la sectorisation, due aux différentes phobies comme l'insécurité. De plus en plus, la ville urbaine se passe dans des lieux cloisonnés. Le décloisonnement sera l'une des problématiques générales de l'urbanité future. La vie urbaine est de plus en plus liée à des lieux très cloisonnés, avec des sas. Et là je ne parle pas seulement des gated communities (lotissements clos et protégés) à l'anglo-saxonne. Il y a dix-sept ans, lorsque je suis arrivé à Paris, jamais je n'aurais trouvé de vigile à l'entrée d'un bar comme celui où nous sommes. Désormais, il faut montrer patte blanche partout, avoir une carte de fidélité même pour les achats les plus communs. Les bâtiments, les commerces, les lieux de loisirs et de culture se referment de plus en plus sur eux-mêmes et exigent de celui qui entre des formes d'identification plus fortes : vestimentaire, culturelle, administrative ou autre. Les centres commerciaux deviennent des lieux clos. Idem pour les parcs d'attraction. Paris Plage est l'exemple type : on veut décloisonner la ville, on l'enferme dans une sorte de sas. Donc il y aura ces lieux, ces «dômes du plaisir» comme disait Coleridge : centres commerciaux, parcs d'attraction, centres historiques, etc. De l'autre côté, la steppe barbare, laissée à l'abandon... Les gens seront pris dans une logique binaire entre des lieux d'intensité sensorielle et d'autres lieux, laissés à la pauvreté et à la misère.

Dans Zéropolis, vous affirmez que Las Vegas est notre «horizon urbain». Pourquoi ?
La culture consumériste et ludique qui a transfiguré Vegas depuis près de trente ans gagne chaque jour plus de terrain dans notre rapport quotidien à la ville, où que nous vivions : Paris, Le Cap, Tokyo, São Paulo. J'ai l'impression que Londres est devenu aussi un énorme centre commercial, invisible, et que Paris est en train de changer de la même manière. Surtout, ce qui domine, c'est cette combinaison consommation/loisirs, ce que l'on appelle le fun shopping ou le rentertainment, le commerce combiné avec l'entertainment, les loisirs. Cela l'emporte sur tous les autres aspects de la vie urbaine.

Vous décrivez la ville du futur comme «une monstruosité sans début ni fin, dont la périphérie est partout et le centre nulle part...».
Notre monde, depuis le XVIe siècle, était un monde géocentrique. Avec Giordano Bruno, Kepler ou encore Copernic, on est passé à un système héliocentrique, et même sans centre. Pour Bruno, le monde est infini (c'est d'ailleurs ce qui crée l'effroi chez Pascal). Or, ce n'est qu'au XXe siècle que le modèle urbain n'est plus géocentrique mais devient continu. Los Angeles en est l'exemple type, le royaume urbain infini. Londres en est un autre. Avec cet éclatement du centre, qui devient extrêmement cher, la vie urbaine ne se concentre même plus à la périphérie parce qu'il n'y a même plus de périphérie ni de centre, mais une sorte d'espace urbain infini. Pour comprendre la ville contemporaine, il faut relire Kepler et Pascal, ce choc de l'infinité, de l'idée d'un monde dépourvu de centre. On passe de la ville d'hier, comme Paris, à la ville du futur qui sera un infini urbain. Notre vision de l'urbanité a mis quatre siècles à s'adapter à notre vision du monde.

Libération

aqui

Foto de Francesca Pinna

Se mi allontano due giorni
i piccioni che beccano
sul davanzale
entrano in agitazione
secondo i loro obblighi corporativi.
Al mio ritorno l'ordine si rifà
con supplemento di briciole
e disappunto del merlo che fa la spola
tra il venerato dirimpettaio e me.
A così poco è ridotta la mia famiglia.
E c'è chi n'ha una o due, che spreco ahimè!

Eugenio Montale

Paris, 2005

A revolta está em marcha, e os arautos da ordem bem-composta, os que vivem bem e nada mais vêem que o palmo à frente do seu nariz espirram: “são delinquentes”, “não podemos aceitar esse tipo de comportamentos”, ou até, numa versão mais perversa, “são todos islâmicos radicais”. São os delinquentes, sem dúvida. São aqueles que esses não conhecem, que não fazem a mais pequena ideia de quem sejam. Com quem pouco se cruzam, e sempre evitam encontrar-se, que moram em ruas das quais sempre se afastam, por serem ruas dos delinquentes, dos esquecidos, dos outros. São aqueles que não vivem neste mundo, atenção gente preguiçosa, eles não vivem no vosso mundo porque NÂO EXISTE SÓ O VOSSO MUNDO!

Nunca conseguiremos reconhecer a tempo as Revoluções?

Do site da TSF online:

VIOLÊNCIA ALASTRA AO RESTO DO PAÍS

É a nona noite de violência em França. Cerca de 220 veículos foram incendiados esta sexta-feira em cinco zonas da capital francesa. Entretanto, a violência já alastrou a outras cidade do norte e sul do país.

É a nona noite consecutiva de confrontos. Cerca de 220 veículos foram incendiados esta sexta-feira à noite, por grupos de jovens de cara tapada, em cinco zonas de Paris.Em Val d'Oise, os bombeiros foram chamados para apagar incêndios em dois edifícios. Noutro subúrbio, Epinay-sous-Bois, cerca de 40 manifestantes saquearam dezenas de carros.Os tumultos causados por jovens - na sua maioria descendentes de imigrantes africanos e muçulmanos - ganham força devido ao desemprego, à pobreza, à falta de acesso à educação e aos problemas habitacionais que enfrentam. Hoje, os confrontos alastraram a outras regiões da França: Rouen, no norte do país, Dijon, a leste, e Marselha e Toulouse, no sul.

A voz do dono

"(...) Alguns candidatos, na ânsia de denegrir a imagem dos adversários, utilizam todos os argumentos que julgam poder impressionar os eleitores, mesmo que aqueles não tenham qualquer adesão à realidade. Nesta linha de actuação, verifico que na campanha presidencial, os adversários do prof. Cavaco Silva decidiram eleger como arma de arremesso o resultado da sua acção governativa, como se isso não constituísse uma preciosa mais-valia do seu currículo. Pelo contrário, considero que o período 1985-1995 foi um período de ouro da nossa história económica dos últimos 30 anos. Onde estaria o país se a evolução verificada naquele período se tivesse repetido na década seguinte! (...)" Manuela Ferreira Leite (MFL), in Expresso, 05.11.2005
*
Se fosse possível entrar de novo na União Europeia, e receber os milhares de milhões de euros que vieram de Bruxelas, receber um dinheirão pelas privatizações, e ao mesmo tempo gerir o Orçamento de Estado, qualquer um faria o mesmo que Cavaco Silva, ou talvez melhor. MFL sabe, mas não quer dizer, que um bom economista, ou um bom primeiro-ministro, é aquele que consegue gerir ou governar bem, quando os fundos são escassos, ou seja em tempos de vacas magras. Aí sim, é que consegue aferir se um politico é de qualidade ou não. Quando há muito dinheiro, qualquer um pode brilhar. Até o Valentim Loureiro ou o Ferreira Torres. Pelo que se vê hoje, muita coisa falhou, principalmente as reformas estruturais que Cavaco deveria ter feito. Não o fez porque não houve jeito nem arte. Será que MFL é agora o travesti de Goebbels no apoio á candidatra de Cavaco? Haverá alguma necessidade para estas alarvidades propagandísticas ou é só amor?

sexta-feira, 4 de novembro de 2005

Poluição e género

Maiores índices de poluição do ar podem aumentar nascimentos de raparigas em detrimento de rapazes. Um estudo publicado na revista Nature, que tem fama de séria, indica que a diferença entre a quantidade de raparigas e rapazes que nascem está interligada com a poluição atmosférica.
Podem dar uma olhada aqui e depois digam o que acham desta história. Pelo menos, sempre exercita mais os neurónios do que as tretas da Maureen Dowd…

José Pinto Sá

Outono (3)


Foto de Ivone Ralha



Em todas as ruas te encontro
em todas as ruas te perco
conheço tão bem o teu corpo
sonhei tanto a tua figura
que é de olhos fechados que eu ando
a limitar a tua altura
e bebo a água e sorvo o ar
que te atravessou a cintura
tanto, tão perto, tão real
que o meu corpo se transfigura
e toca o seu próprio elemento
num corpo que já não é seu
num rio que desapareceu
onde um braço teu me procura
Em todas as ruas te encontro
em todas as ruas te perco.

Mário Cesariny de Vasconcelos

Estados Unidos não abrem mão da Internet

A controlo da Internet vai estar no centro do debate da próxima cimeira Mundial sobre a Sociedade da informação, que se realiza na Tunisia entre 16 e 18 de Novembro.
É pública posição dos EUA. Não a querem partilhar para a comunidade internacional, quer ela se chame ONU, União Europeia ou outros grupos de países da América Latina ou da Ásia. Por várias razões. A Internet surgiu por lá quando foi criada para fins militares nos anos 60. E actualmente dos 13 grandes servidores que servem de base ao seu funcionamento global, 10 estão nos Estados Unidos, dois na Europa e um no Japão.
Mas, a União Europeia considera que os tempos mudaram, uma vez que a expansão na Internet é a nível planetário. Por isso, como segunda grande potência mundial, vai pedir em Tunis aos EUA um controlo conjunto da Internet. A UE considera-a um recurso global e por isso não faz sentido estar debaixo do domínio exclusivo dos norte-americanos.
No entanto, países como o Brasil, a India e a China querem um controlo multilateral, que englobe mais países em vias de desenvolvimento. Não aceitam uma partilha entre as duas potências, colocando em segundo plano os países tecnológicamente pouco desenvolvidos.
Há uma ideia generalizada que ninguém controla a Internet. Talvez porque tudo pode ser
publicado, quase sem restrições. Embora não existam leis que controlem a divulgação de conteúdos, no entanto, isso não é bem assim. Um dos visitantes recentes do 2+2=5 tinha o número 213.58.135.82, que identifica a sua origem. Quem dá esses números e estipula regras é uma ONG norte-americana, chamada ICANN - Internet Corporation for Assigned Names and Numbers. Que está sujeita às leis do Estado da Califórnia. É óbvio que, em última análise, é a administração central dos Estados Unidos que tem a última palavra. O facto de ser uma ONG, de nome ICANN, não é para ser completamente levado a sério.
Mas, vai ser dificil encostar os Estados Unidos à parede. A poucos dias da Cimeira das Nações Unidas para a Sociedade da Informação, na Tunisia, a ala conservadora da administração Bush está a pressionar a delegação norte-americana no sentido de não fazer cedências. Nem à Europa e muito menos às Nações Unidas.

Pérolas liberais

Os nossos ultraliberais blogosféricos do Blasfémias presentearam-nos com mais duas pérolas, uma bem patética, a outra bem elucidativa.
Começando pelo pior, CAA descobriu que os tumúltos em Paris, causados pela exclusão social, pelo abandono a que são votados aqueles jovens, e por políticas que em vez de integracionistas são segregacionistas, afinal não passam de motins pró-americanos, anti-política externa de Chirac, e inclusivé a favor do mercado livre e contra o proteccionismo. Afinal, os jovens até gostam de Rap dos states (compreende-se que um betinho como o CAA desconheça completamente a vigorosa produção do Rap francês). Um must. A ler, sem mais comentários.
Mais a sério é este post do Rodrigo Adão da Fonseca. Perigosamente a sério. Para o Rodrigo, que escreve acerca de um post da Joana Amaral Dias no Bicho Carpinteiro, não fará sentido distinguir "cidadãos" de "consumidores". Para a nova Direita, somos então cidadãos porque consumimos, e consumidores porque cidadãos. Há aqui duas abordagens a distinguir: uma é dizer que consumidores todos somos, até quando consumimos o ar e a água, que ninguém vive sem dinheiro, etc. A outra, que exige que se perceba o que defendem estes rapazes, é que este tipo de discurso inaugura uma inversão na linguagem, que objectivamente pretende subverter a relação entre estes dois conceitos. É que, sendo todos nós simultaneamente cidadãos e consumidores, não quer dizer que os termos signifiquem a mesma coisa, ou mesmo que tenham o mesmo valor enquanto conceitos políticos e sociais. Um cidadão é sempre igual em direitos e deveres a outro cidadão (um cidadão, um voto), enquanto um consumidor é desigual a outro na medida em que consome mais ou menos, isto ou aquilo. Se aceitarmos que um e outro são o mesmo, aceitamos o princípio destes novos liberais: a cada cidadão aquilo que pode consumir. E assim, mais uma vez, instituimos como novo princípio social primeiro o princípio da desigualdade que funda a sociedade de mercado.

Um candidato positivista

Cavaco Silva disse hoje, em colóquio na Universidade Nova de Lisboa, que não se candidatava devido aos "poderes negativos" do Presidente da República. Afirmou não lhe interessar tais poderes, e enumerou-os textualmente: "dissolver o parlamento", "convocar eleições antecipadas", "vetar leis" ou "enviá-las para o Tribunal Constitucional". O espantoso destas afirmações é que os poderes constitucionais do Presidente da República são, precisamente, todos "negativos". Num regime semi-presidencialista não competem ao Presidente os poderes que podemos chamar "positivos": fazer leis, tomar opções políticas, económicas e estruturais, ou gerir a coisa pública. Ou será que Cavaco teve um lapsus linguae e deu a entender que, tal como é acusado pelos seus adversários, pretende mesmo ser eleito para "governar", ou seja, dar o tal golpe de estado constitucional de que tanto se fala?

quinta-feira, 3 de novembro de 2005

Esclarecimento

Como alguns leitores atentos notaram, foi ontem removido um post meu relativo ao Manuel Alegre. Quero esclarecer que tal não se deveu a nenhum problema, técnico ou outro, mas sim ao extremo mau gosto e total ausência de qualidade do mesmo. Também não teve nada a ver com os comentários, que aliás eram de muito melhor qualidade que o post a que se referiam. As minhas desculpas aos dois comentadores.

Fotos de Ivone Ralha


A terra que te ofereço

Quando,
ansiosa,
pela primeira vez
pisares
a terra que te ofereço,
estarei presente
para auscultar,
no ar,
a viração suave do encontro
da lua que transportas
com a sólida
a materna nudez do horizonte.

Quando,
ansioso,
te vir a caminhar
no chão de minha oferta,
coloco,
brandamente,
em tuas mãos,
uma quinda de mel
colhido em tardes quentes
de irreversível
votação ao Sul.

(...)

Ruy Duarte de Carvalho, 'A decisão da idade'

Apologia do Orgasmo Múltiplo e Colorido

A iconoclasta editorialista do New York Times publicou umas páginas do
seu próximo ensaio, " Serão os homens necessários: quando os sexos coli-
dem ", a sair este mês nos EUA.

Trata-se de um ensaio panorâmico, detalhado e audacioso -invoca a madona do feminismo Betty Friedman e exorta todas as mulheres de todas as idades a implementarem a excitação por si próprias.

" Antes de patinhar numa colecção de estereótipos, o
feminismo prolongou indefinidamente a promessa de que havia algumas áreas
da feminilidade que não se ocupavam, de forma alguma, dos homens. Mas isso
nunca chegou a materializar-se".

Fernando Almeida Ribeiro

A ler:

Where is the New Woman now?
By Maureen Dowd, The New York Times


MONDAY, OCTOBER 31, 2005

When I entered college in 1969, women were bursting out of their 50's chrysalis, shedding girdles, padded bras and conventions. The Jazz Age spirit flared in the Age of Aquarius. Women were once again imitating men and acting all independent: smoking, drinking, wanting to earn money and thinking they had the right to be sexual, this time protected by the pill. I didn't fit in with the brazen new world of hard-charging feminists. I was more of a fun-loving (if chaste) type who would decades later come to life in Sarah Jessica Parker's Carrie Bradshaw. I hated the grubby, unisex jeans and no-makeup look and drugs that zoned you out, and I couldn't understand the appeal of dances that didn't involve touching your partner. In the universe of Eros, I longed for style and wit. I loved the Art Deco glamour of 30's movies. I wanted to dance the Continental like Fred and Ginger in white hotel suites; drink martinis like Myrna Loy and William Powell; live the life of a screwball heroine like Katharine Hepburn, wearing a gold lamé gown cut on the bias, cavorting with Cary Grant, strolling along Fifth Avenue with my pet leopard.

My mom would just shake her head and tell me that my idea of the 30's was wildly romanticized. "We were poor," she'd say. "We didn't dance around in white hotel suites." I took the idealism and passion of the 60's for granted, simply assuming we were sailing toward perfect equality with men, a utopian world at home and at work. I didn't listen to her when she cautioned me about the chimera of equality.

On my 31st birthday, she sent me a bankbook with a modest nest egg she had saved for me. "I always felt that the girls in a family should get a little more than the boys even though all are equally loved," she wrote in a letter. "They need a little cushion to fall back on. Women can stand on the Empire State Building and scream to the heavens that they are equal to men and liberated, but until they have the same anatomy, it's a lie. It's more of a man's world today than ever. Men can eat their cake in unlimited bakeries."

I thought she was just being Old World, like my favorite jade, Dorothy Parker, when she wrote:

By the time you swear you're his,
Shivering and sighing,
And he vows his passion is
Infinite, undying -
Lady, make a note of this:
One of you is lying.

I thought the struggle for egalitarianism was a cinch, so I could leave it to my earnest sisters in black turtlenecks and Birkenstocks. I figured there was plenty of time for me to get serious later, that America would always be full of passionate and full-throated debate about the big stuff - social issues, sexual equality, civil rights. Little did I realize that the feminist revolution would have the unexpected consequence of intensifying the confusion between the sexes, leaving women in a tangle of dependence and independence as they entered the 21st century.

Maybe we should have known that the story of women's progress would be more of a zigzag than a superhighway, that the triumph of feminism would last a nanosecond while the backlash lasted 40 years.

Despite the best efforts of philosophers, politicians, historians, novelists, screenwriters, linguists, therapists, anthropologists and facilitators, men and women are still in a muddle in the boardroom, the bedroom and the Situation Room.

Continuação em:
http.iht.com/articles/2005/10/31/arts/web.1031dowd.php

quarta-feira, 2 de novembro de 2005


Foto de Francesca Pinna

Entregámo-nos
um ao outro
dentro dos lençóis
brancos
à tarde
na posição mais
ortodoxa
e agora sabemos
e não sabemos
um do outro
escrevemo-nos
escrevemos

Adília Lopes

terça-feira, 1 de novembro de 2005

O que levará o homem do saco?

Como diz o Parcídio Costa, "por vezes a realidade vai mais longe que a ficção".
zemari@

Viva o terramoto!

31 de Outubro de 2005, 17 horas, Praça do Comércio. Cheio de pressa à espera do 100 para o meu refúgio lisboeta do Campo Mártires da Pátria. Tenho de fazer umas mudanças, carregar móveis para cima e para baixo, mas para já distraio-me a ler A Bola, o orgão oficial do SLB, como diria o amigo Manuel Fernandes. O tempo passa. Passa. Apercebo-me que já lí três vezes a reportagem do empate 0-0 do Barreirense com o Beira-Mar, e começo-me a preocupar, afinal o 100 até é um autocarro que passa com frequência regular, e costuma cumprir a tabela. Decido esperar. Leio o pasquim de uma ponta a outra, quando dou por mim estou pespegado numa reportagem sobre as novas esperanças portuguesas da natação. Calma lá! Algo aqui está mal. Decido investigar. Como tenho um cértodo método, dirijo-me à paragem anterior, no Corpo Santo. E eis que surje a luz: na Praça do Município o trânsito está cortado, a banda da GNR toca em fanfarra: Prará, pratí, pratchi, paraaaaá; e logo atrás outra banda, esta da gloriosa Marinha Portuguesa, aguarda a sua vez. Á janela da Câmara, shôr Carmona acena ufano à multidão. Por trás da festa, três autocarros 100 aguardam autorização para passar. Não podem incomodar suas excelências, muito menos interromper a magnífica música que sai das cornetas da banda da GNR: Prará, pratí, pratchi, paraaaaá.... Sou um tipo curioso, resolvo perguntar a um polícia a razão deste meu constrangimento. A resposta é óbvia, como é que eu não me lembrava desta? Estão a comemorar o terramoto. Desisto, isto é demais para mim, que se lixem os móveis e as mudanças, estou esmagado por esta demonstração de patriotismo, o terramoto é nosso, e afinal desde 1755 que somos periféricos (com uma breve excepção entre Abril de 74 e Novembro de 75). Vou mas é também comemorar o terramoto! No British Bar, evidentemente, que está mesmo alí à mão, com uma cervejinha bem fresca e um pratinho de amendoins.

O Povo que somos

Somos o único povo do mundo que comemora um terramoto.

O teatro numa comunidade da terra média

"Somos gente pura: os mais novos não sabem o que é a promiscuidade, a minha rapariga se vir a palavra escrita deve achá-la muito comprida e custosa de soletrar: pro-mis-cu-i-da-de (pelo método João de Deus, em tipos normandos e cinzentos às risquinhas, até faz mal à vista!). A promiscuidade: eu gosto. Porque me cheira a calor humano, me sobe em gosto de carne à boca, me penetra e tranquiliza, me lembra - e por que não ?! - coisas muito importantes (para mim, libertino se o permitem) como mamas..."
in "Comunidade", Luiz Pacheco

É preciso encontrar um espaço para o B. Leza



Está disponível em www.marvirtual.com/bleza/ uma petição on line.


Subscreva-a.




Com a devida vénia a Nuno Ferreira

LANDRU


Foto de Ivone Ralha