segunda-feira, 16 de outubro de 2006

Da Capital do Império

Olá,

Hoje tenho más notícias para todos aí na EUtupia que sofrem da doença infantil do pós comunismo, o antiamericanismo primário: A dominação americana do mundo vai continuar por muitas e muitas mais décadas.
Quem o diz não sou eu. É o comité Nobel sediado em Estocolmo que este ano deu os prémios Nobel da Medicina, Química, Física e Economia a seis americanos.
O importante aqui a notar é que isto não é um acaso. O ano passado (2005) os americanos vencerem cinco prémios Nobel (um na Economia, dois na Química dois na Física). Em 2004 oito americanos foram premiados, em 2003 seis, em 2002 oito, etc etc. Desde 1950 os americanos venceram 48% dos prémios Nobel da Química, 61% dos prémios Nobel da Física e 58% dos prémios da Medicina. Deixo a Economia de fora porque aí então os burros dos americanos ganham quase sempre, mas Economia como nós sabemos não é ciência. Na minha vida já me apercebi que os problemas económicos são sempre os mesmos década após década, mas ao contrário da ciência as soluções variam.
Em termos de instituições a dominação é esmagadoramente americana. Desde o fim da Segunda Guerra Mundial 59,8% dos Nobel foram para instituições nos Estados Unidos e essa dominação esta a aumentar. Nos últimos 25 anos cerca de 70% dos prémios Nobel foram para instituições americanas.
O que é que isto reflecte? Reflecte o facto de que cerca de 40 por cento de todos os fundos gastos no mundo em Investigação e Desenvolvimento (Research and Development) serem gastos nos Estados Unidos. De facto mais fundos são usados em Investigação e Desenvolvimento nos Estados Unidos do que em todos os restantes países do G-7 em conjunto. Só o governo federal Americano gasta cerca de 140 mil milhões de dólares anuais em investigação científica. O total de fundos gastos em investigação científica ascende a cerca de 285 mil milhões de dólares por ano.
Na Europa duas das três companhias privadas que mais gastam em Research and Development são …. americanas ( Ford e General Motors. A outra é a Pfizer)
O professor checo (!) Lubos Motl, da Universidade de Harvard disse que na União Europeia "não se recompensa o risco e investigação como na América (onde) os cientistas se podem dar ao luxo de ter grandes visões, mesmo com riscos". Lembro-me a este propósito estar num jantar recente onde se encontrava um astrónomo da NASA que no meio da conversa me disse estar cansado porque tinha passado os dois últimos dias a rever propostas de investigação dos trabalhadores da NASA. Todos os anos uns tantos milhões são gastos em investigação "pura" e como me disse esse astrónomo no meio da risada geral "muitas vezes a investigação não dá nada".
A dominação dos Nobel reflecte também o facto de que 22 das 30 melhores universidades e 8 das 10 melhores do mundo do mundo estarem nos Estados Unidos e que uma "avalanche" de estudantes estrangeiros continuam a vir para essas universidades que são os grandes centros de investigação (Mais estudantes estrangeiros chegam agora aos Estados Unidos do que antes do 11 de Setembro de 2001).
Escusado será dizer que muitos desses estudantes acabam por ficar por cá, muitos adquirem a cidadania americana e alguns vencem os prémios Nobel. Exemplos: Ahmed Zewail que venceu o Nobel da Química em 1999 nasceu no Egipto. Os egípcios fizeram um forrobodó quando o homem venceu o Nobel. Zewail contudo tem agora cidadania americana mas mesmo que não a tivesse o importante é que ele não trabalha para o ministério de uma coisa qualquer no Egipto mas sim no Instituto de Tecnologia… da Califórnia. Gunter Blobel: venceu o prémio Nobel da Medicina em 1999, nasceu na Alemanha. Tem agora cidadania americana e trabalha na Universidade Rockfeller… em Nova Iorque. Em 2000 o alemão Herbert Kroemer venceu o Nobel da Física graças a investigações feitas na Universidade da Califórnia.
Se é verdade que muitos desses cérebros vem para aqui devido às condições de trabalho ou fugidos a perseguições politicas (caso de Einstein) outros vem para aqui devido à estupidez burocrática de outros países. Conheço um caso de uma autoridade em história europeia que veio para Harvard depois da sua universidade inglesa lhe ter dito que tinha chegado à idade de se reformar e que não podia continuar a trabalhar apesar de ser esse o seu desejo. (Um conceito considerado cómico pelos americanos). Escusado será dizer que Harvard não se importa nada com o facto de esse historiador ter mais de 70 anos de idade. O vosso velho reformado é o nosso perito, diria Harvard.
Para além disso aqui nos Estados Unidos existe uma tradição única de doações privadas de companhias e indivíduos para universidades e programas de investigação. As doações constituem uma grande fatia dos orçamentos das universidades (Um conceito considerado cómico ou pelo menos estranho ainda do outro lado da poça). Exemplo concreto: Craig Mello, que este ano venceu o Nobel da Medicina fez as suas investigações graças em grande parte a uma doação de 3 milhões de dólares de John Blais e da sua mulher Shelley. (Nunca tinha ouvido falar de tais pessoas mas fui informado pela Universidade de Massachussets que o John Blais fez fortuna na "manufacturação" e que já deu "vários outros milhões" à Universidade de Massachussets onde trabalha o Mello.
Claude Allègre, antigo ministro da educação francês disse recentemente ao New York que "nos Estados Unidos é o vosso sistema universitário que é um dos motores da prosperidade" enquanto na França "as universidades são pobres e não são uma prioridade para o estado ou para o sector privado".
Um dos membros da academia Nobel ( já não me recordo qual) disse depois da atribuição dos prémios este ano que "se tudo corresse de forma ideal levaria 25 anos à União Europeia a apanhar os Estados Unidos". O mundo tal como a vida infelizmente, não é "ideal". Li no Financial Times na semana passada que os planos do Durão Barroso para criar um Instituto Europeu de Tecnologia (à semelhança do famosos Instituto de Tecnologia de Massachussets) estão a ir por água abaixo por falta de interesse.
Wang Jisi da Escola de Estudos Internacionais na Universidade de Pequim disse que devido ao seu "avanço em inovação tecnológica, produtividade, investigação e desenvolvimento….o tamanho da economia Americana como proporção da economia global vai continuar a crescer por muitos anos".
É verdade. Em 1971 a economia Americana era 30,52% do Produto Interno Bruto do Mundo. Desde então houve a subida da China, da Índia e dos Tigres da Ásia e a unificação da Europa. A economia americana é agora 30,74 por cento do Produto Interno bruto mundial.
Antes de terminar tenho que vos dizer que aqui não se dá muita atenção a esta dominação dos Nobel. As notícias estão geralmente "enterradas" nas páginas interiores, a não ser que o vencedor seja da cidade onde o jornal é publicado. Não sei se isso se deve ao facto dos americanos não ligarem uma pívia a prémios de outros países ou se a dominação já não é noticia.
Outro dia vi contudo um artigo de alguém a queixar-se que os americanos raramente ganham o prémio Nobel da Literatura. O que é verdade. O prémio deste ano por exemplo foi ganho por um turco que, não sei lá porquê, de momento está a ensinar Literatura na Universidade de Columbia … em Nova Iorque. Faz pensar, não?

Um abraço
Da capital do império

Jota Esse Erre

1 comentário:

Anónimo disse...

Magnífico artigo de JSR.
O que parece questionar a super-potência USA é, no entanto,a moral e os vícios da burocracia celestial que monopolizam todos os centros de decisão.Mas Bush não poderá jamais ser reeleito e os Clinton brilham no horizonte, Aleluia. FAR