Houvesse aquilo que houvesse e ninguém se mexia.
Nem um gesto, por mínimo que fosse...
O esboço sequer de um protesto.
(Claro que, por vezes, se registavam algumas altercações...)
«Olhe lá, olhe que este rissol não é de hoje...»
«Não eram 70 cêntimos?... Olhe que eu dei-lhe um euro...»
Coisas quase em surdina. Muitas mesmo em surdina. A moer. Por dentro.
Por favor, não fale alto em público.
Por favor, não diga palavrões em público.
Por favor, não me passe à frente nas filas.
Por favor, utilize expressões como «por favor», «se faz favor», «obrigado(a)», «desculpe» e outras que têm a ver com o civismo e a boa-educação.
Buzinadelas avulsas são sempre demasiadas.
Nunca se sabe se quando servem para um protesto efectivo e real ou para saudar alguém que se vislumbrou no passeio contrário.
Parece-me, cada vez mais, que vivo num país de sonâmbulos.
Todos, diligentemente, a caminhar para o emprego,
gastando rios de gasolina.
Para chegar ao emprego - unicamente para que lá estejam.
Um país de sonâmbulos.
Hão-de ter gasto litros e litros de água, electricidade, houve alguns que até mudaram de roupan e puseram os despertadores para saír para o meio da rua àquela hora.
Para quê?
Só despesas.
Mais valia que não acordassem...
Houvesse aquilo que houvesse, para ali estavam - os olhos arremelgados, numa modorra pardacenta e triste, desinteressados e amorfos, alheios a tudo, errando nas trevas como sonâmbulos perfeitos.
3 comentários:
olá Fernando
Belo e agitador texto...
Penso nesse sonambulismo, nesse ataque massivo sem causa única ao sistema reticular, q parece endividar-nos c o luxo da precoce morte...
as bicas desta dita civilização, já não surtem a revolta das pálpebras, c a consciência lá atrás como líder.
restam as palavras e a colher de pau e os relâmpagos e a fome...
abraço
e mais não digo por não saber ler nem escrever
...Vejo aqui algo do "abrigo"!?
Beijos
SQ
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