quinta-feira, 26 de outubro de 2006

Dos brandos costumes aos costumes rascas...

Sinto-me, cada vez mais, Jeremias...
Constato, insatisfeito, um lugar povoado de gentes contra as quais hei-de lançar as minhas Jeremíadas...
(Isto faz-me lembrar uma conversa que tive, fazem alguns bons anos, com o Mário de Carvalho...).
Desci à realidade e constato que esta Escola não serve. A boçalidade mais rasca instalou-se no sistema de ensino. Da salazarice da tutela, aos salazarentos tutelados, passando pelos rascas tutelandos tudo vem a dar em confusão.

Hoje ouvi da boca de alguém que anda nestas coisas do Ensino há muitos, muitos anos algo como isto: «Se isto de ensinar me desse gozo, ainda aguentava mais uns anos... Há uns anos atrás ainda havia alunos com ideias, alunos com quem se podia conversar... Agora são todos malcriados, sem educação...»

Dá que pensar, amigos meus...
Nenhum professor, que se preze de o ser, poderá estar satisfeito com esta realidade do nosso ensino público.

A falta de educação alastrou pela nossa sociedade. Constata-se a olhos vistos, é palpável, audível, sente-se no ar - é um odor que se pode caracterizar como um não sei quê que se entranha e se desunha e nos empurra. Instalou-se, de alto a baixo, no nosso sistema de ensino público sem que a tutela do mesmo se tivesse importado com tal facto.
Já tivemos uma 'geração rasca'; mas, agora, a coisa é pior: estamos perante uma sociedade rasca que se pretende impor como modelo.
E o fosso vai-se cavando...

Termino com Ruy Belo (tão esquecido pelo PS como o faz com a Dra. Ana Benavente...):

«...
Vi-te pensar e paro e penso
e aqui sozinho em meio desta gente
definitivamente sei que sempre pensarei
que por muito que pense nunca houve ou haverá alguém
que pense tanto e que pense tão bem »

in. Diálogo com a figura do Profeta Jeremias pintada por Miguel Ângelo no tecto da Capela Sistina, Obra Poética de Ruy Belo, Vol. 2, Ed. Presença

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