quinta-feira, 18 de outubro de 2007

Da Capital do Império

Olá!

Ler os discursos dos chefes de estado à assembleia geral da ONU - algo que tenho que fazer todos os anos - é como condenar alguém a ter que ler a minha colecção de livros mais chatos do mundo onde incluo livros como a “Colectânea de discursos do Enver Hoxa” e “ O modelo soviético de desenvolvimento” .
Pior do que isso (e agora que o Fidel está com os pés para a cova) só pode ser … ser forçado a ouvir um discurso de sete horas do narcisista-fidelista (leninista) Hugo Chavez. Ainda não me calhou a sorte embora eu conheça um desgraçado que teve que assistir a isso de pé o que o levou a rogar ao santo Che pela cura de Fidel para ver se calava o Hugo. Sem resultado o que, disse-me ele, “prova que afinal o Che não é santo”. O que todos nós sabemos ser verdade… não é?
Mas voltando à questão dos discursos da ONU: É por essa característica soporífera de mediocridade surrealista que eu considero a Assembleia Geral da ONU - que todos os anos em Setembro atrai dezenas e dezenas de chefe de estado e governo e respectivos “penduras” a Nova Iorque - como nada mais que uma oportunidade para ver alguns amigos, dar uma passeata, ir ver uma boa peça de teatro e comer num ou dois bons restaurantes franceses à custa de outrem e depois fazer uma ou duas entrevistas sobre os males dos Estados Unidos no mundo para pagar os ditos jantares. É ao fim e ao cabo pouco diferente do que fazem os ditos chefes de estado e governo embora eles se desloquem em limusinas e causem irritantes engarrafamentos de trânsito na zona de mid town Manhattan onde os preços dos hotéis quadruplicam durante esse período.
Pois tenho a dizer-vos que este ano na minha ida à Assembleia Geral da ONU nem pus os pés na dita cuja. Preferi ir passear para Coney Island (onde o piroso é genuíno) e ir ver como é que funciona a Máfia russa em Brighton Beach (Little Odessa). Muito mais colorido e fascinante do que a Máfia inoperante da ONU e além disso não vivem à minha custa.
Pois para recuperar tempo perdido estava eu outro dia a ler o discurso feito na Assembleia Geral a 25 de Setembro por “Sua Excelência José Eduardo dos Santos” (notem que já não é “camarada”) e à espera de cair a dormir antes de ter tempo de soletrar “QUE CHATICE PORRA” quando quase que saltei da cadeira sem acreditar no que lia.
“Pode ou não o Islão coexistir nas sociedades de modo pacífico com outros credos religiosos? Como neutralizar o fanatismo e evitar a islamização do estado que contraria a consciência jurídica moderna da humanidade sobre o estado secular?”
Tive que ler estas interrogações legitimas e atempadas de “Sua Excelência” duas vezes e ainda duvidando do que estava à minha frente em preto e branco agarrei logo no telefone para confirmar o que estava escrito com um empregado diplomático do Zé Dú Ali Bábá ( o nome popular de Sua Excelência).
“É pá acho que ele fez umas modificações pouco antes de ler o discurso mas nós só temos o original,” disse o tal diplomata do Zé Du Ali Bábá. Por isso tive que contactar a russa matrona que trabalha num escritório nas caves da ONU num corredor que nunca ninguém encontra e onde todos os discursos são arquivados em cassetes e pedir-lhe a cópia do discurso do Zé Du Ali Bábá que ela resmungando lá me mandou eficientemente (que surpresa!).
Tenho a dizer que o Zé Dú me voltou a desiludir pois à ultima da hora “cortou-se”! Mudou as interrogações para certezas afirmando que “o Islão pode coixistir nas sociedades de modo pacífico com outros credos religiosos mas é preciso neutralizar o fanatismo e evitar a islamização do estado que contraria a consciência jurídica moderna da humanidade sobre o estado secular”.
Pode coexistir? Talvez …. se se “evitar a islamização do estado”. Mas se tivermos em conta que a influencia crescente do Islão é aquela do movimento Wahhabi (e suas variantes) em que nada pode ser separado da leitura fundamentalista do Corão é difícil imaginar isso. Na verdade é preciso notar que o Islão não é apenas um “pacote” de princípios e crenças mas pelo menos senão mesmo acima de tudo uma crença social, lições de como organizar a sociedade como um todo.
O problema surge porque nós sabemos que as nações existem com base em valores e crenças comuns e que nas sociedades as pessoas avançam porque são encorajadas pela sua sociedade a adoptar certos hábitos e comportamentos. Por outras palavras: as soluções para questões morais não são só produto dos indivíduos já que os homens são criaturas sociais cujas acções e pontos e vista são profundamente marcados pelo tecido social que os une. Daí a importância da questão que o Zé Dú Ali Bábá levantou antes de se “cortar”: “Pode ou não o Islão coexistir nas sociedades de modo pacifico com outros credos religiosos? Como neutralizar o fanatismo e evitar a islamização do estado que contraria a consciência jurídica moderna da humanidade sobre o estado secular?”
Isto levanta outra questão: A crença no tal “processo histórico” pelo qual vamos todos acabar num sociedade igual a cantar Grândola Vila Morena Terra da Fraternidade depois de passarmos todos pelas mesmas etapas históricas a cantar “Imagine”. Isto é, basta dar tempo ao tempo e acabaremos todos por acreditar em valores democráticos, de fraternidade, de liberdade de imprensa etc. Se isso ainda não acontece é porque há exploração (dos americanos) ou/e porque o resto do maralhal ainda está numa outra fase do tal processo histórico mas com tempo … vai lá. Pois, pois…
Na verdade só quando abandonarmos esta fantasia de um processo histórico igual para todas as nações e povos é que poderemos fazer face ao problema que o Islão é hoje para todos. Só então é que poderemos aceitar que há pessoas para quem e ao contrario de nós no ocidente a religião é fundamental para organizarem a sua vida e não valores democráticos . E se aceitarmos isso poderemos talvez conseguir distinguir entre esses e aqueles cujas crenças os levam à utopia terrorista anti-moderna.
Tentar bater uma ideologia assassina com complacências ocidentais sobre o “processo histórico”, o “multiculturalismo” e outras suposições não é uma boa aposta. O relativismo infelizmente não resolve tudo. É por isso que o Zé Du Ali Bá Bá deveria ter deixado ficar a pergunta no ar. Mesmo que o único que a tenha notado fossemos só nós. Mas do Zé Du há muito que deixei de esperar coragem.

Abraços,
Da capital do Império

Jota Esse Erre

quarta-feira, 17 de outubro de 2007

Sinais


Desenho Maturino Galvão

Hungria (2)


Pécs. Hungria. 2007

Foto FFC

Richard Rorty: "Todas as coisas têm agora que ser feitas de novo"

Do grande filósofo anti-sistema, o mais europeu dos norte-americanos, recentemente falecido, um ponto de ordem radical para nos fazer pensar (e viver...) de outra maneira.

"As figuras que estou a usar como paradigmas da teorização ironista - o Hegel da Fenomenologia, o Nietzsche de O Crepúsculo dos Ídolos e o Heidegger da Carta sobre o Humanismo - têm em comum a ideia de que há algo (a história, o homem ocidental, a metafísica - algo de suficientemente vasto para ter um destino) que esgotou as suas possibilidades. Assim, todas as coisas têm agora que ser feitas de novo. Não estão apenas interessados em fazer-se de novo a eles próprios. Pretendem também fazer de novo essa coisa grandiosa: a sua própria autonomia será uma excrescência dessa novidade mais vasta. Pretendem o sublime e o inefável e não apenas o belo e o novo - pretendem algo de incomensurável com o passado, não apenas o passado recapturado através da redisposição e da redescrição. Pretendem não apenas a beleza visível e relativa da redisposição, mas sim a sublimidade inefável e absoluta do Totalmente Diferente: querem a Revolução Total ".

In Richard Rorty, Contingência, Ironia e Solidariedade, Editorial Presença, Lisboa


FAR

Há 25 anos


Adriano Correia de Oliveira (1942-1982)

"Há sempre alguém que resiste, há sempre alguém que diz não"

Trova do vento que passa

terça-feira, 16 de outubro de 2007

Sinais


Desenho Maturino Galvão

O PSD e a constituição (3)

Pedro Mexia, um homem de outra Direita que não a dos "liberais", sobre a proposta de Menezes:

Não precisamos de uma nova Constituição

De quando em vez alguém propõe uma nova Constituição. Ou seja, um novo regime. São os descontentes com a Terceira República e os proponentes de uma Quarta. Mas acumular Repúblicas nunca deu grandes resultados. Os nossos vanguardistas constitucionais acreditam que as fraquezas do regime (partidocracia, corrupção, caciquismo, etc) caducam automaticamente com a elaboração de um novo texto. Acontece que tais fraquezas são intrínsecas à democracia e não se resolvem por decreto constitucional.
O recém-eleito presidente do PSD propõs há dias uma nova Constituição. Não apenas mais uma revisão: um texto novo. A proposta obviamente não tem votos, como nunca terá nenhuma proposta semelhante. Mas, além disso, é também uma proposta leviana. Não precisamos de uma nova Constituição.
Não precisamos de uma nova Constituição porque esta é a Constituição saída do 25 de Abril. Há quem compreensivelmente não goste disso, quem preferisse desligar o documento da data, quem ache que a democracia podia ter vindo de outra maneira. História virtual é história virtual. A democracia aconteceu com o processo iniciado a 25 de Abril de 1974 e depois concretizado na eleição de uma assembleia constituinte, a aprovação de uma constituição e a realização de eleições legislativas e presidenciais. Houve momentos em que a democracia esteve em perigo: mas a Constituição foi aprovada a 2 de Abril de 1976, ou seja, depois do 25 de Novembro ter corrigido os devaneios RDA da revolução.
É evidente que o texto originário estava impregnado de linguagem e objectivos socialistas. Mas em 76 todos os partidos falavam em «socialismo». A verdade é que os aspectos fundamentais de uma sociedade democrática apareciam consagrados logo no texto inicial: liberdade de expressão e associação, eleições livres, independência dos poderes, checks and balances, etc.
As sucessivas revisões do texto consagraram a normalidade democrática. Em 1982, com a extinção do Conselho da Revolução, que exercia uma tutela já serôdia sobre o poder democraticamente eleito. Em 1989, com a garantia da liberdade económica, contra o espartilho estatista. E depois disso houve pequenos ajustes, nomeadamente em matéria de integração europeia.
A Constituição de 1976 na sua versão original era uma constituição democrática socialista. A Constituição de 1976 na sua versão actual quase não tem sombra de socialismo, mesmo na linguagem. Há vestígios esclorosados que precisam de retoques, como o número 2 do artigo 7º, que fala em «colonialismo» e «blocos político-militares». E pouco mais. A dimensão política da Constituição não põe entraves ao regular funcionamento de democracia portuguesa. Nem se vê onde estejam tais entraves na dimensão económica.
A única matéria que se afigura discutível é a dimensão institucional. Ou seja, é possível que haja quem queira alterar a natureza do regime. Sejamos claros: há quem pretenda o presidencialismo. Se é esse o caso, mais vale assumir tal proposta com clareza. E cá estaremos para lembrar os defeitos do presidencialismo, os desvios cesaristas, os conflitos com o governo, e o mais que os manuais registam.
Se é isso, conversaremos em devido tempo. Se não é isso, é pólvora seca.

O PSD e a constituição (2)

Em mais um dos seus editoriais no Público (sem link directo, como sabem, mas podem procurá-lo através do site, em "edição impressa"), José Manuel Fernandes brinda-nos com outro dos seus excelsos momentos que gosto de designar como o género "cortina de fumo". A táctica é, através de uma pretensa neutralidade, um apelo ao eficientismo, e uma generosa vontade de "tratar dos problemas do país", mascarar a ideologia que sempre lhe subjaz. Desta vez, a propósito da "nova constituição", proposta por Menezes, JMF não faz por menos que propôr a refundação da República. Acabar com a terceira, e passar à quarta, essa que, por decreto refundador, irá finalmente combater as razões de todos os nossos males nacionais.
Claro que não se limita a defender uma "Quarta República" assim sem mais, não vamos nós supor que, num movimento de regressão à juventude, ande agora a defender suloções chavistas. Também nos indica alguns dos caminhos que, no seu entender, a devem nortear. Mas o que é curioso, é que todas as suas soluções são apresentadas como óbvias, evidentes, empíricas, quase obrigatórias. Essa refundação deverá «enfrentar os problemas que o actual regime nos coloca». Claro que todos esses problemas tem uma raiz nos preâmbulos e artigos "socialistas" que a actual constituição ainda mantém: o direito a uma educação "progressivamente gratuita" ou a uma saúde "tendencialmente gratuita" (olha que grande socialismo que isto é). Mas o mais curioso é que o próprio JMF, imediatamente a seguir, argumenta com o facto de que estes artigos, tão lesivos do nosso progresso, «não estão a ser cumpridos: arranjou-se sim artifícios para que as leis de que o país necessitava passassem no Tribunal Constitucional». Ah!, mas não é Portugal um país de regime socialista? É. Mas pode-se praticar o contrário? Pode. Isso não é uma contradição? Pschhht!!! Daí que, na sua lógica imparável, JMF se questione candidamente sobre se, «apenas por uma atitude de bom senso [a constituição] não deve ser reinventada».
Sejamos claros: JMF tem todo o direito de defender uma mudança de regime ou uma nova constituição, devia era ter a honestidade intelectual de não se refugiar em argumentos de practicidade e assumir as suas opções ideológicas. Porque o faz, não é difícil de adivinhar: dificilmente se encontrará matéria que una tão fortemente as esquerdas como a defesa da actual constituição, daí que seja tacticamente preferível, para consumo externo, fazer de conta que tudo não passa de uma inócua "actualização"; no mesmo editorial em que, para consumo interno, se assume a causa como decisiva para o futuro do País. Mas não tenhamos receio, aliás, venham daí essas propostas "revolucionárias" de mudança, que nós, na Esquerda, estamos a precisar como pão para a boca de uma causa comum, que idealistas como JMF e oportunistas como Menezes nos vão oferecer de bandeja.

O PSD e a constituição (1)

Não sei se repararam, mas Luis Filipe Menezes já está a comandar a agenda política.

Dama do bling-boy

Suécia (5)


Uppsala. Suécia. 2007

Foto Sérgio Santimano

domingo, 14 de outubro de 2007

Festa moçambicana na Suécia


A Ponte

Associação dos moçambicanos residentes na Suécia e seus amigos.....
Vänskapsföreningen Mocambique/Sverige

27 Outubro
Flaggskeppet, Hagalundsgatan 9, Solna

Com música, dança, gastronomia do nosso Moçambique e muito, muito, mais!!!!!! .....

100kr/sócios e 150kr não sócios

Por questões organizacionais, queira por favôr confirmar com seu nome e número de pessoas para o e-mail da Ponte, ou fazer o pagamento, mencionando “festa Ponte 27-10.2007”.
PlusGirot 43 45 62-5

27oktober
Flaggskeppet, Hagalundsgatan 9, Solna
Med musik, dans, Mocambiquansk mat och mycket, mycket mer....
100:-kr medlemmar och 150:-kr ick medlemmar
PlusGirot 43 45 62-5 Bekräfta via e-post eller betala till vårt plusgirokonto, skriv på inbelningsblanketten
"fest Ponte 2007-10-27".
e-mail ponte.moc.swe@gmail.com
http://www.ponte-moc-swe.blogspot.com/

Mambo 27

As pessoas podem fazer lembrar os seus países, mesmo num sítio longínquo.
E o que foi uma politizada geografia comum é agora também montanha e vale num olhar e uma sensação de espanto e uma vontade completa de baralhar as línguas e os seus idiomas.
De repente podem estar frente a frente como dois elementos de estado, sabiamente envenenados por ancestrais culturas, numa rapidez que avança porque parte do estalido de uma estranha e ritmada compreensão.

O que poderá ser um cubano muy macho e nada romântico ao lado de uma sentida angolana?
Estende a maciez do queixo, o braço em amparo, tira-lhe as espinhas do peixe, talvez ainda primo daquele que nas remotas águas de Trinidad é gastronomicamente velado quarenta oito horas antes de ser perfeita refeição, dedica-lhe canções e canta-as devagar com areias de Ancór ainda nos olhos, prepara-lhe mojitos deliciosos enquanto ela fica só ali sem sequer sílabas, pede a um amigo que escreva no minuto um poema e oferece-lhe, dizendo só que o amigo é um grande escritor, para-lhe nos lábios um enxuto charuto para que se extasie, segue viagem no que existe na colher até à sua boca, vai pela rua a agitar a sua alegria como se uma fogosa bandeira fosse a mão dela, no dia em que terminou a escravatura no Valle de los Ingenios. No rosto, os seus ossos largos permitem que o coração fique intemporalmente à espreita, enquanto é noite e acredita e deseja, que os países de algum modo são como "algumas pessoas".

Dedicado a Cuba e a Angola

Hungria (1)


Pécs. Hungria. 2007

Foto FFC

Sinais


Desenho Maturino Galvão

Estória

Uma hora antes de o meu despertador tocar notei um vulto no meu quarto.
Pensei que sonhava, uma vez que só costumo acordar ao toque do despertador.
Confortado com esta ideia envolvi-me mais nos lençóis.
O vulto, no entanto, era real e, além o mais, desajeitado: derrubou uns quantos objectos da minha cómoda.
Irritado, desfiz o ninho morno onde procurava mais uns instantes de sono e levantei-me para acender a luz.
Afinal, não era um vulto. Eram dois agentes devidamente uniformizados da PSP que remexiam as gavetas e abriam as portas de tudo o que era móvel no meu quarto.
Apaguei a luz e voltei para o conforto da cama.

Não há nada como ter e sentir a Segurança de portas para dentro...

sábado, 13 de outubro de 2007

Sinais


Desenho Maturino Galvão

Suécia (4)


Clínica dentária. Uppsala. Suécia. 2007

Foto Sérgio Santimano

Bernard-Henri Lévy ataca "Rove" de Sarkozy

O autor de "A barbárie com face humana" denunciou o "racismo" do Conselheiro Especial do Pr. francês, Henri Guaino e, paralelamente, continua a defender Ségolène Royal. O Outono parisiense está mesmo quente: correm insistentes rumores sobre o possível divórcio do casal presidencial...É o show-bizz animado pelo canibal- presidencialismo copiado do modelo arruinado protagonizado por GW Bush, que se derrete a produzir tempestades de boulevard.


Quem diria que B-H Lévy, o intelectual mais incongruente e mediático do Tout-Paris, se iria colocar em bicos de pés para denunciar a irredutível fragilidade do principal e omnipotente Conselheiro Especial do Pr. francês, uma espécie de Karl Rove, a peça principal da argumentação política do candidato Sarkozy na sua marcha célere para o Poder. Isso aconteceu mesmo. De verdade. Lévy fez fogo sobre o célebre discurso de Dakar do novo Pr. francês, escrito por Guaino, ler texto, clicar aqui, E aproveitou, sibilino, para criticar com grande violência - acusou-os de maurassianismo - os dois "coveiros" de Ségolène Royal como candidata a Pr., Chevènement e Lionel Jospin.

B-H L. considerou "ignóbil" o discurso de Dakar, proferido dois meses após a investidura de Sarkozy como presidente da França. Como se sabe, a África Ocidental é um "jardim" para as ambições neo-coloniais do capitalismo francês, por excelência. O discurso foi mesmo um absurdo. BHL tenta desculpar Sarkozy...mas chama " racista " a Guaino, um economista keynesiano que sempre navegou nas margens enevoadas do gaullismo social. O que se sabe, para já, é que a França que tem um forte contingente militar na Costa do Marfim e assessoria os governos da Gâmbia, do Chade, etc, corre o risco de ver a sua missão político-militar muito maltratada. E Sarkozy revelou a sua fraca estatura intelectual, claro.

Se existe uma parte de calculismo "táctico-promocional", clique aqui, artigo de Schneidermann, a invectiva de B-HL espanta por se posicionar ao arrepio da lógica do compromisso assumida pelos seus rivais, Kouchner, Attali, Glucksman e Bruckner, entre outros trânsfugas para o campo enlameado do canibal-presidencialismo à la Sarkozy. O comentário de Schneidermann é mesmo delicioso e muito corajoso: apesar de todas as suas limitações e embustes, o gesto de verrinoso de Lévy é um grito numa alcova povoada de " reverências e medos" (sic).

A defesa de Ségolène por B-HL fia mais fino. As ruínas no interior do campo dos socialistas franceses são enormes. Só Ségolène se mantém à tona de água. Obrigou o pai dos quatro filhos a sair de casa, por infidelidade conjugal indesmentível do n° 1 do PSF. E faz frente a uma onda de livros-libelo contra as suas ideias e estilo, sobretudo um de Lionel Jospin, onde é tratada de superlativa imbecil. Lévy continua a proclamar aos quatro ventos que, Sego, é uma mulher "formidável", que tinha carácter e estatura para o job " de presidente. Só que, acrescenta, se "encontrou terrivelmente só" e, o grão-de-pimenta, "falhou a aliança com os centristas" de Bayrou, o que aconselhavam Rocard, Strauss-Khan, Kouchner, e tutti-quanti. Está-se mesmo a ver...

FAR

quinta-feira, 11 de outubro de 2007

Sinais


Desenho Maturino Galvão

Yah! - Buraka Som Sistema feat. Petty

American Woman


Foto Jota Esse Erre


American woman stay away from me
American woman, moma let me be
Don't come round knocking on my door
I dont' want to see your face no more
I've got more important things to do
Then spend my time growing old with you
Now woman I said stay away
American woman Listen to what I say
American woman get away from me
Don't come knocking around my door
don't want to see your shadow no more
Coloured lights can hypnotize
Sparkled someone else's eyes
American Woman listen to what I say
I don't need need your war machines
I don't need your ghetto scenes

Guess Who

quarta-feira, 10 de outubro de 2007

Nobel da Literatura: a globalização derrotou controlo ideológico

O actual secretário da Academia sueca, Horace Engdahl, é um reputado tradutor de Derrida e Blanchot

A poucos dias da revelação do galardoado com o Nobel 2007 da Literatura, a revista Lire (Outubro) publicou um revelador dossier sobre o mecanismo da selecção e escolha definitiva do laureado. A Academia Sueca tem já mais de um século de actividade. Tudo começou em 1901 e Emilio Zola, o candidato favorito para a primeira edição do Nobel, foi seca e definitivamente afastado da derradeira prova selectiva por a sua prosa"ter falta de espiritualismo". No computo global os premiados de origem francesa e norte-americana totalizam, ombro a ombro, os mais numerosos. O que nos remete para as grandes influências ideológicas: membros proeminentes da família real escandinava, marechais do exército sueco e os famigerados jurados do Pen Clube International acabaram por ditar muitas vezes a sorte do vencedor. As vicissitudes dramáticas do período entre as duas Guerras Mundiais e a Guerra Fria subsequente amordaçaram muitas escolhas: Sartre recusou receber o prémio e Malraux nunca foi distinguido; enquanto Hemingway o recebeu tarde e às más horas e Dag Hammarskjöld, o futuro secretário geral da ONU, tudo fazia para os seus pares distinguirem o diplomata Saint.John Perse, a par de Boris Pasternak e Beckett, o que veio a acontecer...
A cena de Malraux é caricata e de mau presságio: mesmo Camus afirmou que o prémio devia ter-lhe sido atribuído a ele, um pouco como Saramago o disse sobre Aquilino Ribeiro...A dupla vida política do autor da Condição Humana como que o afastou do pódio mais célebre da distinção literária, pois, a Guerra de Espanha e mais tarde o "penchant" pela ideologia gaullista eram coisas sacrílegas para os jurados de Estocolmo. Agora, cinquenta anos após a distinção controversa de Albert Camus - que mesmo assim demorou a vencer quatro designações frustradas de 1952 a 56- a Academia Sueca revelou pela voz do seu secretário-geral alguns dos mecanismos de tão exotéricos processos de escolha. De acordo com Horace Engdahl, um francófilo dos quatro costados, a nova geração de jurados acabou por aceitar os diktats da globalização, do multiculturalismo e da diversidade ideológica. Com uma rede de instituições de cooperação de mais de 400 Universidades e Academias de todo o Mundo, os jurados suecos solicitam pareceres e listas de possíveis candidatos, tudo a partir de Janeiro do ano posterior à ultima selecção vencedora. Seguem-se dois a três meses de triagem para em Abril, realizarem uma lista de 20 nomes de onde saíram, 60 dias depois, um conjunto definitivo de cinco propostas de autores. Uma regra intangível de 1938 faz com que, para se ser seleccionado e vencer, o nome e obra do vencedor já devia ter sido mencionado pelo menos uma vez na short list...

Horace Engdahl afirma que os critérios da nova geração são hoje mais dilatados."Creio que hoje não se pode reduzir a Literatura à Poesia ou ficção. Existe o que apelido de literatura de testemunho muito importante. Que vai da narrativa de viagens aos testemunhos sobre a Shoa, os escritos de Lévi-Strauss e a certos ensaios literários, e uma certa forma, a via foi aberta por Churchill (laureado de 1953), Bertard Russell (1950) e Soljenitzyne (1970)". Está tudo dito. Nós lusitanos, perdemos a hipótese de ver eleitos Aquilino e Jorge de Sena, mas temos o trunfo grande de Lobo Antunes. Haverá algum professor de Yale ou Nova York que o tenha proposto? Terá ele feito parte das listas antigas dos cinco candidatos finais? Vamos esperar uns dias.

FAR

Sinais


Desenho Maturino Galvão

Arroja e as abelhas

Pedro Arroja não é aquele avô salazarista que está sempre a pregar aos netos que os comunistas comem criancinhas. Pedro Arroja escreve com uma moderação que deixa qualquer um engasgado quando nos focamos no conteúdo.
Vejamos, há uma profundidade científica nos posts, uma análise que, para o mais incauto, parece ser um programa científico, fundamentado em premissas já diversas vezes confirmadas, inclusive com exemplos animais. Ficamos todos a saber que "Chamar os pais, como pretendem certas teorias modernas da educação, a desempenhar nos cuidados e na educação dos filhos" é um erro, porque nas abelhas as coisas não se passam bem assim e os machos são usados para fins meramente sexuais. Uma comparação plena de eficácia e altamente sustentada, porque as abelhas são um animal e nós também. Há umas leves diferenças que me estão ocorrer, mas não interessam nada para o caso.
Mas é isso que é belo no blog de Arroja: a modernidade. Não há aqui cheiro a bolor, é tudo inovador, quase revolucionário. O autor apresenta-se como um Messias que nos vem corrigir os erros da nossa famigerada professora de História (porque o ensino de hoje é claramente socialista. Os russos ganharam a guerra fria e foram tão inteligentes que nos convenceram do contrário.).
Arroja não está atrasado no tempo, como costumamos pensar sobre os apoiantes de Salazar. Arroja está à frente, numa fase de surrealismo mágico em que até as regras da lógica são esquecidas. Observemos:
1.[acerca de Salazar] "Mas aquilo que ressalta em todos os seus escritos é a preocupação permanente em conhecer o carácter português"
2. [no meio de algumas qualidades lusas, conseguimos aprender também que...] "o português (...) é pouco aplicado ao trabalho e ao estudo (...), incapaz de chegar a um consenso mesmo com o seu vizinho do lado. (...) mas depois falta-lhe a vontade e a perseverança para executar as ideias e os projectos que ele próprio concebeu."
3. [no entanto, o que é que torna o Estado Novo único?] "O Estado Novo foi um regime político diferente de todos os outros, genuínamente português"
Aqui, as pessoas que tiveram lógica no ensino secundário e que a usam enquanto ferramenta pensam: mas então... o Estado Novo foi bom?
Ao que Arroja responde, com uma argúcia fantástica: " O Estado Novo levou Portugal da 70ª ou 50ª posição no mundo para a 24ª. Hoje, nos seus grandes princípios, levá-lo-ia provavelmente para a primeira. "
Este estado supra-sumo de uma pessoa calma, que escreve sem irritações ou ataques e vê acima de todos nós é, no mínimo, refrescante.
Aqui, porque a dúvida nos assalta e o gosto pela discussão nos leva a querer saber mais, enveredamos pelo perigoso caminho da opinião de Arroja sobre o Estado Novo. O desconhecido mete medo, já o sabemos. Mas a escrita iluminada de Arroja é uma pedrada no charco.
Quais são as chaves do sucesso do Estado Novo? e Arroja arranca. Há o pormaior de o sucesso do Estado Novo ser já uma premissa da discussão. O mais distraído poderá começar a questionar a taxa de analfabetismo, o colonialismo, a censura política e essas histórias da carochinha. Mas dado que há pouco Arroja previu - com uma firmeza que nem o Professor Karamba pode permitir aos seus clientes - que Portugal estaria no topo do mundo não fosse aqueles sacanas do 25 de Abril, já nenhum de nós pode voltar atrás.
"a democracia é restrita - só votam os (as) chefes de família." - mais uma frase que nem necessita de explicação. Suponho que nas abelhas também só votem as fêmeas. (nota-um-bocado-depois-de-ter-postado: reparem que Arroja está num ponto tão elevado que não se prende com o óbvio. Para mim o primeiro argumento para a democracia ser restrita era o facto de estar sempre o mesmo no poder. Mas Arroja vê mais longe.)
"...a aproximação, numa base de independência recíproca, entre o Estado e a Igreja. Existe liberdade de culto, mas a Igreja Católica é a religião tradicional dos portugueses." Ah, os bons ares da Igreja! A tradição é a tradição e isto nem se questiona. É uma coisa científica, a tradição. Se os portugueses sempre foram católicos, o Estado deve dar liberdade de culto, mas com um toque católico. Uma tendência, um empurrãozinho. Nada de especial (há uma independência recíproca), é só um acordo de cavalheiros. A moral e os bons costumes são para manter. E fico muito feliz pela modéstia do senhor Pedro Arroja, que aconselha uma religião a todos os seus compatriotas, não vá a malta escolher mal (ou o chefe de família por nós).
"Oitavo, a família como unidade natural da sociedade." - esta frase volta a esbarrar num dos mais poderosos argumentos de Arroja: o das abelhas. Eu cá, se tenho que ser natural porque a naturalidade é boa, gostava de poder educar os meus filhos e não ser um objecto sexual da minha mulher (as feministas tomaram conta do mundo e nós, homens, a ver futebol).
"Décimo-segundo, a autoridade pessoalizada, forte, proba e discreta do próprio Salazar - um exemplo para todos aqueles que serviam o Estado e, em última instância, para toda a sociedade. Ele estava lá para guardar a casa e para evitar que ela fosse deitada abaixo." - várias curiosidades: Salazar morreu solteiro e sem filhos (não era um pró - vida), o que não deixa de ser normal. Era um homem de bons costumes e cedo percebeu que se tivesse mulher era só para sexo e não quis. Ou porventura até queria educar os filhos, mas viu que isso era contra a tradição histórica da humanidade e não se deixou enganar. No entanto, era um exemplo. Mais, deixámos morrer o pastor que guardava as ovelhinhas e, se este era tão bom, vai ser difícil arranjar outro que nos ponha tão ordenadinhos (apesar de Sócrates, nesse campo, ser uma boa promessa).
Concluindo, em Arroja há um surrealismo contra-lógico, uma coisa mui moderna e especial, que selectivamente lembra acontecimentos históricos para chegar a uma conclusão que faz Nostradamus parecer a Maya: o Estado Novo colocar-nos-ia no topo do mundo.
Porventura não chegámos lá por não sermos chefes de família. Ou abelhas fêmeas.

Suécia (3)


Clínica dentária. Uppsala. Suécia. 2007

Foto Sérgio Santimano

Covilhã - citação de Maiakóvski...

" Na primeira noite, eles aproximam-se e colhem uma flor do nosso jardim.

E não dizemos nada.

Na segunda noite, já não se escondem, pisam as flores, matam o nosso cão.

E não dizemos nada.

Até que um dia, o mais frágil deles, entra sozinho na nossa casa,
rouba-nos a Lua e, conhecendo o nosso medo,
arranca-nos a voz da garganta.

E porque não dissemos nada,
já não podemos dizer nada.

Só uma perguntinha...

E este, pode-se chamar de fassista?

terça-feira, 9 de outubro de 2007

Mambo 26

Nas arcadas de qualquer coisa, teimam sempre uns peitos de pés que nascem de papelões e tão descrentes quanto parados, arqueiam-se pelo delírio de já não pertencerem a setas que respiram ventos.
Mais acima, espreitam de lá uns tons que parecem enxutos mundos mas restam só lá demolhados nos círculos da cara, como sentados que estão para sempre numa inclinação única.
Não sabem des-sabores porque tudo tem um cheiro de todos, de um buraco universal que não se pode atapetar por cima.
As suas solidões são esses vapores subidos, que não encontram susto.


P.S-Eles nunca lerão este blogue, eles, os outros, os que não são eu nem tu, os Sem-Abrigo das cidades belas... como Lisboa, como...

Foi só um sonho estranho

Hoje tive um sonho muito esquisito. Sonhei que a polícia fazia visitas a quem se pretende manifestar, antes das ditas manifestações, para inspeccionar o material e aconselhar a malta a "portar-se bem".
O que vale é que era só um sonho, pois ao acordar lembrei-me que vivemos num estado de direito democrático.

Halloween - O Exorcismo de Mary Witch

Nicarágua pela vida

María de Jesús González was a practical woman. A very poor single mother, the 28-year-old's home was a shack on a mountain near the town of Ocotal in Nicaragua. She made the best of it. The shack was spotless, the children scrubbed. She earned money by washing clothes in the river and making and selling tortillas.
That nowast quite enough to feed her four young children and her elderly mother, so every few months González caught a bus to Managua, the capital, and slaved for a week washing and ironing clothes. The pay was three times better, about £2.60 a day, and by staying with two aunts she cut her costs. She would return to her hamlet with a little nest-egg in her purse. She bought herself one treat - a pair of red shoes - but she would leave them with her family in Managua, as they were no good on the mountain trails she had to go up to get home.
During a visit to Managua in February she felt unwell and visited a hospital. The news was devastating. She was pregnant - and it was ectopic, meaning the foetus was growing outside the womb and not viable. The longer González remained pregnant, the greater the risk of rupture, haemorrhaging and death.
What González did next was - when you understand what life in Nicaragua is like these days - utterly rational. She walked out of the hospital, past the obstetrics and gynaecological ward, past the clinics and pharmacies lining the avenues, packed her bag, kissed her aunts goodbye, and caught a bus back to her village. She summoned two neighbouring women - traditional healers - and requested that they terminate the pregnancy in her shack. Without anaesthetic or proper instruments it was more akin to mutilation than surgery, but González insisted. The haemhorraging was intense, and the agony can only be imagined. It was in vain. Maria died. "We heard there was a lot of blood, a lot of pain," says Esperanza Zeledon, 52, one of the Managua aunts.
González was not stupid and did not want to die. She knew her chance of surviving the butchery was small. But being a practical woman, she recognised it was her only chance, and took it. The story of why it was her only chance is an unfolding drama of religion, politics and power that has made Nicaragua a crucible in the global battle over abortion rights.

Mais aqui.

Desde Novembro, quando o aborto passou a crime neste pais, morreram 82 mulheres, segundo o mesmo artigo. 82 mulheres. Mereciam, não é? Ou é mentira? Ou isso não interessa para a pergunta - o utilitarismo é uma grande treta? Ou isto é propaganda de esquerda?Qual é a desculpa para isto? Quem votou "não" no referendo devia pensar muito bem nestas 82 vidas (e na quantidade inestimável de mulheres que deve ter ficado infértil)

Porque quem tem delírios religiosos e acredita em santinhas com buço e afins está no seu pleno direito. Agora chega de me obrigarem a viver sob esses padrões esquizofrenizantes.

82. Nosso senhor escreve direito por linhas tortas, o malandro. Muito tortas, mesmo.

Sinais


Desenho Maturino Galvão

Patriota


Washington. USA. 2007

Foto Jota Esse Erre

"L’AVENIR DE MYCOPLASMA LABORATORIUM"

"Une dépêche de l’Agence France Presse est venue à point nommé me fournir mon introduction. Elle est tombée hier soir à 21h24, en provenance de Washington, capitale des États-Unis.

Craig Venter – le fameux chercheur de pointe en biotechnologie, qui avait été avec son équipe en tête de la course pour le déchiffrage du génome humain, et qui avait défrayé la chronique pour avoir voulu breveter sa découverte –, Craig Venter se dit maintenant, je cite, « sur le point de créer une nouvelle forme de vie ». La nouvelle pourrait devenir officielle dès ce lundi, aux Journées d’études annuelles Craig J. Venter Institute de San Diego, en Californie.

Pour la première fois au monde, un chromosome synthétique aurait été réalisé en laboratoire. Une équipe de 20 chercheurs, sous la direction du Prix Nobel Hamilton Smith, aurait réussi à coller, raccorder, articuler une séquence d’ADN longue de 381 gènes (je rappelle que le génome humain en compte environ 34.000).

Les biotechnologistes sont partis de l’organisme vivant le plus simple qui soit connu, cet organisme unicellulaire que nous appelons la bactérie, en l’occurrence la bactérie Mycoplasma genitalium, que l’on trouve dans les voies génitales. Son patrimoine génétique de 517 gènes a été artificiellement réduit d’un quart pour donner naissance, si l’on peut dire, au chromosome synthétique. Celui-ci a été ensuite transplanté, et greffé à une cellule bactérienne vivante. Il devrait réussir à en prendre le contrôle et à la piloter. Ce serait alors une « nouvelle forme de vie ». La bactérie ainsi trafiquée a reçu le nom de Mycoplasma laboratorium.

Si j’ai bien compris la nouvelle, Mycoplasma laboratorium est une entité mixte, hybride ; la molécule est naturelle, tandis que son ADN est artificiel. Il reste encore à savoir si cette nouvelle forme de vie réussira à se reproduire et à se métaboliser. Interrogé par l’AFP, un porte-parole de l’Institut a indiqué que ce n’était encore fait. « Quand nous l’aurons fait, a-t-il dit, il y aura une publication scientifique, et nous sommes sans doute encore à des mois de faire ça. ». Néanmoins, Craig Venter a déclaré au journal The Guardian : « Nous savions lire notre code génétique. Nous allons être capables de l’écrire. » Il a l’intention de breveter la nouvelle bactérie, et de ne permettre son utilisation que sous contrat de licence avec son Institut.

Cette avancée sensationnelle de la biotechnologie met déjà sur les dents les organismes de veille en bioéthique. Le directeur d’une organisation canadienne a déclaré : « What does it mean – qu’est-ce que ça veut dire, de créer des nouvelles formes de vie dans un tube de laboratoire ? M. Venter a mis au point un châssis sur lequel on peut construire à peu près n’importe quoi, des nouveaux médicaments comme des armes biologiques. ». Craig Venter a répondu : « Nous avons le sentiment que that is good science. C’est un pas philosophique très important dans l’histoire de notre espèce. Nous essayons de créer un nouveau système de valeurs concernant la vie. À cette échelle, on ne peut pas s’attendre à ce que tout le monde soit content, happy. » Non, tout le monde n’est pas content.

Les progrès de la biologie seront sans doute au XXIème siècle ce que fut la physique au XXème siècle, comme l’écrivait récemment Freeman Dyson dans la New York Review of Books. L’industrie biotechnologique est sans doute appelée corrélativement à connaître une croissance exponentielle.

Dans le même temps, la vie, sous ses formes connues depuis l’origine des temps, trouve des défenseurs. Ce sont les sectateurs de la tradition, qui peuplent les comités d’éthique et les organisations de bioéthique, depuis les humanistes laïcs jusqu’à l’Église. Celle-ci mène sur ce thème un combat politique multiforme, qui va de l’avortement aux cellules souches. Ce sera demain, on peut le prévoir, Vade retro Mycoplasma laboratorium.

Et les psychanalystes là-dedans ?

La psychanalyse n’est sans doute pas une nouvelle forme de vie, mais elle est probablement une nouvelle forme de discours, le produit artificiel de la logotechnologie la plus avancée. Il n’est pas sûr que ses praticiens se soient déjà mis au pas du discours inédit qu’ils servent, en dépit de l’effort prolongé de Lacan pour dégager l’ADN freudien, c’est-à-dire la séquence signifiante pilotant la pratique, de sa gangue initiale, concrétion d’anciens discours et d’idéologies surannées. L’inertie idéologique, c’est-à-dire imaginaire, l’emporte régulièrement chez eux sur le dynamisme symbolique du discours, et se traduit dans la réalité effective par une pratique souvent hésitante, incertaine dans sa problématique.

La grande majorité des psychanalystes existants dans le monde, pour ne pas dire leur quasi-totalité, sont ainsi des traditionalistes. Ils adoptent tout naturellement les positions humanistes et cléricales, dans l’espoir de prolonger le monde qu’ils ont connu, et de brider, voire d’arrêter le mouvement actuel de la science comme les incidences que celui-ci ne manque pas d’avoir sur les dimensions politiques et sociales de la réalité effective.

Ils y sont encouragés par le pessimisme foncier de Sigmund Freud, persuadé d’avoir reconnu chez l’être humain, à travers son expérience, une pulsion spécifique, la pulsion de mort, dont le XXème siècle lui avait permis de constater les ravages à grande échelle par l’éclosion d’une guerre mondiale, en 1914, et par l’ébranlement de l’équilibre des puissances voulu par Bismarck (voir le traité de Berlin de 1878 et l’Acte final de la Conférence de Berlin en 1885). Simultanément, le système de valeurs de la démocratie américaine, si opposé à celui de l’Autriche-Hongrie et, plus généralement, celui de la vieille Europe, montait en puissance, et entamait le processus de sa mondialisation dont l’évidence s’impose au début du XXIème siècle. Le changement des fondamentaux de la tradition européenne paraissait à Freud à la fois irrésistible et ne pouvoir se faire que pour le pire.

Dans son Éthique de la psychanalyse, qui reprend Malaise dans la civilisation, Lacan s’inscrit dans la même ligne. Il reconnaît la pulsion de mort à l’œuvre dans la prépondérance acquise par le discours scientifique, ses avancées prodigieuses, sa véritable frénésie, et ses conséquences sur les modes de vie et de jouissance : la multiplication et le renouvellement incessant des objets technologiques, faisant naître des demandes toujours plus pressantes et offrant des satisfactions toujours plus disponibles, sans étancher pour autant le manque-à-jouir, mais au contraire le répandant sur toute la surface du globe, le portant à une intensité jamais vue, mettant en mouvement les sociétés arrêtées, an-historiques, froides, et portant à ébullition les sociétés chaudes.

Comme le pessimisme freudien, le pessimisme lacanien est établi sur la conviction que tout changement est pour le pire et que ce pire s’imposera irrésistiblement, qu’il est programmé, qu’il est sûr. Mais il s’y ajoute chez Lacan une note qui n’est pas chez Freud : une note à proprement parler sardonique, un ton moqueur et méchant à l’endroit d’une humanité qui, à travers des succès sensationnels, travaille en fait à sa perte. Pas de pitié pour l’humanité ! Le destin de cette engeance, de cette forme de vie intrinsèquement loupée, est de se résorber après avoir apporté à la nature toutes les transformations, tous les ravages, qui sont conditionnés par le fait que cette espèce, parce qu’elle parle, est à la fois dénaturée et dénaturante, si je puis dire.

On verra, en lisant cette année le Séminaire XVIII et le Séminaire XIX sous une forme enfin digne de l’auteur, l’attention que Lacan avait portée à la découverte du code génétique. On verra qu’il était intrigué par la forme de vie unicellulaire des bactéries. On verra aussi qu’il prophétisait de grands changements dans l’organisation de la vie et de sa reproduction.

Lacan affichait sa pente moqueuse, et ne cachait pas sa méchanceté : « Je n’ai pas de bonnes intentions », disait-il. C’est que les bonnes intentions ne garantissent de rien. Comme on sait, l’enfer en est pavé. Impossible de diriger une cure analytique vers sa conclusion logique si l’analyste n’est pas assez voisin de sa propre méchanceté pour percer les voiles de la pitié et de la terreur. Moquerie et méchanceté, ce ne sont pas seulement des traits de caractère de Lacan. La moquerie s’appuyant au bras de la méchanceté, fait cortège à ce qui, de l’analyste, est attendu de lucidité.

Les psychanalystes n’ont pas à rejoindre le chœur des pleureuses qui soupirent après le temps jadis. Libre à chacun d’eux d’être humaniste, si ça lui chante, chrétien, pourquoi pas, mais comme analyste, il ne saurait être traditionaliste, car cette position réactive, réactionnaire, conservatrice, va à rebours de son acte. Ce n’est pas dire pour autant que le psychanalyste puisse partager l’enthousiasme des managers du progrès scientifique, qui voient déjà les caisses de leurs instituts se remplirent des revenus que leur vaudront les contrats de licence qu’ils signeront pour l’utilisation de leurs chromosomes brevetés.

Non. L’analyste se décompte. Il ne mange pas de ce pain-là, le pain du progrès. Il ne joue pas davantage le jeu vain de la tradition. Il est spectateur, il rit de bon cœur à la tragi-comédie dont l’humanité, les trumains, comme l’écrit Lacan, lui donnent le spectacle.

Non, ce n’est pas une belle âme, car il lui importe que, dans les gigantesques remaniements en cours du discours, de la vie, et de la société, la psychanalyse continue de frayer sa voie à elle dans la Wirklichkeit, la réalité effective. Et il lui importe qu’il y en ait d’autres comme lui, qui ne soient pas dupes ni de la tradition, ni du progrès. Et comme être non-dupe absolu, c’est l’errance assurée, la troisième voie, ce doit être le discours analytique.

On en est loin, pensons-nous. Le discours analytique est bien pauvre, misérable, quand on le compare aux splendeurs accumulées au cours des siècles par les traditions religieuses et humanistes, quand on mesure ses balbutiements au progrès implacable du discours de la science, et aux richesses bien matérielles qui viennent remplir les coffres du capitalisme industriel et financier. Eh bien, dans son dénuement même, le discours analytique occupe pourtant dans le choc de la tradition et du progrès une position originale, structuralement prescrite, et qui s’avérera inexpugnable pour peu que les psychanalystes sachent monter au créneau de leur forteresse.

Le destin de la psychanalyse n’est nullement attaché à la vitalité du Nom-du-Père hérité de la tradition. Le déclin du Nom-du-Père s’est annoncé dès le XIXème siècle, Balzac le signale, par l’effet des remaniements qu’induisait dans la société la montée en puissance du mode de production capitaliste, lui-même conditionné par la révolution technologique de la fin du XVIIIème siècle, conséquence de la révolution scientifique du XVIIème. Les avancées de la biologie dans la seconde moitié du XXème siècle ont puissamment ébranlé l’ordre du monde fondé sur la prévalence du Nom-du-Père et du Nom-de-Dieu. Cet ébranlement, désormais sensible à tous, est à l’origine de la réaction traditionaliste, qui prend la forme de mouvements dits fondamentalistes. Ces mouvements, inexistants dans les zones du globe marquées par des religions sans Nom-du-Père1, restent modérés dans celles où s’était imposée une conception trinitaire, tamponnant l’absolu du Nom. Ils sont déjà plus extrémistes là où le culte du Nom unique est traditionnel, dans le judaïsme. Ils ont franchement recours au mass murder là où le Nom est traditionnellement appelé à régner sur les esprits et sur la société sous une forme absolue, je veux dire en terre d’Islam.

On peut d’ores et déjà prévoir les convulsions immenses qu’entraînera au cours du présent siècle l’apparition probable de nouvelles formes de vie synthétiques, mises au point en laboratoire, non plus au nom du Père, mais au nom du progrès scientifique et des bienfaits qui en sont attendus.

Non plus lire, mais écrire le code génétique : ce n’est pas encore fait, mais, depuis hier, c’est dit, et il est probable que ce sera fait.

C’est là qu’il est opportun d’entendre à nouveau la petite voix de Jacques Lacan, et son dit aphoristique, longtemps énigmatique, cryptique : « Il n’y a pas de rapport sexuel – de rapport sexuel qui puisse être écrit. »

Il s’agit là d’un caveat majeur, d’une clause d’impossibilité extraite par Lacan de l’expérience conditionnée par le discours analytique, et dont il s’est efforcé de démontrer la pertinence dans ses Séminaires XVIII et XIX au début des années 1970. Aujourd’hui, en 2007, cela veut dire ceci. Les ré-écritures en cours du patrimoine génétique des êtres vivants donneront sans doute naissance à des nouvelles formes de vie. Cette ré-écriture finira certainement par toucher le génome humain lui-même. Des formes inédites de reproduction du vivant apparaîtront. Néanmoins, on peut être assuré que, concernant l’espèce humaine, il restera impossible d’écrire dans le code génétique le rapport sexuel qu’il n’y a pas.

Chez le parlêtre, le rapport sexuel est conditionné par le langage, ou, plus précisément, par la pratique de lalangue. Il s’ensuit qu’il distingue dans son corps des organes, qui prennent valeur de signifiant. C’est le cas en particulier de l’organe mâle de la reproduction. C’est aussi le cas d’une entité matérielle excrétée par le corps, à savoir l’objet anal, et de l’entité matérielle nécessaire à sa subsistance, et prélevée sur le corps maternel, l’objet oral. Il en va de même d’objets dont la matérialité est certaine bien que moins évidente, le regard et la voix. Ces objets ont valeur de signifiants imaginaires. Ayant valeur de signifiants, ils sont potentiellement porteurs de significations. Ces significations ne sont pas génériques et nécessaires ; en raison de la structure de la relation du signifiant au signifié, elles sont individuelles et aléatoires. Or, elles interfèrent nécessairement dans l’établissement du rapport sexuel, au point qu’il apparaît que le parlêtre a rapport à ces objets plutôt qu’au partenaire sexuel proprement dit.

On a pu montrer en psychanalyse que, chez un sujet donné, le choix d’objet sexuel était en fait guidé par l’implication de cet objet sexuel dans certaines des significations attachées aux objets primordiaux que nous avons énumérés. Le mode de jouissance du parlêtre en est affecté jusqu’au tréfonds, et s’en trouve fondamentalement diversifié selon les individus de l’espèce, même si l’on peut grosso modo distinguer le mode de jouir de l’individu mâle du mode de jouir de l’individu femelle. Cette extrême individuation du mode de jouir selon les significations en jeu oblige d’ailleurs à mettre en fonction le sujet du signifiant plutôt que l’individu de l’espèce.

Pour le dire en termes techniques, le rapport du sujet au phallus et, plus généralement, à l’objet petit a, existe comme tel, il se rencontre chez tous les sujets dotés de parlêtre, il relève, disons, du réel. En revanche, le rapport à l’autre sexe n’existe pas comme tel, il relève, disons, du semblant. Le rapport sexuel constitue dans le parlêtre une véritable faille du réel, qu’aucune ingénierie biotechnologique, aucune biologie synthétique, ne saurait combler, sauf à lui ôter la faculté de parler, à réaliser l’ablation du symbolique. C’est dans cette faille que prolifèrent les fantasmes, les délires, les épopées aussi dont s’avère capable l’espèce humaine, dans le registre religieux comme dans celui du savoir scientifique et des technologies qui l’exploitent et l’orientent.

L’expérience analytique, qui a maintenant un siècle derrière elle, montre, si on la lit comme il convient, que le choix d’objet sexuel propre à un sujet donné se caractérise par trois traits constants : la contingence ; la singularité ; l’invention.

Contingence. Le défaut d’écriture de tout rapport sexuel générique a pour conséquence que le sujet dépend de la contingence des rencontres qu’il peut faire dans la sphère de son Umwelt, et des énoncés prescriptifs qui remplacent pour lui le rapport ininscriptible. Les civilisations ont inventé différents modèles normatifs pour rémunérer le défaut de rapport sexuel. Par rapport à ces normes, la déviation subjective n’est pas accidentelle, elle est de règle. Une analyse permet en général d’isoler la ou les rencontres initiales faisant écriture.

Singularité. Une fois installé à partir de la contingence initiale, le mode de jouir, en général, s’avère nécessaire, au sens où il ne cesse plus de s’écrire, mais se répète. Une analyse doit permettre de repérer, d’isoler, et de rendre lisible l’écriture du programme de jouissance qui prévaut pour un sujet, lui ouvrant ainsi la possibilité de gagner un certain degré de liberté par rapport à celui-ci, et, au moins, de s’y inscrire avec le moins de malaise possible.

Invention, enfin. Une invention aléatoire vient en général recouvrir la contingence réelle comme la nécessité subséquente, pour donner au sujet l’illusion d’une liberté de choix inspiré par des motifs éthiques et/ou rationnels, selon la formule : « Moi, comme les autres », à moins qu’elle n’entretienne chez lui la notion d’un malheur de l’être dont il serait seul la victime, selon la formule : « Tous, sauf moi ». Une analyse, là encore, doit lui permettre de balayer ces rêves grossiers pour se réconcilier autant que faire se peut avec la singularité qui est le lot de tout parlêtre. L’idéologie contemporaine de la civilisation occidentale, fortement marquée par la psychanalyse, va d’ailleurs dans ce sens.

C’est pourquoi je propose que, pour les Journées de l’ECF, l’année prochaine, nous puisions dans la richesse infinie de notre expérience pour témoigner du rapport sexuel dans sa contingence, sa singularité et ses inventions.

Titre : « Le rapport sexuel ».


1. Réflexion faite, le communisme asiatique, celui de Mao ou de Hô Chi Minh, peut s’analyser comme une réaction traditionaliste au discours de la science comme au discours capitaliste. (Ajouté le 8 octobre.)


Références

- Freeman Dyson, « Our biotech future », The New York Review of Books, vol. 54, n° 12, 19 juillet 2007 ; ainsi que : l’échange de W. Berry, J.P. Herman, et C.B. Michael, avec Fr. Dyson, vol. 14, 27 septembre 2007 ; la lettre de Raymond A. Firestone et la réponse de Fr. Dyson, vol. 54, 11 octobre 2007.

- Frédéric Garlan, « Le biologiste controversé C. Venter annonce une nouvelle forme de vie », AFP, 6 octobre 2007, 20h24.

- Ed Pilkington, « Scientist has made synthetic chromosome », The Guardian, 6 octobre 2007.


Compléments

· Au moment de rédiger ma communication, je n’avais pas lu l’article suivant, très suggestif : Andrew Pollack, « How do you like your genes ? Biofabs take orders », The New York Times, 12 septembre 2007.
· Pour une approche médiatique du jeu de rôles sexuel, j’ai consulté ce matin le dossier du magazine Elle de cette semaine, intitulé : « Spécial sexe. Vive l’amour ! Ce qui nous rend femmes. Ce qui les rend fous ». Elle, n° 3223, 8 octobre 2007"

Communication aux XXXVIème, Journées de l’ECF
le 7 octobre 2007


Jacques-Alain Miller

domingo, 7 de outubro de 2007

Cena da Vida dos Antílopes



"Em África há muitos antílopes. São animais encantadores e de corrida veloz.
Os habitantes de África são os homens pretos, mas há também homens brancos, que estão de passagem, vêm para fazer negócios e precisam da ajuda dos pretos. Mas os pretos gostam mais de dançar do que de construir estradas ou caminhos de ferro, que é trabalho duríssimo para eles e que muitas vezes lhes causa a morte.
Quando os brancos chegam, muitas vezes os pretos fogem. Os brancos lançam-lhes os laço e apanham-nos, e os pretos são obrigados a fazer o caminho de ferro ou a estrada. Os brancos chamam-lhes "trabalhadores voluntários".
Aqueles que não podem ser apanhados porque estão longe e o laço é curto, ou porque correm depressa, são atacados a tiro, e por isso é que às vezes uma bala perdida na montanha mata um pobre antílope que estava a dormir.
Então é a uma alegria para os brancos, e para os pretos também, porque normalmente os pretos estão muito mal alimentados, e toda a gente desce para a aldeia a gritar "Matámos um antílope" — e a tocar muita música.
Os homens pretos batem em tambores e ateiam grandes fogueiras, os homens brancos vêem-nos dançar e no dia seguinte escrevem aos amigos: "Houve um grande tantã, correu muito bem!".
Lá em cima, na montanha, os pais e companheiros do antílope olham uns para os outros em silêncio: sentem que aconteceu qualquer coisa...
... Põe-se o sol e cada um dos animais perguntam a si mesmo, sem se atrever a erguer a voz para não preocupar os outros: "Onde terá ido ele? Disse que voltava para jantar às nove!".
Um dos antílopes, imóvel em cima de um rochedo, contempla a aldeia, lá muito longe e muito em baixo, no vale, uma aldeiazinha tão pequena mas com muita luz e cantorias e gritos... uma fogueira de alegria.
Uma fogueira de alegria entre os homens; o antílope compreendeu. Sai do rochedo e vai ter com os outros: "Já não vale a pena esperar, podemos jantar sem ele...".
Então todos os outros antílopes vão para a mesa, mas ninguém tem fome.
Que triste refeição."

Jacques Prévert, in "histórias para meninos sem juízo" teorema, 1998

imagem de Elsa Henriquez

Saudades do Verão

(1)

(2)

Tom Waits

Suécia (2)


Clínica dentária. Uppsala.Suécia. 2007

Foto Sérgio Santimano

Sinais


Desenho Maturino Galvão

sábado, 6 de outubro de 2007

sexta-feira, 5 de outubro de 2007

Tout le monde délire


Tout le monde délire
REVUE DE PSYCHANALYSE | n° 67 | octobre 2007
la Cause freudienne
www.causefreudienne.org

Philippe Hellebois Editorial
Clinique
La conversation 2007 de Ville-Evrard « On n’est pas sérieux quand on a dix-sept ans »
La névrose obsessionnelle
Esthela Solano L’homme aux rats
Philippe De Georges « Une pensée dont l’âme s’embarrasse »
Jacqueline Dhéret Une leçon sur le désir
Philippe La Sagna Les objets de l’obsessionnel
Serge Cottet A propos de la névrose obsessionnelle féminine
Lilia Mahjoub Hélène Deutsch, l’obsession et la jouissance féminine
Reportage
Daniel B. Smith Vivre avec des voix dans sa tête
Le séminaire de Jacques Lacan
Jacques-Alain Miller Une lecture du séminaire « D’un Autre à l’autre », L’envers de Lacan
Entretiens
Joseph Attié Mallarmé le livre
Philippe Berthier Stendhal et l’amour
Gennie Lemoine
Eric Laurent Le style interprétatif de Gennie
Jacques-Alain Miller Hommage à Gennie Lemoine
Etudes lacaniennes
Bernard Lecœur Les appuis corporels de la lettre
Christine Le Boulengé Freud plus poppérien que Popper
Lectures
Françoise Fonteneau Axel Honneth : La société du mépris
Domenico Cosenza Martin Egge : La cura del bambino autistico
Expositions
Christiane Terrisse Kiki Smith
Yves Depelsenaire Les trumains de David Hammons
Addendum

Dessin de couverture :
Joäo de Azevedo |
Layout: tell&graph

Sinais


Desenho Maturino Galvão

Moscovo (15)


Moscovo.Rússia. 2007

Foto FFC

Telegramas

1. Birmânia: síndroma da Realpolitik? "Um paraíso esquecido no tempo e geografia, tornado num inferno por uma clique de generais dispostos a todos os comportamentos orwellianos para se apoderarem das riquezas naturais. Petróleo, gás natural, madeiras preciosas. De início, roubaram-lhe o nome e rebatizaram-na de Myanmar, exigindo dos serviços postais que reenviassem ao expedidor todo o correio que mencionasse o nome de "Birmânia" colando a menção"país desconhecido". Este extracto faz parte de um artigo de Christophe Ono-Dit-Biot, recentemente publicado no Liberátion. Situemos a questão crucial: os USA, a China, a Índia e o Japão, com a Rússia por perto, parecem não estar interessados numa mudança brusca do terrível statuo quo birmanês. As nuances e equilíbrios geopolíticos inter-regionais apontam para uma indefinição momentânea da situação social e política. A Tailândia, com uma Junta militar mais ou menos democrática, tem realizado vultuosos investimentos na prospecção de gás e petróleo. A que se juntam agora uma série de barragens hidroeléctricas para produção de electricidade indispensável ao surto industrial tailandês. A China e a Índia, por motivos semelhantes, tentam obter quotas nos jazigos de gás e petróleo a serem prospectados no Golfo de Martaban. Tudo isso conta e os USA de GW Bush perderam já grande parte da aura de progresso e paz que tinham na zona, ponto cada vez mais importante do afrontamento pelo poder entre, por um lado, o Japão, a Coreia do Sul, Taiwan, Indonésia e Tailândia, principalmente, e pelo outro, um bloco irregular de cada vez mais dependentes do humor das relações entre a tríade " infernal", China, Índia e Rússia. Investigadores da Universidade de Harvard produzem relatórios muito precisos que o NY Times tem divulgado na última semana. Portanto, a situação birmanesa vai continuar a chocar-nos e ninguém sabe como obrigar a Junta militar a negociar com os partidos da Oposição na clandestinidade.

2. Mailer ataca de novo GW Bush - Recordam-se do livro-planfleto de Norman Mailer sobre o 11/9? E da campanha fantástica que desencadeou, a nível mundial, de parceria com Le Carré e Harold Pinter, entre outros, de protesto contra a invasão do Iraque? Bem, esta semana, Mailer vai lançar mais um romance. Intitula-se “Um castelo na floresta” e o grande escritor norte-americano, a esse propósito, deu uma grande entrevista a um consórcio mundial de jornais e revistas. Destaque para o reforço da crítica "psicanalítica" que subscreve de GW Bush. Diz ele, e vale a pena segui-lo: " A democracia é como um casamento. Um casamento pode acabar mal, e a democracia também. Nos USA, esse perigo existe. A democracia não está em tão bom estado, como há cerca de cinco anos atrás; e nós encontramo-nos numa situação pré-fascista, como um cancro que nos devora a pouco e pouco. O presidente GW Bush constitui só por si uma zona de infecção. Cada vez que abre a boca, ele diminuiu a boa saúde da democracia".

FAR

Mito de Ariane ??

quinta-feira, 4 de outubro de 2007

Sinais


Desenho Maturino Galvão

As carpideiras e os puros

Depois do PCP acusar Sá Fernandes de estar «disponível para tudo desde que possa tutelar um pelourozinho na Câmara Municipal de Lisboa» , e isto embora o próprio PCP tenha já estado, e largos anos, coligado com o PS na Câmara, começamos a ver resultados da (feliz) coligação entre o PS e o BE: plano verde aprovado, e, de acordo com o Público de hoje (sem link), contrato de trabalho para todos os trabalhadores a recibo verde que a CML possui. Situações que só com a Esquerda nos executivos são possiveis, e que mudam a realidade da cidade. Assim se percebe a indignação das carpideiras do costume, e os seus cenários de apocalipse que daquí a uns tempos convenientemente recalcaram, como, infelizmente, se entende a tácita coligação entre o PCP, o PSD e Carmona, para tentar bloquear propostas do executivo. Nada a que o partido dos puros e duros não nos tenha habituado, em muitos executívos autárquicos por esse país fora. É pena que o PCP não veja que, mais importante que lutar pela hegemonia dentro da Esquerda, este é o momento histórico para lutar pela sobrevivência da Esquerda, enquanto projecto e realidade política exequível.

No aniversário do Landru

Há uns anos desinquietava as amigas

Agora desinquieta-nos as mães

Que deixem a canasta e passem para as slot-machines do Estoril, são os conselhos do expert.

Que fazer com amigos assim?

Fotos Ivone Ralha

quarta-feira, 3 de outubro de 2007

Leituras de Outono. Diplomacia, Doce e Amarga (2)

“(...)
Um belo dia desembarcou em Alexandria um major do exército britânico, veterano da Índia, uma figura marcial e imponente, com bastos bigodes ruivos, que foi logo acostado por um jovem egípcio oferecendo-lhe os seus serviços. O major procurou enxotar o rapaz, mas este era insistente:
-- Eu estou ao seu serviço. O senhor certamente vai gostar...
O major, irritado, gritou-lhe:
-- Deixe-me em paz! Não me incomode!
Mas o garoto persistiu:
-- Eu sei muitas coisas. Todos dizem que sou muito bom. O senhor verá...
O major, já fora de si gritou-lhe:
-- Não me incomode já lhe disse!
O garoto, porém, não desistia e tornou:
-- Se vier comigo verá que não se arrependerá...
Nessa altura, o major ao rubro, explodiu. Estacou e, em tom enérgico e decisivo, disse para o jovem inoportuno:
-- Já lhe disse e repeti para me deixar em paz! Mas se você persistir em me incomodar, vou ao cônsul-geral britânico! (If you insist, I am going to the British Consul General!)
O rapaz parou também, mirou o major da cabeça aos pés, e com um pequeno sorriso malicioso, disse:
--Ok, Ok! O senhor pode ir ao cônsul-geral britânico. Ele é muito limpinho, mas é um pouco carote! (He is very clean but rather expensive indeed!)”

José Calvet de Magalhães, registando uma história contada, em 1957, pelo sueco Gunnar Myrdal.

Suécia (1)


Suécia. 2007

Foto Sérgio Santimano

Sinais


Desenho Maturino Galvão

PSD (3)

A esmagadora maioria das análises sobre a eleição de Luis Filipe Menezes para presidente do PSD cai, na minha opinião, num dos mais típicos erros de análise que a Opinião portuguesa habitualmente produz (entenda-se neste conceito de "Opinião portuguesa", se for possivel, tanto as exageradamente badaladas "intelectualidades" - e só no círculo da Política - como, e muito mais relevante, o "senso comum", um conceito muito mais importante, mas adiante que isto é apenas um post). E este erro é o da incapacidade de auto-análise. Ou, dito de outra forma, ser quase impossivel o afastamento de nós próprios, de modo a que se percebam em nós as possibilidades de futuro.
Ou seja, e traduzindo para míudos, quem está convencido que o passado de Luis Filipe Menezes será relevante para os seus resultados futuros, não compreende uma das mais essenciais determinações da "alma portuguesa", que é, justamente, não ligar pevas ao passado. Uma característica dos povos com uma deficiente noção auto-identificante.
Há que abrir aqui um parêntesis: considero Menezes um homem inteligente; um "homo politicus", ou seja, um "populista", nesse mesmo sentido que é entendido há dois mil e quinhentos anos, desde Péricles. Por isso, e por vivermos num país em que a "onda", o "projecto", o "carisma" se sobrepõem a qualquer memória do passado, mesmo que apenas medianamente longínqua, é muitíssimo mais perigoso que Marques Mendes. E, mais do que isso, e mais importante que qualquer outra coisa, os momentos em que se inscrevem os territórios das rupturas são voláteis, ou seja, vogam ao sabor da oportunidade.
Dito isto, quer-me parecer que a eleição de Menezes é uma má e uma boa notícia para a Esquerda: uma má, porque aposto que será um adversário mil vezes superior a Marques Mendes (e aposto a sério - não dou nada pelas pseudo-análises que o fazem derrotado à partida, elas caem, como disse, num dos mais típicos erros de análise que a Opinião portuguesa habitualemte produz). Uma boa, porque as ideias à direita obrigam a esquerda acomodada, pançuda e interesseira, a ter um vislumbre daquilo que era antes de o ser, nem que seja apenas para poder sobreviver no jogo.

terça-feira, 2 de outubro de 2007

À paisana?


Cães polícia ou cadelas polícia? Silver Spring. Maryland. USA. 2007

Foto Jota Esse Erre

Sinais


Desenho Maturino Galvão

Um povo de gente trabalhadora

Segundo um estudo publicado no Público de ontem (1 de Outubro - sem link, as usual), os idosos portugueses são os que mais trabalham na Europa. Quem é que disse que os tugas são preguiçosos?
Daqui poderemos derivar mais uma doutrina socrática sobre a excelência no porvir deste nosso povo: "vamos integrar os nossos velhinhos na vida económica", "aos 65 ainda se tem muita actividade", "a vida não pode ser só jogar às cartas", ou, numa versão mais popular, "mas porque é que eu tenho de pagar a reforma do meu pai?" E já que os andamos a ensinar a mexer com computadores, quiçá possamos criar uma geronto-geração de webdesigners, programadores, analistas de sistemas, ou consultores informáticos. Sim, que os velhinhos ainda tem muito a ensinar ao mundo.

Aforismos liberais (9)

Todos os cidadãos escolhem livremente. Não há assimetria de informação. Nenhuma escolha num mercado livre é condicionada. A informação que existe é aquela que os agentes do mercado, livremente, decidem transmitir. Logo, é livre. Deste modo, todas as escolhas são informadas, visto que a ausência de informação pode ser, neste sentido, considerada um incremento de informação.

Aforismos liberais (8)

Qualquer problema económico, em qualquer lugar, sob quaisquer circunstâncias, deve-se sempre à falta de liberalismo.

(Duvidas? É ler os comentários do jcd ao aforismo anterior)

segunda-feira, 1 de outubro de 2007

Sinais


Desenho Maturino Galvão

Moscovo (14)


Metro. Moscovo. Rússia. 2007


Foto FFC

O 'Sacavenense' tem novo Presidente

A baixa de Sacavém ficou inundada esta manhã.
Realmente, o país inteiro acumulou nestes últimos tempos um tal volume de detritos que foi Sacavém quem acabou por pagar a factura.
Saliente-se que a, agora, cidade de Sacavém poderá ser considerada como a 'mais genuína' cidade deste Portugal dos dias de hoje, tal como o PSD é considerado como o mais 'genuíno' partido político deste país. Quanto a esta última consideração não estou bem de acordo. O que, talvez, MST quisesse escrever era que o PSD seria assim como uma agremiação recreativa das muitas que existem pelo país fora: gente que se filia porque sim, depois esquece-se e não paga as quotas, gente que conspira para tomar de assalto a Direcção, gente que frequenta a sede quando está determinada Direcção, gente que anda sempre a refilar contra qualquer Direcção mas que não tem a coragem de fundar uma nova agremiação e continua a usufruir da 'bica' mais barata e de todas as regalias que a agremiação oferece, etc. Isto, para mim, é o PSD actual. Fala-se de 'barões' aberta e despudoradamente (Marcelo dixit, ainda há poucas horas atrás...). Não se usando, uma vez mais, o termo apropriado: cacique. O que, dentro dos poderes, vai exercendo as suas influências, arrebanhando gentes que o apoiem, que o possam levar a ganhar mais poder.
Acumulando à sua volta detritos. Estão por toda a parte, minando o aparelho do Estado: na administração central, na regional e na local. Desentendem-se entre si porque têm das coisas públicas uma visão muito, muitíssimo pessoal, imensamente estreita. O que lhes interessa, acima de tudo, é a agremiação - aquele espaço que é deles, daí para fora, para um país inteiro não têm ideias, nem propostas, nem tão - pouco se preocupam em não tê-las.
Por isso, talvez em parte por isso se vejam um pouco por toda a parte, por esta altura, as manifestações boçais daquilo a que noutros países civilizados se chama com propriedade a Academia ou 'Alma Mater' e que aqui se dá o nome de Universidade. A entrada de novos alunos na vida académica é alvo de manifestações dignas de seres com graves atrasos mentais, os novos alunos, esses, aprovam a imbecilização a que são submetidos.
Temos, pois, um país da dimensão de Sacavém: imerso em lama e detritos.
Exijo um passaporte já!